31 de julho de 2010
MATER PRIMORDIAL
“Deus criou então o homem à sua imagem, e criou-o à imagem de Deus”, E criou-o macho e fêmea.”(Gênese I, vers. 27)”.
Lendo a Bíblia, somos levados a pensar que o ser humano a princípio foi criado hermafrodita: macho e fêmea ao mesmo tempo, embora no versículo 7 do segundo capítulo da Gênese esteja indicado que o homem foi feito do lodo da terra e a mulher, no versículo 22, “da costela tirada de Adão”. Trata-se de um erro de tradução, deve se ler “a mulher foi feita de um dos lados do primeiro ser humano”.
Muito antes dos Hebreus, os povos mais antigos veneravam a Mater (Grande Mãe), em que viam a mãe da humanidade, e reproduziram-na muitas vezes bissexuadas, ou seja, hermafrodita.
A deusa Ishtar dos Assírios Babilônios, deusa das manhãs e das noites (Vênus Lúcifer e Vênus Vésper), era representada com uma barba, em Nínive, e a Astarté dos Fenícios também tinha uma barba, em Cartago.
No mais antigo livro do mundo, a História Fenícia, de Sanchoniathon, está escrito que “os Zophasemin ou Observadores do céu, feitos da substância primordial, eram andróginos no começo”, o que é discutido pelos Ufólogos.
Os seus sexos diferenciaram-se quando a luz e as trevas se separaram. O Adão da nossa Bíblia falsificada e mal traduzida é, na realidade, a Segunda Chance da espécie humana novamente criada.
Em Midrasch Schemot Rabba, cap. XX está escrito:
«Quando Deus criou Adão, este era homem - mulher.»
Segundo Jeremia Ben Eleaser, Deus criou o homem andrógino (macho e fêmea).
Moisés Maimónida, disse: «Adão e Eva foram criados juntos, unidos de costas; quando este for duplo foi separado, Deus agarrou na metade que foi Eva e entregou-a a outra metade.»
Manasseh Ben Israel escreveu que a forma de Adão era dupla, «macho à frente e fêmea atrás».
Cibele, a mãe dos deuses, era andrógina, como a Afrodite dos Gregos, que tinha «os atributos do macho para cima das ancas, e os da mulher, para baixo. »
Em Chipre e em Berlim podemos encontrar estátuas de Afrodite com barba. Está assim esclarecido que os povos antigos compreendiam o ser humano primordial como um andrógino e a Mater, adorada acima de todos os deuses, tinha simultaneamente um falo e uma vulva.
Algumas tradições, pouco consistentes de resto, como o romance da Bíblia, afirmam que Eva não foi à primeira mulher da criação.
O símbolo degenerado da serpente, apesar de tudo identificável ao seu papel de tentadora, acompanha a história da queda de Adão e Eva no paraíso terrestre.
Uma velha lenda talmúdica, não ortodoxa, segundo a Enciclopédia, dá duas mulheres a Adão: Eva e Lilith.
O Dicionário de Bayle diz que Eva, mal foi criada, perdeu logo a virgindade e a Serpente se aproveitou disso para tentá-la, num momento em que Adão adormecera para repousar das fadigas conjugais.
Outros exegetas são de opinião que Adão, depois do pecado, foi excomungado durante cento e cinqüenta anos, tempo que passou com uma mulher feita como ele de lodo, chamada Lília ou Lilith.
Outra lenda conta que Eva, depois de ter sido tentada pela serpente, que era Satã, e com ele manter relações sexuais, deu à luz a duas crianças: Abel e Caim.
No Talmud, lê-se que o principal daimon fêmea era Lilith, representada com longos cabelos, muito bela e que excitava não só os homens como também as mulheres para jogos de amor e de volúpia. É a ela que o Iniciado em Magia Cerimonial se dirige na Conjuração dos Sete: “Não nos atormentes, Lilith, afasta te!”
Segundo o Sepher Ah Zoar, Lilith teria sido a verdadeira sedutora de Adão, enquanto Eva foi conquistada pelo belo Arcanjo da Escuridão, Samael. Dos amores mágicos de Lilith e de Adão teriam nascido os egrégores ou veladores de que falam os manuscritos do mar Morto (o Tantra do Ocidente).
Uma outra tradição faz de Lilith a criatura humana original anterior a Adão, a quem teria posto no mundo ou vira nascer e de quem fora a primeira mulher, o que sugere um mito de Mater.
Teriam ambos sido modelados em argila vermelha recém-criada, com um especial esmero, por Lilith (Os cabalistas deram o nome de Lilith a um pequeno astro escuro que foi muitas vezes observado pelos astrônomos Riccioli, Cassini, Alischer. Este astro seria o segundo satélite do nosso planeta e teria também o nome de Lilith, a Lua Negra).
Em astronomia a lua negra representa todos os desejos inferiores, os mais ocultos, mais nefastos que existem em nosso infraconsciente. Alguns astrólogos renomados consideram que na "casa" onde ela se encontra, pode haver uma exacerbação do que temos de pior em nossa sexualidade.
A Lua Negra tem sido definida como o afélio da órbita lunar, ou o ponto em que a órbita é mais longe da Terra. Ambos esses pontos, o afélio e o segundo ponto focal se encontram ao longo do grande eixo da elipse orbital, a linha das apsides. Vistos da terra, esses pontos estão na mesma direção e portanto ocupam o mesmo lugar no Zodíaco.
O segundo ponto focal se encontra numa distância de somente 36.000 km aproximadamente da Terra, e o afélio a aproximadamente 400.000 km. À parte isso, as duas definições podem ser vistas como equivalentes: como a órbita da Lua translada continuamente no espaço, a Lua Negra se move ao longo do zodíaco aproximadamente 40º por ano. Uma revolução completa leva 8 anos e 10 meses.
Em astrologia, a Lua Negra descreve que a mulher pode expressar o poder da Grande Deusa que reside em todos os seres do gênero feminino, capaz de gerar a vida. No trânsito, a Lua Negra indica alguns dos complexos de frustração e castração, freqüentemente na área do desejo, uma falta de poder da psique e uma espécie de inibição generalizada. Por outro lado, seu lugar no nosso mapa pode mostrar onde nos questionamos mais, onde questionamos nossa existência e nossas vidas, nossas crenças e nossas filosofias.
Ao mesmo tempo em que nos questiona, Lilith não indica passividade, pelo contrário, simboliza um firme propósito de estarmos abertos e confiantes, de deixar o Todo fluir através de nós, confiando inteiramente nas grandes leis que regem o universo e às quais não podemos nos subtrair.
Os ocultistas deram à Lua Negra o nome de Lilith. Este segundo satélite lunar é uma espécie de Oitava Esfera Submergida, um mundo terrivelmente maligno.
As vibrações sinistras da Lua Negra originam na Terra monstruosidades, abominações, crimes espantosos, sadismo, luxúria, homossexualismo em grande escala, abortos provocados, enfim, todas as formas de violência e problemas sexuais graves.
No entanto, Adão abandonou a, preferindo Eva, que havia sido feita da sua carne e do seu sangue «Preferiu se» a si mesmo, em suma!
Esta última tradição foi posta em poema pelo marquês de Belloy em 1855, com algumas variantes, pois faz nascer Lilith e Eva de uma costela de Adão. Também Platão, em sua obra “Banquete”, conta uma outra tradição muito antiga do homem criado andrógino.
Contam que por motivo de orgulho e luxúria, Lilith foi se queixar com Deus: “Fomos criados iguais e devemos estar em posições iguais”. Certa de que Deus não atenderia às suas reivindicações, foi embora do Paraíso, aliando-se com os Inimigos do Eterno. Perdida no mundo, ela terminou se transformando num demônio perverso que assola e vampiriza a todos os seres humanos que tentam viver o Amor.
A partir dessa narração alegórica e ao mesmo tempo ocultista, Lilith foi chamada de a mãe dos demônios e de todas as perversidades sexuais, além de ser traidora, por se aliar aos Anjos Caídos.
Na Bíblia, aparece uma fugaz alusão a Lilith. Em Isaías (34:14) explica-se com detalhe como Deus, com sua espada, mata a todos os habitantes de Edom e que ali ficam como senhores animais como abutres, serpentes e Lilith.
Segundo Josefo, no tempo da criação, a Serpente tinha o dom da palavra, e mesmo amaldiçoada guardou o segredo da regeneração com sua troca de pele. Segundo Paracelso conserva ainda atualmente, por especial privilégio de Deus, o conhecimento dos maiores mistérios.
Eva ou Héva, no poema do Senhor de Belloy, é a feiticeira que encanta, mal nasce. Por essa razão é que Adão abandonou o amor de Lilith e se dedicou a Héva, a Sensual.
Na Filosofia Gnóstica, o Inferno da Terra é regido por dois demônios, Lilith e Nahemah. Lilith dirige as outras 7 Esferas infernais, onde reina a sexualidade mais depravada, onde se encontram todas as fantasias sexuais mais horrendas que se possa imaginar.
Lilith, Adão e Eva referem-se ao período compreendido pelos teosofistas como a Terceira Raça-Raiz, a Lemúria. Foi em meados dessa Raça que os titãs lemurianos degeneraram espiritualmente. Lilith, como personagem lemuriano, foi um grande Mestre da Luz que caiu na degeneração sexual, desobedecendo aos desideratos da Grande Fraternidade Branca.
Além de Lilith, outros exemplos de Mestres que involuíram nos Mundos Infernos, que se transformaram em Hanasmussen (magos negros) de último grau: Andramelek, Moloch, Nahemah, etc.
O enigma da primeira mulher da criação, e de um Adão hermafrodita, que “prefere a si próprio” ao escolher uma Eva feita da sua carne e do seu sangue, sugere uma interessante tese sobre a anterioridade da criação humana. Trata se, de fato, do verdadeiro problema da Mater.
Estas tradições, lendas e superstições, referindo se a Lilith como a primeira criatura terrestre, rival de Eva, demônio, Lua Negra ou astro sombrio, provam que desde a mais alta Antigüidade, os nossos antepassados pensaram que o ser humano primordial podia ser uma mulher: a Mater.
Esta hipótese, que se junta à dos biólogos do princípio do século, daria, portanto uma anterioridade de existência à mulher.É o que tenderia a fazer pensar, em favor do homem, a atrofia do canal de Muller, que tinha um papel essencial num tipo humano mais antigo.
Neste sentido, este primeiro tipo humano possuidor, quer do canal de Muller, quer do de Wolf (trompas, útero, vagina, canal urinário), era uma mulher. Seja como for, essa criatura humana número um era a Mater, mãe e pai dos nossos mais longínquos antepassados, «Mãe das Mães», como diziam os Egípcios, o que explicaria o culto universal que lhe foi consagrado.
O que, do mesmo modo, daria um sentido profundo às crenças antigas, às divindades andróginas da Grécia e da Assiro-Babilônia, e a essa Lilith maravilhosa e a perversa que nos legou a sua inteligência, a sua astúcia e a sua curiosidade demoníaca.
(Texto de Flavio Lins)
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