29 de março de 2014

SIMBOLOGIA

A cosmogonia é uma ciência cultivada por todos os povos arcaicos e tradicionais e se refere ao conhecimento do homem (pequeno cosmos) e do universo (homem grande). Repete-se de modo unânime e de maneira perene ao longo do tempo (história) e do espaço (geografia), descrevendo uma única realidade, a do cosmos. Esta realidade, por outro lado, é a mesma que nós, os contemporâneos, vivemos e habitamos, pois é essencialmente imutável apesar das mutantes formas em que pode ser expressa ou apreendida, já que se mantém perenemente viva.

O modo normal pelo qual essa Cosmogonia, Universal e Perene se expressa é o símbolo, ou um conjunto de símbolos em ação, constituindo códigos e estruturas que se conjugam permanentemente entre si, manifestando e veiculando a realidade, ou seja, toda a possibilidade do discurso universal, que se faz audível e compreensível por seu intermédio.

O símbolo é, portanto, a tradução inteligível de uma realidade cosmogônica e, ao mesmo tempo, essa realidade em si, ao nível em que ela se expressa.

Para o caso da cosmogonia nos interessam particularmente os símbolos numéricos e geométricos, que, como se sabe, mantém uma perfeita correspondência entre si. Constituem módulos paradigmáticos, presentes em todas as culturas, já que formam a estrutura de qualquer construção, neste caso, da Construção Universal... É importante ressaltar que aquilo que a simbólica manifesta dentro de si, no mais profundo de sua intimidade, não é senão a totalidade do cosmos, atual e constante. Ela própria, a Cosmogonia Perene e Universal – e não só a ciência que trata dela – que é válida para todo tempo e lugar na dimensão do humano, não é nada mais que um símbolo de algo muito mais amplo que a transcende, já que pode ser concebida e explicada como uma modalidade arquetípica do Ser Universal.

Pode-se pensar, equivocadamente, que as estruturas simbólicas são meras convenções utilizadas para descrever a realidade. Isso só seria válido na medida em que se aplicasse igualmente a qualquer manifestação, que é sempre uma determinação, uma fixação, começando pela linguagem, pelo verbo. Porém, é óbvio que não há maneira de apreender a realidade senão é por meio do símbolo (linguístico, numérico, geométrico, etc.) e dos códigos que este forma.

O símbolo não é arbitrário, e reflete autenticamente o que expressa, requisito sem o qual seria impossível qualquer relação ou comunicação. Deve-se ter em mente que, por tomar uma forma, constitui uma estrutura na torrente do não-enunciado, na vida larval e caótica do vir a ser. Os antigos conheciam sobejamente esta verdade, e daí o valor criativo que atribuíam à palavra. Ou seja: o sujeito participa de qualquer fato objetivo e portanto o gera; a história de seus ciclos também testemunha esta inter-relação constante.

No entanto, a irrealidade do mundo – e do homem – só pode ser observada porque existe, e deve ser, nesse caso, sujeito e objeto de alguma revelação. Os símbolos, como os conceitos ou os seres, são imprescindíveis no plano do Universo, e alguns códigos como o aritmético ou o geométrico, entre outros, não são convenções casuais, mas expressam realidades arquetípicas e formam a base de qualquer estrutura, não só no "exterior" mas também no "interior". A ponto que de se poder dizer que estas imagens constituem categorias próprias do pensamento, e fazem do homem um autêntico intermediário entre o conhecido e o desconhecido, ou seja: o maior dos símbolos, capaz de unificar por sua mediação a multidão do disperso.

Talvez a Roda seja o mais universal dentre os símbolos de todos os povos. Isso se deve, por um lado, ao fato de que este símbolo aparece unanimemente, direta ou indiretamente, em todas as tradições, e parece ser consubstancial ao homem.

Por outro lado, a própria universalidade dos significados da roda, e sua conexão direta ou indireta com os demais símbolos sagrados, em especial, números e figuras geométricas, fazem dela uma espécie de modelo simbólico, uma imagem do cosmos. Pois a roda no plano é um círculo, e a circularidade é uma manifestação espontânea de todo o cosmos; portanto essa energia há de provir de um ponto central que a irradia, tal qual o caso de uma roda, símbolo do movimento e também da imobilidade, que pode girar e reiterar seus ciclos, possibilitando a marcha graças a um eixo imóvel. No plano isso se representa como um centro do qual a circunferência extrai sua forma (com cordel ou compasso, é imprescindível ter um ponto fixo para traçar a circunferência) por irradiação, tal qual a energia potencial do eixo se transmite ao aro por mediação dos raios das rodas, análogos ao raio da circunferência. Qualquer pessoa que traça uma circunferência sabe que esta depende do ponto central e não ao contrário.

Entre o ponto central e a circunferência se configura o círculo; o valor aritmético associado ao primeiro é a unidade, que é uma representação natural do ponto geométrico, e à segunda o nove, que é o número do ciclo por ser o da circularidade, como mais adiante veremos. A soma de ambos nos dá a dezena (1 + 9 = 10) que é modelo numérico da tetraktys pitagórica, o qual pode ser relacionado com qualquer outra aritmosofia, já que os números – e as figuras geométricas – são módulos harmônicos arquetípicos, válidos em todo o manifestado e, portanto, para qualquer tempo e lugar dentro deste ciclo humano.

Assim, pois, não devemos estranhar que neste trabalho sejam tratados em conjunto os símbolos da roda e do círculo, o da espiral e o da esfera, pois esta, por exemplo, não é senão o círculo na tridimensionalidade. Igualmente, que se mencionem símbolos estreitamente associados ao da roda como o da cruz, o quadrado, e outros, assim como que se recorra às distintas tradições onde se encontra testemunhado.

Não obstante, este símbolo está presente em nossa própria Tradição e se acha ao nosso alcance trabalhar com ele. No própria dia-a-dia podemos observá-lo constantemente; de fato é evidente na própria vida, pois como observamos, as coisas se produzem com um movimento circular e portanto são cíclicas, o que é um pensamento emitido por todas as doutrinas metafísicas.

A figura esquemática da roda no plano foi associada ao sol por numerosos povos e de fato ainda hoje é o símbolo astrológico desse astro; em alquimia representa o ouro, seu equivalente terrestre. Daí a associar o percurso do sol com um carro dourado, ou de fogo, é só um passo. De fato seu alcance é significativamente mais amplo e se corresponde com a ideia arquetípica de Centro: aquilo que é capaz de gerar uma ordem na massa amorfa do caos; o ponto imóvel imprescindível a toda criação, o motor graças ao qual o devir tem um sentido.

Este ponto central da Roda do Mundo se comunica com a periferia, como já se disse, através de raios, que são portanto intermediários entre ambos; e enquanto a roda gira sobre si mesma simbolizando o movimento e o tempo, o eixo permanece fixo expressando a imobilidade e o eterno.

O círculo e a esfera foram tomados por numerosos povos e distintos autores antigos como figuras perfeitas e expressões da  totalidade.  A roda em particular está associada aos ciclos que repete uma e outra vez e, portanto, ao relativo, ao passageiro, ao contingente, porém sobretudo à recorrência, à reiteração. Como se poderá observar, e assim o continuaremos vendo, este símbolo se presta a inumeráveis transposições ao plano metafísico, ontológico e cósmico e é objeto de conhecimento e especulação.

O que é um ponto central ao círculo, é o eixo com relação à esfera, motivo pelo qual centro e eixo se correspondem exatamente, sendo o primeiro um símbolo plano e o outro símbolo tridimensional do mesmo conceito.

Se o ponto é virtual, não manifestado e geometricamente não existe, a periferia da roda será visível e representará, na ordem cósmica, a manifestação universal e, no mundo do homem, qualquer expressão, razão pela qual também se pode equiparar o ponto e o círculo, a potência e o ato, e por conseguinte, a contemplação e a ação.

A primeira divisão a que pode dar lugar o símbolo da roda é a bipartição da figura que a representa em duas metades análogas e exatas. Estas representam os dois movimentos, de ascensão e descenso, que realiza a roda no percurso de um ciclo, seja o do sol no ano, ou o do dia, ou o da lua em um mês, ou o da vida de um ser humano; o de princípio e fim com o qual está assinada qualquer criação.

Princípio e fim têm uma origem e um destino comum, o que dá lugar, além disso, às ideias de reincidência ou repetição, crenças e conceitos de todos os povos arcaicos e tradicionais que viveram sempre um tempo cíclico e não linear e indefinido, tal como o nós concebemos atualmente.

Qualquer ponto da periferia – os que são de número indefinido e podem simbolizar, cada um, a vida de um homem na imensidão do criado – é um reflexo do centro e se encontra conectado a ele pelo raio, porém enquanto que no aro todo é sucessivo, do ponto de vista central as coisas são simultâneas.

Esta figura também pode ser adaptada obviamente aos conceitos de interior e exterior, de luz e reflexo, e também de realidade e ilusão, posto que a permanência do ponto não se altera diante das formas mutantes e sempre perecíveis do transcorrer periférico.

Nos diz René Guénon que: "O centro é, antes de tudo, a origem, o ponto de partida de todas as coisas; é o ponto principal, sem forma nem dimensões, portanto indivisível, e, por conseguinte, a única imagem que se pode dar à Unidade primordial. Dele, por irradiação, são produzidas todas as coisas, assim como a Unidade produz todos os números, sem que por isso sua essência fique modificada ou afetada de qualquer maneira".

Todos os pontos da circunferência estão a igual distância do centro, lhe são equidistantes, motivo pelo qual as inumeráveis energias do cosmos se neutralizam em seu seio.

Geometricamente é o eixo vertical que atravessa distintos planos circulares horizontais, que ele mesmo gera, os que giram como rodas ao seu redor formando a cadeia de mundos, os diferentes estados de um Ser Universal.

A energia da irradiação chegada a seus próprios limites retorna a sua fonte por mediação do mesmo raio que as conecta, para ser reabsorvida no Princípio, que novamente volta a emaná-la para a periferia, constituindo esta inter-relação, ad extra e ad intra, uma espécie de respiração universal selada pelas leis cósmicas da dialética. Por isso é que o Centro, ou o Eixo, é a Origem e o Princípio, e irradiando tudo d'Ele, a Ele tudo retorna.

O centro é pois uma região mítica, uma ideia arquetípica que, não obstante, se manifesta em determinados pontos da circunferência que, desta maneira, passam a ser centros para o sistema que eles geram, sempre e quando sejam autênticos reflexos do ponto original ou, o que é o mesmo, que esse Centro fosse uma teofania, ou uma hierofania, um lugar, pessoa ou objeto que expressasse a unidade de um modo particular, e que igualmente a irradiasse.

Nesse caso os distintos centros ou pontos significativos na periferia seriam focos "cosmizados" que estariam estabelecendo contato com o ponto médio, rompendo assim com o movimento homogêneo e reiterativo da Roda. Por este caminho o sábio perfeito, segundo o taoismo, poderia acessar o "ponto central da Roda", em comunhão com o princípio, em absoluto repouso, imitando "sua ação não atuante".

Nota: O alquimista, matemático e cabalista John Dee, astrólogo da rainha Isabel I da Inglaterra, cujos instrumentos mágicos (espelho, pantáculos, bola de cristal) se conservam expostos no Museu Britânico, escreve no Teorema II de seu Mônada Hieroglífica:

"É pois pela virtude do ponto e da mônada que as coisas começaram a ser desde o princípio. E todas as que são afetadas na periferia, por grandes que elas sejam, não podem, de nenhuma maneira, existir sem a ajuda do ponto central"

(Texto: Federico Gonzalez - Continua)

24 de março de 2014

LIVRO MÁGICO DO ANTIGO EGITO V


CAPÍTULO II
OS PODERES DO MÁGICO

O mágico de Lucsor e os filhos dele não ficaram de modo algum surpreendidos com os velhos textos que eu referira. Encontravam esses textos o eco de uma prática secular, transmitida de geração em geração. Quem poderia duvidar dos imensos poderes de um mágico, baseados nas suas capacidades de conhecimento? O seu único verdadeiro temor, neste mundo e no outro, é o de ser privado das suas capacidades mágicas em consequência de intervenção de alguma potência maléfica. Mas ele dispõe de uma fórmula especial para afastar esse perigo:

”Não permitir que o poder mágico de um homem lhe seja retirado no reino subterrâneo”. Adquirida esta certeza, é preciso combater o mal que tenta sempre atingir os seres em estado de menor resistência.

O mágico, referindo combates levados a cabo no mundo divino, afasta as influências nocivas, tal como o deus Ré se salvou a si mesmo do temível crocodilo Sobek, como Hórus se salvou a si próprio do lúbrico Bebon.

Combater o mal exige técnicas elaboradas. O mágico extrai a força perniciosa do corpo do indivíduo atingido e transfere-a para outro lugar: por exemplo, para um animal. Ora aparece sob a forma masculina, ora sob a forma feminina. Por isso o mágico desconfia especialmente dos espectros e das almas errantes, multiformes, que é difícil descobrir. Assim, ameaça destruir os túmulos de onde elas vêm, para as privar da sua ”base” terrestre, ou ameaça suprimir-lhes as oferendas, para as fazer morrer de fome.

É fácil compreender que o renome dos mágicos do Egito se tenha difundido com tanto brilho em todo o Mundo Antigo.

Segundo os autores gregos e latinos, eles sabiam curar os doentes, utilizar os simples, predizer o futuro e até fazer chover. Os verdadeiros poderes mágicos foram, infelizmente, reduzidos a operações simplistas, como o fato de dar a uma mulher uma cabeleira esplendorosa que nunca ficará branca, ou lançar sobre um inimigo um sortilégio para que fique careca.

O Papiro de Leiden expõe assim uma série de práticas espetaculares: praticar a adivinhação, afastar os maus espíritos, fabricar unguentos, favorecer os sonhos, fazer uma mulher ficar apaixonada, matar os inimigos, utilizar uma fórmula para repelir o medo que domina um homem de noite ou de dia. Tudo isso repousa em bases tradicionais, pouco a pouco esquecidas.Para se dar à adivinhação, utiliza-se um vaso cheio de água.

Identificado com Hórus, o Antigo, grande deus cósmico, o mágico interroga os deuses por intermédio de um ”médium” jovem que tem em si a verdade. O mágico ordena-lhe que abra os olhos, para que veja a Luz. É necessário, a todo o custo, afastar do ”médium” as trevas, de modo a que o seu espírito penetre no mundo dos deuses e encontre a resposta para a pergunta que foi formulada. O vaso é um excelente suporte para comunicar com o céu e o mundo intermediário.

O mágico é capaz de se adormecer a si mesmo, criando um sono hipnótico ao colocar-se diante de uma luz ou contemplando a Lua, ou ainda recitando sete vezes uma fórmula mágica.

Entre as técnicas mágicas oficiais, o oráculo teve um grande sucesso no Egito do Império Novo e na Época Baixa. O mágico de Estado coloca questões a uma estátua divina da qual espera uma resposta, por vezes concretizada por um gesto, quando a efígie sagrada inclina a cabeça para dizer ”sim” ou ”não”.

Os clientes ”particulares” consultam as divindades em pequenos oratórios, quer oralmente quer por escrito, acerca dos assuntos quotidianos que preocupam a humanidade: a promoção social, o futuro, os bens materiais, o amor.

Nunca será de mais sublinhar que qualquer aquisição de poder mágico
repousa no processo de identificação abundantemente ilustrado nos textos egípcios. O mágico ”torna-se” nas forças que criam o mundo: por exemplo, a Abundância personificada. Não para seu benefício pessoal, mas sim para que um paciente beneficie dos efeitos benéficos da sua arte.

Nos templos, a magia está onipresente. Pela prática dos rituais, pelo próprio significado da arquitetura e da escultura, mas também em consequência de uma realidade surpreendente: as imagens gravadas nas paredes são animadas, vivas.

Adquirem vida quando são pronunciadas as palavras rituais. No momento da cerimônia matinal, a mais importante do dia, a imagem do faraó ”desce” - ao mesmo tempo e em todos os templos do Egito - das paredes onde está e encarna no corpo do sacerdote encarregado de agir em seu lugar.

Segundo uma esteia da época de Ramsés IV, os próprios templos são
protegidos magicamente por amuletos e fórmulas de modo a que seja expulso todo o mal do seu corpo. ”Corpo” é a palavra justa, uma vez que cada santuário é considerado um ser vivo.

O que se encontra nos templos (esteias, baixos-relevos, mobiliário, etc.), assim como nos túmulos, deve ser preservado magicamente. Quem ousasse levantar a mão sobre esses objetos ou sobre os decretos administrativos registrados nas paredes dos monumentos, pereceria sob o gládio de Amon ou o fogo de Sekhemet, a deusa leoa.

As cidades, tal como os templos, gozavam de uma proteção mágica. O caso da aglomeração tebana é característico. Tebas, Ermant, Medamud, Tod, eram os quatro santuários do deus Montu.

O de Medamud continha quatro estátuas, lar mágico para o conjunto da região. Um texto explica que ”Amon-Ré, chefe dos deuses, está no meio do Olho direito, completo nos seus elementos (...) O que é Tebas, é Medamud: o Olho completo nos seus elementos pelo fato de que Sua Majestade, Amon- Ré, se encontra no número dos cinco deuses que fazem existir Tebas como um Olho direito completo. Os quatro Montu estão à sua guarda. Estão reunidos nesta cidade para repelir o inimigo de Tebas”.

Os Montu, divindades guerreiras, olhar aberto para o mundo, têm o encargo de proteger Tebas contra os seus inimigos visíveis e invisíveis. Com efeito, Tebas é considerada como o Olho saudável e completo, o udjat, usado frequentemente como ”amuleto”.

O plano dos templos tebanos, especialmente o de Medamud, encarna esse Olho cósmico, chave principal da simbólica egípcia. Não esqueçamos que o signo do Olho, em hieroglífica, significa ”fazer, criar”.

Também existe uma fórmula para a proteção da casa familiar e dos seus elementos, a janela, as fechaduras, o quarto, a cama... A cada um dos lugares da casa é afetada uma divindade protetora: um falcão fêmea, Ptah, chefe dos artesãos, ”aquele cujo nome se encontra escondido” e outros gênios. Assim, os inimigos não entrarão nem de noite nem de dia.

Vencer a morte O mágico é ”especialista”, tanto da vida como da morte. Quando a alma abandona o corpo, tudo se desune. Os elementos que constituem o ser, até aí associados pelo fenômeno ”vida”, deixam de coabitar.

A morte é portanto uma passagem muito perigosa, porque os diferentes
elementos correm o risco de se manterem dissociados do outro lado do espelho. Dá-se então a ”segunda morte”, a extinção definitiva do ser, possibilidade que implica necessariamente a ação mágica: preservar a coerência do ser durante a passagem deste mundo para o outro, fazê-lo reviver do outro lado na sua plenitude.

A mumificação é um ato mágico. Conservar as vísceras em vasos especiais,os vasos de vísceras, é um dos cuidados a ter. Cada vaso é colocado sob a proteção de uma divindade, um dos filhos de Hórus, em número de quatro:

Imseti, com cabeça de homem, protege o fígado;

Hapi, com cabeça de babuíno, os pulmões;

Duamutef, com cabeça de cão, o estômago;

Kebehsenuef, com cabeça de falcão, os intestinos.

Não são apenas os órgãos materiais que beneficiam dos favores divinos, mas também os princípios subtis que esses órgãos abrigam.

Segundo o esoterismo egípcio, o ser é composto por diversas ”qualidades”, sendo as mais conhecidas o akh (Khu), a irradiação, o ba, o poder de encarnação, e o ka, a potência vital. Existe também o beka, a capacidade mágica do indivíduo.

Cada elemento tem uma existência independente. A arte do mágico consiste em fazer com que todas passem pelas aberturas do céu, de modo que o ser completo possa ir e vir, dirigir-se para a Luz.

Segundo a expressão extraordinária dos ”Textos das Pirâmides”, o morto não partiu morto, mas sim vivo. Esta constatação aplica-se ao faraó e aos iniciados regenerados pelos ritos.

O objetivo da magia funerária é essa vida ressuscitada que necessita do funcionamento perfeito do coração consciência, dos órgãos vitais, a livre deslocação nos espaços celestes, o gozo das energias subtis contidas nos alimentos e nas bebidas servidos nos festins do Além.

Se o mágico deixasse de ser mestre na sua arte, isso seria uma catástrofe cósmica: o Sol não voltaria a levantar-se, o céu seria privado de deuses, a ordem do mundo seria subvertida, o culto deixaria de ser celebrado, todo o ritmo das coisas seria perturbado. Enquanto mestre da energia, o mágico permite às forças luminosas exprimirem-se em toda a sua plenitude. Um dos seus nomes mais frequentes é ”poderes de Heliópolis”, a cidade do Sol.

Essas forças engendram a prosperidade. Quando a energia se desequilibra, esses poderes deixam de se exprimir. As crianças deixam de nascer.

Notas: O akh, simbolizado por uma íbis, é o poder sobrenatural dos deuses e do rei. O ba é a faculdade móbil do ser, evocada por um pássaro de cabeça humana. Os baú (plural egípcio do termo) das cidades são o seu poder sobrenatural, o seu gênio próprio. O ka é a Força; o ka dos alimentos, por exemplo, é o seu aspecto energético. Potência sexual, o ka é a animação da matéria.

A preservação e a transmissão da vida são ações mágicas. Corpos aparentemente inertes são animados por elas. Uma estátua, por exemplo, parece ser apenas um objeto de pedra. Pelo rito da ”abertura da boca”, a estátua é tornada viva. Habita-a uma presença espiritual.

Nas mastabas, túmulos do Império Antigo, o serdab, pequena e exígua peça, contém uma estátua - viva - do morto. O ka do defunto está presente nessa estátua.

Beneficio da recitação das fórmulas, que lhe proporcionam a energia de que tem necessidade.

Os famosos ”modelos” colocados nos túmulos não são brinquedos mas sim objetos mágicos: por exemplo, as pequenas barcas de madeira com os seus remadores tornam-se, no Além, meios de transporte bem reais que permitem ao viajante vogar pelas águas eternas do Cosmos.

A vida é ameaçada por forças hostis, nomeadamente por almas escapadas dos túmulos, por erros mágicos ou insuficiências rituais. Erram, provocando graves perdas físicas ou psíquicas. Compete ao mágico neutralizar essas almas, uma vez que no interior da Casa de Vida ele apreende os segredos do invisível. A quem conhece a estatueta chamada ”Vida”, que é o coração desta instituição mágica, é dito:

”Estarás ao abrigo da morte súbita, estarás ao abrigo do fogo, estarás ao abrigo do céu, que não se desmoronará, e a terra não se afundará e Ré não fará cinzas com os deuses e deusas”.

Esta estatueta ”Vida” é mumificada, depois untada com unguentos e uma substância chamada ”pedra divina”, sendo por fim deitada num caixão. É consagrada antes de se lhe abrir a boca e de ser colocada numa pele de carneiro, uma ”pele de ressurreição”. A ”Vida”, assim protegida, é conservada num lugar da Casa de Vida onde é constantemente regenerada pelos ritos.

Simbolicamente, a Casa de Vida é um pátio arenoso cercado por um muro com quatro portas, em cujo interior se ergue uma tenda para abrigar um relicário que contém uma múmia de Osíris. Em torno existem várias construções: alojamentos, lojas, oficinas, onde se formam os especialistas que são chamados a preencher funções rituais.

Abertura da boca, abertura dos olhos: atos que transformam o cadáver em ser vivo. O mágico pratica a abertura da boca com uma enxó de ferro, faz uma fumigação colocando incenso sobre uma chama, purifica com a água da juventude”. É pedido a Ptah, pai dos deuses, que favoreça a abertura da boca e dos olhos tal como o fez para o deus Sokar, na oficina dos escultores de Mênfis chamada ”a moradia do Ouro”.

Uma das mais belas ilustrações desse rito encontra-se no túmulo de Tutankhamon, no qual o rei Ai, vestido com uma pele de pantera, abre a boca do jovem rei morto, representado em Osíris.

Ponto capital: o sarcófago não é um túmulo nem um lugar fechado. É considerado como um navio e como o ventre do céu. No Império Médio, pintam nas paredes exteriores portas falsas e dois olhos à altura dos do rosto da múmia. O espírito do ”morto” entra no sarcófago e sai.

Do mesmo modo, o túmulo é um lugar de passagem. A porta falsa, inicialmente colocada no meio do lado este da mastaba, estabelece a comunicação entre o Aqui e o Além. O espírito passa através da matéria.

O nome, chave do poder mágico O conhecimento do nome é o verdadeiro
conhecimento: pronunciar o nome é modelar uma imagem espiritual, revelar a essência de um ser. Ao nomear, cria-se. Conhecendo os verdadeiros nomes, escondidos para o profano, vive-se uma mestria.

O mais grave para um ser é ver o seu nome destruído. Por isso a magia toma todas as precauções para que o nome dure eternamente. Os elementos do nome, as letras que o compõem, são sons portadores de energia. Quando o mágico fala ritualmente, utiliza esses sons como uma matéria animada, age sobre o mundo exterior, modifica-o se tanto for necessário.

( Autor: CHRISTIAN JACQ - CONTINUA)



AS DUAS VERTENTES V




Findamos o último texto com o seguinte parágrafo: “Quando ‘quase’ complementada a fase evolutiva que competia à Cadeia Planetária de Saturno, como visto na figura 06G, esse início de ‘quase’ lá pelas idades da segunda metade da 5ª raça da 5ª Ronda, também já se encontra em trabalhos formativos a Cadeia Planetária que, no caso do Sistema Solar, foi a cadeia de Marte, ou marciana.”

Essa passagem, ou transição, de uma cadeia à outra significa que a sequência evolucional dos planetas e das raças se dá de forma, digamos, suave, e não abruptamente como se, de repente, a cadeia anterior despencasse num insondável abismo e a nova cadeia eclodisse como o espocar de uma bomba.

Não é nada disso porque, como se sabe, a Natureza não dá saltos. Tudo se transforma como o transformar do próprio corpo físico do Homem em que ele mesmo, no caso nós, nem percebemos as mudanças. De crianças, sem sentir, vamos adquirindo estatura de adulto e, mais à frente, o envelhecimento.

Em tudo, no Cosmo, está a regência do que se possa chamar de Espiral Evolucionária, pela qual Universos, Galáxias, Estrelas, planetas, transitam com Humanidades em seus bojos.

Comparem a transição dos acontecimentos cósmicos com a gestação e parto no ambiente da humanidade da Terra:

A mulher em seu estado normal de organismo vive sua exclusiva vida; em estado gestacional, gera um feto, uma nova vida. Ambos, mulher e feto, por alguns meses formam uma só entidade, física e espiritual, embora tenham individualidades monádicas; após o parto, cuida da vida que gerou, até que seu rebento possa cuidar-se por si mesmo.

Transpondo essa analogia para cadeias planetárias: 

A Cadeia planetária atual vivendo sua “exclusiva e isolada” existência. A Cadeia Planetária gestando uma outra – isso é feito pelo processo no qual os Logos se servindo das Mônadas mais evoluídas da Cadeia atual vão se preparando, conscientes, para viver a futura etapa, - isto é, os indivíduos - enquanto os assistentes Deles, dos Logos, já estão organizando o novo Globo berço. A Cadeia Planetária atual, mesmo após o início da formação da Cadeia seguinte, - isto é, os indivíduos daquela – em migrações monádicas e cuidados dévicos – mantém longa interação entre as duas até que a atual, que se torna anterior, se “desligue inteiramente” da nova cadeia, pois que esta se tornou “adulta”.

Portanto, estejam conscientes de que já estamos vivendo a gestação da 6ª raça de nossa Ronda, a quarta, e a 1ª raça da próxima Ronda, a quinta. Podemos até dizer que, como inegável é, que os indivíduos do presente constroem o futuro.

E como acontece em toda gestação – ainda dentro da analogia anterior, todo período de gestação tem seus “incômodos orgânicos”. Os “incômodos orgânicos” que acometem as transições entre as raças nas Rondas, é o que vamos sentindo na forma de desarmonia social em nossa humanidade.

Comparem essa desarmonia como o peneirar de grãos, em que os mais finos, os aproveitáveis, vão sendo direcionados à raça seguinte (1), e os mais grossos são lançados na escória (2).

E o que é estar conscientes ?

É compreender que, em essência, somos seres Divinos, aprendizes de criadores de Mundos e de vidas.
Que os mundos de matéria densa, como o nosso, igualmente a todos os demais, são apenas etapas do processo de conscientização,e não mundos ídolos cujo existir se revela nas formas de cultos exteriores e deificações da matéria.

Prosseguindo de onde interrompemos no pps anterior, vamos nos deparar com a Cadeia Planetária de Marte, ou Marciana.

No processo de transcurso evolucional, a Cadeia Planetária de Marte se assemelha ao que foi visto nos comentários sobre a Cadeia de Saturno.

Desta forma, a partir da segunda metade da quinta (5ª) raça de cada Ronda inicia-se o desenvolvimento da raça seguinte desta mesma Ronda.

Seguindo esses ciclos, durante o transcurso da segunda metade da 5ª raça da 5ª Ronda, somada a todas as raças das 6ª e 7ª Rondas, ocorre o que se possa chamar a miscigenação que vai dando origem à 1ª raça da Ronda seguinte.

Na figura acima está representado o início da formação da Cadeia Planetária que sucedeu à de Marte. No caso, a Cadeia Planetária Lunar. Nossa velha conhecida em seus ciclos de 28 dias ao redor da Terra.

Também, a Cadeia Planetária Lunar, passou por suas sete Rondas e nestas os ciclos de setes Raças em cada uma.

E por mais uma vez, perpassando por eras imensas, dava-se novo encontro de Mônadas. As originárias da Cadeia Lunar e as transmigradas do ciclo marciano. Utilizando dos corpos próprios que os ambientes das Rondas lunares propiciavam, desenvolviam-se em associação, mesclando as raças.

Mas não esqueçamos que em cada Cadeia Planetária não se encontram só as Mônadas ali originárias, ou aquelas transmigradas da Cadeia Planetária anterior. Em todos os tempos, neste processo que chamamos Vida, muitas outras forças tributárias dão suas participações.

Isso quer dizer que de regiões longínquas também são transferidas Mônadas para a Cadeia Planetária cuja ação dessas presenças possa ser:

1 – Seres de nível evoluído superior ao comum dos dali nativos para colaborar e participar no desenvolvimento daquela humanidade, ou raça;

2 – Seres em resgate cármico cuja Cadeia Planetária ofereça ambiente adequado aos compromissos a serem resolvidos.

Assim, correm as eras, somadas aos milhões de milhões dos anos de contagem de tempo da Terra, e a Cadeia Planetária Lunar, cumprindo sua missão cósmica, vai se aproximando de seu término.

E nesta aproximação de seu término, tal como aconteceu com as Cadeias Planetárias de Saturno e Marte, agora é a vez da Cadeia Planetária Lunar iniciar o procedimento de transferência das Mônadas que animam suas Raças e que, no processo de suas evoluções, ainda precisam frequentar outra Cadeia Planetária, desta vez a da Terra.

E assim se iniciam as transmigrações das Mônadas lunares que, no novo berço, a 1ª Raça da 1ª Ronda Terrestre, se mesclarão com as Mônadas nativas deste orbe.

Entretanto, aquelas Mônadas que alcançaram suficiente evolução enquanto percorriam a Cadeia Planetária Lunar, como também aconteceu nas Cadeias anteriores, espontâneas e como voluntárias, vieram colaborar com a multiplicação da Vida nesta região que habitamos; ou, então, por direito e em busca de horizontes cósmicos mais amplos transferiram-se para outros “cômodos” desta única Grande Morada, o Cosmo.

(Texto: Luiz Antonio Brasil - CONTINUA)

12 de março de 2014

O PLANO ASTRAL IV




As únicas pessoas que normalmente despertam no sétimo subplano
do plano astral, são as de aspirações grosseiras e brutais — os ébrios, os
sensuais e quejandos. A sua permanência depende da intensidade dos seus
desejos; geralmente o seu sofrimento é horrível pelo fato de, conservando
vivos os grosseiros apetites que os dominaram na terra, lhes é impossível
agora satisfazê-los, exceto, uma vez por outra, quando conseguem
apoderar-se de uma criatura viva, com vícios iguais aos seus, e obcecá-la
completamente.

As pessoas de moralidade mediana não terão de permanecer muito
tempo neste sétimo subplano. É geralmente no sexto que a sua demora se
acentuará, principalmente se os seus desejos e pensamentos predominantes
giraram em torno de coisas mundanas, porque é nessa subdivisão que
encontrarão os lugares e pessoas com quem na terra andaram mais ligadas.
O quinto e o quarto subplanos são semelhantes ao sexto. À medida que
ascendemos através deles, as associações de idéias puramente terrestres
perdem gradualmente sua importância, e há uma tendência para moldarmos
o ambiente em concordância com os mais persistentes dos nossos pensamentos.

Chegados à terceira subdivisão, reconhece-se que esta característica
substituiu inteiramente a visão das realidades do plano. Porque, aqui, os
seus habitantes criaram cidades imaginárias para si mesmos, e nelas vivem
com a sua fantasia — criações não exclusivas da imaginação de cada um
deles, como no mundo-céu, mas calcadas sobre a herança dos pensamentos
e fantasia dos seus predecessores. É nesta subdivisão que se encontram as
tais igrejas e escolas e "habitações na Summerland" de que falam os
espiritistas americanos, embora menos reais e muito menos magnificentes
para qualquer observador sem preconceitos do que para os seus
entusiásticos criadores.

O segundo subplano parece ser o habitat dos devotos egoístas e
pouco espirituais. É lá que eles usam as coroas de ouro e adoram a
representação material e grosseira da divindade peculiar da sua terra e do
seu tempo. A subdivisão mais elevada é especialmente destinada àqueles
que em vida se dedicaram a trabalhos de ordem material, mas de caráter
intelectual, e que os seguiram não com o fito de com eles bem servir e
ajudar os seus semelhantes, mas impelidos por motivos egoístas ou
simplesmente por exercício intelectual. Tais criaturas estacionam nesta
divisão por bastante tempo — deliciados por poder prosseguir na ocupação
dos seus problemas intelectuais, mas sem fazer bem a ninguém e pouco
progredindo no caminho para o mundo-céu.

Repito mais uma vez que a estes diferentes subplanos não deve ligarse
a ideia de localização no espaço. Qualquer entidade que funcione num
deles poderia ser repentinamente transportada dali para a Austrália, ou para
onde quer que qualquer pensamento momentâneo se lembrasse de a levar.
Mas o que não é lhe possível é transferir a consciência de um subplano para
o imediatamente a seguir, sem ter-se dado o processo de libertação de
matéria, a que já nos referimos. Não há, que se saiba, exceção a esta regra,
apesar de as ações de um homem, quando se acha consciente num dos subplanos,
poderem, até certo ponto, abreviar ou prolongar a sua permanência ali.

Mas o grau de consciência que um indivíduo terá num determinado
subplano, não obedece à mesma lei. Tomemos um exemplo extremo para
melhor compreensão. Suponhamos um homem que trouxe da última
encarnação tendências que exigem para a sua manifestação grande
quantidade de matéria do sétimo ou último subplano, mas que na vida
presente teve a felicidade de se convencer, logo de princípio, da
possibilidade e da necessidade de dominar essas tendências. Não é provável
que os seus esforços sejam inteiramente bem sucedidos; mas se o fossem, a
substituição no corpo astral das partículas grosseiras pelas mais sutis,
dar-se-ia regularmente, embora com lentidão.

Este processo é, na melhor das hipóteses, sempre lento e gradual, de
modo que nada mais natural que o homem em questão morresse antes tê-lo
meio terminado. Neste caso lhe restaria ainda bastante matéria grosseira na
constituição do corpo astral, suficiente para lhe prolongar a sua estada no
plano astral. Mas como a sua consciência não chegou a se habituar a
funcionar nessa matéria, e como não lhe era possível adquirir esse hábito, o
resultado seria que, embora a sua permanência nesse subplano dependesse
do tempo que essa parte de matéria levasse a desintegrar-se, ele estaria
sempre num estado de inconsciência. Isto é, ele ficaria como se estivesse a
dormir durante o período dessa permanência, e portanto, passaria
absolutamente ileso, não se sentindo afetado por nenhuma contrariedade
nem pelas misérias do subplano considerado. Diga-se de passagem que, no
plano astral, a extensão das comunicações é determinada, como na terra,
pelo conhecimento da entidade.

Ao passo que um discípulo, revestido do corpo mental, pode
comunicar os seus pensamentos mais facilmente e mais rapidamente que
sobre a terra, por meio de impressões mentais, às entidades humanas que
habitam o mundo astral, estas não têm geralmente a mesma faculdade e
parecem mesmo estar sujeitas a restrições iguais às nossas, ou talvez menos
rígidas, mas pouco menos. Resulta daí que estas se reúnem, como na terra,
em grupos, ligados por uma comunhão de idéias, de crenças e de língua.

A ideia poética de que a morte nivela todos não passa de um absurdo, fruto da
ignorância, porque, na grande maioria dos casos, a perda do corpo físico
não tem a menor influência no caráter e na inteligência da pessoa, e, entre
aqueles a que chamamos mortos, há tantas variedades de inteligências
como entre aqueles a que chamamos vivos.

As teorias correntes no Ocidente a respeito do destino do homem
post-mortem estão tão longe da verdade que mesmo pessoas muito
inteligentes se sentem extremamente confusas e pasmadas ao despertarem
no plano astral. A situação em que o recém-vindo se encontra é tão
radicalmente diferente daquilo que o levaram a acreditar, que não é raro
encontrarem-se lá criaturas que se recusam obstinadamente a crer que já
transpuseram os portais da morte. Realmente, a nossa tão gabada fé na
imortalidade da alma é tão pouco firme, que a maioria das criaturas vê no
simples fato de ainda se acharem conscientes uma prova absoluta de que
não morreram.

Também a horrível doutrina da punição eterna é a culpada da grande
dose de terror, grandemente lamentável e profundamente injustificado, com
que os mortos ingressam na vida superior. Em muitos casos passam longos
períodos de um sofrimento mental de intensa agudeza enquanto não
conseguem libertar-se desta monstruosa blasfêmia, e convencer-se de que o
mundo é governado, não segundo o capricho de qualquer demônio, ávido
de angústias humanas, mas segundo a grande lei da evolução,
profundamente benévola e maravilhosamente paciente.

Muitos dos que estamos estudando não chegam a apreender este fato
da evolução, mas continuam a flutuar ao acaso no mundo astral, tal qual
impelidos por influências do que fizeram na vida física precedente.
Qualquer que seja o nível intelectual da entidade, a sua inteligência varia
sempre em vigor, tendendo mesmo a diminuir, porque a mente inferior do
homem é levada em direções opostas, pela natureza espiritual superior que
atua de cima e pelas intensas forças de desejos, que vêm de baixo.
Por isso, ele oscila entre as duas atrações, com uma tendência crescente para as
superiores, à medida que os desejos inferiores se vão consumindo. Tem
aqui cabimento uma das críticas que se fazem às sessão espiritistas.
Evidentemente um homem ignorante ou degradado pode aprender muito,
depois da morte, em contato com assistentes sérios, dirigidos por pessoa
competente, e ser assim ajudado e erguido da sua degradação. Mas no
homem comum, a consciência se eleva constantemente da parte inferior da
natureza para a superior; e, evidentemente, nunca pode ser útil e favorável
à sua evolução o redespertar-lhe esta consciência inferior, arrebatando-o
do seu estado atual e arrastando-o de novo ao contato com a terra por meio de um médium.

Compreenderemos melhor o perigo deste despertar inoportuno, se
nos lembrarmos de que o homem real, retirando-se cada vez mais em si
mesmo, torna-se cada vez menos apto para influenciar e governar a sua
parte inferior que, todavia, à separação completa, fica em condições de
gerar Karma, e abandonado às suas próprias forças, é mais provável que
crie mau Karma e não bom.

Independente de qualquer questão de desenvolvimento por meio de
um médium, há uma outra influência, bastante freqüente, que pode retardar
consideravelmente o caminho do mundo--céu à entidade desencarnada: são
as manifestações intensas de exagerados desgostos dos sobreviventes por
causa da partida do seu parente ou amigo. As ideias do Ocidente sobre a
morte, velhas de séculos, mas falsas e, direi mesmo, irreligiosas, dão
o triste resultado de não só nos causarem um sofrimento moral tão intenso
quão desnecessário pela partida temporária dos entes queridos, mas de nos
fazerem contribuir, com o nosso desgosto inútil, para o mal daqueles que
tanto amamos.

Ao passo que o nosso irmão desaparecido cai sossegada e
naturalmente no sono inconsciente que precede o despertar magnífico nos
esplendores do mundo-céu, nós o obrigamos por vezes a sair dos seus
sonhos venturosos, chamando-o à recordação da vida terrestre pela
violência do desgosto e das saudades apaixonadas dos seus mais próximos,
que lhe despertam- vibrações correspondentes no corpo de desejos e lhe
causam assim uma aguda sensação de mal-estar.

Seria de grande utilidade que aqueles cujos entes queridos a morte
separou, aprendessem nestes fatos indubitáveis a refrear, por amor dos seus
mortos queridos, as suas manifestações de um desgosto, que embora natural,
é na sua essência um sinal de egoísmo. Não que as doutrinas
ocultas aconselhem o esquecimento dos mortos. Longe disso. O que elas
sustentam e defendem é que a recordação afetuosa de um amigo que a
morte levou, é uma força que devidamente canalizada por meio de
convictos e sinceros votos pelo seu progresso para o mundo-céu, e pela
tranqüilidade da sua passagem pelo estado intermediário, lhe pode ser de
altíssima vantagem. Ao passo que essa recordação, tornada pelo desgosto
moralmente doentia, exagerada com lutos e lágrimas, pode impedir-lhe o
caminho, fazendo-o árduo e penoso. É precisamente por isso que a religião
hindu prescreve acertadamente as cerimônias Shrâddha pelos mortos e a
religião católica manda que se façam orações por eles.

Acontece, às vezes, o contrário, isto é, o desejo de fazer
comunicações vem do outro lado, eco morto que deseja ardentemente
comunicar-se com aqueles que deixou. Por vezes se trata de uma
mensagem de importância, por exemplo, a indicação do lugar onde está
escondido um testamento desaparecido; porém, na maioria das vezes, são
mensagens triviais. Mas seja como for, é sempre da máxima importância
que o morto comunique o mais depressa a sua mensagem, principalmente
se a tem fortemente gravada na mente, para que não se dê o caso de,
conservando-a, manter-se num estado de ansiedade, que lhe desviaria
constantemente a consciência de novo para a terra, impedindo de se focar
nas esferas superiores. Neste caso, um médium por intermédio de quem o
morto possa falar ou escrever, ou um psíquico que o compreenda, presta-lhe
evidentemente um grande serviço.

E por que não pode ele falar ou escrever sem a intervenção de um
médium? A razão reside no fato de um estado de matéria poder geralmente
atuar apenas sobre o estado que lhe está imediatamente inferior, e como no
seu organismo apenas há a matéria grosseira que também entra na
composição do corpo astral, torna-se-lhe impossível enviar vibrações à
substância física do ar ou mover o lápis, também de matéria física, sem
pedir emprestada matéria viva da ordem intermédia contida no duplo
etérico, e é graças a esta que qualquer impulso se transmite de um plano
para outro. E a qualquer outro indivíduo que não fosse um médium, não lhe
seria fácil utilizar a matéria, por causa da extrema justeza em que se acham
os princípios numa criatura vulgar, dificilmente separáveis pelos meios
geralmente ao alcance dos mortos, ao passo que num médium, e é
precisamente esta a característica essencial das suas faculdades, os
princípios podem separar-se rapidamente e fornecer a matéria para a
desejada manifestação.

Quando não vê possibilidade de estabelecer a comunicação por meio
de um médium, ou porque não o ache, ou porque não saiba fazer-se
compreender por meio dele, o morto recorre muitas vezes a si mesmo,
fazendo toda a espécie de tentativas grosseiras e desastradas, pondo em
ação, numa atividade desordenada, forças elementais. É talvez por isso que
tantas vezes se vêem nas sessões espiritistas essas incompreensíveis
manifestações de espíritos, derrubando mesas, atirando pedras, pondo
campainhas a tocar, etc. Pode acontecer que um médium que se encontre
no local onde se dão estas manifestações, compreenda e venha a descobrir
o que a entidade que as origina quer dizer, pondo fim aos distúrbios. Mas
isso é raro, visto que essas forcas elementais são geralmente postas em ação
por causas múltiplas e variadíssimas.

(C. W. Leadbeater - CONTINUA)

10 de março de 2014

O LIVRO PERDIDO DE ENKI XVII

Suas ações são um mistério, não se sabe o que estão tramando;Marduk abandonou a estação de passo do Lahmu, os Igigi
estão ansiosos, a estação de passagem se viu afetada por tormentas de pó, os danos que possa haver nos são desconhecidos.

O Lugar dos Carros no Edin deve ser construído, de ali se levará o ouro diretamente da Terra ao Nibiru, a partir de então, já não será necessária uma estação de passagem no Lahmu; esse é o plano de Ninurta, seu entendimento é grande nestas matérias, Estabeleça o Lugar dos Carros no Bad-Tibira, seja Ninurta seu primeiro comandante!

Anu deu muita consideração às palavras de Enlil; ao Enlil, uma resposta lhe deu:Anki e Marduk estão voltando para a Terra.

Escutemos primeiro suas palavras do que na Lua têm descoberto!
Da Lua partiram Enki e Marduk, à Terra retornaram; deram conta das condições ali; não é viável uma estação de passagem agora!, informaram.

Que se construa o Lugar dos Carros!, disse Anu. Seja Marduk seu comandante!, disse Enki ao Anu. Essa tarefa está reservada para Ninurta!, gritou Enlil com raiva. Já não faz falta comando para os Igigi, Marduk tem conhecimentos desses trabalhos, que se faça cargo Marduk do Pórtico do Céu! Assim lhe disse Enki a seu pai. Anu refletiu sobre o assunto com preocupação: Agora os filhos se veem afetados pelas rivalidades!

Com sabedoria estava dotado Anu, com sabedoria tomou suas decisões: O Lugar dos Carros para conduzir o ouro por novos caminhos está designado, ponhamos em mãos de uma nova geração o que deve partir de agora.

Nem Enlil nem Enki, nem Ninurta nem Marduk estarão ao mando, que assuma a responsabilidade a terceira geração, seja Utu o comandante!

Construa o Lugar dos Carros Celestiais, seja seu nome Sippar, Cidade Pássaro!Esta foi a palavra de Anu; inalterável foi a palavra do rei.

A construção começou no Shar oitenta e um, seguiram-se os planos do Enlil. Nibru-ki estava no centro, Enlil o designou como Umbigo da Terra, por sua localização e por distâncias, as cidades de antigamente se situaram como em círculos, dispuseram-se como uma flecha, desde o mar Inferior para as montanhas ele riscou uma linha sobre os picos gêmeos da Arrata, até os céus em norte, onde a flecha intercepta a linha da Arrata, marcou o lugar do Sippar, o Lugar dos Carros da Terra; a ele levava diretamente a flecha, desde o Nibru-ki estava exatamente se localizado por um círculo igual!

Engenhoso era o plano, todos se maravilhavam por sua precisão. No octuagésimo-segundo Shar se terminou a construção do Sippar; lhe deu o mando ao herói Utu, neto de Enlil. Forjou-se para ele um capacete de águia, decorou-se com asas de águia.

Anu chegou no primeiro carro que, desde o Nibiru, veio diretamente até o Sippar; desejava ver por si mesmo as instalações, queria maravilhar-se com o que se conseguiu.

Para a ocasião, os Igigi, comandados por Marduk, desceram do Lahmu à Terra, do Lugar de Aterrissagem e do Abzu vieram os Anunnaki. Houve palmadas nas costas e aclamações, festa e celebração.

Inanna, neta de Enlil, obsequiou ao Anu com cantos e danças; antes de partir, Anu convocou aos heróis e às heroínas.

Uma nova era começou! Assim lhes disse. Com o fornecimento direto da salvação dourada, o fim do duro trabalho está próximo!

No momento haja suficiente ouro de amparo amontoado e armazenado no Nibiru, poderá reduzir o trabalho na Terra, heróis e heroínas voltarão para o Nibiru! Isto prometeu Anu, o rei, aos ali reunidos, transmitiu-lhes uma grande esperança: uns quantos Shars mais de duro trabalho, e voltarão para casa!

Anu subiu de volta ao Nibiru com muita pompa; ouro, ouro puro levava com ele. Utu levou a cabo sua nova tarefa com carinho; Ninurta conservou o mando em Bad-Tibira.

Marduk não voltou para o Lahmu; tampouco foi ao Abzu com seu pai. Desejava vagar por todas as terras, percorrer a Terra em sua nave celeste, dos Igigi, alguns no Lahmu, outros na Terra, fez-se ao Utu comandante.

Depois da volta de Anu ao Nibiru, os líderes na Terra tinham grandes expectativas: esperavam que os Anunnaki trabalhassem com renovado vigor. Amassar rapidamente ouro, para voltar para casa quanto antes. Mas isso, ai, não foi o que aconteceu!

No Abzu, as expectativas dos Anunnaki não eram as de continuar com o duro trabalho, a não ser as de liberar-se dele, agora que os Terrestres estão proliferando, que eles se encarreguem do trabalho! Assim diziam os Anunnaki no Abzu.

No Edin, os trabalhos eram maiores; faziam falta mais moradas, mais provisões. Os heróis do Edin exigiram Trabalhadores Primitivos, até então confinados no Abzu, Durante quarenta Shars, só se proporcionou alívio no trabalho no Abzu!, gritavam os heróis no Edin, nosso trabalho se incrementou além de toda resistência, tenhamos também Trabalhadores!

Enquanto Enki e Enlil debatiam o assunto, Ninurta tomou a decisão em suas mãos: dirigiu uma expedição até o Abzu com cinquenta heróis, foram providos com armas. Nos bosques e nos estepes do Abzu, perseguiram os Terrestres, com redes os capturaram, levaram varões e fêmeas ao Edin. Treinaram-nos para fazer todo tipo de tarefas, tanto nos hortas como nas cidades.

Enki se zangou com o acontecido, também se enfureceu Enlil: revogaste minha decisão de expulsar ao Adamu e a Ti-Amat! Assim disse Enlil a Ninurta.Para que não se repetisse no Edin o motim que houve uma vez no Abzu! Assim disse Ninurta ao Enlil.

Com os Terrestres no Edin, os heróis se acalmaram, uns quantos Shars mais, e não terá com o que preocupar-se! Assim disse Ninurta ao Enlil.

Enlil não se apaziguou; Assim seja!, disse-lhe resmungando a seu filho. Amontoe-se com rapidez o ouro, voltemos todos logo ao Nibiru!

No Edin, os Anunnaki observavam com admiração aos Terrestres: Têm inteligência, compreendem as ordens. Encarregaram-se de todo tipo de tarefas; foram nus ao realizar seus trabalhos. Entre eles, varões e fêmeas se emparelhavam constantemente, proliferando-se com rapidez. Em um Shar, às vezes quatro, às vezes mais, tinham lugar suas gerações!

Enquanto os Terrestres crescessem em número, teriam trabalhadores os Anunnaki, que não se saciavam com os mantimentos; nas cidades e nas hortas, nos vales e nas colinas, os Terrestres estavam procurando comida constantemente. Naqueles dias, ainda não existiam os cereais, não havia ovelhas, ainda não se tinha criado o cordeiro.

A respeito de tudo isto, Enlil disse palavras iradas a Enki: Com seus atos geraste confusão, assim procura você a salvação!

Vem agora o relato de como foi o Homem Civilizado, de como se criou, mediante um segredo de Enki, a Adapa e ao Titi no Edin.

Com a proliferação dos Terrestres, Enki estava agradado, Enki estava preocupado; o grupo dos Anunnaki se acomodou em grande medida, seu descontentamento tinha decrescido, com a proliferação, os Anunnaki fugiam do trabalho, os trabalhadores estavam se convertendo em servos.

Durante sete Shars, o grupo dos Anunnaki se acomodou muito, seu descontentamento diminuiu. Com a proliferação dos Terrestres, o que crescia por si só era insuficiente para todos; em três Shars mais houve escassez de pescado e de caça, nem Anunnaki nem Terrestres ficavam saciados com o que por si mesmo cresce.

Em seu coração, Enki estava planejando uma nova empresa; concebia a criação de uma Humanidade Civilizada.

Cereais que sejam semeados por eles para serem cultivados, ovelhas para que as apascentem! Em seu coração, Enki estava planejando uma nova empresa; refletia sobre como consegui-lo.

Observou para estes planos aos Trabalhadores Primitivos do Abzu, refletiu sobre os Terrestres no Edin, nas cidades e nos hortas. O que lhes poderia adequar para os trabalhos? O que terá que não se haja combinado na essência vital?

Observou aos descendentes dos Terrestres, constatou algo alarmante: Com a repetição das cópulas, se estavam degradando para seus antepassados selvagens!

Enki esteve olhando pelas zonas pantanosas, navegou pelos rios e observou; com ele, só ia Isimud, seu vizir, que guardava os segredos.

Viu que na borda do rio se banhavam e pulavam uns Terrestres; entre eles, havia duas fêmeas de selvagem beleza, firmes eram seus seios.

Dou um beijo nas jovens?, Perguntou Enki a seu vizir Isimud. Levarei a embarcação até ali, beija as jovens!, disse-lhe Isimud ao Enki.

Isimud dirigiu a barco até ali, Enki saltou do barco para terra firme. Enki chamou uma jovem, lhe ofereceu uma fruta. Enki se inclinou para ela, abraçou-a, nos lábios a beijou; doces eram seus lábios, firmes de maturidade eram seus seios. Em sua matriz derramou seu sêmen, no emparelhamento a conheceu. Ela guardou em seu ventre o sagrado sêmen, ficou fecundada com o sêmen do senhor Enki.

Enki chamou à segunda jovem, lhe ofereceu bagos do campo. Enki se inclinou para ela, abraçou-a, nos lábios a beijou; doces eram seus lábios, firmes de maturidade eram seus seios. Em sua matriz derramou seu sêmen, no emparelhamento a conheceu.

Ela guardou em seu ventre o sagrado sêmen, ficou fecundada com o sêmen do senhor Enki. Fica com as jovens, para ver se ficaram grávidas! Assim lhe disse Enki a seu vizir Isimud.

Isimud se sentou junto às jovens; por volta da quarta conta apareceram as barrigas. Para a décima conta, a novena se completou, a primeira jovem ficou de cócoras e deu à luz, dela nasceu um menino; a segunda jovem ficou de cócoras e deu à luz, dela nasceu uma menina.

Ao amanhecer e ao crepúsculo, o qual delimita um dia, no mesmo dia deram a luz as duas, como as Cheias de Graça, Amanhecer e Crepúsculo, a partir de então lhes conheceu nas lendas. No nonagésimo terceiro Shar, engendrados por Enki, nasceram os dois no Edin. Isimud levou rapidamente a Enki notícia das iluminações. Enki estava em êxtase com as iluminações: Quem tinha ouvido falar de algo assim!

Conseguiu-se a concepção entre o Anunnaki e Terrestres, trouxe o ser ao Homem Civilizado! Enki deu instruções a seu vizir, Isimud: Minha ação deve permanecer em segredo! Que os recém-nascidos sejam amamentados por suas mães; depois disso traga-os para minha casa.

Entre as aneas, em cestas de junco, encontrei-os!, disse Isimud a tudo o mundo. Ninki tomou carinho aos enjeitados, criou-os como a seus próprios filhos.

Adapa, o Enjeitado, chamou o menino; Titi, Uma com Vida, chamou à menina. A diferença do resto de meninos Terrestres, o casal era de crescimento mais lento que os Terrestres, muito mais rápidos de compreensão; estavam dotados de inteligência, eram capazes de falar com palavras.

Formosa e agradável era a menina, muito boa com as mãos. Ninki, a esposa de Enki, tomou carinho a Titi; ensinou-lhe todo tipo de ofício. A Adapa, foi o mesmo Enki quem lhe ensinou, instruiu-lhe em como fazer notas.

Enki mostrou orgulhoso ao Isimud seus lucros, criei ao Homem Civilizado!, disse ao Isimud. De minha semente, foi criado um novo tipo de Terrestre, a minha imagem e semelhança!

Das sementes, farão crescer mantimentos; e apascentarão ovelhas, a partir de então, os Anunnaki e os Terrestres ficarão saciados!

Enki enviou palavras a seu irmão Enlil; Enlil veio desde o Nibru-ki até Eridú. No deserto, apareceu um novo tipo de Terrestre!, disse Enki a Enlil. São rápidos em aprender, podemos ensinar conhecimentos e ofícios. Que nos tragam do Nibiru sementes das que se semeiam, que se tragam de Nibiru ovelhas para repartir pela Terra, ensinemos a esta nova raça de Terrestres a agricultura e o pastoreio, nos saciemos juntos Anunnaki e Terrestres! Assim disse Enki ao Enlil.

Certamente, são similares aos Anunnaki em muitos aspectos!, disse Enlil a seu irmão. É uma maravilha de maravilhas que tenham aparecido por si mesmos no deserto!

Chamaram o Isimud. Entre as aneas, em cestas de juncos, encontreios!, disse. Enlil ponderou o assunto com gravidade, sacudia a cabeça com assombro. Certamente, é uma maravilha das maravilhas, que tenha surgido uma nova raça de Terrestres, que a mesma Terra tenha feito um Homem Civilizado, que lhe pode ensinar agricultura e pastoreio,
ofícios e elaboração de ferramentas!

Assim dizia Enlil a Enki. Enviemos palavras a Anu da nova raça! transmitiram-se palavras da nova raça ao Anu, no Nibiru. Que nos enviem sementes que possam ser plantadas e ovelhas para o pastoreio! Isto sugeriram Enki e Enlil ao Anu.

Que o Homem Civilizado sacie aos Anunnaki e aos Terrestres! Anu escutou as palavras, ficou assombrado com elas.

Que um tipo de essências vitais leve a outro não é algo inaudito!, disse-lhes em resposta, mas nunca se ouviu algo assim, que na Terra aparecesse tão rapidamente um Homem Civilizado a partir do Adamu! Para a semeia e o pastoreio fará falta um grande número; são capazes de proliferar os seres?

Enquanto os sábios do Nibiru refletiam sobre o assunto, no Eridú ocorriam coisas importantes.

Adapa conheceu a Titi no emparelhamento, ele derramou seu sêmen em sua matriz. Houve concepção, houve iluminação. Titi iluminou gêmeos, dois irmãos!

Transmitiram-se palavras do nascimento ao Anu no Nibiru: O casal é compatível para a concepção, podem proliferar! Que se repartam pela Terra sementes que se possam semear e ovelhas para o pastoreio, que comece a agricultura e o gado na Terra, nos saciemos todos!

Assim disseram Enki e Enlil ao Anu em Nibiru.

Permaneça Titi no Eridú, para amamentar e cuidar dos recém-nascidos, traga-se para o Nibiru a Adapa, o terrestre! Assim pronunciou sua decisão Anu.

(Livro de Zecharia Sitchin - Continua)







9 de março de 2014

O LIVRO MÁGICO DO ANTIGO EGITO IV



Nos dois registros inferiores, os modos de se deslocar nos espaços do outro mundo: de cabeça para baixo ou em pé. No registro superior, Ísis e Néftis sustentam um ser semicircular que magnetiza um Sol. As duas grandes mulheres-mágicas fazem desse modo circular a Luz da origem num universo curvo.

Com efeito, os Egípcios consideravam a superfície terrestre (e não a Terra) como um plano horizontal de percepção e o Cosmos como circular ou curvo. (Túmulo de Ramsés IX).

Segredos bem guardados e exigências rituais ”Isto”, afirma o capítulo 162 do ”Livro dos Mortos”, ”é um grande livro secreto. Não o deixeis ver a qualquer pessoa, seria um ato detestável! Aquele que o conhece e guarda segredo,continua a ser. O nome deste livro é a soberana do templo escondido”.

Estas recomendações, formuladas em intenção tanto dos práticos da magia como dos profanos imprudentes, não proibiam aos adeptos o acesso aos segredos. Impunham-lhes o silêncio em relação a indivíduos inaptos ou desastrados. Sabemos como esse livro e os segredos nele contidos foram comunicados aos
mágicos do Egito.

O deus Tot reunira os mestres em magia e entre eles foi recebido o postulante. Este lavou a boca, ingeriu natrão(carbonato de soda natural; servia aos Egípcios para conservar as múmias.) e provou que era capaz de se juntar à Enéade, a corporação das nove potências criadoras. Isso subentende que ele era capaz de levar a cabo, com sucesso, as experiências de base. Junto do mestre em magia que preenchia a função do deus Hórus, com uma máscara de falcão, o postulante teve a revelação das palavras e das fórmulas que datavam da época em que Osíris, o antepassado primordial, ainda estava vivo e reinava na terra do Egito.

A primeira prova para se poder concluir que o postulante compreendeu bem o que lhe foi confiado, seria a de vencer uma víbora de cornos. Sangue-frio, conhecimento da fórmula sonora que hipnotiza o réptil, segurança manual para o poder dominar: o futuro mágico é confrontado com a sua morte.

Tendo triunfado na prova física, segue-se a revelação metafísica. Os mestres em magia revelam ao adepto que os dois deuses tão diferentes, mesmo tão opostos - Ré, o luminoso, e Osíris, o tenebroso -, são apenas um e o mesmo ser.

É no interior da Casa de Vida que esse deus único é evocado, sob o nome de ”Alma Reunida”, simbolizado por uma múmia envolta numa pele de carneiro. Contemplando-a, o novo adepto reunia o seu próprio espírito e entrava no caminho da ressurreição.

Só um ser em estado de pureza pode aceder ao conhecimento dos segredos e da Unidade. É impuro o que é anti-harmônico, antivital. O homem está enredado nos próprios laços, não é naturalmente transparente à vida. A magia ensina-o a libertar-se dos entraves que ele impõe a si mesmo. A pureza exterior, a simples higiene tão apreciada pelos sacerdotes do Egito, é uma manifestação tangível da pureza interior. Por isso, o mágico lava-se com frequência. Com a boca purificada, as palavras que profere também o estão.

O lavar das mãos, assim como o lavar dos pés, desembaraçam-no de energias nocivas. ”Os teus pés são lavados em cima de uma pedra, na margem do lago do deus”, diz o capítulo 172 do ”Livro dos Mortos”. Este ato ritual era portanto considerado suficientemente importante para ser executado no interior do templo.

Também se lavavam os pés de um rei no decurso de uma grande cerimônia, e é mais ou menos certo que esse rito real inspirou a cena dos Evangelhos em que Cristo dá uma grande importância ao ato de lavar os pés.

Uma vez purificado, o corpo é digno de receber um vestuário ritual. O capítulo 117 do ”Livro dos Mortos” é uma fórmula específica para vestir o trajo uab, ou seja ”o Puro”, um verdadeiro ”corpo novo”, de brancura imaculada, que o mágico deverá evitar enodoar com atos contrários à harmonia.

Recebendo esse trajo, o adepto recolhe-se e implora às divindades para que afastem dele as impurezas espirituais e corporais, que o trajo de pureza lhe seja oferecido para toda a eternidade.

Esta tradição será preservada até às épocas mais tardias da civilização egípcia, uma vez que num papiro grego da Biblioteca Nacional (Paris), se pede ao mágico que se vista com um tecido leve, que cante um hino e recite uma fórmula em presença de um ”médium” que está diante do Sol.
Hoje, tal como ontem, não se pratica a magia de qualquer maneira nem em quaisquer condições.

As exigências rituais estão assim indicadas no Livro da Vaca do Céu, inscritas em colunas de hieróglifos nos túmulos reais do Império Novo:

”Se um homem pronuncia esta fórmula para seu próprio uso, deve ser untado com óleos e unguentos, tendo na mão o turíbulo cheio de incenso; deve ter natrão de uma certa qualidade atrás das orelhas, tendo na boca uma qualidade diferente de natrão; deve estar vestido com duas peças de roupa nova, depois de se ter lavado na água da enchente, ter calçado sandálias brancas e ter a imagem da deusa Maet (a Harmonia Universal) pintada na língua com tinta fresca”.

Outras prescrições elementares: ”Que esta fórmula seja lida quando se esteja puro e sem mancha, sem ter comido carne de rebanho ou peixe e sem ter tido relações com mulher”.

Assim preparado, respeitador de regras estritas, o mágico está apto a traçar no solo o desenho sagrado em que se inscrevem, sob a forma de símbolos, as forças que manipula.

Na ”sala das duas maet (quer dizer, das duas verdades, a cósmica e a humana), vestido de linho, coberto de galena, devidamente purificado, ungido com mirra, calçado com sandálias brancas, o mágico faz a oferenda de bois, galináceos, resina de terebentina, pão, cerveja e legumes. Depois traça o desenho ritual em conformidade com o que se encontra nos escritos secretos, sobre um solo puro, coberto de um branco extraído de um terriço que não tenha sido pisado nem por porcos nem por cabras.

Os construtores da Idade Média não agiram de modo diferente ao traçarem o seu ”quadro de loja”, que em algumas lojas iniciáticas da Maçonaria contemporânea é efetivamente recriado a cada sessão de trabalho.

O mágico é pois, desse modo, um verdadeiro Mestre-de-Obras, designado para conceber um plano. Cinge em torno da fronte ”a faixa do conhecimento” e faz esta espantosa declaração: ”Os meus pensamentos são grandes sortilégios mágicos que saem da minha boca”.

Antes disso passou por um rito de ressurreição durante o qual se deita numa esteira de junco, tornando-se uma múmia viva que entra magicamente em contacto com as potências superiores. O mágico revive a paixão de Osíris, regressado do além-morte.

O tribunal divino, os guardiões das portas, o barqueiro Se um mágico recita o livro secreto, sobre a terra, em favor de um homem, este não será despojado pelos gênios que, em todos os lugares, atacam quem cometeu o mal. Não será decapitado, não morrerá sob a faca do deus Set, não será conduzido a nenhuma prisão. Entrará serenamente no tribunal divino que espera todos os seres no crepúsculo da sua existência terrestre, e dele sairá justificado, desembaraçado do terror da injustiça.

Eis, pois, um dos grandes serviços prestados pela magia: permitir ao justo apresentar-se de cabeça erguida, sem temor, diante dos seus juízes.

Alguns egiptólogos, sentindo talvez preocupações com o seu próprio caso, acusaram os Egípcios de serem ”embusteiros”: teriam enganado os deuses, abusando da magia. Na realidade, isso demonstra uma ingenuidade que nos deixa desarmados.

É a magia do conhecimento que o tribunal põe à prova, não os
”truques” de um ilusionista de feira. Se o homem não possui as leis desta magia, está efetivamente desarmado e condenado de antemão a reviver um novo ciclo material, sem que isso implique uma reencarnação no sentido habitual do termo.

Outros perigos espreitam o adepto nas estradas do outro mundo. Para passar as quatro fronteiras do céu, o viajante deve convencer os guardas a deixarem a via livre, recitando-lhes as palavras daqueles cujos lugares são secretos.

Numerosos capítulos dos ”Textos dos Sarcófagos” evocam essas personagens sinistras, frequentemente armadas com facas, velando lagos de profundidades insondáveis e caminhos que se alongam nas trevas, cruzamentos onde as pessoas se perdem. Só a magia aniquila o poder desses gênios inquietantes.

Uma outra personagem exige do viajante do Além qualificações mágicas de primeira ordem. Trata-se do barqueiro, que detém o tesouro entre os tesouros: a barca, graças à qual se pode atravessar as grandes extensões aquáticas dos campos celestes. Quando o iniciado exige utilizar a barca, o barqueiro submete-o a um interrogatório apertado:

”Quem és?”, pergunta.

”Sou um mágico”, responde o adepto, que em seguida afirma estar completo, equipado, dispondo do uso dos membros.

Esta afirmação é considerada insuficiente. Terá de provar a sua qualidade de mágico enunciando as diferentes partes da barca e as suas correspondências mitológicas e esotéricas. O profano não tem qualquer possibilidade de conseguir essa proeza.

Em troca, o mágico formado na profissão triunfa: comandará as cidades do Além, fará o inventário das riquezas do outro mundo e dará aos pobres aquilo de que têm necessidade na Terra.

Quer dizer que o estatuto social do mágico é elevado: não é apenas um ”intelectual” mas também um gestor cujas competências são postas ao serviço dos mais desfavorecidos, embora se trate de um processo econômico dos mais estranhos.

O barqueiro, no entanto, ainda não está satisfeito. Exige do mágico um saber matemático traduzido na sua capacidade de contar pelos dedos. Cada dedo, cada ”ato numérico”, tem um profundo significado. Não se trata de um banal cálculo mental, mas sim de uma criação do mundo pelos Números e não pelos algarismos.

Outra questão que o barqueiro põe ao mágico: ”De onde vens?”, terá a seguinte resposta: ”Da ilha da chama”, quer dizer, do lugar do universo onde o Sol trava, em cada manhã, um combate vitorioso com os inimigos da Luz.

Oriundo do Sol, o mágico tem um temperamento de guerreiro e de vencedor. Já o provou.

Fato capital: o mágico revela ao barqueiro que descobriu o estaleiro naval dos deuses onde a barca se encontra em peças separadas. Não é ela análoga a Osíris desmembrado? Ora, o mágico sabe o que fazer para a reconstituir pois possui a arte suprema.

Vencido por tanta ciência, o barqueiro inclina-se. Preenche as exigências formuladas pelo mágico, põe a barca à sua disposição e regressa ao seu posto, esperando pôr à prova o próximo viajante.

“Aquele que conhece o livro de magia, pode sair para o dia e passear na terra entre os vivos. Nunca morrerá. A eficácia disso foi testada milhões de vezes”.

Cercam-no milhões de mágicos egípcios, eternamente vivos. ”Saíram para o dia”, na Luz, porque o poder mágico estava com eles e permitia-lhes afastar qualquer entrave à sua liberdade.
Esta ”contagem” muito especial exigiria só por si um longo estudo. Na nossa opinião, está na origem, ainda não assinalada, da Cabala numérica.

A ”saída para o dia” está presente no ritual celebrado quotidianamente nos templos. De manhã, quando o sacerdote abre as portas do nãos que contém a estátua divina, pronuncia estas palavras:

”Abertas estão as portas do céu, sem ferrolhos estão as portas do templo. A casa está aberta para o seu mestre! Que ele saia quando quiser sair, que entre quando quiser entrar!”

É essencial, no Além, caminhar sobre os pés e não sobre a cabeça.

Fórmulas mágicas evitam ao iniciado esse grave dissabor, permitindo-lhe percorrer normalmente os caminhos de água e de terra do outro mundo acompanhando a comitiva do deus Tot.

O mágico avança pelos belos caminhos do Ocidente sob a forma de um ser iluminado, tendo adquirido e experimentado todos os poderes sem deles se ter tornado escravo. É identificado com o jovem deus nascido no Belo Ocidente, vindo da terra dos vivos, desembaraçado da poeira do cadáver, tendo enchido de magia o coração e estancando a sua sede de conhecimento.

Navega para o campo de juncos, um dos campos celestes. Vai e vem pelos campos, cidades e canais do Além. Lavra, vê Ré, Osíris e Tot em cada dia, tem poder sobre a água e sobre o ar, pode fazer tudo o que deseja, como o iniciado da abadia de Teléme.

A vida está no seu nariz, não morrerá, vive no campo das oferendas em que estão fixadas as suas propriedades para a eternidade. Cumpriu o seu voto: tornar-se mágico.

(CONTINUA - Autor: CHRISTIAN JACQ)