18 de janeiro de 2013

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS VIII

ASSASSINOS DE FADA E DE DAMA BRANCA

Henri Dontenville, a quem devemos, em grande parte, o despertar do pensamento francês, ou, pra dizer mais apropriadamente, céltico, considera evidente o animismo da Natureza.

— Nunca está petrificada. — Escreveu — No intervalo das idades geológicas as próprias rochas se movimentam e as fontes murmuram.

Se nossos antepassados dedicaram culto à pedra é porque a acreditavam dotada de vida, duma alma, e é altamente provável que estavam com mais razão que os materialistas de curto alcance e os cristãos supersticiosos que creem na matéria inerte.

Certamente, não concedemos crédito aos menires que crescem, às pedras que giram sobre si mesmas ou que vão beber no rio durante a missa de Natal, mas lendas estranhas transmitidas sobre esses temas ocultam, talvez no mais recôndito, assombroso significado.

Os camponeses de outros tempos diziam que houve uma época em que as pedras eram moles e podiam conservar a pegada dos pés.

Essas pegadas se encontram em toda parte: No Peru e, na França, onde são atribuídas a Gargântua, ao Diabo, à Virgem, a Jesus, como é o caso na igreja Santa Radegonda, em Poatiê, ou, não se sabe a que milagre, como no caso das pedras amassadas de Amélie-les-Bains.

No Limusã, se assegurava que determinadas pedras eram habitadas por animais. Se falava, nas noites nas veladas, da mandrágora (dragão) que saía na noite dos pedregais de Frochet (Bussiére-Boffy, Alta-Vienne), dos lobos ou das serpentes que tinham o poder sobrenatural de surgir da pedra em certas ocasiões.

O menir de Cinturat, perto de Cieux, é capaz de se defender contra aqueles que o querem violentar ou escalar. Milhares de pedras, de penhascos, de fontes, de árvores eram, antanho, objeto de culto de nossos antepassados, que, desse modo, autenticamente, honravam o verdadeiro Deus.

Com o advento do cristianismo a boa religião foi proscrita, perseguida e os sectários de Jesus destruíram a maior parte dos monumentos, das árvores e dos monolitos sagrados da Gália.
Em 681 e 682 os concílios de Toledo fulminam os veneratores lapidum. No ano 800 Carlos Magno, no Capitular de Francfort, ordenou a destruição das pedras, das árvores e dos bosques sagrados.

Em mil anos de sacrilégio sistemático e de insidiosa propaganda, os gênios benfeitores, as fadas e os deuses protetores do Ocidente foram substituídos pelas sombrias divindades da Bíblia e os pseudos antos destrutores de nosso patrimônio nacional.

Foi o impiedoso são Martim quem expulsou de nossas fontes e de nossos bosques as fadas, as ninfas, as damas brancas e de nossos menires os gênios que os habitavam.

A partir dessa intromissão o Ocidente ficou contaminado, pervertido, esvaziado de seu sangue rico, leal e generoso.

QUANDO DEUS HABITAVA A PEDRA

Há dezenas de milhares de anos o homo habilis, assim supomos, depositava pedras sobre as tumbas dos defuntos.
Em toda parte no mundo se encontram peças alçadas que foram chamadas colunas ou betilos pelos fenícios, kudurrus pelos assírio-babilônios, balizas ou pilares pelos índios e, mais antigamente: Menires pelos celtas.

A pedra negra, o meteorito e o sílex foram venerados, o mesmo que a montanha que salvara os homens do dilúvio. Os antigos asseguravam que Deus habitava as pedras ou os penhascos, e por ele estava proibido as talhar ou lhes dar forma por temor a ferir a divindade que ali estava incorporada.

O betilo (do grego baitülos, hebreu bethel: casa de Deus) era particularmente apreciado no Próximo Oriente, principalmente em Tiro, aonde foi transportado um aerolito sagrado encontrado pela deusa Astartéia.

Em Pessinonte, na Galácia, a estátua de Cibele, mãe dos deuses, havia, segundo se diz, caído do céu.

Na lenda hebraica a pedra de cabeceira de Jacó foi erigida em monumento e chamada Casa de Deus num lugar que era primitivamente a cidade de Luz.

Milhares de anos antes os povos que edificaram os menires antigos, os da Escandinávia, França, Portugal e Grã-Bretanha, tinham a mesma crença e nunca aplicaram a ferramenta sacrílega sobre a pedra bruta.
No entanto, numa época muito antiga, os homens do Cro-Magnon haviam ousado esculpir a argila pra fazer umas Mater e a pedra pra lhe dar uma tosca forma humana.

Nada além de tímida infração do tabu, e muito estranho à pedra, pois é incontestável que, se o quisessem, os hábeis entalhadores de sílex poderiam produzir uma estatuária.

Com modéstia se limitaram a expressar seu sentido artístico nos machados de pedra polida que, por uma aberração que é de sua natureza, os pré-historiadores tomam por ferramenta (não podem ser utilizados como tal), quando, na maior parte dos casos, são ex-votos ou criações artísticas.

E depois, pouco a pouco, com o desenvolvimento intelectual, a ideia que os Antigos tinham da divindade se ampliou e se começou a esculpir na rocha pra dar a forma dum falo, símbolo de potência, de homem, de vida.

À medida que se baixa a escala de latitude e de antiguidade aparecem os menires: Sem refinar no norte, toscamente talhados no maciço central, com forma nitidamente fálica e humana na Córsega e cada vez mais elaborados ao descer até o sul.

Os mais antigos são, pois, os menires de forma tosca. Os mais recentes são os melhor talhados e os mais antropomorfos.


O HOMO HABILIS E OS FRANCO-MAÇONS

Um gigantesco passo foi dado desde o penhasco no qual o Homo sapiens dava um traço no betilo-menir onde começou a expressar seus pensamentos mediante a gravura e a escrita.

O pilar de Ashoka, na Índia, como o kudurru assírio-babilônio, se converteu num marco delimitando um território e, depois, sobre esse marco se inscreveram leis, mandamentos e símbolos divinos.

Os fenícios nunca deixavam de erigir uma coluna que lhes representasse em toda parte onde instalavam uma feitoria comercial.

Destino prodigioso da pedra: Piçarra colegial do homem pré-histórico, suporte da primeira escrita e livro primitivo ao mesmo tempo que marco, poste indicador, material de criação.

Ainda em nossos dias os marcos quilométricos marcam as pequenas estradas rurais, resquício dum costume que remonta à noite do tempo.

As tábuas da Lei de Moisés, segundo a lenda, eram de pedra talhada.

Talvez se deva estabelecer uma relação entre Emmanuel, o Senhor, e manual, mãos, mão, a mão.

O Senhor é a mão. O dedo de Deus é o símbolo da mão que construí?

Mais tarde os franco-maçons, herdeiros espirituais do Homo habilis e dos entalhadores de betilo, consagrarão com a pedra cúbica o simbolismo magistral que se relaciona com o penhasco talhado.

OS COMPANHEIROS, OS FRANCO-MAÇÕES, OS JUDEUS E A FADA MELUSINA


Todo homem honrado conhece, e admira, aos Companheiros do Dever, essa seita de trabalhadores fora do comum que perpétua, em nosso tempo de deliquescência, o amor ao trabalho bem feito.

Segundo a tradição, sua origem remontaria ao rei Salomão e aos gênios, esses amáveis trasgos do bom demônio Asmodeu, que construíram o templo de Jerusalém sem usar martelo nem machado nem instrumento metálico «somente fazendo uso de determinada pedra que cortava as outras pedras como o diamante corta o cristal».

Seu antepassado longínquo não seria o admirável Lúcifer, portador de luz, que perdeu seu céu por amor aos homens e veio, entre eles, ostentando na frente, como a quimera, uma pedra verde ou um carbúnculo altamente simbólico?

Porque os Iniciadores da tradição são, como o paraíso, sempre destinados ao verde e aportam algo que permitirá construir a civilização dos homens.

Inclusive, os homenzinhos verdes dos pretensos discos voadores respondem a este imperativo forjado pelo subconsciente coletivo em lembrança, talvez, da longínqua aventura luciferina!

Melusina, a bela fada do Poatu, verde Astartéia da fonte de Sée (do saber), trazia, também, pedras pra construir igrejas e castelos.
N.T. : Melusina é uma personagem da lenda e folclore europeus, um espírito feminino das águas doces em rios e fontes sagradas. Ela é geralmente representada como uma mulher que é uma serpente ou peixe (ao estilo das sereias), da cintura para baixo. Algumas vezes, é também representada com asas, duas caudas ou ambos.

Segundo lendas, Melusina cresceu em Avalon com as duas irmãs, Melior e Palatina.

Melusina é às vezes utilizada como figura heráldica, tipicamente em brasões de armas no Sacro Império Romano-Germânico e na Escandinávia.

As lendas de Melusina estão especialmente ligadas às áreas setentrionais, mais célticas, da Gália e dos Países Baixos.

Raramente, quiçá nunca, Melusina é mencionada entre os antepassados simbólicos dos Companheiros do Dever e se prefere o rei Salomão.

Porque Salomão era um semita, filho do deserto, da tenda e um judeu sem lar nem lugar. Hoje aqui, manhã ali. Nada edificando duradouro e não lançando mão da régua nem esquadro, nem do compasso, nem do maço, nem do martelo, nem da escoda.

O celta, ao contrário, é o homem de lar. Certo que é navegante, migrador também, mas com sólida relação com a casa familiar, com o recinto herdado do avô, com o odor da pátria, da província, do feudo.

E ambos, não obstante, foram fiéis à tradição, o judeu mais que o celta, mas jamais um judeu construiu um palácio, uma catedral, talhou uma travessa, plainou uma tábua, serrado um pé de mesa.

Melusina, que edificou dez e cem igrejas, castelos e fortins, é indubitavelmente uma Companheira e uma franco-maçona construtora. Era uma Nossa-Senhora e construía umas Nossa senhora com agulha maravilhosa e sem contrapeso, mas onde faltava, com frequência, a última pedra.

Como trabalhava na noite havia sempre um acontecimento fortuito: O canto do galo anunciando o aurora, frequentemente, e ela não tinha tempo suficiente pra lançar ao ar o último montículo que havia rematado na construção.

Por exemplo: Em Celles-sul-Belle e em Niort. Essa última pedra faltante simbólica (A pedra faltante ou rejeitada simboliza o estado do erro na natureza humana, ao mesmo tempo que rende homenagem à perfeição da divindade que, só pode construir sem que falte algo, como o quebra-cabeça que consiste numa tabela de números que só podem ser movidos, um a um, por faltar um), se não figura entre os Companheiros do Dever, se encontra, às vezes, na bíblia hebraica e entre os franco-maçons.

— São Mateus, XXI, 32: “A pedra que foi rejeitada por aqueles que construíam se converteu na pedra fundamental do ângulo”.
— Isaías, XXVIII, 16: Eis aqui o que disse o Senhor Deus: «Colocarei como cimentos de Sião uma pedra, uma pedra a toda prova, angular, preciosa, que será um firme alicerce».
Em construção toda solidez do edifício repousa sobre as pedras angulares.

Curiosamente os francos-maçons, talvez por vinculação antiga à religião, tem conservado em seu ritual a cerimônia da pedra rejeitada em primeiro lugar e que se converte a continuação no montículo indispensável pra consolidar a construção.

FALOS E PEDRAS-MÃE

A água, a pedra e a serpente: Três símbolos principais!

Sem água, ponto de vida (pelo menos no sistema biológico de nosso universo), no entanto, a tradição, sem dúvida, por alguma razão, oculta, confunde a água da vida com a pedra da vida e a mater.

A serpente guardiã do empíreo (a parte mais elevada do céu habitada pelos deuses) se enrosca em torno da pedra genitora como se vê sobre os dois menires do calvário de Doux (Deux-Sevres).

Essa serpente protetora do céu e dos deuses, e que faz pensar irresistivelmente no espermatozoide, é o princípio atuante, ativo, representa a alma, o movimento e é a força misteriosa da Terra-mãe (o cundaline, a quimera, a coluna vertebral-corrente telúrica, a Veia do Dragão).

A pedra, como Eva, a do nome fendido por um V em forma de vulva, diria Henri Vincenot, é nossa terra mãe, a matriz da humanidade.

As Rochas-das-Fadas do Ormont, perto de Saint-Dié, dominam uma gruta em forma de vulva onde dormitam, diz a lenda, «toda uma população de bebês, que espera o dia assinalado a cada um deles pelo Destino, pra fazer sua entrada na vida».

Pedras de crio, quer dizer, dando nascimento a menino ou facilitando sua chegada ao mundo, se encontram quase em toda parte no mundo.

Nos Vosgos as rochas-mães são frequentes. Se encontro a pedra Kerlinlin, em Remiremont, as cavidades sagradas do monte Donon, a rocha da Motelotte onde, diz o Boletim da sociedade de mitologia francesa, citando a Histoire et Folkore du Donon, de Marie Klein Adam, as fadas haviam estabelecido uma verdadeira milícia infantil.

Na Suíça são as cúpulas dos penhascos que passam por ter dado nascimento a bebês.
Acima, pedras de crio, em Saint-Dié, França.

Nas lendas célticas certos heróis, tais como o rei Conchobar, nasceram sobre a pedra ou da pedra. Tradicionalmente a pedra é vivente, pode crescer ou, ao contrário, se encolher e penetrar sob terra e, por conseguinte, dar a luz.

Daí essa crença universal no poder fecundante das pedras em forma de falo, isto é, dos menires.

Porque a pedra, por excelência, é o menir que ergue sua forma faloide da Suécia ao Níger, do Extremo Oriente à América Central. E em toda parte no mundo, o menir é honrado como Pai engendrador ou catalisador de engendragem.

Em numerosos lugares do sudoeste e de Bretanha, o rito dos deslizamentos com o traseiro nu sobre certas pedras vulvóides ou falóides, dá a medida da crença popular no poder fecundante da pedra.

Na Índia este rito é igualmente praticado e o era muito mais, antanho, em Armênia e entre os lídios, em honra de Anahíta, a Vênus impudica.

Sob forma de menir fálico ela recebia o homenagem anual de milhares de sexos femininos que acudiam a se esfregar contra a pedra pra adquirir a fertilidade ou a segurança de ter filhos formosos.

As mais bonitas moças do Ásia Menor eram ritualmente consagradas a Anahíta e deviam se entregar àqueles que vinham oferecer um sacrifício a ela.
O CADUCEU

A pedra, associada à água e à serpente, é um talismã de fertilidade. Essa crença, na Índia, adquire um caráter particular num rito que explica o mistério do caduceu.

Na região de Madras e da ilha de Ceilão, os drávidas, povo pré-ariano da Índia do Sul, têm descendentes, os tamis, que colocam, ainda, pedras sagradas entre as raízes duma figueira e dum lilás da Índia.

Essas pedras chamadas nagakkals estão esculpidas a imagem duma ou de várias serpentes. A maior parte das vezes se trata de dois serpentes entrelaçadas erguidas sobre suas caudas formando três argolas, a estilo do caduceu dos médicos, denominado caduceu de Mercúrio.
N.T. Segundo o autor, o caduceu dos médicos, denominado caduceu de Hermes ou Mercúrio, não se originou da fábula grega e sim do símbolo de cópula das cobras. Se observam nele os símbolos de Siva: O touro, a naga, o lingam (falo), estão reunidos nos anéis do caduceu drávida de Moenjo-Daro e do caduceu sumério-acádio de Gudéia (-3.000 anos). Se pode ver, também, o símbolo da árvore associado à divindade ou, melhor ainda, o símbolo dos Iniciadores vindos sobre serpentes voadoras (ou dragões), que ensinaram aos homens a arte de sanear. Nessa hipótese o dragão voador é o artefato interplanetário e as serpentes são os Iniciadores. Às vezes as serpentes, cobras, estão enroscadas em torno dum lingam, ou falo, que toca uma figura feminina, em pé, nua, intumescidos os seios.

Essa associação de árvore, de pedra e de serpente tem como meta assegurar o êxito e a fertilidade do amor, o poder fecundante dependendo, sobretudo, da pedra que... na crença de nossos antepassados, estava habitada por uma vida pessoal ou dos seres defuntos.

O fato de colocar o nagakkal entre as raízes do arasu (figueira) e também do vepu (lilás da Índia ou falso sicômoro), escreveu J. Boulnois, sugere o aproximação sexual e mística das duas divindades: Siva e Visnu.

Essa cópula divina figurada engendra, por magia, a cópula mística das duas árvores.

Mas essa pedra, onde foram gravadas as cobras macho e fêmea copulantes, não teria eficiência se não permanecesse submersa vários meses na água dum estanque sagrado ou no poço da casa.

NOSSO ANTECESSOR: A PEDRA

As mitologias mais antigas deixam constância de humanidades que foram criadas com pedra.
Depois do Dilúvio, pra repovoar a Terra, Deucalião, o Noé grego, e sua esposa Pirra, receberam este sábio conselho do oráculo de Delfos:

— Velai vossas cabeças, desprendei os cintos de vossos vestidos e lançai atrás os ossos de vossa antiga antepassada.

Deucalião e Pirra tiveram a inteligência de compreender que a antepassada antiga era a mãe dos homens, Geia (por veneração a nossa madre, a Terra, em certos povoados a mulher pare agachada diretamente sobre o solo).

Um gravado e numerosas cerâmicas peruanas representam essa posição e levariam a pensar que era natural e, talvez, inclusive, habitual no casal da pré-história, mesmo que se tenham encontrado gravados pré-históricos nos quais o homem e a mulher estão acoplados em pé. Se o varão está prostrado sobre o solo, há que ver nele, provavelmente, o símbolo da Terra colocada sob o Céu, ou a homenagem do primeiro homem a Geia. Mas é mais certo ainda que essa posição obedeça a razões físicas e elétricas da Terra, ao ser o homem + e a mulher-).

Ambos atiraram pedras sobre o ombro. A que atirava Deucalião se convertia em homem, a de Pirra em mulher.

Hefestos, o hábil artesão do Olimpo, modelou a Pandora, a miss universo dos antigos, com argila amassada em água.

Mitra, espírito da luz divina na religião masdeísta, veio ao mundo «saindo pouco a pouco da pedra, sob uma árvore sagrada, na margem dum rio», e a rocha que a pôs no mundo foi, depois, adorada sob a forma dum piramidião.

O obelisco foi a forma simbólica arquitetônica mais antiga  do Egito.  Consiste numa coluna quadrangular alargada montada sobre uma pequena base ligeiramente maior que a dimensão da coluna, cujos lados vão se reduzindo até chegar ao topo, terminando numa ponta piramidal chamada piramidião.

Se pensava que a natureza de Mitra estava vinculada a uma técnica de aquisição do fogo mediante o sílex.

Nas crenças hebraicas, gregas e japonesas os deuses se encarnam, às vezes, no penhasco pra manter relação com os humanos.

«Nos digas donde vens porque deves ser de nascimento fabuloso. Terás nascido dum penhasco ou duma árvore?»

Os hebreus não sabem muito bem de que lado ficar. Jeová no penhasco, e as doze tribos estavam simbolizadas por doze pedras imersas no Jordão.

Está escrito: «Abandonaste o penhasco que te engendrou e olvidaste o deus que te formou (O Senhor é meu penhasco).»
Mas esta não era a opinião de Jeremias (II, 27) que condenava este paganismo.

De esse modo serão confundidos as gentes da casa de Israel que dizem à madeira:
― És meu pai.
E à pedra:
― És tu quem me engendrou».

Segundo C. K. H. Iablokoff, Merea teria, como Deucalião, convertido pedras em seres humanos e Mitra, nascida duma pedra, se uniu a uma pedra pra engendrar seu filho que foi uma pedra.

Os iorubas da Guiné creem que todo homem com muitos anos é uma grande pedra. Os índios pareci, de Mato Grosso, dizem que Darukavaitere, o adão brasileiro, era feito de terra.

F. H. Gaster escreveu que «a tribo árabe de Beni-sahr, no Moab, faz remontar seu nome, não sem fantasia, a um antepassado muito remoto que teria sido um penhasco ou sahr».

Na lenda grega, Pigmalião, célebre escultor, pra protestar contra o culto indecente que as mulheres de Amatonte (Chipre) dedicavam a Vênus, resolveu viver no celibato.

A deusa do amor, irritada, se vingou com muita elegância: Fez com que Pigmalião se enamorasse perdidamente duma estátua representando uma mulher maravilhosamente bela esculpida num bloco de mármore, a quem ele chamava Galateia.

Finalmente, convertido aos encantos do amor e, inclusive, aos das prostitutas do templo de Amatonte, Pigmalião obteve o perdão de Vênus, que animou a Galatéia: A estátua, convertida em criatura de carne e de vida, foi desposada pelo escultor.

Dessa união, símbolo da potência criadora da arte sobre a matéria, nasceu um filho, Pafo, que fundou a cidade de Pafos.

Por suposto, é impossível dar vida humana a uma estátua, mas está em nosso destino esculpir, talhar, desenhar e criar à imagem de Deus.

O homem tende a povoar a Terra de estátua de pedra com o desígnio inconsciente de se perpetuar, de se imortalizar.

Houve um tempo, diz uma lenda, em que todas as estátuas de nosso planeta se animaram e entraram em luta contra os homens que as criaram.

Ao contrário, na mitologia egípcia, o deus Jonsu (O Navegante), exorcista e curandeiro, delegava seus poderes a uma estátua onde encarnava seu duplo lhe dando a missão de ir ao reino levar a cura a seus suplicantes.

Se trata, evidentemente, dum símbolo implicando que um dia, sem dúvida, próximo de nosso século, a criação do homem se voltará contra ele e o aniquilará.

(Robert Charroux - CONTINUA)













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