Os eruditos contemporâneos, habituados a fazer dissecações racionalistas, ganharam o hábito de classificar os textos egípcios em ”literários”, ”históricos”, ”religiosos”, ”mágicos”, etc.
Essas distinções formais não correspondem à realidade. O Conto do Náufrago, reconhecido como ”literário”, é uma história de magia admirável.
Os ”Textos dos Sarcófagos”, ditos ”funerários”, apelam constantemente para a magia. Na medida em que um texto está escrito em hieróglifos, é por inerência eficaz; poder-se-ia até dizer que todo o escrito egípcio é por essência mágico, ainda que se tenha de reconhecer diversos graus na aplicação desse princípio.
No entanto, alguns textos destacam-se do conjunto pela sua importância ou pela sua originalidade. Entre eles, o Livro dos Dois Caminhos, inscrito em sarcófagos do Império Médio, confere ao morto o conhecimento dos caminhos do Além. Dois caminhos, um de terra, outro de água, são separados por um rio de fogo. Outras tantas vias de acesso simbólico a um país povoado de gênios temíveis. É lá que se encontra uma espécie de Graal que o justo descobre depois de ter vencido numerosas provas cujas chaves só um conhecimento “mágico” poderá fornecer-lhe.
Os Livros de Horas são conjuntos de fórmulas que o mágico recita durante as horas do dia e da noite para obter os favores das divindades.
O Papiro Bremner-Rhind, onde se conta a luta das potências solares contra a monstruosa serpente Apopi, gênio das trevas, registra também um tratado esotérico sobre a natureza divina.
É revelado que o Mestre do Universo criou o conjunto dos seres quando o céu e a terra ainda não existiam. O plano da criação foi concebido no próprio coração dele. De Um, o arquiteto dos mundos tornou-se Três. Provocou mutação e transmutações, instalou-se no cabeço primordial, primeira terra emergida.
Quanto aos homens, esses nasceram das lágrimas (remetj) do deus, quando chorou sobre o mundo.
A Estela de Metternich é a mais célebre das esteias mágicas. É uma verdadeira ”banda desenhada” mágica a que se narra na Esteia de Metternich, documento importante que só por si mereceria um extenso estudo.
No cimo do monumento veem-se oito babuínos a adorar o Sol nascente, enquanto Tot dirige o ritual. Trata-se da criação mágica da Luz e da luta contra as forças das trevas, expressa simbolicamente nos registros inferiores da esteia.
Data do século IV a. C. e registra um texto notável que trata da cura mágica de Hórus criança, picado por um animal venenoso nos pântanos do Delta onde vivia escondido em companhia de Ísis, a mãe. Na parte superior do rosto da esteia vê-se Hórus de pé em cima de crocodilos a agarrar criaturas maléficas. O jovem deus é protegido por Tot, o Mágico, e por Hathor, deusa da Harmonia.
Se o jovem deus, portador da cintura da infância, não teme qualquer perigo e domina as forças do mal, é porque é protegido por numerosas divindades, nomeadamente por Bés, cuja enorme cabeça sorridente é garantia de segurança.
Por baixo, uma ”banda desenhada” simbólica inclui sete registros onde figuram deuses e gênios, desenvolvendo a sua atividade em múltiplas cenas de conjura. No cimo da esteia, oito babuínos celebram com os seus gritos o nascimento da Luz.
A Estela de Metternich evoca igualmente o papel da grande mágica, Ísis. Quando encontra Hórus, o filho agonizante, apela aos habitantes dos pântanos, mas nenhum deles conhecia remédio apropriado. Ninguém podia pronunciar palavras de cura eficazes. Iria o Criador, Atum, permitir que a vida se esfumasse?
Ísis retira Hórus do ataúde onde repousava e lança um longo lamento que atinge o céu. A sua ameaça é aterradora: enquanto o seu filho não for curado, a Luz não brilhará. As potências celestes, assim forçadas, intervêm a favor do jovem deus:
”Desperta, Hórus!” - é dito.
O veneno perde a sua capacidade nociva, depois torna-se ineficaz. Hórus cura-se. A ordem do mundo é restabelecida. A barca divina percorre novamente os espaços celestes.
Outro documento surpreendente: ”a estátua curadora” de alguém chamado Djedher, guardião das portas do templo de Athribis. Descoberta em 1918 e conservada no Museu do Cairo, oferece informações acerca das práticas religiosas do século IV d.C. Assente num pedestal e medindo 65 centímetros de altura, esse monumento de granito negro representa uma personagem acocorada, braços cruzados, as costas contra um pilar. O corpo está coberto de inscrições, com a exceção do rosto, dos pés e das mãos.
A superfície do pedestal está cavada de modo que duas bacias ligadas por um rego recolham a água que se impregnou de magia depois de ter sido derramada sobre a estátua. Bebendo essa água, o doente curar-se-á.
Sobre qualquer estátua curadora, a menção do nome próprio do defunto é importante. Àqueles que queriam utilizar magicamente a sua estátua, o morto pedia que lessem em seu favor os textos rituais. Aparecia assim como um salvador produzindo milagres.
”Oh, qualquer sacerdote”, diz um texto da estátua, ”qualquer escriba, qualquer sábio, que veja este Salvador! Recitai os seus escritos, aprendei as suas fórmulas mágicas! Conservai os seus escritos, protegei as suas fórmulas mágicas! Dizei a oferenda funerária que o rei dá em mil coisas boas e puras para o ka (a potência vital) deste Salvador que fez o seu nome em Hórus-o-Salvador”.
Na mesma categoria de documentos se classifica uma base de estátua de granito negro (32,2 centímetros de comprimento, 12 centímetros de altura) adquirida em 1950 pelo Museu de Leiden.
Coberta de textos mágicos, é aproximadamente da época ptolomaica. Os textos revelam que Ísis, vinda de uma moradia secreta onde tinha colocado Set, utilizou todas as capacidades da magia para curar uma criança picada por desgraça por um dos sete escorpiões que a precediam nas suas deslocações.
Entre as estátuas ”mágicas”, deve ser dado um lugar à parte à do faraó Ramsés III. A sua função era a de proteger os viajantes contra os animais malfazejos, nomeadamente as serpentes. Os que se aventuravam nas paragens do istmo do Suez beneficiavam assim dos favores de Ramsés III divinizado, cuja efígie, colocada num pequeno oratório, emitia uma influência benéfica.
Na estátua (ou, mais exatamente, no grupo esculpido, porque o rei era acompanhado por uma deusa) estavam gravadas fórmulas mágicas que, assegurando a salvaguarda de Hórus criança, garantiam também a do viajante.
Uma corporação de magos, os sau, quer dizer, ”os protetores”, estava encarregada de velar pela segurança daqueles que percorriam as pistas do deserto.
Ramsés III teve relações especialmente estreitas com o universo da magia. Quando do sombrio processo criminal batizado ”conspiração do harém”, conspiração fomentada por dignitários, estes utilizaram a magia mais negativa para tentar suprimir o chefe do Estado.
Um dos conjurados tinha conseguido retirar dos arquivos reais um texto mágico ultrassecreto. Fez uso dele contra o seu soberano.
Os membros da maquinação fabricaram figuras de cera que representavam os guardas do faraó e conseguiram assim paralisá-los. Esperavam, sem dúvida, poder ir mais longe e atingir a própria pessoa do faraó, mas foram identificados e capturados. A utilização da magia como arma criminosa foi considerada delito muito grave, castigado com a condenação à morte, sendo a sentença executada sob a forma de suicídio.
Vários museus guardam papiros mágicos, de interesse desigual. Citamos acima o Papiro Bremner-Rhind e poderíamos estabelecer uma longa lista de documentos (entre os quais alguns inéditos ou não traduzidos, ou ainda inacessíveis por razões obscuras).
Um deles, o Papiro demotico de Londres e de Leiden, goza de um renome algo injustificado. Esse documento de época tardia mistura práticas divinatórias, receitas de baixa feitiçaria e antigos elementos mitológicos. É o reflexo de uma mentalidade mágica, dando um lugar não negligenciável a sortilégios dos quais um bom número visa conquistar a mulher amada.
Esse papiro não foi, de resto, redigido para uso apenas dos Egípcios, mas também dos Gregos e dos Cristãos. Em egípcio, os arquivos sagrados são chamados baú Ré, potências do deus do Sol”.
”Os livros”, explica um papiro 13, ”são a potência do rei da Luz no meio do qual vive Osíris”. É pois por intermédio desses arquivos sagrados que comunicam as duas grandes potências divinas, Ré, deus da Luz, e Osíris, senhor das regiões tenebrosas.
Os autores dos livros mágicos não são homens, mas sim Tot, o mestre das palavras sagradas, Sia, o deus da Sabedoria, Geb, o senhor da Terra. Escrevendo esses livros, legaram à humanidade mensagens que ela pode utilizar com conhecimento de causa.
O mágico deve portanto possuir um conhecimento perfeito do mundo divino. No cume da sua arte, é mesmo considerado como o Mestre da Enéade, corporação de nove deuses que tem um papel principal na origem de toda a Criação. Portador da grande coroa, o mágico torna-se redator de textos sagrados. É o escrito que registra o conhecimento. ”Ama os livros como amas a tua mãe”, é recomendado àquele que procura a sabedoria.
O mágico não se contenta em ler: engole os textos, coloca pedaços de papiro numa tigela, bebe o Verbo mágico, ingere as palavras portadoras de significado. Esse rito extraordinário foi transmitido aos construtores de catedrais.
Perto da múmia era depositado um papiro encarregado de repelir as forças hostis e de permitir ao morto entrar em completa segurança nas regiões desconhecidas do Além. Esses escritos mágicos eram colocados ora perto da cabeça, ora perto dos pés, ora entre as pernas do corpo mumificado. O morto dispunha assim de fórmulas eficazes, de itinerários, de indicações que deviam ser seguidas para que a sua viagem póstuma fosse bem sucedida. Também vários amuletos eram distribuídos sobre o corpo mumificado, para assegurar proteção.
Cada templo possuía uma biblioteca mágica onde se conservavam as obras necessárias às práticas rituais e ao ensino esotérico dos praticantes. Em Edfu, por exemplo, dispunham de obras para combater os gênios malignos, repelir o crocodilo, apaziguar Sekhemet, caçador de leões, proteger o faraó no seu palácio.
O mágico rege a sua vida quotidiana pelas leis cósmicas; por exemplo, ”o dia vinte do primeiro mês da inundação é o dia de receber e de enviar cartas. A vida e a morte saem nesse dia. Faz-se nesse dia o livro fim da obra. É um livro secreto, que faz malograr os encantamentos, que detém e trava as conjuras e intimida todo o universo. Contém a vida, contém a morte”.
O escrito mágico goza de uma vida autônoma dado se encontrar escrito em hieróglifos, signos portadores de potência. Os ”Textos das Pirâmides”, que incluem numerosas fórmulas mágicas, oferecem a este respeito um exemplo muito significativo. Esses textos, inscritos nas paredes internas das pirâmides do Império Antigo (V e VI dinastias), apresentam-se sob a forma de colunas de hieróglifos.
Cada um destes é considerado como um ser vivo, a tal ponto que os animais perigosos ou impuros (por exemplo, os leões, as serpentes) são cortados em dois ou mutilados para não fazerem mal ao faraó morto e ressuscitado.
Na própria composição dos textos mágicos, notam-se usos característicos, como o processo enumerativo que consiste em dar longaslistas de inimigos vencidos ou partes do corpo do homem identificadas às dos deuses. Também se empregam palavras incompreensíveis, formadas de conjuntos de sons julgados eficazes: há uma mistura de egípcio, de babilônio, e de cretense.
Nota: Papiro Salt 139.
Exemplo de texto mágico: uma página do Papiro Salt 825 onde se revela o ritual da Casa de Vida.
À esquerda, escrito dito ”hierático”, forma cursiva do precedente outras línguas estrangeiras, desembocando em fórmulas do estilo ”abracadabra”. Esses desvios bizarros da magia sacra não devem fazer com que se esqueça o valor da palavra. Ler em voz alta as fórmulas mágicas, é conferir-lhes eficácia e realidade.
A língua hieroglífica é baseada, em grande parte, num ”alfabeto” sagrado que inclui letras-mãe (consoantes e semiconsoantes). As vogais não são notadas, são elementos perecíveis, passageiros, dependendo de uma época e um lugar. Em troca, ”o esqueleto de consoantes” é o elemento imortal da língua. Esta ideia de um valor mágico da linguagem foi conservada durante muito tempo. Na época copta, um amuleto preservava vinte e quatro nomes mágicos, cada um deles iniciado por uma das letras do alfabeto grego.
”Eu sou a Grande Palavra”, declara o faraó, indicando desse modo que é capaz de dar vida a todas as coisas. Há uma palavra secreta nas trevas. Qualquer espírito que a conheça, escapará à destruição e viverá entre os vivos. O viajante do Além descobre-a e reveste a magia que irá permitir-lhe manejar a varinha de um deus verdadeiro. Quem possuir a fórmula será capaz de fazer a sua própria magia.
Quando os deuses falaram, rasgaram o nada e abriram a via às forças da vida. Eis a razão por que o mágico repete as palavras dos deuses, como as de Hórus que afastam a morte, extinguem o fogo dos venenos, reentregam o sopro da vida e arrancam o homem a um destino maléfico.
Palavras e fórmulas pronunciadas não são ditas por acaso; inspiram-se em lendas sagradas, em ações acontecidas nos tempos divinos e que se repetem no mundo dos homens. Uma fórmula mágica só é eficaz na medida em que remonta a uma alta antiguidade ou, mais exatamente, à origem da vida. A fórmula de oferenda, por exemplo - peret-kheru -, significa: ”o que aparece na voz”, sendo apenas o Verbo capaz de animar a matéria.
O título geral para a fórmula mágica é ”fórmula para...” se tornar, ser, ter poder sobre. Deve ser lida, recitada, decorada, compreendida, gravada, utilizada como um verdadeiro utensílio espiritual e material. Repetir quatro vezes um texto mágico torna-o plenamente eficaz, mas é igualmente necessário prestar atenção ao som, ao ritmo, à salmodia.
A matéria-prima do mágico é essa palavra que, acrescentando-se ao gesto, produz o ato mágico. Pelas fórmulas tornadas vivas, o mágico encanta o céu, a terra, as potências noturnas, as montanhas, as águas, compreende a linguagem dos pássaros e dos répteis.
O alvo é considerável: a recitação correta das fórmulas torna-o capaz de aceder ao cortejo de Osíris e de fazer parte da confraria dos reis do Alto e do Baixo Egito, a sociedade iniciática mais fechada que é possível conceber.
As próprias divindades veem-se obrigadas a obedecer às palavras de poder do mágico: ”Ó vós, todos os deuses e todas as deusas, voltai para mim o vosso rosto! Sou o vosso mestre, filho do vosso mestre! Vinde a mim e acompanhai-me... sou o vosso pai! Sou um companheiro de Osíris, percorri o céu em todos os sentidos, explorei a terra, atravessei o mundo intermediário seguindo os passos dos Iluminados veneráveis, porque detenho inúmeras fórmulas mágicas. Tendo cavado o horizonte e percorrido o Cosmos em todas as direções, recolheu o ensinamento dos bem-aventurados. Aquele para o qual são recitadas as fórmulas beneficia de privilégios importantes: bebe a água do rio, sai para o dia como o deus Hórus, vive como um deus, é adorado pelos vivos como um sol. Quem recita as palavras justas irá por toda a parte e o seu coração ficará estável qualquer que seja a forma que adotar. Ejaculará o seu sêmen sobre a terra, terá herdeiros que prosseguirão a sua obra. Nem o seu poder nem a sua sombra serão presa dos demônios. E isso, acrescentam os redatores dos livros de magia, foi ”um milhão de vezes verídico”.
O mágico proclama-se eficaz pela sua boca, glorioso pela sua forma.
Existe até uma fórmula para proteção contra qualquer morte, quer seja provocada por doença, por animais nocivos, por afogamento, uma espinha de peixe, um osso de pássaro, a fome, a sede, a agressão de humanos ou pelas divindades. É preciso, com efeito, lutar incessantemente contra as agressões do invisível que se manifesta de mil e uma maneiras. Por isso, o mágico recita com frequência fórmulas complexas para afastar o desenlace fatal daquele que está asfixiado. A falta de ar era uma das obsessões dos Egípcios, pois a respiração era uma das mais deslumbrantes manifestações da vida, através do ar nutriam-se do fluido vital.
A magia evita também que o homem justo seja comido pelas serpentes. Para o proteger com eficácia, a melhor solução consiste em lhe dar a aparência de uma serpente, que será ele próprio, capaz de engolir as suas perigosas congêneres. Voltaremos a falar destes temas característicos da magia egípcia.
Magia de Estado, magia privada: os dois termos não são contraditórios, mas têm como alvo objetivos sensivelmente diferentes. A primeira atinge uma dimensão cósmica; a segunda, por vezes iniciática, arrisca-se a cair, em qualquer momento, no mau caminho que conduz aos poderes mais temíveis. Não acontece hoje o mesmo com as disciplinas científicas de que tanto nos orgulhamos?
A magia egípcia é uma visão do mundo que ilumina zonas ao mesmo tempo luminosas e obscuras da alma humana. Ela foi, muito antes da Psicanálise, uma via de pesquisa fecunda para o conhecimento da última realidade que há em nós. Serviu igualmente para manipular, não sem perigo, uma energia psíquica que a ciência mais racional começa a descobrir, tateante e com um certo espanto.
O Antigo Egito tem ainda muito para nos ensinar, tanto no domínio da magia como em muitos outros. Ouçamos pois os mágicos formular as suas certezas, as suas angústias, celebrar os seus sucessos e interrogarem-se sobre os riscos de insucesso. É também a nossa aventura que eles contam.
CAPÍTULO I
O MÁGICO, HOMEM DO CONHECIMENTO
Um pai de família egípcio, mágico por acréscimo, vive um ritual quotidiano no seio da sua própria família. Quando esta está toda reunida, por ocasião de uma festa ou de uma circunstância considerada excepcional, o pai torna-se em verdade o símbolo de uma força sobrenatural. Não se dirigem a ele de qualquer maneira e ninguém se permite tomar a palavra em qualquer momento.
No Ocidente, temos frequentemente perdido esse sentido do sagrado nas nossas ações mais simples.
Ora, como escrevia Hermes Trismegisto, ”o que está em baixo é como o que está no alto”. Ainda que este julgamento possa chocar, creio que um banquete como aquele que foi celebrado na noite de Natal em Lucsor é uma cerimônia sagrada.
”O mágico”, diz o meu anfitrião, ”é um homem que conhece as coisas”. Os filhos dele aprovaram com um aceno de cabeça.
Não dissimulei a minha surpresa. ”Conhecer as coisas”.., esta expressão, na aparência banal, é frequente nos textos hieroglíficos. Significa, magicamente os deuses na Terra.
”Conhecimento”, prosseguiu o mágico de Lucsor, ”eis a palavra-chave da arte mágica”. Quem ignora as fórmulas mágicas não poderá circular à sua vontade neste mundo ou no outro. A ignorância prende o homem.
Nota: O capítulo 572 dos ”Textos dos Sarcófagos” foi redigido para conferir o poder mágico àquele que viaja no reino dos mortos. É necessário apelar à corporação dos Seguidores de Hórus, sabedores entre os sabedores, que conhecem os segredos da origem.
Fornecem ao mágico uma proteção onde quer que se encontre, com a condição de que seja apto ao conhecimento e não ceda ao esquecimento à terra, reduzi-lo à escravatura. O mágico está ”informado” pelo deus Sia, detentor da intuição das causas, e Hu, o Verbo criador. Tomam-no pela mão e conduzem-no até a um cofre misterioso. Abrem-no diante dele. O mágico vê então o que está no interior: o próprio segredo da magia.
Intuição e Verbo: não é verdade que se trata, hoje como ontem, dos dois utensílios indispensáveis àquele que procura?
Do encantador de serpentes dos campos de Lucsor ao físico atômico mais ”evoluído”, não se manteve idêntica a via seguida: perceber pela intuição, formular pelo Verbo?
O mágico não é um necromante nem um ocultista. Para o Egito, ele é um sábio e um sacerdote. Lê e escreve hieróglifos, conhece os livros antigos e as fórmulas de poder. É mágico porque é conhecedor. A sua função oficial é concretizada pelo porte de um rolo de papiros, símbolo da abstração e do conhecimento esotérico.
(CONTINUA - Autor: CHRISTIAN JACQ)