9 de julho de 2010

CARTAS DE ELIPHAS LEVI


"A mulher explica a natureza; a natureza revela a autoridade, cria a religião que serve de base à autoridade e que faz o homem dono de si mesmo e do universo, etc. (Procurai um Tarô.) Disponde em duas séries de dez cartas alegóricas, numeradas de um a vinte e um. Vereis então todas as figuras que explicam as letras.

Quanto aos números, do um ao dez, encontrareis neles a explicação repetida quatro vezes, com os símbolos de paus ou cetro do pai; copas ou delícias da mãe, espadas ou combate do amor e ouros ou fecundidade.

O Tarô se encontra no livro hieroglífico das trinta e duas vias e a explicação sumária dele encontra-se no livro atribuído ao patriarca Abraão, que se chama Sepher-Jezirah.

O sábio Court de Gebelin foi o primeiro que adivinhou a importância do Tarô, a grande chave dos hieróglifos hieráticos. Encontraram-se os símbolos e os números nas profecias de Ezequiel e de S. João.

A Bíblia é um livro inspirado, porém o Tarô é um livro inspirador. Também foi chamado roda, rota, daonde se deduziram as formas tarô e tora. Os antigos Rosa-Cruzes conheciam-no e o marquês de Suchet fala dele em seu livro acerca dos iluminados.

Deste livro é que surgiram nossos jogos de cartas. As cartas espanholas ainda possuem os principais signos do Tarô primitivo e são utilizados para jogar o voltarete ou jogo do hombre, reminiscência vaga do uso primitivo de um livro misterioso que contém as sentenças reguladoras de todas as divindades humanas.

Os três tarôs antigos eram feitos de medalhas que depois serviam de talismãs. As chavetas ou pequenas chaves de Salomão eram compostas por trinta e seis talismãs, tendo setenta e duas estampas semelhantes às figuras hieroglíficas do Tarô. Estas figuras, alteradas pelos copistas, encontram-se ainda nas varias chavetas manuscritas que se encomtram nas bibliotecas.

Existe um desses manuscitos na Biblioteca Nacional de Paris e outro na Biblioteca do Arsenal. Os únicos manuscritos autênticos delas são os que mostram as series de trinta e seis talismãs com os setenta e dois nomes misteriosos; os demais, ainda que antigos, pertencem às quimeras da magia negra e não são mais que mistificações.

Bereshith quer dizer gênese; Mercavah significa “carrinho” em alusão às rodas e aos animais misteriosos de Ezequiel.

Bereshith e Mercavah resumem a ciência de Deus e do mundo. Digo “ciência de Deus” e, portanto Deus não é infinitamente desconhecido. Sua natureza escapa completamente as nossas investigações. Princípio absoluto do ser e dos seres, não pode ser confundido com os efeitos que produz e pode-se dizer, afirmando completamente sua existência, que não é nem o não-ser, nem o ser. Fato que confunde a razão sem extraviá-la e nos afasta completamente da idolatria.

Deus é o único postulatum absoluto de toda ciência, a hipótese necessária que serve de base à certeza. Eis aqui como nossos antigos mestres estabeleceram cientificamente esta hipótese correta de fé: O Ser é. No ser está a vida. A vida manifesta-se pelo movimento. O movimento perpetua-se pelo equilíbrio das forças. O harmonia resulta da analogia dos contrários.

Existe, na natureza, lei imutável e progresso indefinido, mudança perpétua nas formas, indestrutibilidade da substância; e isto é o que se encontra estudando o mundo físico.

A metafísica apresenta leis e fatos análogos, na ordem intelectual ou na moral, o verdadeiro, imutável, de um lado, do outro, a fantasia e a ficção. De um lado, o bem que é verdadeiro; do outro, o mal que é falso, e desses conflitos aparentes surgem o juízo e a virtude. A virtude compõe-se de bondade e justiça. Boa, a virtude é indulgente. Justa, é rigorosa. Boa porque é justa e justa porque é boa, mostra-se bela.

Esta harmonia entre o mundo físico e o mundo moral, não podendo ter uma causa superior a si própria, revela-nos a existência de uma sabedoria imutável, princípios e leis eternas e de inteligência infinitamente criativa. Sobre esta sabedoria e inteligência inseparáveis repousa a potência suprema que os hebreus chamam coroa. A coroa e não o rei, porque a idéia de um rei implicaria a de ídolo. A potência suprema é, para os cabalistas, a coroa do universo, e a criação inteira é o reino da coroa ou, mais precisamente, o domínio da coroa.

Ninguém pode dar o que não tem e virtualmente podemos admitir na causa o que se manifesta nos efeitos.

Deus é, portanto, a potência ou coroa suprema (Kether), que repousa sobre a sabedoria imutável (chockmah) e a inteligência criativa (binah); nele estão a bondade (chesed) e a justiça (geburah), que são o ideal da beleza (tiphereth) . Nele estão o movimento sempre vitorioso (netzach) e o grande repouso eterno. Sua vontade é uma criação contínua (iesod) e seu reino (malkuth) é a imensidade que povoa o universo.

Detenhamo-nos aqui; conhecemos a Deus!

Vosso na Sagrada Ciência."
(Cartas de Eliphas Levi, As Origens da Cabala, páginas 115 a 117, Ed. Pensamento)

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