30 de setembro de 2009

OS NÚMEROS DE 24 A 40


Vinte e quatro é o número das horas de um dia e dos anciãos no Apocalipse de São João (4,4). Ele está intimamente ligado ao doze por ser evidentemente o seu dobro, mas também, segundo os cálculos da aritmosofia, a metade: 24 --> 2 + 4 = 6, que é a metade de doze.

O vinte e quatro é assim um “enquadramento” do doze, e é sem dúvida por isso que, no sistema de cálculo senário (de base 6) e em relação aos doze signos do zodíaco que eles conheciam perfeitamente, os astrólogos babilônios introduziram os 24 “Juízes do Universo”, ou seja, 24 estrelas, das quais 12 se encontram ao sul e doze ao norte”.

O vinte e seis representa na Cabala a soma das cifras do tetragrama sagrado (as quatro letras do nome de Deus JHVH, ou seja: 10 + 5 + 6 + 5 = 26).

Vinte e oito, que representa um mês lunar e corresponde igualmente ao número de letras do alfabeto árabe, é evidentemente 4 x 7 e 2 x 14, o que explica por quê Osíris, deus da Lua, reinou por 28 anos antes de ser desmembrado por seu irmão Set em quatorze pedaços. Mais tarde ressuscitado por Isis, ganhou o Amenti, que é composto por quatorze regiões, para lá julgar as almas dos defuntos cercado por 42 deuses.

Trinta e três recebeu um significado particular no cristianismo por ser a idade de Jesus no momento de sua morte. Indica o número de cantos na Divina Comédia de Dante, bem como os degraus da “escada mística” na teologia bizantina.

Quarenta é o número da prova, do jejum e da solidão. Segundo os preceitos bíblicos, a mulher que acaba de dar à luz deve permanecer 40 dias no isolamento. Entre os gregos, o repasto fúnebre se desenrolava por quarenta dias e quarenta noite.

Moisés esperou pelo mesmo lapso de tempo no Monte Sinai que Deus proclamasse seus mandamentos. A travessia dos filhos de Israel pelo deserto durou quarenta anos, bem como o jejum de Jesus após o batismo durou 40 dias, tal qual a quaresma do ano religioso. Sto. Agostinho considerava quarenta como o próprio número da peregrinação neste mundo inferior e da espera pelo Reino.

A alquimia retomou esse significado ao indicar que tanto a obra em negro (nigredo: prova e sofrimento) quanto o conjunto da obra (peregrinação da alma e a espera do ouro filosofal) exigem a duração de quarenta dias.

Do ponto de vista da simbólica dos números, o par e o ímpar constituem um “casal” de opostos. O melhor exemplo talvez seja uma passagem da Metafísica de Aristóteles, em que ele se inspira em certas considerações de Pitágoras:
“Os elementos dos números são o par e o ímpar. O par é inacabado, o ímpar é completo. O Um participa do dois, por ele ser ao mesmo tempo par e ímpar”.

Esta oposição não é a única, pois Aristóteles cita em relação ao ímpar atributos ou idéias como o Um – o repouso ou o bem – enquanto que o par tem a ver com o múltiplo (todo número par é um múltiplo de dois, e o dois representa uma adição do um consigo mesmo), com o movimento e com o mal.

É nesse linha de considerações que reencontramos a temática do Diabo, o “dia-bolos”, que quebrou a unidade e começa por isso mesmo o trabalho do múltiplo e de seus antagonismos. [Já num sentido oposto, "sim-bolo" traduz a idéia de reconhecimento, de nexo.]

Mas como se pode explicar que o Um está ao lado do ímpar e que participa do par e do ímpar? A distinção que se pode introduzir aqui é, de um lado, a do Um que de acordo com a aritmética participa do par e do ímpar, visto que ambos procedem desse um, e de outro lado o Um metafísico, ou Mônada, que só pode estar ao lado do completo e do bem, ou seja, da perfeição, portanto do ímpar.

Com relação ao primeiro “casal” de opostos podemos acrescentar um segundo, que é o do Um (ímpar) com o quatro (par), na medida em que Pitágoras sempre afirmou que a tétrade era a própria figura da perfeição.

Para compreender esta afirmação, é necessário saber que a tétrade é essencialmente compreendida no plano metafísico no qual ela designa a completude de todas as possibilidades de existência ou, dito de outro modo, a estrutura da manifestação do Um no universo sensível.

Já a mentalidade moderna, ao contrário, tem a tendência de valorizar o par que é simétrico por definição, divisível por dois (6 = 3 + 3), enquanto que o ímpar é sempre desequilibrado (7 = 6 + 1 ou 5 + 2 ou 4 + 3).

Segundo os comentários de Teão de Esmirna, um é o ponto do partida do qual tudo é gerado, o dois corresponde à linha, o três à superfície e o quatro ao volume que engloba definitivamente e recapitula as três outras figuras.

Pelo fato de gerar as categorias metafísicas das coisas, o um é assim perfeito; e porque essas categorias estão todas compreendidas no quatro, torna este número perfeito enquanto manifestação do Um.

No plano da psicologia das profundezas, C.G. Jung retomou essas intuições pitagóricas em sua utilização do quaternário, ao afirmar que traduz a manifestação da unidade primordial. Ele se apóia, nessa firmação, sobre o axioma alquímico de Maria Profetisa:
“O um torna-se dois, o dois torna-se três e do terceiro nasce o um como o quatro”.

Nos dois casos estamos diante de uma conjunção de opostos, ainda se levarmos em conta que em todos os sistemas simbólicos conhecidos, da China às Américas, o ímpar é tradicionalmente masculino e o par, feminino.
(Continuaremos mais a frente)
Constantino K. Riemma

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