28 de janeiro de 2013

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS XIV

O FANTÁSTICO LABORATÓRIO DO OLHO
É um pouco como se quisesse retratar um objeto abrindo e fechando ante si um estojo que contém uma placa sensível: Obteria uma placa velada e nenhuma imagem.
Ao contrário, o cérebro é sensível às ondas eletromagnéticas e o olho, pra cumprir sua missão, converte os fótons (energia) em onda eletromagnética.

Para os físicos de Princetão o olho é um laboratório que deve transmutar os fótons (quantas de energia luminosa que não se comportam como onda mas como projéteis, segundo Einstein) em ondas eletromagnéticas. Existirá, pois, uma diferença de natureza entre os fótons ou grãos de luz e as ondas eletromagnéticas normais. A natureza da luz é muito mal conhecida e, segundo France-Culture, os físicos ainda não compreenderam o processo da fotografia.

Nosso complexo biológico é uma máquina fantástica, infinitamente superior aos computadores mais perfeitos!
Portanto, graças às ondas eletromagnéticas, o cérebro recebe e percebe a forma.

Temos um processo análogo e inverso com o aparato de televisão que também está obrigado a transformar as ondas que recebe.

— Então — pensas — vejo a garrafa!
Não é tão exato! Teu cérebro vê a garrafa mas a imagem é interior a teu eu!
E não se compreende como a pode ver exteriormente, quer dizer, fora de tu mesmo.

Talvez exista um trajeto inverso das ondas e dos fótons, mas não se está seguro disso, posto que os biólogos imaginam que pra ver o exterior nosso eu estaria obrigado a sair de nós, a se exteriorizar também. Já o mencionamos mais acima: Está admitido em física nuclear que partículas (grãos de luz, ou fótons) podem desaparecer como matéria e reaparecer como radiação eletromagnética.

Nessa hipótese se produziria um trabalho fantástico que não se limitaria ao objeto e ao processo de transformação, senão que transbordaria fora deles, fora do ser humano e, sem dúvida, fora de nosso universo conhecido.

O observador humano, tu, nesse caso, transcenderia, então, até se exteriorizar, até se converter numa supraconsciência, super universal no sentido em que parece ter um fenômeno de ubiquidade. Mas o eu consciente e lúcido do observador nada saberia do mecanismo, do irracional, da magia de seu desdobramento. A menos que seu prodigioso cérebro imagine o exterior como se, ao sair dum cine, contemplasse o filme além da tela, sobre o próprio cenário onde foi filmado.

Esse jogo, excessivamente sábio e complicado pra nosso débil entendimento tem, sobre um plano menos elevado, o interesse de nos facilitar a aproximação ao Misterioso Ignoto e aos universos paralelos. Somente os sábios mais sutis captam esse ignoto insondável que governa nosso pensamento, nosso comportamento e nossas funções mais elementares.

Como somos ignorantes! Tudo é exato porque tudo é magia, ilusão, maia.

O PECADO DO EU

De fato, esse eu, esse ego que tanto nos preocupa não tem tangibilidade, realidade muito evidente! Existimos? Certamente! Mas, melhor, à maneira duma célula pertencendo ao himalaia universal, e não como indivíduo consciente, livre, unitário.

Escolhemos nosso sobrenome. Nosso nome de batismo. O cor de nossos olhos, de nosso cabelo, nossas taras hereditárias, nossa nacionalidade? Escolhemos nascer no século XX?
Verdade que não? Então, tentemos encurralar, isolar nosso eu, muito pessoal!

Esse eu, que somente aparece com a evolução, o nascimento das civilizações e a dissociação do cósmico. De fato, parece que os homens primitivos não tiveram a preocupação de se dar um nome próprio. Levavam só o nome do clã, e nem isso é certo.

Os esquimós, não faz ainda muito tempo, quando falavam de si diziam Este homem.Entre os negros, a que o racismo se identificou com o espírito tribal, essa ausência do eu é ainda tão vívida que, por um crime cometido contra um de seus membros, outra tribo pode, indiferentemente, matar quem quer que seja que pertença ao grupo rival. Não se lhe ocorrerá, sequer, ao condenado o pensamento de dizer: Não fui eu, dado que seu eu está inteiramente integrado no nós.

O mesmo fenômeno impulsiona o homem mordido por uma víbora a se vingar matando, mais tarde, qualquer víbora. Porque essas víboras não têm nome próprio, como tampouco o têm a nuvem, a árvore, a erva, a gota d'água e o grão de areia do deserto. Todos têm, exatamente, um nome de família: Víbora berus, víbora aspis, nuvem cúmulo nimbo, etc.

Quando o homem adquiriu consciência de sua individualidade (quando se separou voluntariamente do todo cósmico: O pecado original) experimentou o desejo de dar, também, uma identidade às coisas e aos seres da Natureza. Primeiro classificou por espécie e por gênero pra não cansar demasiado seu intelecto ainda pouco desenvolvido: Os ruminantes, as rapazes, os carvalhos, etc. Depois sua mente obteve os meios de armazenar nomes mais distintivos e inventou a vaca, o boi, o cervo, o camelo, a águia, o falcão, a encina, o carvalho, a sobreira, etc.

O mesmo processo seguiu quanto ao sobrenome dos homens.No princípio foram sobrenomes de profissão: Alfaiate, ferreiro, carreteiro.

Entre os hindus o nome da mulher tinha que ser suave de pronunciar: Sita, Kali, o nome do guerreiro: Rude e sonoro, o do brâmane: Poderoso e majestoso, o do paria: Difícil de pronunciar e expressando a abjeção.

Entre os hebreus os nomes tinham um significado místico: Elias e Joel (dois nomes de Deus) ou representavam uma característica ou qualidade.

Os gregos chamavam os meninos: Filho de fulano, e o homem não adquiria um nome próprio antes do merecer por uma reputação individual.

Desse modo Aristocles se converteu em Platão devido à largura dos ombros e foi esse apelido que ficou. O apelido: O gago, o coxo, o forte, o simples, o audaz, etc., foi sempre mais representativo do indivíduo que o sobrenome decretado pelas leis.

Cabe ressaltar que o eu pode se converter em nós e assim era no tempo dos romanos, o Nós majestoso, pra significar que tal tirano, tal césar tinha o poder, o valor, a força, a beleza, em resumo, o valor de várias pessoas.

O EU MANIPULADO DOS CHINESES
O eu do qual nos jactamos e do qual estamos geralmente orgulhosos não é, definitivamente, mais que o resultado do encontro dum óvulo e dum espermatozoide, o todo nutrido pelo sangue da mãe, por seu leite, pelo leite de vaca, papa de arroz, chocolate, bisteca, batata, vinho tinto, etc.

E esse todo se desenvolve intelectualmente mediante o que ouve quando é, ainda, um feto, e do que aprende de seus pais, de seu ambiente, no colégio, livros, periódicos, rádio e televisão. O eu, também aqui, é terrivelmente condicionado, forjado, moldado, manipulado.

Um chinês de Mao Tsé-tungue, um alemão de Rítler, um russo de Brejeneve, um latino cristão ou um árabe muçulmano não têm um eu fundamentalmente diferente ao do vizinho. Quiçá pode ser situado no trabalho individual, num certo modo de coordenar a informação recebida do exterior, mas essa centelha de personalidade é muito frágil e ilusória comparada com o todo do maoísta célula, do ritleriano, do russo, do cristão e do muçulmano embrutecidos por seus dogmas.

Ademais, é sabido que os hormônios condicionam o comportamento psíquico de todo indivíduo. O hormônio tireoide têm uma relação com os humores e os estados depressivos de nosso eu que mil outras influências exteriores perturbam, submergem, aniquilam.

Onde está o eu de um soldado, de um drogado, de um homem inscrito num partido político ou religioso?

Por último, o eu se opõe ao espírito de massa, dos pássaros, por exemplo, e à integração na ordem universal. Essa é a razão pela qual existe o pecado.

Capítulo XII

OS CAMINHOS ENGANOSOS DO LABIRINTO
Não é fácil dar significado concreto aos símbolos e é ainda mais difícil lhes assinalar uma hierarquia.

Geralmente se concede uma primazia ao sinal de Deus ou do Sol: O círculo, assim como também a espiral, representam o Divino em sua manifestação mais total: A evolução e o espaço-tempo.

Os outros símbolos mais correntemente evocados pelos esoteristas são a água, o fogo, a serpente, o dragão, o labirinto, o falo, o jarro, a suástica, as estrelas, o unicórnio, etc. Não obstante, se olvidam, com frequência, os principais: |, —, +, O.

O | representa ao homem, o — a mulher, o + o acasalamento e o hermafrodita, ao O o ponto de neutralidade, o nó de tempo e de espaço no que tudo é diferente ou não existe: O tempo e o espaço do divino.

A hierarquia exigiria a seguinte ordem: O + é o hermafrodita original, o – a mulher, e o | homem. Nessa ótica, a O representa a Deus.

Naturalmente, depois dos símbolos principais de Deus, do universo, do triplo mistério do homem, vêm as representações do falo, do jarro (taça-vulva), do fogo, da serpente, da água.




O DILÚVIO CASTIGA O PECADO
Explicamos, com frequência, esse significado particular que se lhe dava, no meio da iniciação, ao sinal + que representa o ser princeps (Primevo), ao mesmo tempo homem e mulher.

Esse ser do Deus tirou um costado (e não uma costela) pra criar Eva, mas também pra criar seu companheiro, vulgarmente representado por Adão na lenda bíblica e nas especulações da maioria dos esoteristas.

Não temos qualificação pra afirmar seja o que for mas podemos dizer que em alta iniciação não é questão dum homem primordial, senão dum hermafrodita primordial e, esperamos que a ciência dos biólogos lançará, algum dia, luz decisiva sobre este ponto.

Já, a atualidade do século XX poderia despertar a atenção e, inclusive, as suspeitas daqueles que têm olhos pra ver.

Antanho, e até no século passado, havia a Máter-taça e o Homem-falo.

A Máter sente renúncia por sua missão e, cada vez mais, se nega a procriar pra permanecer bonita e se transforma na Lilite egoísta e experta em erotismo. O erotismo substituiu o coito amoroso. Por sua parte, o homem se afemina e rechaça se tornar pai.

Este processo evolutivo, intelectual e contestatório não se leva a cabo sem interação com o processo físico. Sem dúvida, é motivado no inconsciente por uma programação cujo objetivo é, quiçá, justificar pelo absurdo o fim duma raça decadente.

Já o dissemos: O racismo é a lei superior do mundo orgânico e o pecado é não ser racista.

Desde que o homem perde de vista essa noção fundamental se despega de Deus, do cósmico e se funde no deterioração.

Quando o carvalho esquecer que é carvalho e produzir um fruto distinto da bolota, então os bosques desaparecerão e o pecado provocará um novo dilúvio. Porque, no ensino secreto, o dilúvio não tem outro significado que o de castigar o não respeito do legado genético e do patrimônio da espécie.

A BOMBA ATÔMICA
Se pensou, durante muito tempo, com Platão, que a catérese do mundo (sua destruição, sua pralaia) seria causada pelo fogo ou pela água. Logicamente, a água que aporta a vida também deve proporcionar a morte.

Pralaia, segundo a teosofia é o período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que não ocorre atividade. Dura, segundo o cômputo dos brâmanes, 4.320.000.000 de anos. O período de atividade, chamado manvantara, tem a mesma duração. Tomando 360 manvantaras e igual número de pralaias, se obtém um Ano de Brama.

A duração de 100 Anos de Brama forma uma Vida de Brama, também chamado de mahamanvantara, durando no total 311.040.000.000.000 de anos. Esse é, segundo Helena Blavatsky, o período de atividade do cosmo, se seguindo um período de inatividade, chamado maapralaia, de igual duração.

O símbolo do fogo, a chama, tem, também, um valor gerador e destrutor mas, ademais, evoca o pecado humano ou, melhor, o sentimento de culpa que atingiu o homem. Essencialmente, o fogo pertence ao Sol criador, a Deus, e não aos profanos.
Se o divino é pródigo em água que se infiltra na terra e ali se instala, o é muito menos do fogo que, de qualquer maneira, remonta ao céu depois de expressar sua onipotência. E a onipotência divina é sempre um fenômeno de destruição: Não se contempla impunemente o rosto de Deus.

Inclusive com lentes de cristais excepcionalmente negros e quase opacos, a luz mais clara que 100.000 sóis da bomba atômica não deixa de ter perigo aos olhos e a todo o corpo humano. Há que se velar o rosto pra olhar a Deus, que tem, também, por símbolo a bomba atômica e por expressão a explosão nuclear.

A bomba atômica é Deus, por fim redescoberto pelos homens. Aqueles que estão lúcidos o compreendem: Os outros, muito orgulhosos de sua ciência fecunda, sutil, e de suas realizações altamente materialistas, se admiram, se repartem medalha e recompensa mas, no recôndito da consciência, experimentam uma surda inquietude e maldizem aos bruxos satânicos que, desde Joliot-Curie a Einstein, redescobriram o fogo de Deus e abriram a caixa de Pandora.

Na verdade o fogo é tão gerador de invento, de evolução, tão necessários à vida e à morte, tão magicamente fértil que sempre esteve unido à essência mesma de Deus ou a seu arsenal divino (o raio).

Ao inventá-lo ou ao recolhê-lo por subterfúgio, o homem imaginou que ultrapassava seus direitos e furtava algo divino, tabu. Então, se sentiu muito culpado e acreditou se justificar infamando aqueles que a tradição dizia haver roubado o fogo celeste.

É assim como o bom Lúcifer e o admirável Prometeu pagou pelos humanos sem ser beneficiado com sua gratidão.

Tudo o que é maravilhosamente mágico: O fogo, a fotografia, o rádio, o avião, a televisão, etc., é, como a bomba atômica, salto do tabu e crime de lesa-majestade.
Christia Sylf expõe que Lúcifer poderia ser o admirável sacrificado que teria permitido o grande experimento em curso sobre a Terra.

A GARÇA GRIS CINZA
Bastante paradoxalmente, foi o herético mas clarividente Giordano Bruno (Filósofo italiano do século XVI. Opôs à religião cristã a ideia dum mundo infinito, entregue a uma evolução universal e eterna. Excomungado, degradado, o ilustre pensador foi condenado pelo Santo Oficio a ser castigado com tanta clemência como se poderia e sem efusão de sangue: Foi queimado vivo! Resultou benéfico que fosse sacrificado pra que perdurassem suas ideias. Aqui também tem sacrifício ao deus) quem, antes de ser queimado vivo em Roma por ordem do muito Santo Oficio, farejou muito perto o mistério da fênix que, também como ele, mas voluntariamente, ardia em vida no final duma de suas múltiplas existências.

Segundo Giordano Bruno, «os tiranos sociopolíticos e seus mercenários da ciência e das universidades (quer dizer, a equipe e o potencial energético das civilizações) levam neles os germes de sua destruição pelo fogo».

Estatua de Giordano Bruno em Campo de Fiori, Roma.

Se pode entender por isso que a humanidade não pode escapar aos tiranos da política, da ciência, da cultura, que representam o fogo, um fogo de forja onde perecem e renascem homens que vão ficando, sem cessar, melhor temperados e aptos pra se liberar de sua escória física e mental.

Por isso mesmo, sem dúvida, posto que o que está acima é como o que está abaixo, os universos se consomem, se regeneram, se afinam e, a cada vinte ou cem mil milhões de anos, renascem com componentes mais sutis geradores de criação e de civilização mais desenvolvida e mais inteligente. E por isso o ferro brutal, arrancado à mina, se converte em sol cintilante no coração do braseiro, e depois em relha de arado, folha, espada, poste após ser moldado e temperado.

Há 4.000 anos, e mais, para pôr de acordo os feitos históricos e os mitos científicos de seu tempo, os egípcios imaginaram o símbolo da fênix que representava, esotericamente, ao mesmo tempo o ciclo cósmico, a marcha do tempo, o transcorrer da civilização e as cheias periódicas do Nilo. Essas cheias, vitais para a vida econômica do país, eram observadas pelos magos (sábios, médicos, copistas e sacerdotes) das Casas de Vida, espécie de academia científica egípcia.

Esses magos notaram que quando acontecia a inundação um pássaro magnífico planava sobre a água ou pousava numa ilhota. Era a garça cinzenta de duplo penacho e de largo bico que, nas auroras auro-rosas ouro vale do Nilo, se recortava, às vezes, hierática, impressionante, sobre o disco vermelho do deus-sol Ra.

A imaginação popular se comprazia em o crer parido pelo astro da manhã e o associava ao mesmo Deus, com o touro Mnévis e ao betilo, onde o primeiro sol se havia levantado no início do tempo. Essa ave milagrosa, anunciadora da boa-nova, os egípcios a haviam chamado boinu e os gregos phénix, palavra que significa vermelho, como a palavra fenício designando a Adão e aos vermelhos, primeiro homem e primeiros habitantes da Terra.

Quando o ave regressava, principalmente a Heliópolis (Cairo) onde era objeto de culto, em todo Egito se produzia um estalido de alegria.
— A fênix voltou! Então se sabia que o arroz cresceria em abundância e que os meninos nascidos nessa época receberiam uma bênção excepcional. Pouco a pouco a fênix foi identificada ao Sol. Como ele, parecia surgir sobre a água primordial fertilizante e «reinava sobre os ciclos trintenal e as festas da vida regenerada», escreveu o egiptólogo Serge Sauneron.

O MISTÉRIO CÓSMICO DA FÊNIX
Mas foram os gregos, de imaginação ainda mais fértil que os egípcios, que criaram o mito da ave maravilhosa que, no final da vida, se deixava consumir pelo Sol apra renascer de sua cinza, às vezes com a forma de verme ou ovo. O ovo, ou o verme, se convertia, então, numa nova fênix cujo primeiro cuidado era transportar a Heliópolis, sobre o altar do Sol, despojos de sua antiga encarnação.

Cada fênix vivia 654 anos segundo Suidas, 540 anos se crermos em Plínio e Solínio, 500 anos segundo Heródoto e 1.461 anos segundo Tácito. A época de sua morte coincidia sempre com o equinócio vernal (da primavera), o que indica claramente que os antigos viam um ciclo no mito.

A revista ianque Kronos diz que a aparição da fênix coincidia com a cheia do Nilo, os movimentos de Sótis (a estrela Sírio) e os doze sinais do zodíaco, o que estabelecia relação entre as atividades humanas cotidianas e as da natureza divina. Essa harmonia tranquilizadora, recalcada adrede pelos sacerdotes, persuadia as massas sobre sua posse verdadeira ao macrocosmo, aos grandes ciclos cósmicos dos quais o homem, como a fênix, a cheia, os equinócios eram parte integrante e manifestação privilegiada.

Nesse conceito os homens podiam crer em reencarnações sucessivas e numa vida eterna até o fim do tempo.

O LABIRINTO
No esoterismo, o labirinto é, ao mesmo tempo, o bosque e o caminho arriscado que deve percorrer o Adepto para ir da cidade de Luz-escuridão à cidade de Luz-luz.

É o caminho de vida e de adivinhação do mundo com, no final do trajeto, no centro ou no perímetro, uma saída vertical ou horizontal que não se pode encontrar, presumir ou calcular por alguma ciência, por mais avançada que seja.

Unicamente a intuição, a imaginação e, sem dúvida, também a virtude, podem guiar nesse dédalo mais imaginário que real do qual o iniciado e o poeta se evadem atravessando os muros.

O labirinto é à imagem do labirinto que se adquire, seja por tentativa pro cientista, seja por intuição e revelação pro esoterista.

Estarão aqueles que se extraviarem, tateando, e aqueles que, misteriosamente guiados, se dirigirão quase diretamente à saída. Nesse sentido o fio de Ariana é a graça, o terceiro olho.

O labirinto esotérico é similar ao Bosque aventuroso onde o paladino Rémondin encontrou Melusina e os castelos perigosos dos romances da Távola redonda. Em certo sentido se pode pensar que o labirinto conduz a um universo paralelo, que é a cidade cerrada de Luz, sem porta nem janela, mas com um passadiço subterrâneo que desemboca nalguma parte. Sem dúvida, no torreão da cidade, no próprio núcleo mais inacessível e que, de fato, é o mais vulnerável do intestino.

O labirinto de Chartres, como o doutras igrejas, é um condensador prático, um substituto da via crucis de Jesus em Jerusalém. Porque o próprio do jarro adornado cerrado, do homem, da alma, é ter duas entradas secretas, duas eclusas: Uma ao Céu, outra à Terra. Uma ao Acima, a outra ao Abaixo.

A concepção do labirinto se vincula à da espiral, da origem do universo (ou melhor de sua explicação) e do nada impossível.

O labirinto é, também, o lugar onde gosta de vagabundear a serpente guardiã ou buscadora de tesouro e, é ritualmente, uma mulher, Ariana ou Melusina, a que está associada à serpente, ao tesouro e ao herói.

Nota: Além dos marcos conhecidos de tais pontos telúricos (os dolmens, menires, entre outros), temos os quase esquecidos Labirintos de pedra, desenhados nos lugares ditos anteriormente pagãos (locais onde, por cima, muitas Catedrais foram construídas).  Vemos no interior de muitas Catedrais como, por exemplo, em Chartres, desenhos de Labirintos, como a nos relembrar constantemente os “antigos tempos” da Tradição Primordial.

Os Labirintos seguiam muitas vezes os canais de energia telúrica do solo, dando, assim, forma ao seu complexo de passagens e corredores.

Os Labirintos são encontrados também em outros lugares ou templos. Acredita-se que continham funções de interiorização, e até mesmo exotéricas.

O Dictionnaire des symboles (Dicionário dos símbolos) diz que o labirinto é uma representação simplificada da mandala, imagem psicológica própria pra conduzir à iluminação.

Por suposto, os judeu-cristãos o açambarcaram e, o desenhando sobre as lousas das igrejas, em Chartres, em Poatiê, em Sens, em Amiéns, fizeram dele um substituto da peregrinação à Terra Santa e, também, segundo se diz, à rubrica dos construtores do edifício.

O labirinto, em certos monumentos antigos (em Creta, em Clusium, em Heracleópolis), tinha como missão proteger o centro, o tesouro, a tumba e extraviar o sacrilégio, assim como também suscitar a admiração dos povos no futuro como foi o caso do Labirinto do Egito, do qual, desgraçadamente, não resta vestígio.

A MARAVILHA DO MUNDO DE HERÓDOTO

No Egito, há 2.800 anos, segundo Heródoto, depois do reinado de Séti, doze reis dividiram o país entre si e prestaram juramento de viver em harmonia.
Mas citemos Heródoto. Quiseram, também, deixar, compartilhando o gasto, um monumento à posteridade. Tomada essa resolução, fizeram construir um labirinto perto do lago Moéris (o atual lago Carum) e bem perto da cidade dos Crocodilos.

Vi esse monumento e o julguei além de toda expressão. Todas as obras, todos os edifícios dos gregos reunidos pelo pensamento, lhe seriam inferiores tanto em trabalho como em gasto. Os templos de Éfeso e de Samos, merecem, sem dúvida, ser admirados, mas as pirâmides estão acima de tudo quanto se possa dizer e cada uma, em particular, pode ser comparada paralelamente aos maiores edifícios gregos. Pois bem, o labirinto sobrepuja, inclusive, as pirâmides.

É composto por doze pátios recobertos de teto, cujas portas se enfrentam, seis ao norte e seis ao sul, todas contíguas. As encerra um mesmo recinto de muralhas. Os apartamentos são duplos. Há mil e quinhentos sob a terra, três mil em conjunto. Visitei os apartamentos superiores, passei neles e, por isso, posso falar com certeza e como testemunha ocular.

Quanto aos apartamentos subterrâneos só sei o que ouvi. Os egípcios que os guardam não permitiram que me fossem mostrados porque serviam, me disseram, de sepultura aos crocodilos sagrados e aos reis que construíram todo esse edifício. Portanto não falo dos alojamentos subterrâneos mais que por referências alheias: Quanto aos superiores, os vi e os considero o maiores que os homens puderam fazer.

Os passadiços através dos apartamentos e os circuitos através dos pátios nos causavam, por sua incrível variedade, admiração ilimitada, enquanto passávamos dum pátio aos aposentos, dos aposentos aos pórticos e a outros apartamentos donde chegávamos a mais pátios. O teto de todo esse conjunto de alojamento é de pedra, assim como as paredes, que estão em toda parte decoradas com figuras em baixo-relevo.

Ao redor de cada pátio existe uma colunata de pedras brancas perfeitamente unidas entre si. Em cada um dos ângulos do labirinto se eleva uma pirâmide de cinquenta orgias» (cada orgia=1,84m), sobre a qual se esculpiu, em grande, figuras de animal. Se chega a elas por um subterrâneo».

O LABIRINTO DE CRETA
Construído, por ordem do mítico rei Minos, pra servir de prisão ao Minotauro, o labirinto de Creta supera, em notoriedade, o lago Carum. Os simbolistas mais expertos se perdem em conjetura sobre esse labirinto, sem dúvida, construído pra apagar o vestígio dum duplo pecado: O duma ofensa aos deuses e o dum amor pecaminoso da bela Pasífae a um touro demasiado formoso e demasiado branco. Já se conhece a conclusão: Teseu conjurou a calamidade.

A partir deste elemento é possível seguir o fio de Ariana e adivinhar o mistério?

Recordemos os fatos: Rei Minos deve, ritualmente, sacrificar a Netuno os cem touros mais formosos de seus bens semoventes.

Em certo ano havia um tão formoso, tão perfeitamente branco e de forma tão harmoniosa que o rei o poupou e o substituiu por outro animal de menor valor.

Netuno, irritado, inspirou, então, estranha paixão à esposa de Minos, a bela e ardorosa Pasífae: Ela rechaçou, sucessivamente, as insinuações do marido e quis fazer amor com o touro.

Minos tentou a induzir à razão mas Pasífae, que é de fogo quando contempla a esplêndida besta, permanece de mármore ante a recriminação. Inclusive logra persuadir o engenhoso Dédalo pra que lhe construa uma falsa vaca em cujo interior se encerra pra enganar o touro e gozar seu favor.E o que foi dito, foi feito.

Pasífae conheceu um orgasmo maravilhoso mas, algum tempo depois, pariu um ser meio homem meio touro: O Minotauro.

Minos está dolorido mas sua esposa é tão bela e, de fato, tão inocente nessa história erótica, que a perdoa, mas recolhe ao filho adulterino e monstruoso no labirinto que construiu o astuto mas pouco escrupuloso Dédalo.

Por que encarcerar o Minotauro num labirinto e não numa sala fortificada? Responder a essa pergunta seria dar o esboço da resposta.

Talvez tenhamos progredido no estudo do mistério no qual inscrevemos já os elementos seguintes: Impiedade, efervescência duma vulva humana, nascimento dum monstro que se recolhe ao mais profundo duma sucessão de salas e corredores.

A cada sete anos (se diz, também, a cada nove anos) os atenienses vencidos por Minos deviam enviar a Creta um tributo de sete jovens varões e sete virgens destinados a se converter em alimento do Minotauro.

É sabido que o herói Teseu, graças ao fio de Ariana, sua amada, pôde entrar no labirinto, matar o monstro e voltar a sair seguindo o fio condutor.

Eis nós aqui um pouco melhor informados com o resgate do pecado, a mulher que ajuda ao herói e lhe permite sair da inextricável aventura.

Em resumo: Fica ressaltado que da cumplicidade duma mulher e do discernimento no caminho a seguir, as consequências duma falta podem ser apagadas por um herói.

HOMENS CONTRA MONSTROS
É necessário, sem dúvida, acrescentar a esses elementos a evasão de Dédalo e de seu filho Ícaro, encerrados por Minos no labirinto.

Dédalo confeccionou asas com plumas de pássaro e os dois prisioneiros puderam fugir pelo céu, o qual implica um labirinto sem teto. Dédalo conseguiu escapar mas Ícaro cometeu a imprudência de voar demasiado perto do Sol e a cera que revestia suas asas se fundiu, por isso se precipitou contra o solo. De novo uma ofensa aos deuses, de novo um castigo.

Todos esses elementos são frágeis, difíceis de relacionar entre eles e reteremos, finalmente, o que nos parece essencial: O pecado de Pasífae se acasalando com um animal e o nascimento dum monstro metade homem metade touro.

A Bíblia relata, no Levítico, capítulo XVIII:
23. Não te unirás a besta, te manchando com ela. A mulher não se porá ante uma besta, se prostituindo ante ela. É uma perversidade.

24. Não vos mancheis com alguma dessas coisas, pois com elas se mancharam os povos que atirarei de diante de vós.
Minos era o soberano dum país muito próximo ao Egito, onde abundavam os deuses semi-homens, semi-chacais ou abutres, íbis, gatos, touros, etc.

Se pode, pois, pensar que em tempos muito remotos os homens adquiriram o costume de fornicar com animais, com grande prejuízo a sua raça. Nessa hipótese o labirinto seria o símbolo da luta difícil, arriscada, que os homens tiveram que travar contra monstros para garantir o domínio do mundo.

Outras explicações: Culto solar contra culto taurino, luta do povo grego contra a hegemonia cretense (talassocracia), a imagem do circuito abdominal humano com suas diferentes saídas ou do ovoide cerebral, cuja imagem representativa é um labirinto análogo ao do abdômen (há, também, analogia com a orelha que, estranhamente, reproduz a imagem do feto no ventre materno) e, por último, como dizíamos mais acima, num sentido mais elaborado: Encaminhamento do Adepto pela via do labirinto e da luz.

Então matar o Minotauro significaria matar o monstro de suas noites, de seus desejos nefastos pra acessar um dia novo.

Essa última hipótese se vê apoiada pela descoberta efetuada na Bulgária, perto da célebre estação termal de Kustendil, dum labirinto anterior aos da Grécia antiga, que conduzia à água milagrosa, muito conhecida pelos trácios, povo pelágico muito antigo.

(Livro: Arquivos do Outros Mundos – Robert Charroux - Continua)








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