28 de janeiro de 2013

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS XIV

O FANTÁSTICO LABORATÓRIO DO OLHO
É um pouco como se quisesse retratar um objeto abrindo e fechando ante si um estojo que contém uma placa sensível: Obteria uma placa velada e nenhuma imagem.
Ao contrário, o cérebro é sensível às ondas eletromagnéticas e o olho, pra cumprir sua missão, converte os fótons (energia) em onda eletromagnética.

Para os físicos de Princetão o olho é um laboratório que deve transmutar os fótons (quantas de energia luminosa que não se comportam como onda mas como projéteis, segundo Einstein) em ondas eletromagnéticas. Existirá, pois, uma diferença de natureza entre os fótons ou grãos de luz e as ondas eletromagnéticas normais. A natureza da luz é muito mal conhecida e, segundo France-Culture, os físicos ainda não compreenderam o processo da fotografia.

Nosso complexo biológico é uma máquina fantástica, infinitamente superior aos computadores mais perfeitos!
Portanto, graças às ondas eletromagnéticas, o cérebro recebe e percebe a forma.

Temos um processo análogo e inverso com o aparato de televisão que também está obrigado a transformar as ondas que recebe.

— Então — pensas — vejo a garrafa!
Não é tão exato! Teu cérebro vê a garrafa mas a imagem é interior a teu eu!
E não se compreende como a pode ver exteriormente, quer dizer, fora de tu mesmo.

Talvez exista um trajeto inverso das ondas e dos fótons, mas não se está seguro disso, posto que os biólogos imaginam que pra ver o exterior nosso eu estaria obrigado a sair de nós, a se exteriorizar também. Já o mencionamos mais acima: Está admitido em física nuclear que partículas (grãos de luz, ou fótons) podem desaparecer como matéria e reaparecer como radiação eletromagnética.

Nessa hipótese se produziria um trabalho fantástico que não se limitaria ao objeto e ao processo de transformação, senão que transbordaria fora deles, fora do ser humano e, sem dúvida, fora de nosso universo conhecido.

O observador humano, tu, nesse caso, transcenderia, então, até se exteriorizar, até se converter numa supraconsciência, super universal no sentido em que parece ter um fenômeno de ubiquidade. Mas o eu consciente e lúcido do observador nada saberia do mecanismo, do irracional, da magia de seu desdobramento. A menos que seu prodigioso cérebro imagine o exterior como se, ao sair dum cine, contemplasse o filme além da tela, sobre o próprio cenário onde foi filmado.

Esse jogo, excessivamente sábio e complicado pra nosso débil entendimento tem, sobre um plano menos elevado, o interesse de nos facilitar a aproximação ao Misterioso Ignoto e aos universos paralelos. Somente os sábios mais sutis captam esse ignoto insondável que governa nosso pensamento, nosso comportamento e nossas funções mais elementares.

Como somos ignorantes! Tudo é exato porque tudo é magia, ilusão, maia.

O PECADO DO EU

De fato, esse eu, esse ego que tanto nos preocupa não tem tangibilidade, realidade muito evidente! Existimos? Certamente! Mas, melhor, à maneira duma célula pertencendo ao himalaia universal, e não como indivíduo consciente, livre, unitário.

Escolhemos nosso sobrenome. Nosso nome de batismo. O cor de nossos olhos, de nosso cabelo, nossas taras hereditárias, nossa nacionalidade? Escolhemos nascer no século XX?
Verdade que não? Então, tentemos encurralar, isolar nosso eu, muito pessoal!

Esse eu, que somente aparece com a evolução, o nascimento das civilizações e a dissociação do cósmico. De fato, parece que os homens primitivos não tiveram a preocupação de se dar um nome próprio. Levavam só o nome do clã, e nem isso é certo.

Os esquimós, não faz ainda muito tempo, quando falavam de si diziam Este homem.Entre os negros, a que o racismo se identificou com o espírito tribal, essa ausência do eu é ainda tão vívida que, por um crime cometido contra um de seus membros, outra tribo pode, indiferentemente, matar quem quer que seja que pertença ao grupo rival. Não se lhe ocorrerá, sequer, ao condenado o pensamento de dizer: Não fui eu, dado que seu eu está inteiramente integrado no nós.

O mesmo fenômeno impulsiona o homem mordido por uma víbora a se vingar matando, mais tarde, qualquer víbora. Porque essas víboras não têm nome próprio, como tampouco o têm a nuvem, a árvore, a erva, a gota d'água e o grão de areia do deserto. Todos têm, exatamente, um nome de família: Víbora berus, víbora aspis, nuvem cúmulo nimbo, etc.

Quando o homem adquiriu consciência de sua individualidade (quando se separou voluntariamente do todo cósmico: O pecado original) experimentou o desejo de dar, também, uma identidade às coisas e aos seres da Natureza. Primeiro classificou por espécie e por gênero pra não cansar demasiado seu intelecto ainda pouco desenvolvido: Os ruminantes, as rapazes, os carvalhos, etc. Depois sua mente obteve os meios de armazenar nomes mais distintivos e inventou a vaca, o boi, o cervo, o camelo, a águia, o falcão, a encina, o carvalho, a sobreira, etc.

O mesmo processo seguiu quanto ao sobrenome dos homens.No princípio foram sobrenomes de profissão: Alfaiate, ferreiro, carreteiro.

Entre os hindus o nome da mulher tinha que ser suave de pronunciar: Sita, Kali, o nome do guerreiro: Rude e sonoro, o do brâmane: Poderoso e majestoso, o do paria: Difícil de pronunciar e expressando a abjeção.

Entre os hebreus os nomes tinham um significado místico: Elias e Joel (dois nomes de Deus) ou representavam uma característica ou qualidade.

Os gregos chamavam os meninos: Filho de fulano, e o homem não adquiria um nome próprio antes do merecer por uma reputação individual.

Desse modo Aristocles se converteu em Platão devido à largura dos ombros e foi esse apelido que ficou. O apelido: O gago, o coxo, o forte, o simples, o audaz, etc., foi sempre mais representativo do indivíduo que o sobrenome decretado pelas leis.

Cabe ressaltar que o eu pode se converter em nós e assim era no tempo dos romanos, o Nós majestoso, pra significar que tal tirano, tal césar tinha o poder, o valor, a força, a beleza, em resumo, o valor de várias pessoas.

O EU MANIPULADO DOS CHINESES
O eu do qual nos jactamos e do qual estamos geralmente orgulhosos não é, definitivamente, mais que o resultado do encontro dum óvulo e dum espermatozoide, o todo nutrido pelo sangue da mãe, por seu leite, pelo leite de vaca, papa de arroz, chocolate, bisteca, batata, vinho tinto, etc.

E esse todo se desenvolve intelectualmente mediante o que ouve quando é, ainda, um feto, e do que aprende de seus pais, de seu ambiente, no colégio, livros, periódicos, rádio e televisão. O eu, também aqui, é terrivelmente condicionado, forjado, moldado, manipulado.

Um chinês de Mao Tsé-tungue, um alemão de Rítler, um russo de Brejeneve, um latino cristão ou um árabe muçulmano não têm um eu fundamentalmente diferente ao do vizinho. Quiçá pode ser situado no trabalho individual, num certo modo de coordenar a informação recebida do exterior, mas essa centelha de personalidade é muito frágil e ilusória comparada com o todo do maoísta célula, do ritleriano, do russo, do cristão e do muçulmano embrutecidos por seus dogmas.

Ademais, é sabido que os hormônios condicionam o comportamento psíquico de todo indivíduo. O hormônio tireoide têm uma relação com os humores e os estados depressivos de nosso eu que mil outras influências exteriores perturbam, submergem, aniquilam.

Onde está o eu de um soldado, de um drogado, de um homem inscrito num partido político ou religioso?

Por último, o eu se opõe ao espírito de massa, dos pássaros, por exemplo, e à integração na ordem universal. Essa é a razão pela qual existe o pecado.

Capítulo XII

OS CAMINHOS ENGANOSOS DO LABIRINTO
Não é fácil dar significado concreto aos símbolos e é ainda mais difícil lhes assinalar uma hierarquia.

Geralmente se concede uma primazia ao sinal de Deus ou do Sol: O círculo, assim como também a espiral, representam o Divino em sua manifestação mais total: A evolução e o espaço-tempo.

Os outros símbolos mais correntemente evocados pelos esoteristas são a água, o fogo, a serpente, o dragão, o labirinto, o falo, o jarro, a suástica, as estrelas, o unicórnio, etc. Não obstante, se olvidam, com frequência, os principais: |, —, +, O.

O | representa ao homem, o — a mulher, o + o acasalamento e o hermafrodita, ao O o ponto de neutralidade, o nó de tempo e de espaço no que tudo é diferente ou não existe: O tempo e o espaço do divino.

A hierarquia exigiria a seguinte ordem: O + é o hermafrodita original, o – a mulher, e o | homem. Nessa ótica, a O representa a Deus.

Naturalmente, depois dos símbolos principais de Deus, do universo, do triplo mistério do homem, vêm as representações do falo, do jarro (taça-vulva), do fogo, da serpente, da água.




O DILÚVIO CASTIGA O PECADO
Explicamos, com frequência, esse significado particular que se lhe dava, no meio da iniciação, ao sinal + que representa o ser princeps (Primevo), ao mesmo tempo homem e mulher.

Esse ser do Deus tirou um costado (e não uma costela) pra criar Eva, mas também pra criar seu companheiro, vulgarmente representado por Adão na lenda bíblica e nas especulações da maioria dos esoteristas.

Não temos qualificação pra afirmar seja o que for mas podemos dizer que em alta iniciação não é questão dum homem primordial, senão dum hermafrodita primordial e, esperamos que a ciência dos biólogos lançará, algum dia, luz decisiva sobre este ponto.

Já, a atualidade do século XX poderia despertar a atenção e, inclusive, as suspeitas daqueles que têm olhos pra ver.

Antanho, e até no século passado, havia a Máter-taça e o Homem-falo.

A Máter sente renúncia por sua missão e, cada vez mais, se nega a procriar pra permanecer bonita e se transforma na Lilite egoísta e experta em erotismo. O erotismo substituiu o coito amoroso. Por sua parte, o homem se afemina e rechaça se tornar pai.

Este processo evolutivo, intelectual e contestatório não se leva a cabo sem interação com o processo físico. Sem dúvida, é motivado no inconsciente por uma programação cujo objetivo é, quiçá, justificar pelo absurdo o fim duma raça decadente.

Já o dissemos: O racismo é a lei superior do mundo orgânico e o pecado é não ser racista.

Desde que o homem perde de vista essa noção fundamental se despega de Deus, do cósmico e se funde no deterioração.

Quando o carvalho esquecer que é carvalho e produzir um fruto distinto da bolota, então os bosques desaparecerão e o pecado provocará um novo dilúvio. Porque, no ensino secreto, o dilúvio não tem outro significado que o de castigar o não respeito do legado genético e do patrimônio da espécie.

A BOMBA ATÔMICA
Se pensou, durante muito tempo, com Platão, que a catérese do mundo (sua destruição, sua pralaia) seria causada pelo fogo ou pela água. Logicamente, a água que aporta a vida também deve proporcionar a morte.

Pralaia, segundo a teosofia é o período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que não ocorre atividade. Dura, segundo o cômputo dos brâmanes, 4.320.000.000 de anos. O período de atividade, chamado manvantara, tem a mesma duração. Tomando 360 manvantaras e igual número de pralaias, se obtém um Ano de Brama.

A duração de 100 Anos de Brama forma uma Vida de Brama, também chamado de mahamanvantara, durando no total 311.040.000.000.000 de anos. Esse é, segundo Helena Blavatsky, o período de atividade do cosmo, se seguindo um período de inatividade, chamado maapralaia, de igual duração.

O símbolo do fogo, a chama, tem, também, um valor gerador e destrutor mas, ademais, evoca o pecado humano ou, melhor, o sentimento de culpa que atingiu o homem. Essencialmente, o fogo pertence ao Sol criador, a Deus, e não aos profanos.
Se o divino é pródigo em água que se infiltra na terra e ali se instala, o é muito menos do fogo que, de qualquer maneira, remonta ao céu depois de expressar sua onipotência. E a onipotência divina é sempre um fenômeno de destruição: Não se contempla impunemente o rosto de Deus.

Inclusive com lentes de cristais excepcionalmente negros e quase opacos, a luz mais clara que 100.000 sóis da bomba atômica não deixa de ter perigo aos olhos e a todo o corpo humano. Há que se velar o rosto pra olhar a Deus, que tem, também, por símbolo a bomba atômica e por expressão a explosão nuclear.

A bomba atômica é Deus, por fim redescoberto pelos homens. Aqueles que estão lúcidos o compreendem: Os outros, muito orgulhosos de sua ciência fecunda, sutil, e de suas realizações altamente materialistas, se admiram, se repartem medalha e recompensa mas, no recôndito da consciência, experimentam uma surda inquietude e maldizem aos bruxos satânicos que, desde Joliot-Curie a Einstein, redescobriram o fogo de Deus e abriram a caixa de Pandora.

Na verdade o fogo é tão gerador de invento, de evolução, tão necessários à vida e à morte, tão magicamente fértil que sempre esteve unido à essência mesma de Deus ou a seu arsenal divino (o raio).

Ao inventá-lo ou ao recolhê-lo por subterfúgio, o homem imaginou que ultrapassava seus direitos e furtava algo divino, tabu. Então, se sentiu muito culpado e acreditou se justificar infamando aqueles que a tradição dizia haver roubado o fogo celeste.

É assim como o bom Lúcifer e o admirável Prometeu pagou pelos humanos sem ser beneficiado com sua gratidão.

Tudo o que é maravilhosamente mágico: O fogo, a fotografia, o rádio, o avião, a televisão, etc., é, como a bomba atômica, salto do tabu e crime de lesa-majestade.
Christia Sylf expõe que Lúcifer poderia ser o admirável sacrificado que teria permitido o grande experimento em curso sobre a Terra.

A GARÇA GRIS CINZA
Bastante paradoxalmente, foi o herético mas clarividente Giordano Bruno (Filósofo italiano do século XVI. Opôs à religião cristã a ideia dum mundo infinito, entregue a uma evolução universal e eterna. Excomungado, degradado, o ilustre pensador foi condenado pelo Santo Oficio a ser castigado com tanta clemência como se poderia e sem efusão de sangue: Foi queimado vivo! Resultou benéfico que fosse sacrificado pra que perdurassem suas ideias. Aqui também tem sacrifício ao deus) quem, antes de ser queimado vivo em Roma por ordem do muito Santo Oficio, farejou muito perto o mistério da fênix que, também como ele, mas voluntariamente, ardia em vida no final duma de suas múltiplas existências.

Segundo Giordano Bruno, «os tiranos sociopolíticos e seus mercenários da ciência e das universidades (quer dizer, a equipe e o potencial energético das civilizações) levam neles os germes de sua destruição pelo fogo».

Estatua de Giordano Bruno em Campo de Fiori, Roma.

Se pode entender por isso que a humanidade não pode escapar aos tiranos da política, da ciência, da cultura, que representam o fogo, um fogo de forja onde perecem e renascem homens que vão ficando, sem cessar, melhor temperados e aptos pra se liberar de sua escória física e mental.

Por isso mesmo, sem dúvida, posto que o que está acima é como o que está abaixo, os universos se consomem, se regeneram, se afinam e, a cada vinte ou cem mil milhões de anos, renascem com componentes mais sutis geradores de criação e de civilização mais desenvolvida e mais inteligente. E por isso o ferro brutal, arrancado à mina, se converte em sol cintilante no coração do braseiro, e depois em relha de arado, folha, espada, poste após ser moldado e temperado.

Há 4.000 anos, e mais, para pôr de acordo os feitos históricos e os mitos científicos de seu tempo, os egípcios imaginaram o símbolo da fênix que representava, esotericamente, ao mesmo tempo o ciclo cósmico, a marcha do tempo, o transcorrer da civilização e as cheias periódicas do Nilo. Essas cheias, vitais para a vida econômica do país, eram observadas pelos magos (sábios, médicos, copistas e sacerdotes) das Casas de Vida, espécie de academia científica egípcia.

Esses magos notaram que quando acontecia a inundação um pássaro magnífico planava sobre a água ou pousava numa ilhota. Era a garça cinzenta de duplo penacho e de largo bico que, nas auroras auro-rosas ouro vale do Nilo, se recortava, às vezes, hierática, impressionante, sobre o disco vermelho do deus-sol Ra.

A imaginação popular se comprazia em o crer parido pelo astro da manhã e o associava ao mesmo Deus, com o touro Mnévis e ao betilo, onde o primeiro sol se havia levantado no início do tempo. Essa ave milagrosa, anunciadora da boa-nova, os egípcios a haviam chamado boinu e os gregos phénix, palavra que significa vermelho, como a palavra fenício designando a Adão e aos vermelhos, primeiro homem e primeiros habitantes da Terra.

Quando o ave regressava, principalmente a Heliópolis (Cairo) onde era objeto de culto, em todo Egito se produzia um estalido de alegria.
— A fênix voltou! Então se sabia que o arroz cresceria em abundância e que os meninos nascidos nessa época receberiam uma bênção excepcional. Pouco a pouco a fênix foi identificada ao Sol. Como ele, parecia surgir sobre a água primordial fertilizante e «reinava sobre os ciclos trintenal e as festas da vida regenerada», escreveu o egiptólogo Serge Sauneron.

O MISTÉRIO CÓSMICO DA FÊNIX
Mas foram os gregos, de imaginação ainda mais fértil que os egípcios, que criaram o mito da ave maravilhosa que, no final da vida, se deixava consumir pelo Sol apra renascer de sua cinza, às vezes com a forma de verme ou ovo. O ovo, ou o verme, se convertia, então, numa nova fênix cujo primeiro cuidado era transportar a Heliópolis, sobre o altar do Sol, despojos de sua antiga encarnação.

Cada fênix vivia 654 anos segundo Suidas, 540 anos se crermos em Plínio e Solínio, 500 anos segundo Heródoto e 1.461 anos segundo Tácito. A época de sua morte coincidia sempre com o equinócio vernal (da primavera), o que indica claramente que os antigos viam um ciclo no mito.

A revista ianque Kronos diz que a aparição da fênix coincidia com a cheia do Nilo, os movimentos de Sótis (a estrela Sírio) e os doze sinais do zodíaco, o que estabelecia relação entre as atividades humanas cotidianas e as da natureza divina. Essa harmonia tranquilizadora, recalcada adrede pelos sacerdotes, persuadia as massas sobre sua posse verdadeira ao macrocosmo, aos grandes ciclos cósmicos dos quais o homem, como a fênix, a cheia, os equinócios eram parte integrante e manifestação privilegiada.

Nesse conceito os homens podiam crer em reencarnações sucessivas e numa vida eterna até o fim do tempo.

O LABIRINTO
No esoterismo, o labirinto é, ao mesmo tempo, o bosque e o caminho arriscado que deve percorrer o Adepto para ir da cidade de Luz-escuridão à cidade de Luz-luz.

É o caminho de vida e de adivinhação do mundo com, no final do trajeto, no centro ou no perímetro, uma saída vertical ou horizontal que não se pode encontrar, presumir ou calcular por alguma ciência, por mais avançada que seja.

Unicamente a intuição, a imaginação e, sem dúvida, também a virtude, podem guiar nesse dédalo mais imaginário que real do qual o iniciado e o poeta se evadem atravessando os muros.

O labirinto é à imagem do labirinto que se adquire, seja por tentativa pro cientista, seja por intuição e revelação pro esoterista.

Estarão aqueles que se extraviarem, tateando, e aqueles que, misteriosamente guiados, se dirigirão quase diretamente à saída. Nesse sentido o fio de Ariana é a graça, o terceiro olho.

O labirinto esotérico é similar ao Bosque aventuroso onde o paladino Rémondin encontrou Melusina e os castelos perigosos dos romances da Távola redonda. Em certo sentido se pode pensar que o labirinto conduz a um universo paralelo, que é a cidade cerrada de Luz, sem porta nem janela, mas com um passadiço subterrâneo que desemboca nalguma parte. Sem dúvida, no torreão da cidade, no próprio núcleo mais inacessível e que, de fato, é o mais vulnerável do intestino.

O labirinto de Chartres, como o doutras igrejas, é um condensador prático, um substituto da via crucis de Jesus em Jerusalém. Porque o próprio do jarro adornado cerrado, do homem, da alma, é ter duas entradas secretas, duas eclusas: Uma ao Céu, outra à Terra. Uma ao Acima, a outra ao Abaixo.

A concepção do labirinto se vincula à da espiral, da origem do universo (ou melhor de sua explicação) e do nada impossível.

O labirinto é, também, o lugar onde gosta de vagabundear a serpente guardiã ou buscadora de tesouro e, é ritualmente, uma mulher, Ariana ou Melusina, a que está associada à serpente, ao tesouro e ao herói.

Nota: Além dos marcos conhecidos de tais pontos telúricos (os dolmens, menires, entre outros), temos os quase esquecidos Labirintos de pedra, desenhados nos lugares ditos anteriormente pagãos (locais onde, por cima, muitas Catedrais foram construídas).  Vemos no interior de muitas Catedrais como, por exemplo, em Chartres, desenhos de Labirintos, como a nos relembrar constantemente os “antigos tempos” da Tradição Primordial.

Os Labirintos seguiam muitas vezes os canais de energia telúrica do solo, dando, assim, forma ao seu complexo de passagens e corredores.

Os Labirintos são encontrados também em outros lugares ou templos. Acredita-se que continham funções de interiorização, e até mesmo exotéricas.

O Dictionnaire des symboles (Dicionário dos símbolos) diz que o labirinto é uma representação simplificada da mandala, imagem psicológica própria pra conduzir à iluminação.

Por suposto, os judeu-cristãos o açambarcaram e, o desenhando sobre as lousas das igrejas, em Chartres, em Poatiê, em Sens, em Amiéns, fizeram dele um substituto da peregrinação à Terra Santa e, também, segundo se diz, à rubrica dos construtores do edifício.

O labirinto, em certos monumentos antigos (em Creta, em Clusium, em Heracleópolis), tinha como missão proteger o centro, o tesouro, a tumba e extraviar o sacrilégio, assim como também suscitar a admiração dos povos no futuro como foi o caso do Labirinto do Egito, do qual, desgraçadamente, não resta vestígio.

A MARAVILHA DO MUNDO DE HERÓDOTO

No Egito, há 2.800 anos, segundo Heródoto, depois do reinado de Séti, doze reis dividiram o país entre si e prestaram juramento de viver em harmonia.
Mas citemos Heródoto. Quiseram, também, deixar, compartilhando o gasto, um monumento à posteridade. Tomada essa resolução, fizeram construir um labirinto perto do lago Moéris (o atual lago Carum) e bem perto da cidade dos Crocodilos.

Vi esse monumento e o julguei além de toda expressão. Todas as obras, todos os edifícios dos gregos reunidos pelo pensamento, lhe seriam inferiores tanto em trabalho como em gasto. Os templos de Éfeso e de Samos, merecem, sem dúvida, ser admirados, mas as pirâmides estão acima de tudo quanto se possa dizer e cada uma, em particular, pode ser comparada paralelamente aos maiores edifícios gregos. Pois bem, o labirinto sobrepuja, inclusive, as pirâmides.

É composto por doze pátios recobertos de teto, cujas portas se enfrentam, seis ao norte e seis ao sul, todas contíguas. As encerra um mesmo recinto de muralhas. Os apartamentos são duplos. Há mil e quinhentos sob a terra, três mil em conjunto. Visitei os apartamentos superiores, passei neles e, por isso, posso falar com certeza e como testemunha ocular.

Quanto aos apartamentos subterrâneos só sei o que ouvi. Os egípcios que os guardam não permitiram que me fossem mostrados porque serviam, me disseram, de sepultura aos crocodilos sagrados e aos reis que construíram todo esse edifício. Portanto não falo dos alojamentos subterrâneos mais que por referências alheias: Quanto aos superiores, os vi e os considero o maiores que os homens puderam fazer.

Os passadiços através dos apartamentos e os circuitos através dos pátios nos causavam, por sua incrível variedade, admiração ilimitada, enquanto passávamos dum pátio aos aposentos, dos aposentos aos pórticos e a outros apartamentos donde chegávamos a mais pátios. O teto de todo esse conjunto de alojamento é de pedra, assim como as paredes, que estão em toda parte decoradas com figuras em baixo-relevo.

Ao redor de cada pátio existe uma colunata de pedras brancas perfeitamente unidas entre si. Em cada um dos ângulos do labirinto se eleva uma pirâmide de cinquenta orgias» (cada orgia=1,84m), sobre a qual se esculpiu, em grande, figuras de animal. Se chega a elas por um subterrâneo».

O LABIRINTO DE CRETA
Construído, por ordem do mítico rei Minos, pra servir de prisão ao Minotauro, o labirinto de Creta supera, em notoriedade, o lago Carum. Os simbolistas mais expertos se perdem em conjetura sobre esse labirinto, sem dúvida, construído pra apagar o vestígio dum duplo pecado: O duma ofensa aos deuses e o dum amor pecaminoso da bela Pasífae a um touro demasiado formoso e demasiado branco. Já se conhece a conclusão: Teseu conjurou a calamidade.

A partir deste elemento é possível seguir o fio de Ariana e adivinhar o mistério?

Recordemos os fatos: Rei Minos deve, ritualmente, sacrificar a Netuno os cem touros mais formosos de seus bens semoventes.

Em certo ano havia um tão formoso, tão perfeitamente branco e de forma tão harmoniosa que o rei o poupou e o substituiu por outro animal de menor valor.

Netuno, irritado, inspirou, então, estranha paixão à esposa de Minos, a bela e ardorosa Pasífae: Ela rechaçou, sucessivamente, as insinuações do marido e quis fazer amor com o touro.

Minos tentou a induzir à razão mas Pasífae, que é de fogo quando contempla a esplêndida besta, permanece de mármore ante a recriminação. Inclusive logra persuadir o engenhoso Dédalo pra que lhe construa uma falsa vaca em cujo interior se encerra pra enganar o touro e gozar seu favor.E o que foi dito, foi feito.

Pasífae conheceu um orgasmo maravilhoso mas, algum tempo depois, pariu um ser meio homem meio touro: O Minotauro.

Minos está dolorido mas sua esposa é tão bela e, de fato, tão inocente nessa história erótica, que a perdoa, mas recolhe ao filho adulterino e monstruoso no labirinto que construiu o astuto mas pouco escrupuloso Dédalo.

Por que encarcerar o Minotauro num labirinto e não numa sala fortificada? Responder a essa pergunta seria dar o esboço da resposta.

Talvez tenhamos progredido no estudo do mistério no qual inscrevemos já os elementos seguintes: Impiedade, efervescência duma vulva humana, nascimento dum monstro que se recolhe ao mais profundo duma sucessão de salas e corredores.

A cada sete anos (se diz, também, a cada nove anos) os atenienses vencidos por Minos deviam enviar a Creta um tributo de sete jovens varões e sete virgens destinados a se converter em alimento do Minotauro.

É sabido que o herói Teseu, graças ao fio de Ariana, sua amada, pôde entrar no labirinto, matar o monstro e voltar a sair seguindo o fio condutor.

Eis nós aqui um pouco melhor informados com o resgate do pecado, a mulher que ajuda ao herói e lhe permite sair da inextricável aventura.

Em resumo: Fica ressaltado que da cumplicidade duma mulher e do discernimento no caminho a seguir, as consequências duma falta podem ser apagadas por um herói.

HOMENS CONTRA MONSTROS
É necessário, sem dúvida, acrescentar a esses elementos a evasão de Dédalo e de seu filho Ícaro, encerrados por Minos no labirinto.

Dédalo confeccionou asas com plumas de pássaro e os dois prisioneiros puderam fugir pelo céu, o qual implica um labirinto sem teto. Dédalo conseguiu escapar mas Ícaro cometeu a imprudência de voar demasiado perto do Sol e a cera que revestia suas asas se fundiu, por isso se precipitou contra o solo. De novo uma ofensa aos deuses, de novo um castigo.

Todos esses elementos são frágeis, difíceis de relacionar entre eles e reteremos, finalmente, o que nos parece essencial: O pecado de Pasífae se acasalando com um animal e o nascimento dum monstro metade homem metade touro.

A Bíblia relata, no Levítico, capítulo XVIII:
23. Não te unirás a besta, te manchando com ela. A mulher não se porá ante uma besta, se prostituindo ante ela. É uma perversidade.

24. Não vos mancheis com alguma dessas coisas, pois com elas se mancharam os povos que atirarei de diante de vós.
Minos era o soberano dum país muito próximo ao Egito, onde abundavam os deuses semi-homens, semi-chacais ou abutres, íbis, gatos, touros, etc.

Se pode, pois, pensar que em tempos muito remotos os homens adquiriram o costume de fornicar com animais, com grande prejuízo a sua raça. Nessa hipótese o labirinto seria o símbolo da luta difícil, arriscada, que os homens tiveram que travar contra monstros para garantir o domínio do mundo.

Outras explicações: Culto solar contra culto taurino, luta do povo grego contra a hegemonia cretense (talassocracia), a imagem do circuito abdominal humano com suas diferentes saídas ou do ovoide cerebral, cuja imagem representativa é um labirinto análogo ao do abdômen (há, também, analogia com a orelha que, estranhamente, reproduz a imagem do feto no ventre materno) e, por último, como dizíamos mais acima, num sentido mais elaborado: Encaminhamento do Adepto pela via do labirinto e da luz.

Então matar o Minotauro significaria matar o monstro de suas noites, de seus desejos nefastos pra acessar um dia novo.

Essa última hipótese se vê apoiada pela descoberta efetuada na Bulgária, perto da célebre estação termal de Kustendil, dum labirinto anterior aos da Grécia antiga, que conduzia à água milagrosa, muito conhecida pelos trácios, povo pelágico muito antigo.

(Livro: Arquivos do Outros Mundos – Robert Charroux - Continua)








18 de janeiro de 2013

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS XIII

Capítulo XI
O IMAGINÁRIO E A ILUMINAÇÃO

A iniciação não se aprende em classe ex cátedra.
É a meta, jamais alcançada, duma lenta e difícil busca num labirinto onde abundam as saídas ocultas, os atoleiros, e é mediante experimento, estudo laborioso, honesto, e extravio continuo, que o adepto chega a adquirir determinada luz da qual nunca saberá sua natureza profunda nem sua autenticidade.

Porque a verdade não pode ser alcançada. É como querer adivinhar a Deus, os arcanos supremos, o extremo do infinito.

É como querer alcançar o absoluto.
Então o adepto deve operar por suas mãos e por seu espírito, se deixar penetrar pelo invisível e, sobretudo: Fazer trabalhar a imaginação.

Mas, como gosta de repetir Christia Sylf, é necessário imaginar de verdade.
HERDAR DE SEU PAI E IMAGINAR O ACERTADO
Um de nossos grandes pensadores, Filipe Lavastine, assegura que a imaginação é o passo inicial ao labirinto.
Expõe que Deus se imaginou através do homem e através de toda coisa e o homem herda Deus como herda seu pai e com todo seu sabor primordial.

Herdar Deus e herdar seu pai (sem a proposição de) significa se voltar Deus, se voltar a seu pai. É dar a mesma identidade a Deus e ao homem, ao pai e ao filho.

Sobre outro plano, é ter o mesmo tempo, o mesmo espaço, a mesmo origem, o mesmo destino, a mesma essência, o mesmo código genético. Aprofundando, Ph. Lavastine sugere que o universo é um vasto sonho, povoado de imaginação. No transcurso desse sonho Deus se imagina no homem e nos acontecimentos como o que dorme se imagina em seus fantasmas.

Não pensar por imagem é ter perdido a própria linguagem do significado, é cair ao nível do verbalismo.

Porque, pra Filipe Lavastine, a imagem, a criação de imagens, a imaginação numa palavra, são mais ricas, mais significativas que o verbo-maia, do que se sabe que é apenas comunicável.

O homem não é uma ideia, nenhum construtor de material — acrescenta Lavastine — e, afinal de conta, o gênero humano agonizará ao redor das fábricas, das máquinas que constroem laboratórios, e nas bibliotecas, bosques inteiros arrasados pra elaborar o papel, que armazena as ideias ocas e vãs. E pra legar isso a quem?

— Deus não o quererá!
«Tudo o que foi criado de grande, de sublime, de sobre-humano foi imaginado e somente criado no imaginário».

Homero inventou 90% da Odisseia, Rabelais imaginou Gargântua e Pantagruel, Sylf pariu, espiritualmente, a cidade de Kobor Tigan's, mas todos imaginaram verdadeiro.

A um nível nitidamente menos elevado, quando faz vinte anos os pré-historiadores acreditavam na Antiguidade do Homem de Montbron, na autenticidade do ecantropo de Piltdown, um precioso apelativo pra uma brincadeira de estudantes de medicina, nas cavernas, únicos habitáculos dos homens pré-históricos, e em antepassados com só uma antiguidade de 800.000 anos, afirmávamos, sem prova material senão pela lógica e imaginação que esses decretos oficiais eram errôneos e que, principalmente, a antiguidade do homem se remontava a milhões e milhões de anos!

O verdadeiro em seu universo ou nalgum outro que não conhecemos e onde suscitam suas personagens, como Merlim o mago, mostrador de imagem, fazia nascer castelos, exércitos, bosques e ninfetas pela onipotência de seu pensamento criador.

Como dom Quixote suscitava aventura, dulcineias e gigantes e como Deus imaginou o universo, ou melhor:

Os universos múltiplos que desconcertam a lógica e fazem que a mentira seja verdadeira e que a verdade seja mentira.

Deus sonha o mundo mais que o imagina.

Porque, finalmente, tudo se confirma, se reúne, converge, coincide: As imagens do mundo e as imagens inventadas por físicos, poetas e dormentes.

O GRANDE SOL ORIGINAL

Quase devemos parafrasear o Gênese ou o discurso de Petit Jean dos litigantes de Racine pra tentar uma explicação do supranormal dos esoteristas e dos universos paralelos: De fato, tudo começa com a criação do mundo.

No princípio foi a Luz, dizem as mitologias, e esse conceito foi reiterado não somente pelos cosmólogos contemporâneos, senão também pelos astrônomos, tais como George Antony Gamov e Roland Omnés.

Por luz, há de entender radiação eletromagnética sob forma de radiação térmica. Segundo se lê numa revista científica (Pessoalmente, não concedemos crédito a uma criação do universo e pensamos que é eterno e existiu sempre):

— Foi na noite sem fim uma bola de luz cuja sufocante reverberação se estendia em calor através de todo o espaço. A temperatura era da ordem de vários milhares de graus.
Se vos parece bem, chamemos a essa bola um sol.

Os fótons, ou grãos de luz, às vezes corpúsculos e ondas, emanando desse magma, tinham uma energia imensurável e, segundo opiniões, uma temperatura de 100 mil milhões de graus.

A energia dos fótons, — prossegue a revista — esses grãos de luz que estão associados a toda radiação eletromagnética, é tal que seu encontro (com as partículas elementares de hidrogênio e de hélio) produz um par partícula antipartícula».

É, de certo modo, uma explicação da criação do universo mediante o grande bangue original tão a gosto de Martin Ryle, de Alian Sandage e de G. A. Gamov.

Consequentemente, a luz, supostamente pré-original, engendra uma criação material: As partículas de natureza oposta: O próton-antipróton, o nêutron-antinêutron e o elétron-pósitron.

Partículas e antipartículas reagem entre si pra provocar uma transição de fase ao interior da radiação cósmica», significa que, de certo modo, se converterão em isômeras, no gênero muito aproximativo: Água e gelo.

Partículas e antipartículas, às vezes, se disseminarão e outras vezes (com maior frequência) se reagruparão no cosmo, de modo que matéria e antimatéria correm o risco de reconstituir a Luz original, o que resultaria numa dupla transmutação puramente negativa.

Afortunadamente, elementos dispersos na imensidão cósmica escapam a essas novas interações e constituirão mundos e antimundos, galáxias e antigaláxias.

O Grande Sol original de luz se metamorfoseou parcialmente em universo ao produzir, ao mesmo tempo, fantásticos campos radiativos.

Por estranho que possa parecer aos empíricos, a maioria dos físicos creem, de pés juntos, na existência da antimatéria e dos antimundos. Ou seja, num ou em universos paralelos.

O físico sueco Oscar Klein supõe um universo original já formado dum mundo e dum antimundo separados por um escudo protetor: O ambiplasma. O físico russo Sajarov e o estoniano Gustavo Naan também imaginam universos de matéria e de antimatéria parecidas mas inversas.

Por definição o antimundo seria constituído de antipartículas, opostas, provavelmente de modo simétrico, às partículas de nosso universo, o que equivaleria a dizer que esse antimundo poderia ser a imagem invertida do nosso.

O que entre nós é visível, espesso, impermeável, duro, luminoso, pesado, quente ou escuro, seria no antiuniverso, invisível, delgado, permeável, mole, escuro, leve, frio ou luminoso, etc.

A TRANSFERÊNCIA MUNDO-ANTIMUNDO

O Grande Sol, dessa vez original, esse Grande Cérebro primevo e total que continha em potência os universos, os seres e as coisas da criação pode ser, em certa medida, assimilado ao cérebro humano?

Os esoteristas, a quem a palavra de Hermes Trimegisto e dos grandes iniciados é uma garantia mais segura de labirinto que as hipóteses dos cientistas, admitem como postulado de fé que o que está acima é como o que está abaixo, que o que está em Deus está igualmente no mais ínfimo grão de areia.
Ademais, como o diz Ph. Lavastine: Herdamos Deus!

Nessa ótica o cérebro humano teria propriedades e poderes análogos àqueles do Grande Cérebro primevo. É certo que não sabemos utilizar esses poderes mas não há dúvida de que os possuímos.

Quando um homem está iluminado por uma crença intensa o milagre está a seu alcance: A mãe adivinha o perigo, o santo levita, caminha sobre a água, cura doenças consideradas incuráveis, o sábio descobre, o paralítico anda e o cego recupera a vista.

Não se diz que a fé pode mover montanha, entortar uma vara de metal?

Ao se relacionar, geralmente, o milagroso com a fé, se pode pensar, em forma de hipótese de trabalho, que fenômenos singulares nascidos no cérebro, engendram um universo antiparticular análogo ao que foi engendrado pela iluminação original.

Nessa condição o corpo físico do iluminado passaria dentro doutro mundo. Pensamos também no fenômeno de ubiquidade observado sobre as partículas que se colocam sobre órbitas mais excêntricas quando se lhes aporta um fluxo suplementar de energia.

Ao contrário, é admitido, em física nuclear, que partículas e antipartículas podem entrar em combinação, desaparecer como matéria e reaparecer como radiação eletromagnética. Quer dizer, em grande parte, como luz.

Em resumo: O vai-vem de nosso universo noutro (do mundo ao antimundo) estaria vinculado a uma espécie de transmutação de nossas partículas materiais constitutivas em antipartículas, se produzindo o fenômeno à nível da vida psíquica, a qual não é governada pelas leis do universo do consciente.

O agente eficiente do mecanismo e sua razão residiria numa zona desconhecida de nosso cérebro e teria como catalisador, senão como determinante, um potencial de energia-fé.

A transferência de mundo a antimundo assegurada pelo repetidor luz no jogo dos físicos, sempre foi assimilada, pelos esoteristas, à iluminação.

Coincidência estranha ou labirinto empírico?

PARA DESCOBRIR UM NOVO MUNDO

Pra não dar pábulo à controvérsia dos cientistas sabichões, frisamos, novamente, que essa tese é um jogo intelectual baseado em elementos tomados emprestados do jogo incerto dos físicos.

O homem, curioso por natureza, tenta explicar o que a razão dos lógicos não pode.

As hipóteses de George Gamov permitem certa aproximação à percepção dos universos paralelos mas não a compreensão dos fenômenos mais freqüentes tais como: Visão, alucinação, levitação, milagre, etc., onde o inverossímil não abandona mais que parcialmente nosso universo cotidiano.

Filipe Lavastine se compraz em dizer que o homem é sábio na medida em que é saboroso, sápido (do latim, sápidas).
Muito bem, os latinos, pra designar um imbecil diziam que era insapidus (insípido).

O que é gráfico pertence à mesma linguagem do significado e o imaginário tem mil vezes mais significado e é mais certo que o estudo demonstrado, comprovado, controlado pelos irrisórios critérios científicos.

A dança é a maior das artes porque é imagem e continuidade espaço-tempo.

Mas, apesar dos cientistas, o homem tem necessidade de sonhar pra se realizar plenamente num universo íntimo, imaginário.

Se realizar é um neologismo significativo: Desenvolver toda sua medida, dar corpo a suas imagens-desejos, a sua ambição, se converter no que se deseja ser de grande ou de sublime e não o que se é que, em geral, se considera pequeno, ridículo e injusto.

Sem o imaginário a aventura humana seria inviável.

Impossível se olhar num espelho, ver com a verdade do objetivo fotográfico, a esposa, os filhos, a casa, julgar a própria obra, o comportamento, a situação, o porvir, a saúde, a perspectiva de vida, etc., sem misturar nele a esperança, a inteligência e a qualidade.

Impossível não imaginar, esperar um manhã melhor, um êxito, um futuro agradável e tranquilizador. Senão, seria a desesperança, quiçá o suicídio.

O homem não pode aceitar a vida estritamente presente e estancada.O imaginário pertence à essência da vida, a seu dinamismo e à evolução natural.O ritmo, o vivo, estão, fundamentalmente, em previsão imaginária do instante seguinte.

O presente é atual, o futuro é sempre aleatório. Poderíamos viver sem o futuro?

Com esse estado de espírito o mecânico sonha ser Ford ou Bugatti. A balconista sonha ser estrela. O infradotado, dono do mundo. Sem esses sonhos a vida se converteria num pesadelo. Com esses sonhos foram conquistados reinos, estabelecidos impérios, descobertos mundos. Graças a ele Schliemann desenterrou Tróia, Cristóvão Colombo chegou à América e doutor Cabrera encontrou as fantásticas pedras de Ica.

Sua necessidade é tão vital que certos indivíduos chegam até a substituir a realidade cotidiana pela irrealidade imaginada.
Foi o caso de todos os dom-quixotes da história e dos aventureiros que se perderam nas selvas virgens da Amazônia ou nos bosques insólitos da busca ao Graal.

O IMAGINÁRIO É MAIS NECESSÁRIO QUE A CIÊNCIA

Todo homem sonha em se converter no que não é, em adquirir o que mais lhe falta.

Sua individualidade é tripla: O que são, o que creem ser, o que quiseram ser, mas, de fato, sua aventura humana evolui sempre em dois planos: Algumas vezes na irrealidade cotidiana (trabalho, metrô, aperitivo, Mao, macio, cama, visão benévola do eu).

Outras vezes na irrealidade do imaginário (sonhos, imagens-desejos, aspirações políticas).

Porque o que se chama realidade cotidiana é uma farsa tanto no plano físico como no plano mental.

A realidade das cores, das formas, dos odores, dos sons, é, como se sabe, função de nossa percepção precária e de nossa interpretação presumida. O daltônico não distingue o vermelho do verde; Brigitte Bardot é um cânone de beleza ou uma mulherzinha bem formada; tal odor é agradável a A., nauseabundo a B. e o jaz, segundo os critérios, é uma música ou um barafunda de decibéis.

Assim mesmo o homem gosta de se julgar formoso, inteligente e bom, mesmo sendo horrível, tolo e maligno. Em resumo, vivemos numa irrealidade cotidiana que nos comprazemos em qualificar de realidade.

Na irrealidade do imaginário ( se pode dizer a irrealidade do imaginário porque o imaginativo é tão real (e irreal) como o cotidiano), se nos atrevemos a empregar este pleonasmo, ou irrealidade do interior, participa outro universo, ideal com a maior frequência (de pesadelo, às vezes), onde nos deleitamos porque cremos em todas suas peças ou porque corresponde a nossas imagens-desejos.

Ninguém melhor que o admirável Cervantes soube dar a imagem vibrante da irrealidade plural e dos universos particulares por ela engendrados.

DOM QUIXOTE E SANCHO PANÇA
Por uma campina muito real, há alguns séculos, cavalgava ao passo do mais lamentável cavalo do mundo o maior dos cavaleiros errantes que nasceu sob o céu da Espanha: Dom Quixote da Mancha.

Nutrido com as aventuras de Reinaldo de Montaubano, de Amadis de Gaula, de Palmerim da Inglaterra, de dom Galaor, e dos Cavaleiros da Távola Redonda, dom Quixote não punha em dúvida, nem por um instante, que seria seu igual, senão superior.

Era, em seu pensamento, uma verdade que surgia da evidência.
Sob esse ponto de vista seu pobre e esquelético rocim, Rocinante, era o mais fogoso dos cavalos de batalha, o digno Bucéfalo do Alexandre dos paladinos.

Outra evidência pra dom Quixote: Nalguma parte, no final daquele caminho empoeirado, queimado pelo sol do meio-dia, ia encontrar o Bosque pleno de aventura e, provavelmente, uma bela jovem de longo cabelo dourado, prisioneira num torreão.

Um príncipe malvado a perseguia e a loura heroína, inclinada sobre as ameias da alta torre, o chamava, a ele, dom Quixote da Mancha, com toda a força de seu desespero.

Na grande instabilidade e flutuação da Lua, do Sol e dos astros, essa Verdade, fruto da ilusão, habitava no bom cavaleiro e o confortava em sua missão.

Mais vale dizer de imediato que dom Quixote vivia, digamos, 60% no universo cotidiano, chamado real: O caminho era, sem dúvida, um caminho, o sol era ardente, a couraça pesada e embaraçosa. E 40% no universo imaginário dos lances de cavalaria.

A seu lado Sancho Pança representava a multidão, o mundo comum. Definitivamente: 90% de realidade e 10% de imaginário.

Porque, de qualquer maneira, o bom rústico tinha, também, suas imagens-desejos, sua imaginação!

Não lhe havia prometido dom Quixote lhe dar uma ilha pra governar? E quando havia oportunidade lhe recordava a promessa.

Pra acompanhar o Louco sublime não lhe era, também, necessário, sua dose, sua pitada de loucura e de esperança nalgum ideal?

A DONZELA E OS MOINHOS DE VENTO
Eis que Sancho Pança, pensando que já passava do meio-dia e que um almoço lhe cairia muito bem, percebeu, na lonjura, trinta ou quarenta moinhos.

— Senhor, — exclamou — lá vejo moinhos de vento!
E Sancho Pança não mentia:
— Vejas perfeitamente, com teus olhos, ali, no final do caminho, autênticos moinhos de vento.

Dom Quixote ficou, então, imerso no mais profundo de suas quiméricas aventuras: A donzela da alta torre lhe suplica que a libere. Ouve suas chamadas e já não está, senão muito vagamente, a caminho da Mancha. Em resumo, 70% dele está no bosque da aventura e somente 30% cavalga com Sancho Pança.

Ante as exclamações de seu escudeiro, alça os olhos até o horizonte e protesta com veemência:

— Sofres alucinação, meu pobre Sancho! O que crês que são moinhos de vento são, nem mais nem menos, gigantes. Gigantes que se querem me desviar de minha aventura mas não o conseguirão.

E dom Quixote não mente. Vê, de fato, gigantes. Vê seus corpos maciços, seus largos braços de 2 léguas (8km) de largura.
De fato, Sancho Pança, pleno do bom senso dos ignorantes, vivia, quase permanentemente, em sua irrealidade cotidiana, comum, enquanto seu amo, em transe como Lugue, Gilgamés, Sigurde e Lancelote do Lago, evoluía com a máxima freqüência nas paragens doutro universo sem, por isso, abandonar fisicamente o dos homens.

No século XIII, quando um cavaleiro da Távola Redonda saía buscando aventura ou o Graal, perambulava 50% num mundo geográfico que era a Pequena ou a Grã-Bretanha, e o restante de seu universo estava em seu pensamento, em sua imaginação e em sua fé no encanto que lhe permitiria penetrar no Bosque perigoso.

QUANDO O CRENTE VACILA EM SUA FÉ...

Quando o potencial de sua irrealidade do imaginário ficava maior que o da irrealidade cotidiana, se produzia um fenômeno análogo ao das supernovas: Esse potencial se vertia no cotidiano, provocando substituições de lugar, de tempo e de acontecimento.

Provavelmente, com estalido de calor e de luz: O cavaleiro se convertia em iluminado. Entrava no Bosque das aventuras, via o castelo misterioso, o ponte invisível. Podia cavalgar sobre a água do lago ou penetrar por ele, atravessar muros grossos, realizar proezas inauditas e, quiçá, perceber o Graal.

Se produziam, então, efeitos físicos que teriam sido desconcertantes na irrealidade cotidiana: Levitação, deslocamento no espaço-tempo, vidência, permeabilidade da matéria, etc.

Talvez houvesse ubiquidade, ao permanecer o cavaleiro completamente prisioneiro de seu universo cotidiano e penetrando totalmente (É o caso das partículas singulares descritas pelo professor Bernard d'Espagnat, do Colégio de França) ou parcialmente nesse mundo antiparticular, cuja existência é presumida e natureza desconhecida.Isso é o que imagina J.-B. Hasted com seu universo que é uma função de ondas únicas onde poderiam existir numerosas versões de nós mesmos.

Esse fenômeno, que poderia ser produzido sem ubiquidade, daria explicação às desaparições totalmente incompreensíveis relatadas nas mitologias, nas lendas e até na atualidade do século XX, e também às faculdades psi de J.-P. Girard.

Explicaria também a invisibilidade, a imponderabilidade, o passo do + ao –, do criado conhecido ao nada imaginário, a perda das qualidades inerentes à natureza do cotidiano, por exemplo, a anulação da gravidade que desemboca na levitação das que foram testemunhas pessoas cuja boa-fé é difícil negar.

É possível esse tipo de milagre?

As tentativas de explicação não são mais que hipótese fantásticas e vãs, ou mais se aproximam, em certos aspectos, a uma verdade difícil de crer e impossível de delimitar?

Seja o que for, tais especulações, que irritam os racionalistas, são sempre bem acolhidas pelos investigadores e são benéficas àqueles que repelem os tanteios, o ostracismo e os malefícios duma ciência satânica cujo resultado mais claro no final deste século XX foi o de mergulhar o mundo na insegurança, medo e desespero.

Cada vez mais o homem honrado repudia essa ciência que é amoral, perigosa, sacrílega e fastidiosa. O sonho, a poesia e a irrealidade são mais necessários ao humano que os foguetes espaciais, que o crânio do australopiteco e a bomba atômica.

O HOMEM, O ERRO E O IMAGINÁRIO

O homem é, por excelência, um animal dotado de razão, de inteligência particularmente desenvolvida. Em consequência, essa inteligência é chamada ao guiar, a fixar sua escolha e a governar seu destino, é inelutável, fatal, ainda que falível.

O homem é, de todas as criaturas, a que possui o máximo de capacidade ao erro e, ao romper com o cósmico, se converteu num monstro fora da Natureza.

Edgar Morin diz que ao adquirir um super cérebro, ao se converter em faber (fabricante), socius (sociável), loquens (loquaz), o homem armazena muito mais elemento de labirinto do que necessita imediatamente.

Esse caudal supérfluo perturba suas relações diretas com a Natureza até o ponto em que é, então, presa de incertezas, de perplexidades que modificam as mensagens naturais recebidas por seu cérebro.

O sintoma de estresse mais evidente é a angústia.
Antes de ser dotado de seu super cérebro o homem era caçador, só caçador, dedicado à conquista duma presa.

Quando adquiriu mais inteligência se converteu num indivíduo mais complexo, sabendo que em sua caça, podia ser vencedor ou vencido, consumidor ou consumido, indene ou ferido.

Tentou, por conseguinte, programar o melhor possível sua ação e foi, então, quando se produziu a possibilidade de erro.

Essa consciência de seu estado e essa presciência dum porvir possivelmente dramático, desencadeou no homem da primeira era todo um processo de estados emocionais onde brotaram o riso, o desespero, a esperança, o medo, o delírio ou a poesia com, afinal de conta, prática de salvaguarda que se converteram na magia, na religião, determinando a idéia de Deus.

O imaginário se tornou, então, o motor da atividade humana em todas as direções da arte, da indústria, do comércio e da sociedade.

A imaginação é o maravilhoso resguardo do homem inteligente.
As mitologias e as religiões, escreveu Morin, florescerão sobre a hiper complexidade de seus dez mil milhões de neurônios e de 1014 dos sistemas e combinações possíveis pra seu computador celular.

O risco de erro ficou infinitamente provável tanto ao computador biológico como ao homem. Nossa civilização e nossa evolução se encontram, por esse motivo, automaticamente falseadas já que os biólogos demonstraram que os azares do ADN e do ARN as condicionam fundamentalmente.

Em resumo, o super cérebro do homem o desconecta das leis naturais e lhe devolve ao ponto zero do verdadeiro labirinto.

Certo é que o homem sábio, aparentemente, triunfou, posto que dominou a Natureza, mas é uma vitória pírrica da qual não se recuperará.

A autonomia que conquistou está, quiçá, na linha secreta e querida de seu destino. Nesse sentido é uma criatura privilegiada, o que, a muitos, pode parecer evidente.

Então não haveria azar, senão relações aleatórias que desembocam no indeterminismo ou, talvez, também azares providenciais, necessários e, finalmente, calculados pela inteligência superior.

Nesse caso o destino do homem estaria determinado. Sua imaginação e sua atração, até os erros úteis, seriam os rasgos característicos de sua evolução.

O TEMPO, O EU E A IDADE ÁUREA
Se tem a tendência a considerar que o sonho pertence ao imaginário, por conseguinte à mentira, e que somente o real da existência desperta tem um valor positivo. É chegar prematuramente a uma conclusão!

Deciframos o sonho com a chave e o linguagem do despertar, o qual lhe da uma carência de sentido porque estamos condicionados por nossas evidências que nos encerram num universo restringido e em conceitos errôneos.

Há que deslocar as evidências e compreender que o corpo vive, indubitavelmente, num universo tridimensional, mas não nosso cérebro, nem nosso pensamento, nem nossos sentimentos, nem nossas faculdades intelectuais e psíquicas.

Ao constituir tudo isso nosso eu, cabe perguntar como esse eu pode existir ao mesmo tempo em vários universos!

É um pequeno problema que os biólogos, os filósofos e os físicos gostam de questionar, embora nada mais façam pra afinar sua percepção e se impregnar da humildade luminosa da ignorância.

Nosso eu rompe as barreiras concebíveis do tempo, posto que nosso legado genético nos prolonga no passado, quiçá até a origem do mundo.

Ou, talvez, até aquela Idade Áurea da qual conservamos o conceito-lembrança, mito ou imagem-desejo, evocando um tempo ideal, o do sonho, da não inteligência, o tempo fetal da humanidade num universo no qual tudo era possível: Papai Noel, a imortalidade, a ressurreição, a aventura, o vôo no ar e no oceano, o Bosque perigoso e o êxtase ilimitado.

Era a Idade Áurea o tempo precedente ao advento da humanidade, ou melhor, esse Tempo do Sonho que habita, ainda, entre os aborígines australianos e no qual, bem sopesado, está ausente o eu do presente?

O PROBLEMA DA GARRAFA
O eu é rechaçado a cada segundo de nossa vida temporal e de nosso corpo físico.

Damos um passo e já não somos o mesmo: Envelhecido nalgumas frações de segundo e, ademais, quatro ou cinco de nossas células morreram enquanto outras três ou quatro foram regeneradas.

Já não estamos no mesmo lugar, nem no mesmo tempo, nem na mesma roupa. Nosso sangue ficou mais pesado ou se enriqueceu. Nosso cabelo cresceu... Em resumo, nossos dois eu têm uma identidade relativa mas não absoluta!

Inventamos nosso eu como inventamos nossos sonhos e a realidade do cotidiano. Tudo o que, podemos pensar, é imaginação de nosso cérebro.

No entanto é necessário imaginar certa identidade entre o eu que dura 1/10.000 de segundo e o outro que retouça com o tempo, com o desgaste e com o espaço, como um verdadeiro transformista que é!

Em definitivo, esse eu existe e não existe, do mesmo modo que o cotidiano é uma realidade que se admite, a priori, e um fantasma quando se lhe analisa em profundidade. E como o elétron é partícula e onda ao mesmo tempo.

A garrafa que está sobre a mesa também pode servir ao jogo da incerteza, do existente e do inexistente. A vês perfeitamente? Sim!E isso é que é extraordinário!

Como diria o sábio Cosinus, do bom Christophe:
— Não podes a ver. Não a deverias ver. É contrário às leis da física.

Esses argumentos e esses novos modos de pensar constituem o jogo intelectual e rico em prolongamento dos sábios da universidade de Princetão, em Estados Unidos. O professor Raymond Ruyer, da universidade de Nancy, apresentou em seu livro: A gnose de Princetão, Edições Fayard, essa ciência que exige, para ser compreendida, certa inversão de nossos esquemas mentais habituais que desconcerta e encarrilha até novas perspectivas.

Tentemos explicar: Um menino poderia dizer:
— A garrafa está sobre a mesa e não a verias se fosse noite:
Consequentemente a vês porque está iluminada e emite série de fótons ou grãos de luz que e lhe dão forma e cor.

Passemos à cor. Aproximadamente 5.000Å, o que nos levaria a novas especulações, e nos atenhamos à forma que é captada pelo olho e transmitida ao cérebro.

Porque é o cérebro quem registra a imagem e não esse órgão complexo mas robótico que é o olho. Mas o cérebro diz Não! à imagem enviada pelo olho.
Diz: Nada vejo, em absoluto, porque não sou sensível às ondas fotônicas.

(Robert Charroux - CONTINUA)

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS XII

O AZAR ESTÁ TRUCADO EM SEU ARRANQUE

Por conseguinte, é necessário nos acostumarmos a admitir que todo acontecimento que se desenvolve num meio de matéria orgânica é diferente do que se produz num lugar esterilizado.

O ácido não ataca o cobre na selva do mesmo modo que no deserto. O plátano será mais saboroso se a plataneira estiver na proximidade de casa habitada. A tisana é mais benéfica se a tília cresceu em teu jardim e sob vossa tua amistosa. A isso teria de acrescentar que um observador presente pode mudar, melhorar o acontecimento mediante o efeito de seu pensamento consciente.

Disso se pode deduzir que a natureza orgânica vivente sobre o globo deve modificar completamente todos os acontecimentos que se produzem.

A vida, em princípio, está contra a entropia e a degradação da energia, e o comportamento dos indivíduos (pecado ou virtude) repercute em todo o cosmo até o nível do elétron mais rudimentar, o qual, finalmente, teria, também, sua infraconsciência.

De todo ele dimana que o universo é uma vasta consciência capaz de catalisar a evolução, de condicionar, se não de criar, os acontecimentos, quiçá, inclusive, por exemplo, a favor de ambientes particularmente favoráveis, de pré-fabricar criações elaboradas que, noutro contexto, exigiriam milhões de anos pra se manifestar.

Evocamos essas possibilidades a propósito do petrimundo de Fontainebleau, de seus dois elefantes, de seus leões-marinhos, da coruja e de seus monstros de pedra, das serpentes e dos lobos-marinhos de Marcauasse, das personagens, dos objetos, dos castelos na rocha natural de Montpellier-le-Vieux e do Vale da Lua, em La Paz.

Assim se pode pensar que a consciência ou consciências da Natureza não deixará o homem se tornar muito perigoso.
Os influxos emissores misteriosos do Vivente natural devem ter em seu total um impacto fantástico, o qual explicaria de modo racional que a Natureza possa se vingar e destruir as civilizações.

Neste sentido o Vivente supõe e, sem dúvida, exige um privilégio do orgânico e da matéria mais organizada sobre a matéria que o é menos.

A Vida supõe igualmente um plano pré-concebido que obriga, ao azar, a dar preferência ao bebê sobre o ancião, à planta vigorosa sobre a que languesce.

Se é assim, a água que emana dum tubo perfeitamente vertical e que pode se esparramar igualmente tanto num lado quanto noutro sobre uma superfície perfeitamente plana, deveria eleger se estender sobre o lado habitado pela matéria vivente orgânica dos homens, dos prados, dos bosques, mais que sobre o lado constituído por um deserto de areia ou de matéria vivente debilmente organizada e inteligente.

A própria vida supõe esse privilégio, esse desequilíbrio requerido que assegura o movimento, a evolução. Se as oportunidades foram iguais ao equilíbrio e ao desequilíbrio, a vida cessaria pela supressão do movimento. O azar estaria, pois, trucado desde seu arranque.

FAZER FALAR O MISTERIOSO DESCONHECIDO

A um profano não é fácil fabricar um gerador aleatório.
No entanto, segundo o professor Yves Lignon, chefe do laboratório de parapsicologia da universidade de Tuluse, o gerador com o que experimenta custa menos de 100 francos.

Uns empíricos, se antecipando uma vez mais aos sábios, já tentaram comprovar os influxos do azar e do Misterioso Desconhecido que emana de personagens importantes ou de objetos denominados carregados.

Seria interessante, e nos propomos a fazer, chegar mais longe que Rhine e que professor Schmidt, aplicando o experimento efetuado com o gato sobre personalidades diversas ou num ambiente impregnado de sons, de cores, etc.

Por exemplo:
— Sobre um físico, vagabundo, sacerdote, ateu, ignorante, superdotado, doente mental, virgem, prostituta, pessoa de caráter, um branco, negro, amarelo, etc.

— Numa igreja, cripta pagã, Lurdes, Foli-Berger, Poatu calcário, Bretanha granítica, perto duma fonte, sobre o mar, etc.

— Com, dum lado, um ambiente perfumado e, doutro, uma letrina, uma planta venenosa e uma planta medicinal, um ambiente musical ou de ruído, Granados e Vincent Scotto, Chopin e o estrondo duma máquina de trinchar, um poema de Villon e uma página da Bíblia, com uma relíquia e uma representação do Diabo, com Buda e Jesus, etc.

Seria, acaso, possível que uma determinada nota musical, um cor, uma palavra, uma impregnação solicitem o privilégio do azar tanto como o faz a matéria orgânica?

Somente experimentos podem responder de forma racional a essa pergunta sobre a qual os esoteristas se pronunciaram já de modo positivo com a carga que impregna o ambiente e os objetos familiares ou mágicos.

Capítulo X
O MISTERIOSO DESCONHECIDO E A DÚVIDA

Paralelamente ao Misterioso Desconhecido, cuja autenticidade está comprovada pelos experimentos, existe outro sobre o qual é prudente manter reserva porque falta elemento de apreciação ou porque os que se têm estão sujeitos a cautela.

E, ademais, é necessário dizer: O supranormal foi manchado, desacreditado por médiuns truquistas, falsos milagreados e pela credulidade, desgraçadamente muito disseminada nos ambientes do espiritualismo.Poderia se acrescentar também: Pela habilidade dos charlatães e a ignorância dos profanos.

Além do mais acontece, com frequência, que ilusionistas profissionais, muito honestos, sejam obrigados, por necessidade profissional, a encobrir o caráter muito natural de seus truques e magias e deixar crer numa atuação do supranormal num espetáculo ao qual sentimos admiração e estima, mas que falseia o problema.

A VIDÊNCIA DOS IRMÃOS ISOLA

No fim do século 19 e início do 20 dois ilusionistas e prestidigitadores franceses, os irmãos Isola, conheceram imensa glória que, durante muito tempo, foi relacionada ao poder psi.

Por suposto, Émile e Vincent Isola (cujo verdadeiro sobrenome era Blida) eram cidadãos muito honestos cuja única preocupação era fazer honra a seu oficio de comediante e nunca tentaram enganar os cientistas sobre pretendidos poderes sobrenaturais.

No entanto, se o tivessem podido fazer, tão genial era sua descoberta que se fundava sobre um fenômeno científico então escassamente conhecido do grande público.

Os irmãos Isola se apresentavam no cenário dum teatro ou, melhor ainda, sobre a pista dum circo. Consequentemente em pleno centro do público.

Um dos dois tinha os olhos vendados por um grosso lenço que impedia a visão e ouvir claramente. Era o médium.

O outro, o apresentador tagarela, tinha como missão o guiar, servir de intermediário ante o público e falar à multidão entre a qual se faziam circular várias listas telefônicas, a Bíblia ou um grosso volume dum autor conhecido: Os miseráveis, de Victor Hugo ou Eugênia Grandet, de Balzaque.

O jogo consistia, ao público, em perguntar o nome, o endereço e o número telefônico do abonado que figurava, por exemplo, na página 574 do guia, coluna 2, linha 51.

— Página 574, coluna 2, linha 51. — Repetia o médium — Vejamos... vejamos... há toda uma lista de Chauvet. Na linha 51 a figura Chauvet L. Sem dúvida, Louis Chauvet. Isso é tudo.
— O endereço e o número do telefone. — Contestava a multidão.
— Não figuram na linha 51, senão na linha 52 e são: 26 bis, rua A Tour-d'Auvergne, distrito 9, telefone Trudaine 8888.
A multidão controlava. Tudo era exato e uma ovação premiava os irmãos Isola.
— Podes ler a partir da linha 2 do versículo 9, do capítulo 54 de Isaías?

— Perfeitamente! Esperai que me concentre. Á!, eis: Tempos de Noé. Como juraste a Noé não espalhar mais sobre a terra a água do dilúvio, do mesmo modo juraste não montar em cólera contra vós, e não lhes fazer mais recriminação.

E o Isola-comparsa comentava:
— Por conseguinte, não temeis, não perecereis afogados. Sobretudo os que estão no anfiteatro e galinheiro!
Às vezes o Isola-médium colocava os pingos sobre os I!
— A linha 14 de tal livro? Começa por: «Podes... etc.», mas o P maiúsculo foi mal impresso e parece um K!
Caminhando aqui e ali na pista, sempre diante do público pra que ouvisse melhor as respostas, os Isola, o mesmo que Uri Geller e J.-P. Girard, ilusionistas como eles (embora aficionados), passavam entre a multidão pra realizar milagres parapsicológicos.
— E ocorre o mesmo em nossos dias! — Asseguram os racionalistas raivosos — Um dia desmascararemos J.-P. Girard e descobriremos seu truque!

Nada é impossível em certos universos, incluindo que a verdade seja uma mentira mas, de qualquer maneira, se pode penetrar no mundo onde o impossível é possível!

O truque dos irmãos Isola?
Muito exato e não discernível pelo público: A venda dos olhos ocultava uma placa de escuta telefônica desde onde um fio muito fino descia até os sapatos, cujas solas estavam providas duma larga placa de cobre.

Em quatro ou cinco lugares do tapete felpudo da pista (ou do cenário), se dispuseram transmissores eletrônicos sobre os quais o compadre conduzia ao médium de modo que transmissores e placas das solas entrassem em contato.

Os transmissores estavam conectados por cabos com os bastidores onde um terceiro comparsa, segundo as petições do público, telefonava tranquilamente as respostas ao pseudomédium.

O EFEITO QUÍRLIAN
Nem tudo é verdade em parapsicologia e nem tudo é falso em ilusionismo.

De fato, nada é exato, e sabemos, por experiência pessoal (alguns dos quais foram efetuados com professor Tocquet), que um bom ilusionista, pra ter êxito, deve ser também um pouco médium.

Era, por exemplo, o caso de Tugan's, um virtuoso do cumberlandismo (Registro das reações inconscientes do sujeito mediante contato com o pulso. O médium que utiliza esse procedimento deve ter uma sensibilidade supranormal) que, esquentando bem, entrava em cheio no supranormal e até vidência e verdadeira adivinhação.

No que concerne ao efeito Quírlian, os argumentos são diversos e contraditórios.

A favor:
O aparato funciona como um campo intenso de alta frequência e permite comprovar:

1. A intensidade e a dimensão dos halos bioplásticos.
2. O estado físico da pessoa ou do objeto submetido a prova.
3. Os centros do medo, da dor, a localização dos centros nervosos da acupuntura.

Seria um verdadeiro detector da vida reconhecido pela doutora Telma Moss, da universidade dos Anjos (L'autre monde (O outro mundo), 7, rua Decres, 75014, Paris).

O aparato Quírlian produz curiosos penachos luminosos, principalmente em torno das mãos, orelhas, cabeça. Nos converte como num matorral ardente. O efeito se parece às descargas luminosas dos fogos de santelmo, e os espectros e auras obtidos seriam de natureza eletrostática. (Lucien Barnier, Nostra, #162, Faubourg Santo-Honório, Paris..

Para o jornalista Jacques Bergier, o efeito Quírlian, descoberto até 1950 pelo técnico eletrônico russo Sermión Kirlian, «demonstra de modo científico a existência da aura».

Já, no século XIV, Paracelso ensinava que a força vital não está prisioneira do corpo, senão que irradia em torno a ele como uma esfera luminosa que algumas pessoas sensíveis podem distinguir.

Contra:
Os físicos conhecem, há tempos, o efeito Quírlian cuja explicação não oferece mistério, segundo a revista Science et vie (Ciência e vida), números 619 e 678.

Eis aqui como qualquer pessoa o pode obter com pouco gasto:
Dispor de duas placas metálicas e as unir mediante um transformador a bateria de 6 voltes. O transformador dará uma voltagem de 25.000 a 30.000 voltes.

Num quarto escuro, colocar uma película sensível entre placas metálicas.

Colocar a mão sobre o aparato (ou numa folha, uma raiz de árvore ou qualquer matéria orgânica viva). Se produz em torno dos dedos uma radiação débil mas visível a olho nu, registrável pela emulsão sensível e que basta revelar como uma película de máquina fotográfica. As diferenças de intensidade de radiação são produzidas pelos diferentes efeitos de suor, de umidade, de pressão, etc.

Mas, esse etcétera não está muito claro, já que não explica todos os efeitos registrados. Nem muito menos!

Em resumo, o objeto provido com um aparato chamado Quírlian é um eletrodo que receberá um fluxo de elétrons denominado, em física, efeito Coroa.

Esse efeito foi descoberto em 1777 pelo físico alemão Georg Christoph Lichtenberg, fixado sobre daguerreótipo em 1851 e estudado em 1930 pelo grande físico Nicolau Tesla.

A MULHER QUE ENCOLHE
O periódico A Prensa, de Lima, acrescenta ao expediente do Ignoto o incrível caso da senhora Balbina Villanueva Contreras, nascida no povoado de Huacabamba, distrito de Parcoy, província de Pataz, de 34 anos de idade, que, atendida no hospital Leão Prado, de Huamachuco, está afetada por uma dolência que reduz de modo insólito sua estatura corporal, enquanto o desenvolvimento mental permanece normal.

Em medicina se conhece muito bem a acondroplasia, doença caracterizada pelo alongamento dos ossos (no sentido do gigantismo), mas, ao contrário, até então nunca se registrou um fenômeno inverso.

Como, por exemplo, explicar que o perímetro ósseo do crânio diminua, que uma tíbia ou um fêmur encolha?
No entanto A Prensa, espécie de Le Figaro de Lima, é um periódico sério e os detalhes que proporciona são perturbadores.

A redução física de Balbina seria evidente, principalmente na cabeça e nas mãos, que se parecem agora, diz a informação, às dum menino de sete anos.
Se notou, também, que o timbre de voz da enferma se tornava infantil e dificultoso.
Após solicitar informação a nossos correspondentes peruanos comprovamos que essa incrível história é verdadeira.

OS TÚMULOS DE WIDDEN HILL
O periódico inglês The Sunday, de 4 de maio de 1975 relata uma estranha história que não dá nem permite explicação. O granjeiro Peter Lippiatt, da fazenda Widden Hill, em Horton, perto de Chipping Sodbury (Glocéster), notou, um dia, num grande campo de 100 acres onde havia semeado cevada, uma multidão, várias centenas, de minúsculos túmulos de pedras. Algumas pedras tinham o tamanho duma avelã, outras duma noz.

As pedras cônicas mediam, aproximadamente, 15cm de diâmetro e 5cm de altura, não implicavam prejuízo à semeadura mas Lippiatt, não conseguindo encontrar uma explicação lógica, consultou especialistas.

Richard Maslen, oficial regional de informação de Southwest, disse:

— Pássaros ou outros animais são, quiçá, responsáveis por esse fenômeno mas não vi, até agora, algo semelhante.
A opinião de Trings Herts, do museu de história natural:
— Nenhum pássaro conhecido dispõe assim pedras sem finalidade compreensível.

Os investigadores de Houth Kensington emitiram o mesmo juízo no que concerne aos mamíferos (toupeiras, ratos) e os insetos ou aranhas que constroem túmulos mas não passam, habitualmente, de 4cm a 5cm de diâmetro e 2cm de altura.

A COBRA MILENAR DOS INICIADOS

Em manuscritos deixados pelo químico Jean Hellot (16854766), membro da academia científica de Paris, da sociedade Real de Londres, e conservados pela biblioteca municipal de Caen, se encontram dois estranhos relatos.

Eis aqui o primeiro:
Um engenheiro dedicado a preparar a altura duma nova ponte, não longe de Paris, em 1760, ordenou que se removesse um penhasco proeminente de mais de 30 pés de diâmetro (9,7m) e de forma ovalada. Era mais fácil o quebrar que lhe fazer abandonar o sítio.

Então começou a ser despedaçado. Exatamente no centro do bloco de pedra se descobriu um habitáculo contendo uma cobra muito grande. Tinha o espessura dum punho e estava recolhida nove vezes sobre si mesma, em espiral. Exposta ao ar o animal não suportou e morreu em cinco minutos.

O contorno e o fundo de seu refúgio eram perfeitamente lisos. Sua cor diferia somente do resto da pedra.

Apesar de exame mais meticuloso foi impossível encontrar buraco.

»Não cabe imaginar por onde a cobra penetrou na cavidade nem por onde respirava nem como seu corpo pôde crescer numa cavidade tão reduzida».

Segundo relato:
«Jean Hellot conta também o caso dum cidadão de Ruão, chamado Le Fére, que, no século XVII, respondia dormindo a todas as perguntas que lhe faziam e em todas as línguas, inclusive grego e hindi».

A história da grande cobra parece incrível em nossos dias e, no entanto, quando se sabe que sapos podem viver durante anos, pelo menos, e quiçá decênios, como a cobra de Hellot, na opacidade dum bloco calcário, devemos ter mais reserva no juízo.

Depois dos experimentos realizados e logrados pelo geólogo inglês Buckland, em 1825, se sabe que sapos podem viver ou sobreviver durante anos, em blocos de calcário ou de arenisca silícea hermeticamente cerrados, por conseguinte sem ar, salvo o que poderia segregar a pedra, mas graças à água-mãe produzida, segundo cremos, pela transmutação do calcário ou sob a ação das pústulas acidificantes do batráquio.

A INICIAÇÃO DA COBRA
Esses experimentos, essas observações, parecem estranhos a um geólogo, físico e a um biólogo mas a um esoterista estão impregnados duma riqueza transtornante que leva longe, muito longe, no labirinto da iniciação.

A água-mãe que nutre, dizemos, o sapo e a cobra, buscada há séculos pelos alquimistas, foi posta em evidência pelos químicos russos e ianques com o nome de polywater.

Seria uma água da imortalidade, que ferve até os 600°C e congela a -40°C.

Opinamos que os aminoácidos genitores da matéria orgânica tiveram nascimento na água-mãe da Terra original.

Essa água da vida é, muito particularmente, necessária ao menino no ventre da mãe, como é indispensável ao surgimento e manutenção de toda vida organizada.

Brama neutro, o Senhor que existe por si mesmo na cosmogonia indiana, começou a criação fazendo emanar a água de seu pensamento.

Inclusive na Bíblia judaico-cristã, «o espírito de Deus era levado sobre a água» (Gênese I, 2), como o ovo primordial nas outras mitologias, e em toda parte, também aqui entra em jogo uma história de serpente.

Em todos os tempos os homens buscaram a água da imortalidade. Os da pré-história nas grutas porosas de Saint-Privat (Gard) ou nos refúgios sob rocha das Eyzies, e, mais tarde, na Índia com Alexandre Magno, na América com Cristóvão Colombo e Ponce de Leão.

Jesus começou a viver como Cristo quando João lhe verteu a água do Jordão na cabeça.
O batismo, esotericamente, tem esse significado magistral.
Vida, imortalidade = água, serpente.

Os antigos acreditavam que a serpente nunca morria.
— Porque muda de pele! — Disseram os escritores profanos.
Hoje podemos retificar:
— Os antigos não eram ignorantes até esse ponto. Sabiam que a serpente muda de pele, certamente, mas também sabiam que, como o sapo, podia viver longo tempo desafiando a experiência vital dos homens.

É à luz dessa crença esotérica que se deve julgar o relato do químico Jean Hellot.

A MENINA MÁGICA E O PSI ELÉTRICO PRÓPRIO DO CARÁTER
Não pensamos, nem por um segundo, que J. P. Girard possa fazer armadilha em seus experimentos. Não temos o direito de suspeitar de sua boa-fé nem da inteligência e sagacidade dos que o controlam.

Então: Se o poder psi existe, verdadeiramente, e se é posto em evidência e autenticado em nosso século de materialismo exaltado, então a ciência se inclinará a outros horizontes e a outras esperanças que não sejam as de ver a humanidade destruída por uma explosão atômica.

Com essa expectativa nos é necessário inventariar o Misterioso Ignoto reabilitado, mas evitando cair numa credulidade que seria negativa pra nossos objetivos.

Há de crer que Rita Celadin, a menina mágica de Pávia, de dez anos de idade, quando cruza os braços no salão de sua mãe, faz brilhar, repentinamente, a luz elétrica nas lâmpadas?

Noutras salas olha fixamente o interruptor durante alguns segundos e as lâmpadas se acendem.

Mediante a mesma magia desconhecida faz dançar o piano, brincar o aparador, ocasiona avaria elétrica e corte de água corrente.

É necessário ter em conta os dez anos de Rita e, sem dúvida, o início de sua puberdade, duas condições que desempenham um papel determinante na maior parte dos fenômenos supranormais.

Em Rosenheim, Baviera, uma menina da mesma idade que Rita, perturbava, sem tocar, a rede telefônica de sua casa. Milhares de manifestações, em condições análogas ou idênticas, foram registradas no mundo inteiro.

Os fenômenos de anti-física não se produzem, parece, senão com um catalisador ou, melhor, com uma fonte de energia transcendente que, em geral, é uma moça em crise de puberdade ou um garoto irritadiço, hiper nervoso ou que padece acumulação fantástica do poder psi, ou seja, de energia elétrica com super voltagem geradora de descarga psi-elétrica.

Essa energia consciente, suscetível de ser dirigida, mandada a distância, é o que explicaria a psicocinesia.

O PROFETA DA CATÁSTROFE DE TENERIFE
E o que pensar do jovem profeta ianque Le Fried, de dezenove anos de idade, que predisse com seis dias de antecipação a terrível catástrofe de Tenerife?

Le Fried, estudante da universidade de Durham, na Carolina do Norte, redigira, em 21 de março de 1977, em presença de seus professores, o seguinte texto:

Na segunda-feira próxima, na primeira página do News and Observer Times, de Raleigh, se lerá: 583 mortos na colisão de dois 747. A maior catástrofe da história da aviação.

E tudo foi exato: Data, modelo dos aviões e natureza do acidente (colisão, o qual é muito pouco frequente), salvo um pequeno detalhe: Em lugar de 583, houve 579 vítimas, cifra oficializada em abril, mas que, desgraçadamente, foi, sem dúvida, ultrapassada depois.

No domingo, 27 de março de 1977, sobre a pista do aeroporto de Tenerife, dois bóingues 747, um ianque, o outro holandês, colidiram. Houve 579 vítimas. É provável que a cifra dada por Lee Fried esteja mais próxima da verdade, ao se ter podido ter falecimento nos dias seguintes.

A propósito da premonição e do supranormal, André Bretão declarava, há meio século:

— Tudo induz a crer que existe certo ponto do espírito desde o qual a vida e a morte, o real e o imaginário, o passado e o futuro, o comunicável e o incomunicável, o alto e o baixo, cessam de ser percebidos como contraditórios.

E, em seu Letter aux voyantes (Carta às videntes), escrita em 1925, o sumo pontífice do surrealismo escreveu essas linhas incrivelmente proféticas:

— Há quem pretenda que a guerra lhe ensinou algo. Está, de qualquer maneira, menos adiantados que eu, que sei o que nos reserva o ano 1939.

TE LEVANTES E ANDES!
Quando o espírito se equivoca de universo deve suceder que o corpo escapa também, parcialmente, às leis da física clássica com o fenômeno de reembasamento das faculdades normais.

Imaginemos uma casa na beira dum rio sobre o qual foi estendida uma viga de madeira que pode suportar um peso de 50kg.
E não 10g a mais!

Imaginemos que, havendo franqueado essa ponte, uma menina corre perigo de se afogar no outro lado do rio.
A mãe assiste o drama que está a ponto de se desencadear.
Pesando 55 kg nunca tentou passar sobre a viga. Sabe que se romperia sob um peso excedente de 5kg.

Mas impulsionada pelo intenso desejo de salvar sua filhinha, galvanizada, posta em transe pela intensidade de sua angústia mas também de sua fé (É necessário que eu a salve. Estou segura de que a salvarei!), a mãe se equilibra sobre a viga, a atravessa sem que se rompa e salva a menina.

Crês que seja possível esse milagre:

— A viga que suporta 55kg em vez de 50kg, ou:
— A mãe, num determinado estado agravitacional, não pesando mais que 50 kg em vez de 55kg?

Crês que outra mãe — tratamos sobre o Misterioso Ignoto do sentimento maternal — impotente, imobilizada sobre um cadeirão pelo reumatismo, e vendo logo aparecer, a alguns passos de si, o filho bem-amado, desaparecido na última guerra, essa mãe levada ao ápice duma felicidade inefável, insensata, inesperada, possa, de repente, se levantar, abandonar seu cadeirão, olvidar sua invalidez e se precipitar até o aparecido?

Em 1975, numa garagem, pra salvar seu filho preste a ser esmagado por um automóvel, uma mãe levantou o pesado veículo... e caiu, seguidamente, em síncope!

Num acesso de furor os dementes podem arvorar objetos que em situação normal nem poderiam despegar do solo.

As possuídas do Diabo estão igualmente nesse caso e é sabido que as convulsionarias do cemitério Saint-Médard, em 1727, se entregaram, perto da tumba do diácono Paris, a cenas nas quais o milagre ocorria emparelhado com a insensatez.

Mulheres se faziam crucificar sem sofrer, outras pediam que as espancassem a golpes de pau o mais violentamente possível... e, aparte alguns galos (e não sempre!) saíam intatas dessas mortificações!

Fora de transe uma simples bofetada as levaria ao hospital. Mas nem as pauladas nem o martírio podem contra a fé!

Crês que seja necessário crer àqueles que creem intensamente?
Os universos paralelos aportam certa resposta a essa pergunta.

(Robert Charroux - CONTINUA)

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS XI

SUBCONSCIENTE COLETIVO, ANTI-FÍSICA E CONSCIÊNCIA CÓSMICA

Consequentemente os esoteristas não divagavam, agora o sabemos, quando evocavam fenômenos de telecinesia, de aparição-desaparição, de fantasma, de remanência que, J.-B. Hasted, por sua parte, explicou sabiamente mediante transições quânticas implicando as existência simultânea dum mesmo sujeito num número infinito de universos.

Para ser mais claro, digamos que quando o J.-P. Girard de nosso universo está persuadido de que uma vara de metal se entortará, outro J.-P. Girard, que existe noutro mundo, aplica toda sua energia pra realizar o fenômeno.

O investigador metapsíquico Frédéric W. H. Myers pensa que pra compreender o efeito psi há do imaginar como pertencendo a determinado espaço-tempo denominado médio-psi ou metaetérico.

Émile Boirac, da Academia de Dijão, sugere a idéia dum subconsciente coletivo, uma mãe-cepa universal (a mônada) que seria como o éter do universo e sua memória acáchica.

Esse conceito se encontra na teoria dos cromossomos-memória e do legado genético a partir dum antepassado comum e único. «Vivemos na superfície de nosso ser», dizia doutor Osty, e poderíamos acrescentar: Sobre a epiderme dum himalaia celular cuja inteligência está repartida em todas as células.

As árvores entremeiam suas raízes nas trevas do solo e as ilhas se reúnem no fundo do oceano.

Do mesmo modo, existe uma continuidade de consciência cósmica contra a qual nossa individualidade somente levanta barreiras acidentais e onde nossos espíritos estão submersos como numa água-mãe...», escreveu William James em 1909.

Essas considerações, essas reflexões dos metapsíquicos levam a pensar que o efeito psi tem necessidade, pra se manifestar, dum meio metaetérico e da ajuda do inconsciente coletivo, que parece menos convincente que as teses de professor Hasted.

Nas fronteiras do compreensível professor Hans Bender considera que a psicocinesia, ou ação desencadeada pela influência do espírito sobre a matéria, é «uma descrição objetiva duma explicação subjetiva»!

Por último, Rémy Chauvin diz que «os físicos experimentam muita dificuldade em renunciar a suas noções habituais de tempo e de espaço e que a anti-física de Costa de Beauregard seria mais apta pra explicar o irracional que a física tradicional».

Verdade é que o pretenso saber do qual estamos impregnados nos prepara mal pra captar os universos aberrantes da anti-física e, quiçá, a antimatéria que tentam fazer incursões em nosso mundo.

PENSAR EM MAO E COMEÇAR A VOAR

O doutor norte-americano Henry Ryder julga que a barreira pruma melhora dos recordes em desporto é mais psicológica que fisiológica. Encontrei o caso de Bob Beamon, que saltou em longitude 8,90m nos jogos olímpicos do México, num estado de transe ou, pelo menos, de sobre-excitação devido a um clima político explosivo.

Os negros desejavam demonstrar a supremacia de sua raça sobre a dos brancos. Atletas negros foram excluídos dos jogos por provocações intempestivas. Por isso Beamon teria passado a noite toda sem dormir e saltou num estado psíquico muito particular, sobre-excitado pela cólera, a emoção e o orgulho racista.

Entre os japoneses, ao contrário, é o misticismo o que estimula os atletas: Antes do desjejum, uma hora de concentração sobre os ensinamentos de Buda.

O atleta cubano Juan Torena ganhou os 400m e os 800m dos jogos olímpicos de Montreal em 1976, sustentado pelo pensamento de Fidel Castro!

O ditador cubano, em 1966, manifestava:
«Uns escritorzinhos [sic] disseram que nossos atletas não eram atletas, senão militantes revolucionários.» É verdade!

O saltador em altura chinês Ni Chin-Chin franqueou a barra a 2,29m e Chuang Tsé-tung é o melhor jogador de tênis de mesa porque estão sobre-eletrizados pelo pensamento em Mao.

«As encontros do Grande Timoneiro nada têm a ver com bruxaria — declarou Chuang Tse-tung — mas me submergem num banho regenerante e revigorante».

Prescindo de treinador. — Disse Ni Chin-Chin — Trabalho no frio, na chuva mas em comunhão com Mao e em meu silêncio interior.

Uma bomba pode cair, me é igual. Estou seguro de mim! Subo só ao combate, segundo o princípio maoísta.
»É um arma que os ocidentais não conhecem, e é a mais poderosa.»

Chama a atenção essa similaridade de juízo: «Estou seguro de mim», disse, também, Jean-Pierre Girard.

Um se converte em campeão do mundo e o outro torce uma barra de metal mediante o pensamento criador.

Resulta muito evidente que o que é verdade às raças negras e amarelas, aos povos jovens e aos crentes do comunismo e do maoísmo, não o é, em absoluto, à raça branca decadente e aos eleitores burgueses das democracias!

Antanho, Mimoun foi campeão olímpico de maratona pela honra azul, branca e vermelha de nossa bandeira!

Em nossa época Roger Bambuk nunca baterá um recorde do mundo se estimulando com o fluido de Giscard d'Estaing.

Capítulo IX
O GERADOR DE AZAR

Numerosas vezes demos nosso ponto de vista sobre a inteligência dos animais, das plantas, do mineral e dos universos que povoam o infinito.

Tudo têm uma inteligência, desde o grão de areia até o cérebro dum engenheiro, porque tudo é vida e a vida é inteligência.
O universo é um grande organismo do qual todas as parcelas são as células interdependentes.

Então, como no corpo humano, como no mecanismo de fagocitose dos glóbulos enfermos, como na teoria dos quanta de Planck, se produzem sinais, mensagens, efeitos, incompreensões aos que os sábios, espontaneamente ou a força, têm de se acomodar!

O efeito Girard é extraordinário.
Mais fantástico é, ainda, o efeito gerador aleatório!

O GERADOR ALEATÓRIO E O GATO
Um gerador aleatório é um dispositivo que emite sinais aleatórios (emitidos segundo as leis do azar) a partir dum componente eletrônico ruidoso, o qual é, geralmente, de diodo Zener ou de transistor montado em diodo.

De fato, nossa mão, quando lançamos ao ar uma moeda, é um gerador aleatório que nos dará algumas vezes cara e outras vezes coroa. Ou dez vezes coroa e sete vezes cara, etc.

Mas se lançamos um milhão ou milhões de vezes a moeda, teríamos como resultado tantas vezes cara como coroa ou, ao menos, uma diferença muito pequena.

Um gerador eletrônico brincando sobre milhões de freqüências e de possibilidades (até 40.000 vibrações por segundo) permite praticamente obter tantas caras como coroas, o que confirma o cálculo da probabilidade.

Agora que, mal-e-mal, explicamos o aparato, o faremos funcionar.

Alternativamente, o gerador de azar enviará um impulso à direita e um impulso à esquerda e dará uma luz aquecedora a duas lâmpadas de infravermelho.

Umas vezes a uma, outras vezes à outra. Suponhamos: 10 vezes à direita, 10 vezes à esquerda, 10-10 e sempre 10-10.

Coloquemos um frigorífico diante da lâmpada da esquerda. O gerador dará sempre 10-10, 10 vezes dum lado, 10 vezes do outro. Coloquemos um gato dentro do frigorífico.

Situação pouco confortável pra este friorento amigo do homem mas, então, se produz um fenômeno estranho, inexplicado: Em lugar de 10-10, o gerador dará 11 impulsos à esquerda e 10 à direita: 11-10, 11-10, 11-10...

Quer dizer, onze vezes ao gato e dez vezes ao outro lado.
Tiremos o gato: O ritmo volta a ser de 10-10, 10-10.
Voltemos a pôr o gato: 11-10, 11-10.

Em lugar do gato coloquemos uma cenoura crua.
O ritmo volta a ser: 11-10, 11-10.
Com uma cenoura cozida: 10-10, 10-10.
Com um ovo incubado: 11-10, 11-10.

Se faz cozer o ovo: 10-10, 10-10 indefinidamente.
Salvo possível erro de apreciação, se compreende facilmente que a matéria vivente encerrada no frigorífico, o gato, a cenoura crua, o ovo incubado, tem necessidade de calor pra sobreviver.

Mas quem dá ao aparato a ordem de atribuir um privilégio, um calor suplementar, à matéria orgânica?

INTELIGÊNCIA DO AÇO, DA VIDA OU DO PENSAMENTO?
Dum modo enxuto, diremos que um gerador aleatório é um conjunto de peças metálicas, fios, conexões, transistores, condensadores. Em resumo: De materiais de aço, tungstênio, germânio, carbono, etc., aos quais não se lhes concede, geralmente, vida nem inteligência nem espírito de decisão.

A luz elétrica de nosso dormitório é capaz de se diminuir a meia-luz ou se apagar por si mesma quando dormimos? Seria difícil crer. E, no entanto, com o gerador aleatório tudo parece acontecer segundo uma das hipótese seguintes:

— O experimentador influi no aparato por sua vontade, seu pensamento.
— O aparato, por sua própria vontade, decide dar mais calor à matéria vivente.
— O gato, a cenoura, o ovo influem no jogo de azar e lhe obrigam a dar mais calor.
Ou, também: Com a intervenção duma vontade e duma inteligência, quiçá superiores a nosso universo.

Cabe imaginar uma espécie de ARN (ácido ribonucleico) mensageiro cósmico, que daria poderes supranormais a seres de exceção dotados de complexos cerebrais particulares e capazes de solicitar este ARN.

A transmissão dos poderes não procederia, sem dúvida, dum além hipotético, senão melhor, dum universo paralelo onde a continuidade espaço-tempo não recorre ao passado nem ao futuro.

Podem também se expor outras hipótese mas todas as explicações são de ordem fantástica, incrível, sobretudo se eliminar a primeira suposição ao fazer funcionar o gerador fora de toda presença humana, um contador que serve de árbitro.

Única dedução positiva: Tudo ocorre como se a matéria orgânica vivente, ao ter necessidade de calor influísse no cálculo de probabilidade, quer dizer, o azar, e o obrigasse a lhe dar um privilégio.

Conclusão de imenso alcance se pensa que a evolução universal não é o que opinavam Darwin e Jacques Monod, senão um fenômeno no qual a matéria orgânica se beneficia duma mais-valia com relação à matéria denominada inerte.

O qual daria ao desenvolvimento do Vivente uma oportunidade mais que ao Inerte.

Daí uma evolução da Vida, tranquilizadora, protegida, lhe permitindo não sumir nalgum nada e não permanecer estancada.

Por suposto, não se trata aqui mais que de hipótese, mas que permitem roçar as infinitas profundidades do desconhecido, da vida e do Deus-universo.

Os experimentos do gerador aleatório com o gato e os ovos foram realizados pelo físico alemão Helmut Schmidt e o professor Rhine, da universidade Duke, em Estados Unidos.

O AMOR QUE FAZ FLORESCER, O ÓDIO QUE FAZ MORRER
«Na física clássica ou antiga — não vacilou em escrever Rémy Chauvin— a identidade do experimentador não tinha incidência sobre o objeto do experimento».

FeS+2HC1-FeCF+H2S (sulfato de ferro + ácido clorídrico = clorato ferroso + hidrogênio sulfuroso), seja Durand, Dupont, Martin ou Gaultier quem proceda a combinação.
Pois bem, segundo Helmut Schmidt, não é assim, já que existe uma interação entre o experimentador e o objeto da experiência.

Seu pensamento pode perturbar e perturba o processo normal.
Onde, expõe Rémy Chauvin, a existência dum denominador comum entre o nível atômico e as emissões do cérebro. E eis nós aqui, em plena parapsicologia, onde o poder psi desempenhará seu papel.

Por exemplo, se sabe que o feito de cultivar planta com amor determina um floração mais esplendorosa, mais vivaz e mais aromático.

Na Escócia uma seita, por esse procedimento, obtém rosas de 12cm de diâmetro, pepinos enormes, cenouras de peso inusitado.

Se sabe, também, que determinados jardineiros possuem dedos verdes e não só têm êxito em toda semeadura, em todo enxerto, como colhem hortaliças excepcionalmente grandes e saborosas.

Certo é que nessas empresas há, também, uma parte de tino mas, também, e sobretudo, uma interação de sentimento ou de fé entre os jardineiros e as plantas.

Doutor Jean Barry, de Bordéus, que estuda o mistério da mão verde no instituto nacional agronômico, obteve resultado, mais demonstrativo ainda, com caixas de Petri, onde se desenvolvem fungos parasitas.

Em seu laboratório os experimentadores tinham como instrução deter, mediante o poder do pensamento, uma quarentena de caixas. Outras caixas-testemunha não eram objeto de cuidado particular e os cultivos deviam se desenvolver nelas normalmente.

Ninguém devia se aproximar das caixas menos de 1,50m, pois o fenômeno psi devia se manifestar a distância.

Sobre 39 caixas submetidas ao psi, informou Rémy Chauvin, 33 tiveram crescimento desacelerado, três crescimento acelerado e três desenvolvimento idêntico ao das caixas-testemunha. Esse experimento, repetido várias vezes, deu resultados igualmente convincentes.

Com amor, com ódio, se pode alterar a evolução dum experimento, duma germinação, mas o mistério é maior ao ter em conta declaração de Jean-Pierre Girard: Não é uma questão de vontade, de amor ou de mau-olhado, senão de certeza interior. Isso é, de fé.

MAU-OLHADO, JETATURA E DEDOS VERDES
Rémy Chauvin e os físicos não nos perdoarão e nos acusarão de sumir no empirismo. Mas como não evocar o mistério dos bruxos e dos jettatori (lançadores de malefício). Vulgares e baixas superstições? Se julga precipitadamente!

Antes dos experimentos de doutor Barry e de Helmut Schmidt se podia crer que o mal de olho, ou mau-olhado, ou malefício lançado era imaginação e que seu efeito nefasto não dependia mais que do autofeitiço!

Mas sabendo que um ajudante de laboratório de Bordéus, que um químico, que um simples aparato eletrônico, quiçá, perturbam experimentos, modificam a regularidade da evolução natural, como não admitir interferências telepáticas, eletromagnéticas ou químicas entre esses computadores ultra-aperfeiçoados que são os homens?

— Te amo! E te banhas num banho de amor. E te sentes totalmente pleno de bem-estar.

É absolutamente certo: A mulher amada irradia, reflete as ondas de amor que se projetam sobre ela, e as que assimilam contribuem milagrosamente ao sustento de sua beleza, de sua carne, de seu viço, de sua saúde e do bom funcionamento de seu organismo:

— Te detesto! Te banhas numa cloaca de ódio, de maus pensamentos. E te ressecarás e a boa fortuna se apartará de teu caminho.

No entanto, seres particularmente fortes, dinâmicos, podem conjurar o malefício, quer dizer, a influência psicofísica dos maus pensamentos que se lhes envia, e constituir uma couraça de proteção sobre a qual se rompem os influxos maléficos.

Se assegura, inclusive, e é muito possível, que a série de ondas más emitidas por um jettatore ou um bruxo, podem se voltar contra ele e lhe afetar perigosamente.
É o choque de retorno, muito conhecido pelos magos.

Existe, verdadeiramente, este choque? Cabe pensar, porque os que se entregam à magia negra, os que emitem maus pensamentos não recolhidos têm, geralmente, um destino dramático. E, no entanto, não se diz que a malignidade conserva? Quiçá! Mas como vinagre numa compota de picle. Sem vida nem felicidade.

Seja o que for, parece certo que os feitiços de doutor Barry, porque atua verdadeiramente como jettatore, resultem positivos tanto no amor como na hostilidade porque a planta, ao contrário do homem, não conhece a couraça preservadora do malefício nem o sentido da maldade voluntária.

Se não, as montanhas desmoronadas, as selvas destruídas, as terras envenenadas, os mares mortalmente contaminados, tivessem, faz tempo, estrangulado o nefasto reinado humano.A única particularidade certa do homem é que é capaz de odiar.

O IMPOSSÍVEL DEVE, ÀS VEZES, SER POSSÍVEL
Eis aqui a ciência oficial obrigada a se comprometer nas vias inseguras do Misterioso Ignoto de que tanto se debochou há um século!

A dizer verdade, ficamos mais sensibilizados pelo gerador aleatório de Helmut Schmidt que pela psicocinesia ou efeito psi que não suscitou em nós verdadeiro assombro.

Mas que um instrumento metálico sinta compaixão por um ovo incubado ou por uma cenoura, isso, sim, é novo!

Sim, desde logo, a sombra é propícia aos enamorados e aos velhacos; o mar e o abismo aos desesperados; a erva ao ruminante e o nitrogênio às plantas mas fica a demonstrar que esse favor procede duma inteligência voluntária e própria da sombra, do mar, da erva, etc. Embora não duvidássemos dessa inteligência voluntária difundida no imenso oceano da consciência cósmica.

Mas se pode pedir a um prego que não perfure o pneumático da bicicleta. Podemos, acariciando as rodas dum vagão de ferrovia, o fazer rodar sem locomotiva e, quiçá, sem trilho, até um destino de nossa eleição?

No ponto em que se acha a nova ciência e a incerteza da mente, se pode responder:

— Dizer que é possível seria aventurado mas se pode antecipar que não é impossível!

Em todo caso tudo deve ser possível num certo universo e, inclusive, no nosso deve acontecer, de vez em quando, que o impossível se realize.

Uma espécie de antifísica à Costa de Beauregard, e que teria uma relação com as ondas avançadas!

Mágicos e incompreensíveis encantamentos desses bruxos do Verbo e do labirinto que são os sábios!

Mas se um gerador aleatório pensa e se seu pensamento se converte em criador, então em que se convertem as certezas em geologia, em biologia, em matemática, etc.?

Uma cifra tem, talvez, sua individualidade, seu pensamento. Em certos casos um 5 poderia se converter num 6 do mesmo modo que 1=3 no mistério da Trindade?

Se o gerador, o gato ou uma potência desconhecida influi no azar, lhe obriga a dar um privilégio do Vivente organizado, quer dizer, à matéria orgânica, é todo o conceito darviniano da evolução o que está em jogo!

Pra resumir digamos que a evolução do Vivente se fez se beneficiando de favor e complacências misteriosas que dariam, aparentemente, mais oportunidade à vida, ao ritmo, ao movimento que ao estagnação ou à involução.

Olivier Costa de Beauregard, diretor de investigação no CNRS, preconiza uma antifísica associada à física eletrônica e que é, de certo modo, sua imagem invertida, ou melhor, virada. O explica resumidamente assim: Uma piscina, pés que saem da água, uma saltadora que brota da água e vem pousar sobre o trampolim (cinema invertido). É a antifísica, uma retrospectiva, uma retrodicção.

(Robert Charroux - CONTINUA)