21 de fevereiro de 2013

A ÁRVORE DA VIDA Um Estudo Sobre Magia XIX



Capítulo XVII

Agora os mais importantes aspectos da magia foram abordados. Antes de encerrar este livro, entretanto, desejo apresentar alguns exemplos de vários tipos de rituais e invocações que estão incluídos numa cerimônia completa. Diversas espécies de rituais foram mencionados nas páginas anteriores e agora é necessário tornar tais referências mais explícitas. Uma operação cerimonial completa é composta de muitos ciclos menores, por assim dizer. Independentemente de todas as questões de preparo e consagração das armas da arte, o círculo e o triângulo e os talismãs, com relação ao método que foi descrito, a cerimônia correta pode incluir até oito fases distintas, não mencionando em absoluto do fato de que possa ser necessário que muitas delas sejam repetidas duas ou três vezes para efeito de ênfase. A cerimônia é aberta com um completo Ritual de Banimento, que já foi citado para tornar pura e limpa a esfera de trabalho. Segue-se usualmente uma invocação geral ou oração ao Senhor do Universo. Na seqüência se procede ao trabalho preciso. Deve haver uma invocação ao deus que governa a operação, a recitação de um apelo ao arcanjo ou anjo sucedida por uma poderosa conjuração do espírito ou inteligência para sua aparição visível. Sua manifestação no triângulo é saudada por boas-vindas especiais ensejo no qual se queima incenso como uma oferenda e para lhe dar corpo. Segue-se então a Licença para Partida e a operação é concluída por um completo banimento cerimonial. Propomos, assim, neste capítulo final, dar vários exemplos de cada um dos ciclos mais importantes do trabalho, reproduzindo aquelas invocações que são consideradas exemplares pelas autoridades.

A preparação de um templo ou aposentoadequado a ser empregado como o cenário das operações mágicas é uma das mais importantes preliminares a serem atendidas pelo teurgo. O uso contínuo de um aposento especial no qual a preocupação principal foi com a prática da meditação e coisas geralmente mágicas tende automaticamente a consagrar essa área limitada à Grande Obra, expelindo todas as influências indesejáveis e perturbadoras. Uma simples forma de cerimônia consagrando uma câmara especial para um propósito mágico pode ser concebida muito facilmente incorporando-se o Ritual do Pentagrama com diversos aforismos dos Oráculos Caldeus, como por exemplo no ritual que se segue.

“Que o mago encare o leste e segurando o bastão de lótus pela parte negra, diga as seguintes palavras:

HEKAS, HEKAS, ESTI BEBELOI!

“Então que se realize o Ritual Menor de Banimento do Pentagrama de maneira que um círculo seja formado abrangendo a área da câmara inteira, depois do que o bastão deve ser depositado sobre o altar.

“Purifica os limites externos do círculo com água, dizendo: ‘ Assim portanto primeiro o Sacerdote que governa os trabalhos do fogo tem que borrifar a água do mar que alto ressoa.’

“Purifica com fogo, dizendo: ‘ E quando depois de todos os fantasmas tu veres aquele santo fogo amorfo, aquele fogo que dardeja e lampeja através das profundezas ocultas do universo, escuta a voz do fogo. ‘

“Então toma novamente o bastão de lótus pela extremidade branca, e repete a adoração:

“ ‘Santo és tu Senhor do Universo.
Santo és tu cuja natureza não formou.
Santo és tu o Vasto e Poderoso,
Senhor da Luz e das Trevas.’ “

Imediatamente após os banimentos iniciais terem sido realizados, e logo antes do princípio da cerimônia, aconselha-se uma invocação do Altíssimo. Tal como a vontade inferior aspira àquilo que está acima, do mesmo modo se concebe que o mais alto aspirará à união com aquilo que está abaixo. Para equilibrar a cerimônia uma invocação da Vontade Superior – seja esta concebida como o Augoeides ou o Senhor do Universo - é considerada parte indispensável de qualquer operação. A oração que é apresentada abaixo aparece primeiramente em The Secret Symbols of the Rosicrucians (Os Símbolos Secretos dos Rosacruzes), de Franz Hartman e é uma das hinos mais eloqüentes e exaltadores já escritos que se enquadra ao propósito mencionado acima.

“Eterna e Universal Fonte do Amor, Sabedoria e Felicidade; a Natureza é o livro no qual Teu caracter está inscrito e ninguém é capaz de lê-lo a não ser que tenha estado em Tua escola. Portanto, nossos olhos estão dirigidos para Ti, como os olhos dos servos estão dirigidos sobre as mãos de seus senhores e senhoras, dos quais recebem suas dádivas.

“Ó tu Senhor dos Reis, quem deixaria de louvar-Te incessantemente, e para sempre com todo seu coração? Pois tudo no universo procede de Ti, de Teu interior, pertence a Ti e é imperioso que novamente retorne a Ti. Tudo que existe reingressará em última instância em Teu Amor ou Teu Ódio, Tua Luz ou Teu Fogo, e tudo, seja bom ou mau, deve servir à Tua glorificação.

“Tu somente é o Senhor pois Tua Vontade é a fonte de todos os poderes que existem no universo; nada pode escapar a Ti. És o Reio do Mundo, Tua residência é no Céu e no santuário do coração dos virtuosos.

“Deus universal, Vida Una, Luz Una, Poder Uno, Tu Tudo em Tudo, além da expressão e além da concepção. Ó Natureza! Tu alguma coisa a partir de nenhuma coisa, tu símbolo da Sabedoria! Em Mim Mesmo eu sou nada, em Ti eu sou eu. Eu vivo em Ti eu feito de nada; vive Tu em mim, e tira-me da região do eu para a Luz Eterna.”

Em A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago Abraão, o Judeu cuidadosamente insistiu em não fornecer orações ou invocações, sugerindo que as melhores invocações seria aquelas escritas por cada indivíduo de maneira a atender a necessidades pessoais. Apresenta, todavia, nas páginas de seu livro uma oração que é adequada, tal como a oração rosacruz precedente, para a formação da abertura da cerimônia colimando o soerguimento da mente do mago e a atração da insuflação divina para a bênção do trabalho em pauta (Embora ainda assim se trate da oração pessoal que Abraão empregou em sua consagração).

“Ó Senhor Deus de Misericórdia; Deus, Paciente, Benigníssimo e Liberal, que concedeis Vossa Graça de mil maneiras, e por mil gerações; que esqueceis as iniqüidades, os pecados e as transgressões dos homens; em cuja Presença ninguém é encontrado inocente; que visitais as transgressões dos pais para com os filhos e sobrinhos, até a terceira e quarta gerações; conheço minha miséria e não sou digno de aparecer perante Tua Divina Majestade, nem mesmo de implorar e buscar Vossa Bondade e Mercê para a mínima Graça. Mas, ó Senhor dos Senhores, a Fonte de Vossa Bondade é tamanha, que por Si só chamou aos que estão confundidos por seus pecados e não se atrevem a se aproximar, e convidou-os a beber de Vossa Graça. Donde, ó Senhor meu Deus, tende piedade de mim e afastai de mim toda iniqüidade e malícia; limpai minha alma de toda impureza de pecado; renovai-me em meu Espírito, e confortai-o, de modo que possa se tornar forte e apto a compreender o Mistério de Vossa Graça, e os Tesouros de Vossa Divina Sabedoria. Santificai-me também com o Óleo de Vossa Santificação, com que santificastes todos os Vossos Profetas; e purificai-me com ele em tudo o que me é pertinente, de modo que possa me tornar digno da Conversação de Vossos Santos Anjos e de Vossa Divina Sabedoria, e concedei-me o Poder que destes a Vossos Profetas sobre todos os Espíritos Maus. Amém. Amém .” (NT:Tomei a liberdade de acrescentar Amém. Amém., por fidelidade ao original transcrito).

Talvez um dos mais primorosos hinos conhecidos por este autor é um escrito por Aleister Crowley. Está presente numa peça mística intitulada The Ship composta há muitos anos atrás e é isento de todas as incômodas implicações metafísicas constantes em outras orações, as quais tendem a melindrar sensibilidades filosóficas. Como é, inclusive, em forma poética, o efeito é cumulativo, facilitando grandemente o processo de exaltação (NT: É preciso que o leitor compreenda que, como no caso de demais poesias aqui traduzidas, a rima é muitas vezes sacrificada em prol da justeza e ritmo do texto em português).

“Tu que és eu, além de tudo que sou,
Que não possui nenhuma natureza e nenhum nome,
Que és quando todos exceto Tu já se foram,
Tu, centro e segredo do Sol,
Tu, fonte oculta de todas as coisas conhecidas
E desconhecidas, Tu afastado, só,
Tu, o fogo verdadeiro dentro do junco
Procriando e criando, fonte e semente
De vida, amor, liberdade e luz,
Tu que transcende discurso e visão,
Tu eu invoco, meu débil e fresco fogo
Acendendo à medida que meus intentos aspiram.
Tu eu invoco, Tu que és permanente,
Tu, centro e segredo do Sol,
E aquele mistério santíssimo
Do qual eu sou o veículo.
Aparece, sumamente terrível e sumamente brando,
Como é lícito, em Tua criança.
Pois do Pai e do Filho,
O Espírito Santo é a norma;
Macho-fêmea, quintessencial, uno,
Homem-sendo velado sob forma de mulher.
Glória e veneração no mais excelso,
Tu Pomba, humanidade que deifica,
Sendo esta raça mui realmente governada,
Do brilho do sol da primavera até a borrasca do inverno.
Que Tu sejas glorificado e venerado
Seiva do freixo do mundo, árvore de prodígios!
Glória a Ti que procedes do Túmulo Dourado.
Glória a Ti que procedes do Útero que Espera.
Glória a Ti que procedes da terra não arada!
Glória a Ti que procedes da virgem que fez voto!
Glória a Ti, Unidade verdadeira
Da Trindade Eterna!
Glória a Ti, Tu genitor e genitora
E eu de Eu sou o que Eu sou!
Glória a Ti, Sol eterno,
Tu Um em Três, Tu Três em Um!
Que Tu sejas glorificado e venerado,
Seiva do freixo do mundo, árvore de prodígios! “

Nos escritos do mui eminente platonista Thomas Taylor podem ser encontrados alguns exemplos salutares de hinos e invocações adequados ao trabalho mágico. Aliás, há uma volume traduzido por Taylor em 1787 do grego intitulado The Mystical Hymns of Orpheus (Os Hinos Místicos de Orfeu) no qual há invocações dirigidas a quase cada um dos deuses principais; de sorte que para o aprendizde teurgia esse volume se destina a ser extremamente útil em seu trabalho prático, especialmente em vista do fato de Taylor ser da opinião de que o conteúdo do livro era usado nos Mistérios de Elêusis. Pertencente ao tipo de oração geral que deve preceder a uma cerimônia, transcrevemos aqui um notável Hino ao Céu que para seu propósito é incomparável.

“Grande Céu, cuja poderosa estrutura não conhece repouso,
Pai de tudo de que o mundo surgiu;
Escutai, pai generoso, origem e desfecho de tudo,
Para sempre circundando esta esfera terrestre;
Moradia dos deuses, cujo poder guardião cerca
O mundo eterno dentro de limites perenes;
Cujo seio amplo e dobras envolventes
Sustentam a necessidade terrível da natureza.

Etérea, terrestre, cuja estrutura multivariada,
Cerúlea e plena de formas, nenhum poder é capaz de domar.

Onividente, fonte de Saturno e do tempo,
Para sempre abençoada, divindade sublime,

Propícia sobre um novo brilho místico,
Coroai seus desejos com uma vida divina.”

No mesmo volume há um Hino à Mãe dos Deuses que como uma invocação pode ser empregado exatamente da mesma maneira para preceder o trabalho cerimonial efetivo. É especialmente digno de ser citado.

“Mãe dos Deuses, grande ama-seca de todos, aproxima-te
Divinamente honrada e considera minha oração.

Entronizada num carro por leões tirado,
Por leões destruidores de touros, céleres e fortes,
Tu agitas o cetro da vara divina,
E o assento intermediário do mundo, mui afamado, é Teu.

Daí a terra é Tua, e mortais necessitados dividem
Seu alimento constante, a partir de Tua proteção.

De Ti o mar e todos os rios fluem.

Achamos Teu nome o melhor e fonte de riqueza
Aos homens mortais que se regozijam em ser bondosos;

Pois a cada bem a ser dado Tua alma se delicia.

Vem, poder formidável, propício aos nossos ritos,
Aquela que tudo doma, abençoada, Salvadora frígia, vem,
Grande rainha de Saturno, que se regozija no tambor
Donzela celestial, antiga, mantenedora da vida,
Fúria inspiradora, dá ao Teu suplicante ajuda;

Com aspecto jubiloso sobre o nosso incenso brilha
E satisfeita, aceita o sacrifício divino.”

A oração apresentada a seguir é um extrato de uma cerimônia invocando o Santo Anjo Guardião levada a efeito pelo falecido Allan Bennett, um dos Adeptos da Golden Dawn antes de ter ingressado no sangha budista e ter se tornado bhikkhu Ananda Metteya.

“Que Tu sejas adorado, Senhor da minha Vida, pois Tu permitiste a mim adentrar até aqui o Santuário de Teu Inefável Mistério; e te dignaste a manifestar para mim algum pequeno fragmento da Glória de Teu Ser. Ouve-me, Anjo de Deus, o Vasto; ouve-me e admite minha oração! Concede que eu sempre sustente o Símbolo do Auto-sacrifício; e concede a mim a compreensão de tudo que possa me aproximar de Ti! Ensina-me, Espírito estrelado, mais e mais de Teu Mistério e Tua Maestria; permite que cada dia e cada hora me deixem mais perto, mais perto de Ti! Permite-me auxiliar-Te em Teu sofrimento de modo que possa algum dia tornar-me participante de Tua Glória, naquele dia quando o Filho do Homem for invocado ante o Senhor dos Espíritos, e Seu Nome na presença da Ancião dos Dias!

“E neste dia ensina-me esta única coisa: como posso aprender de Ti os Mistérios da Alta Magia da Luz. Como posso eu ganhar dos Habitantes dos Elementos brilhantes o conhecimento e poder destes: e como eu posso empregar da melhor maneira esse conhecimento para ajudar meus semelhantes.

“E finalmente oro a Ti para que possa haver um laço de Dependência entre nós; que eu possa sempre buscar, e buscando obter ajuda e conselho de Ti que és minha própria individualidade. E diante de Ti eu prometo e juro que pelo apoio Daquele que senta no Trono Santo purificarei meu coração e mente de modo que um dia possa me tornar verdadeiramente unido a Ti, que és em Verdade meu Gênio Superior, meu Mestre, meu Guia, meu Senhor e Rei! “

Embora a forma das invocações gnósticas tenha se tornado bastante conhecida no meio daqueles que estudam magia e misticismo, há uma invocação particularmente boa que desejo reproduzir aqui, extraída do manuscrito Bruce. Contém diversos nomes bárbaros evocatórios e foi proferida por Jesus para a purificação de seus discípulos.

“Ouve-me, ó meu Pai, Pai de toda Paternidade, Luz Infinita, torna este meus discípulos dignos de receber o Batismo do Fogo, perdoa seus pecados, purifica as iniqüidades que eles cometeram consciente ou inconscientemente, aquelas que cometeram desde sua infância até mesmo aos dias de hoje, suas palavras impensadas, seu discurso maligno, seus falsos testemunhos, seus furtos, suas mentiras, suas calúnias enganosas, suas fornicações, seus adultérios, sua cobiça, sua avareza e todos os pecados que possam ter cometido, apaga-os, purifica-os deles e permita que ZOROKOTHORA venha em segredo e lhes traga a Água do Batismo do Fogo da Virgem do Tesouro.

“Ouve-me, ó meu Pai: eu invoco Teus Nomes Incorruptíveis Ocultos nos Aeons para sempre, AZARAKAZA AAMATHKRATITATH IOIOIO ZAMEN ZAMEN ZAMEN IAOTH IAOTH IAOTH PHAOPH PHAOPH PHAOPH KHIOEPHOZPE KHENOBINYTH ZARLAI LAZARLAI LAIZAI, AMEN AMEN; ZAZIZAYA NEBEOYNISPH PHAMOY PHAMOY PHAMOY AMOYNAI AMOYNAI AMOYNAI AMEN AMEN AMEN ZAZAZAZI ETAZAZA ZOTHAZAZAZA. Ouve-me, meu Pai, Pai de todas as paternidades, Luz Infinita, eu invoco Teus Nomes Incorruptíveis que estão no Aeon de Luz para que ZOROKOTHORA me envie a Água do Batismo Ígneo procedente da Virgem de Luz para que eu possa batizar meus discípulos. Ouve-me novamente, ó meu Pai, Pai de toda Paternidade, Luz Infinita, para que a Virgem de Luz possa vir, que ela possa batizar meus discípulos com Fogo, que ela possa perdoar seus pecados, purificar suas iniqüidades, pois eu invoco Teu Nome Incorruptível que é ZOTHOOZA THOITHAZAZZAOTH AMEN AMEN AMEN. Ouve-me também ó Virgem de Luz, ó Juíza da Verdade, perdoa os pecados de meus discípulos; e se, ó meu Pai, Tu apagares suas iniqüidades, possam eles ser inscritos herdeiros do Reino da Luz, e para este fim realiza um milagre sobre estes incensários de suave perfume.”

Pouca engenhosidade da parte do noviço será exigida para efetuar as necessárias alterações destes rituais de modo a adaptá-los às suas próprias finalidades. Um pronome aqui mais uma palavra ali e o resultado é um ritual pessoal. O mesmo se revela verdadeiro no que concerne aos rituais dos Livro dos Mortos, muitos deles sendo líricos e panegíricos. No capítulo CLXXXII é apresentada uma curta invocação na qual Thoth é representado em identificação com os mortos.

“Eu sou Thoth, o escriba perfeito cujas mãos são puras. Eu sou o Senhor da pureza, o destruidor do mal, o escriba do correto e da verdade, e o que abomino é o pecado.”

(NT: O leitor deve considerar o termo pecado aqui com certas reservas devido ao significado e conotação que essa palavra adquiriu na teologia judaico-cristã. É aconselhável prender-se ao sentido original do vocábulo latino peccatum, a saber: falta, erro, crime).

“Contempla-me pois eu sou o junco de escrita do deus Neb-er-tcher, o senhor das leis, que concede a palavra da sabedoria e do entendimento, e cujo discurso exerce domínio sobre a terra dupla. Eu sou Thoth, o senhor do correto e da verdade, que faz o fraco conquistar a vitória e que vinga os infelizes e os oprimidos naquele que lhes causou dano.

“Eu dispersei as trevas!

“Eu afastei a tempestade, e trouxe o vento a Un-Nefer, a brisa formosa do vento do norte, mesmo brotando do útero de sua mãe.

“Eu o fiz ingressar a morada oculta e ele vivificará a alma do Coração Tranqüilo, Un-Nefer, o filho de Nuit, Hórus triunfante! “

Ocioso dizer que no emprego da invocação acima a forma do deus Thoth é magicamente assumida e o próprio ritual enumera algumas das qualidades e poderes do deus, a recitação do mesmo auxiliando na união e mescla das substâncias. O exemplar de ritual dado por E. A. Wallis Budge em The Gods of the Egyptians (Os Deuses dos Egípcios) usado como uma invocação de Osíris, constitui um exemplo bem melhor. Foi necessário fazer uma espécie de edição dele já que era demasiado longo e disperso.

“Salve, senhor Osíris. Salve, senhor Osíris. Salve, senhor Osíris.

“Salve, salve, formoso moço, vem ao teu templo prontamente pois nós não vemos a ti. Salve, formoso moço, vem ao teu templo e te aproxima após tua partida de nós.

“Salve, tu que comandas ao longo da hora, que cresces exceto em sua estação. Tu és a imagem exaltada de teu pai Tenen, tu és a essência oculta que provém de Atmu. Ó tu, Senhor, ó tu Senhor, quão maior és tu que teu pai, ó tu filho primogênito do útero de tua mãe. Retorna a nós novamente com aquilo que a ti pertence e nós te abraçaremos; não nos deixa, ó rosto belo e grandemente amado, tu imagem de Tenen, tu, o viril, tu senhor do amor. Vem em paz e permita-nos ver, ó nosso Senhor ... .

“Salve, Príncipe, que provém do útero ... da matéria primeva. Salve, Senhor de multidões de aspectos e formas criadas, círculo de ouro nos templos; senhor do tempo e doador de anos. Salve, senhor da vida por toda a eternidade; senhor de milhões e miríades, que brilha tanto no nascer quanto no pôr do sol. Salve, tu senhor do terror, tu, o poderoso do tremor.

“Salve, senhor das multidões de aspectos, tanto macho quanto fêmea; tu és coroado com a Coroa Branca, tu Senhor da Coroa Urerer. Tu Bebê santo de Her-hekennu, tu filho de Ra, que senta no Barco de Milhões de anos, tu Guia do Repouso! Vem para os teus sítios ocultos.

“Salve, tu senhor que és auto-produzido. Salve, tu cujo coração é tranqüilo, vem a tua cidade. Tu, amado dos deuses e deusas que mergulhaste a ti mesmo em Nu, vem ao teu templo; tu estás no Tuat, vem para tuas oferendas... .

“Salve, tu flor santa da Grande Casa. Salve, tu que trazes o cordame santo do barco de Sekti; tu Senhor do Barco de Hennu que renovas tua juventude no sítio secreto, tu Alma perfeita... Salve, tu oculto, que és conhecido da humanidade.

“Salve! Salve! Tu efetivamente brilhas sobre aquele que está no Tuat e efetivamente mostras a ele o Disco, tu Senhor da Coroa Ateph. Salve, ó poderoso do terror, tu que nasces em Tebas, que floresces para sempre. Salve, tu alma viva de Osíris coroado com a lua. “

Um outro ritual proveniente de fontes egípcias é o Hino a Amon-Ra, que reproduzimos aqui a partir do famoso Harris Magical Papyrus.

“Ó Amon oculto no centro de seu olho, espírito que brilha no olho sagrado, adoração para os Transformadores Santos, para aqueles que não são conhecidos! Brilhantes são suas formas veladas num fulgor de Luz.

“Mistério dos Mistérios, Mistério Ocultado, Salve Tu no meio dos céus. Tu, que és Verdade, geraste os deuses. Os signos da Verdade estão em teu misterioso santuário. Por ti se faz tua mãe Meron brilhar. Tu tornas manifestos raios que iluminam. Tu circundas a Terra com tua luz até retornares à montanha que está no País de Aker. Tu és adorado nas águas. A terra fértil te adora. Quando teu cortejo passa pela montanha oculta o animal selvagem se ergue em sua toca, os espíritos do Oriente te louvam, temem a luz de teu disco. Os espíritos do Khenac te aclamam quando tua Luz brilha em seus rostos. Tu atravessas um outro céu que não é possível ao teu inimigo atravessar. O fogo de teu calor ataca o monstro Ha-her. O peixe Teshtu guarda as águas ao redor de tua barca. Tu comandas a morada do monstro Oun-ti, que Nub-ti golpeia com sua espada.

“Este é o deus que se apoderou do céu e da terra em sua tempestade. Sua virtude é poderosa para destruir seu inimigo. Sua lança é o instrumento de morte para o monstro Oubn-ro. Agarrando-o subitamente ele o subjuga; ele se faz mestre dele e o força a reingressar em sua morada; então ele devora seus olhos e nisto está seu triunfo; o monstro é então devorado por uma chama ardente; da cabeça aos pés todos os seus membros queimam em seu calor. Tu trazes teus servos ao porto com um vento favorável. Sob ti, os ventos encontram paz. Tua barca regozija, tuas sendas são ampliadas porque tu venceste os caminhos do autor do mal.

“Velejai, estrelas errantes! Velejai, astros resplandecentes; vós que viajais com os ventos! Pois tu estás repousando no seio do céu, tua mão te abraça; quando tu chegas ao horizonte ocidental a terra abre os braços para receber-te. Tu que és venerado por todas as coisas existentes! “

As poucas últimas linhas da invocação acima, pode-se notar, se acham num plano muito mais elevado de poesia do que o corpo principal da invocação. Trata-se de uma peroração extremamente boa. Estes rituais devem ser objeto de muito estudo e à luz de princípios da Cabala uma considerável quantidade de filosofia pode deles extraída e neles percebida.

Um ritual que desde algum tempo se tornou geralmente conhecido como a “Invocação do Não-nascido” parece a este autor um dos melhores por ele conhecido. O mais antigo registro que dele se descobriu se acha numa obra intitulada Fragment of a Graeco-Egyptian Work upon Magic (Fragmento de uma Obra Greco-egípcia sobre Magia), de Charles Wycliffe Goodwin, M. A., publicada em 1852 para a Cambridge Antiquarian Society. Reimpresso no século passado no final da década de noventa por Budge em Egyptian Magic(Magia Egípcia), esse ritual tornou-se largamente conhecido entre os devotos da teurgia e foi cuidadosamente editado e elaborado por magos experientes. Reproduzimos abaixo a versão aperfeiçoada.

“Tu eu invoco, o Não-nascido.

“Tu que criaste a Terra e os Céus.

“Tu que criaste a Noite e o Dia.

“Tu que criaste as trevas e a Luz.

“Tu és Osorronophris, que nenhum homem viu em tempo algum.

“Tu és Iabas. Tu és Iapos. Tu distinguiste entre o justo e o injusto. Tu produziste a fêmea e o macho.

“Tu produziste a Semente e o Fruto. Tu formaste homens para se amarem entre si e se odiarem entre si.

“Eu sou Mosheh(Aqui o mago pode inserir seu próprio nome e lugar na hierarquia mágica) teu Profeta(Moises) ao Qual tu confiaste teus Mistérios, as cerimônias de Israel.

“Tu produziste o úmido e o seco, e aquilo que nutre todas as coisas criadas.

“Que tu me ouça, pois eu sou o Anjo de Paphro Osorronophris; este é Teu Verdadeiro Nome, entregue aos Profetas de Israel.

“Ouve-me: Ar: Thiao: Rheibet: Atheleberseth: A ; Blatha: Abeu: Ebeue: Phi: Thitasoe: Ib: Thiao.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre a terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e cada Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Eu te invoco, o Deus Terrível e Invisível, que habitas o Sítio Vazio do Espírito: Arogogorobrao: Sothou: Modorio: Phalarthao: Doo: Apé: O Não-nascido.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia, e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Ouve-me: Roubriao: Mariodam: Balbnabaoth: Assalonai: Aphnaio: I ; Thoteth: Abrasar: Aeoou: Ischure, Poderoso e Não-nascido.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Eu te invoco: Ma: Barraio: Ioel: Kotha: Athorebalo: Abraoth!

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Ouve-me! Aoth: Abaoth: Basum: Isak: Sabaoth: Isa !

“Este é o Senhor dos Deuses! Este é o Senhor do Universo! Este é Aquele que os Ventos temem!

“Este é Aquele Que tendo feito a Voz por seu Mandamento é Senhor de todas as Coisas, Rei, Governante e Auxiliador.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Ouve-me: Ieou: Pur ; Iou: Pur: Iaot: Iaeo: Ioou: Abrasar: Sabrium: Do: Uu: Adonaie: Ede: Edu: Angelos ton Theon: Anlala Lai: Gaia: Ape: Diarthana Thorun.

“Eu sou Ele! O Espírito Não-nascido! tendo visão nos Pés! Forte e o Fogo Imortal!

“Eu sou Ele! A Verdade!

“Eu sou Ele! Quem odeia que o mal seja lavrado no Mundo!

“Eu sou Aquele que ilumina e troveja. Eu sou Aquele do Qual procede a Abundância da Vida da Terra: Eu sou Aquele cuja boca sempre flameja: Eu sou Ele: O Gerador e o Manifestador diante da Luz.

“Eu sou Ele: A Graça do Mundo!

“ ‘O Coração com uma Serpente como Cinta ‘ é o meu Nome!

“Vem e segue-me, e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

IAO: SABAO

“ Tais são as palavras! “

Talvez um tipo ainda melhor de invocação aos deuses é o que apresentaremos a seguir. Há muitos teurgos que o preferem, como modalidade de ritual, ao precedente. A invocação de Thoth que citarei se baseia muito largamente no Livro dos Mortos, principalmente no capítulo da Saída pelo Dia e uma seção contendo uma alocução sacerdotal ao faraó citada por Maspero. O ritual completo, entretanto, não mostra quaisquer sinais de colcha de retalhos, sendo perfeitamente coerente, consistente e estático.

“Ó Tu, Majestade da Divindade, Tahuti Coroado de Sabedoria, Senhor dos Portais do Universo, a Ti, a Ti eu invoco!

“Ó Tu cuja cabeça é como uma Íbis, a Ti, a Ti eu invoco!

“Tu que seguras em Tua mão direita o bastão mágico do Poder Duplo e que portas em tua mão esquerda a Rosa e a Cruz da Luz e da Vida, a Ti, a Ti eu invoco!

“Tu cuja cabeça é como Esmeralda, e cuja nêmis como o azul do céu noturno, a Ti, a Ti eu invoco!

“Tu cuja pele é de laranja flamejante como se ardesse numa fornalha: a Ti, a Ti eu invoco!

“Vê, eu sou ontem, Hoje e o irmão do Amanhã! Eu nasço de novo e de novo. A mim pertence a força invisível da qual os deuses se originam, a qual dá vida aos habitantes das torres de vigia do Universo.

“Eu sou o auriga no Oriente, Senhor do Passado e do Futuro, o qual vê por sua própria luz interior. Eu sou o Senhor da Ressurreição, que assoma do crepúsculo e cujo nascimento procede da Casa da Morte. Ó vós dois falcões divinos que sobre vossos pináculos mantêm a vigilância do Universo! Vós que acompanhais o esquife a sua Casa de Repouso, que pilotam o Barco de Ra sempre avançando às alturas do céu! Senhor do Santuário que fica no centro da Terra!

“Vê! Ele está em mim e Eu Nele! Meu é o brilho com o qual Ptah flutua sobre seu firmamento! Eu viajo pelas alturas! Eu piso o firmamento de Nu! Eu ergo uma flama cintilante com o relâmpago de meu olho, sempre investindo para a frente no esplendor do diariamente glorificado Ra, outorgando minha vida aos habitantes da Terra. Se eu digo Subi às montanhas as águas celestiais fluirão ante minha palavra, pois eu sou Ra encarnado; Kephra criado na carne! Eu sou o eidolon do meu Pai Tmu, Senhor da Cidade do Sol.

“O deus que comanda está em minha boca. O Deus da Sabedoria está em meu coração. Minha língua é o santuário da Verdade; e um deus senta sobre meus lábios. Minha palavra é comprida todos os dias e o desejo de meu coração realiza a si mesmo como aquele de Ptah quando ele cria suas obras. Visto que eu sou Eterno tudo atua de acordo com meus desígnios, e tudo acata minhas palavras.

Portanto que Tu venhas a Mim de Tua Morada no Silêncio, Sabedoria Impronunciável, Toda-Luz, Toda-Poder.

“Thoth, Hermes, Mercúrio, Odin. Por qualquer nome que chame a Ti, Tu és ainda i-Nomeado e Sem Nome para a Eternidade. Que tu venhas, eu digo, e ajuda-me e guarda-me nesta obra da Arte.

“Tu estrela do Oriente que realmente conduziste os Magos. Tu estás identicamente toda presente no Céu e no Inferno. Tu que vibras entre a Luz e as Trevas, ascendendo, descendo, mudando para sempre, e no entanto sempre a mesma. O Sol é Teu Pai! Tua Mãe, a Lua! O Vento Te gerou em seu seio: E a terra sempre nutriu a Divindade Imutável de Tua Juventude.

“Vem, eu digo, vem e faz todos os espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo encantamento e flagelo de Deus possam prestar obediência a mim! “

Poucos entre os aprendizesde magia da atualidade sabem que o grande neoplatônico Proclo compôs vários hinos e invocações. A maior parte, infelizmente, se perdeu, apenas uns poucos tendo sido preservados e nos tornado acessíveis. Thomas Taylor traduziu cinco desse hinos e os publicou em 1793 num apêndice do seu livro intitulado Sallust on the Gods and the World. Todos os cinco são sumamente bons e será proveitoso que o aprendizse familiarize com eles. A fim de dar uma idéia do seu valor, reproduzimos aqui o Hino ao Sol.

“Ouve Titã dourado! Rei do fogo mental,
Regente da luz; a Ti supremo pertence
A chave esplêndida da fonte prolífica da vida;

E das alturas Tu vertes correntes harmônicas
Em rica abundância nos mundos da matéria.

Ouve! pois elevado nas alturas acima de planícies etéreas,
E no brilhante orbe intermediário do mundo Tu reinas
Enquanto todas as coisas por Teu soberano poder são preenchidas
Com zelo que estimula a mente, providencial.

Os fogos das estrelas circundam Teu fogo vigoroso,
E sempre numa dança infatigável, incessante,
Sobre a terra de seios largos o rocio vívido se difunde.

Por Teu curso perpétuo e reiterado
As horas e estações em sucessão de desenrolam;

E elementos hostis cessam seus conflitos,
Logo que contemplam Teus raios tremendos, grande Rei;

De divindade inefável e nascido secreto...

Ó melhor dos deuses, dáimon coroado de fogo,
Imagem de todo o bem que a natureza produz,
E o condutor da alma ao domínio da luz –
Ouve! e purifica-me das manchas da culpa;

Recebe a súplica de minhas lágrimas,
E cura minhas feridas maculadas de pernicioso sangue coagulado;

Os castigos incorridos pelo pecado perdoa,
E mitiga o olho ágil, sagaz
Da justiça sagrada, sem limites em seu parecer.

Por Tua lei pura, dos males horrendos constante inimiga,
Dirige meus passos, e despeja Tua luz sagrada
Em rica abundância sobre minha alma anuviada;

Dissipa as sombras sinistras e malignas
De escuridão, prenhes de aflições envenenadas,
E ao meu corpo força adequada proporciona,
Com saúde, cuja aparência esplêndidas dádivas concede.

Dá fama duradoura; e possa o zelo sagrado
Com o qual as musas de belos cabelos presenteiam, que outrora
Meus pios ancestrais preservaram, ser meu.

Ajunta, se a Ti agrada, onigeneroso deus,
Riquezas duradouras, a recompensa do piedoso;

Pois poder onipotente investe Teu trono,
Com força imensa e regra universal.

E se o eixo giratório dos destinos
Ameaçar das teias de estrelas a destruição medonha,
Teus raios retumbantes com força irresistível serão enviados .

E vencerão antes de precipitar-se a calamidade iminente. “

Desejo apresentar mais uma invocação desta mesma categoria antes de prosseguir fazendo citações dos rituais usados em cerimônias de evocação. Fui obrigado, infelizmente, a omitir grande parte do ritual abaixo, por motivos de espaço, e tal como apresentado aqui corresponde a aproximadamente à metade de sua extensão correta. Escrito por Crowley e publicado por ele em Oracles é baseado em certas fórmulas mágicas e documentos que eram usados na Ordem Hermética da Golden Dawn. Sua excelência e fervor dispensam meus comentários.

“Ó Eu divino! Ó Senhor Vivo de Mim!

Flama de fulgor próprio, gerada do além!

Divindade imaculada! Célere língua de fogo,
Acesa a partir daquela incomensurável luz,
O ilimitado, o imutável.

Vem, Meu deus, meu amante, espírito do meu coração,
Coração de minha alma, branca virgem da Aurora,
Minha Rainha de toda perfeição, vem
De Tua morada além dos Silêncios
A mim, o prisioneiro, eu, o homem mortal,
Feito santuário neste barro: vem, eu digo, a mim,
Inicia minha alma excitada; aproxima-te
E deixa a glória de Tua Divindade brilhar
Mesmo para a Terra, Teu plinto ... .

Tu Anjo Majestoso de minha Vontade Superior,
Forma em meu espírito um fogo mais sutil
De Deus, para que eu possa compreender mais
A pureza sagrada de Tua divina
Essência! Ó Rainha, ó Deusa da minha vida,
Luz não-gerada, faísca cintilante
Do Todo-Eu! Ó Santa, santa Esposa
De meu pensamento mais à divindade semelhante, vem!
Eu digo
E Te manifesta ao Teu venerador...

Meu Eu real! Vem, ó deslumbrante
Envolvida na glória do Sítio Sagrado
De onde chamei a Ti: Vem a mim
E permeia meu ser até que meu rosto
Brilhe com Tua luz refletida, até que minhas sobrancelhas
Raiem com Teu símbolo estrelado, até que minha voz
Alcance o Inefável; vem, eu digo,
E faz-me uno Contigo; que todos os meus caminhos
Possam resplandecer com a santa influência
Que eu possa ser julgado digno no fim
Para sacrificar perante o Santíssimo...

Ouve-me!

Eca, zodocare, Iad, goho,
Torzodu odo Kikale qaa!
Zodacare od zodameranu!
Zodorje, lape zodiredo Ol
Noco Mada, das Iadapiel!
I las! Hoatahe Iaida!

Ó coroada com a luz das estrelas! alada com esmeraldas
Mais larga que o Céu! Ó azul mais profundo
Do abismo das águas! Ó Tu flama
Que cintila através de todas as cavernas da noite,
Línguas saltando do incomensurável
Subindo através dos resplandecentes precipícios imanifestos
Para o Inefável! Ó Sol Dourado!

Glória vibrante do meu Eu superior!

Eu ouvi Tua voz ressoando no Abismo:

‘Eu sou o único Ser nas profundezas
Da Escuridão: deixa-me ascender e preparar-me
Para trilhar o caminho das Trevas: mesmo assim
Posso atingir a luz. Pois do Abismo
Vim antes de meu nascimento: destes salões sombrios
E silêncio de um sono primevo! E Ele,
A Voz das Idades, respondeu-se e disse:

Vê! Pois eu sou Aquele que formula
Na Escuridão! Filho da Terra! a luz com efeito brilha
Nas trevas, mas as trevas não entendem
Raio algum dessa luz iniciadora!

... Não me deixa só,
Ó Espírito Sagrado! Vem para confortar-me,
Atrair-me e fazer-me manifesto,
Osíris ao mundo choroso; que eu
Seja erguido sobre a Cruz do Sofrimento
E do sacrifício, para atrair toda a espécie humana
E todo germe de matéria que possua vida,
Mesmo depois de mim, ao inefável
Reino de Luz! Ó santa, santa Rainha!

Pemite que Tuas amplas asas me abriguem!

Eu sou a Ressurreição e a Vida!

O Reconciliador da Luz e das Trevas,
Eu sou Aquele que resgata as coisas mortais,
Eu sou a Força na Matéria manifesta.

Eu sou a Divindade manifesta na carne.

Eu me posto acima, entre os Santos,
Eu sou todo purificado através do sofrimento.

Todo-perfeito no sacrifício místico,
E no conhecimento de minha Individualidade feito
Uno com os Senhores Eternos da Vida
O glorificado pelo julgamento é o meu Nome.

O Resgatador da Matéria é meu Nome ... .

Eu vejo as Trevas se precipitarem como o raio se precipita!

Eu observo as Idades como uma agitação de torrentes
Passando por mim; e como uma veste eu me livro
Das abas pegajosas do Tempo. Meu lugar está fixo
No Abismo além de todas as Estrelas e todos os Sóis.

EU SOU a Ressurreição e a Vida.

Santo és Tu, Senhor do Universo!

Santo és Tu, Cuja Natureza não se formou!

Santo és Tu, o Vasto e Poderoso!

Ó Senhor das Trevas e ó Senhor da Luz! “

Num dos capítulos anteriores foi feita alguma referência às invocações de Dee e ao poder destas. Os fatos que marcam estas invocações ou chaves como foram chamadas, são, a grosso modo, os seguintes. Mais de uma centena de páginas preenchidas de letras foram obtidas por Dee e seu colega Kelly de uma maneira que ninguém ainda em absoluto compreendeu. Dee teria, por exemplo, diante de si uma ou mais dessas tabelas, via de regra de 49” X 49”, algumas cheias, algumas com letras apenas sobre quadrados alternados, na superfície de uma escrivaninha. Sir Edward Kelly sentaria junto ao que eles chamavam de Mesa Sagrada e fitaria uma bola de cristal ou cristal no qual, depois de algum tempo, veria um Anjo que apontaria com um bastão para as letras de uma daquelas tabelas sucessivamente. A Dee, Kelly comunicaria que o Anjo apontava, por exemplo, a coluna 4, fileira 29 da tabela, aparentemente não mencionando a letra que Dee encontrava na tabela diante de si e registrava. Quando Anjo terminava sua instrução, a mensagem era reescrita de trás para diante. Teria sido ditada totalmente errada pelo Anjo por ser considerada demasiado perigosa para ser comunicada de uma maneira direta, cada palavra sendo uma conjuração tão poderosa que sua enunciação e menção diretas teriam evocado poderes e forças naquele momento indesejáveis.

Reescritas ao inverso, essas invocações pareciam escritas numa linguagem que os dois magos chamavam de enoquiano. Longe de se tratar de um jargão sem significado, o enoquiano possui gramática e sintaxe próprias, como pode ser percebido pela consulta de Casaubon que traduziu muitas das chaves. Muitos o julgam bem mais sonoro e expressivo que o próprio grego e o sânscrito, as traduções para o inglês, embora em alguns trechos de difícil compreensão, contendo maravilhosas passagens detentoras de uma sustentada sublimidade e uma potência lírica que muitos poetas e até a Bíblia não superam.

Por exemplo: “Podem as Asas do Vento compreender vossas vozes de Prodígio? Ó vós o Segundo do Primeiro, quem as chamas ardentes acomodaram nas profundezas de minhas Maxilas! Quem eu preparei como taças para um casamento ou como flores em sua beleza para a câmara da Justiça. Vossos pés são mais vigorosos do que a pedra infrutífera: e vossas vozes mais fortes que os ventos múltiplos! Pois vós vos tornais uma construção tal como não é exceto na mente do Todo-Poderoso. “

Existem dezenove dessas Chaves; as duas primeiras evocam o elemento chamado Espírito, as dezesseis seguintes invocam os quatro elementos, cada uma com quatro subdivisões. A décima nona pode ser empregada para invocar qualquer um dos chamados Trinta Aethyrs pela mudança de uma ou duas palavras especiais. Cito abaixo mais uma dessas chaves em enoquiano seguida de uma tradução:.

“ Ol Sonuf Vaoresaji, gohu IAD Balata, elanusaha caelazod; sobrazod ol Roray i ta nazodapesad, Giraa ta maelpereji, das hoel ho qaa notahoa zodimezod, od comemahe ta nobeloha zodien; soba tahil ginonupe perje aladi, das vaurebes obolehe giresam. Casarem ohorela caba Pire: das zodonurenusagi cab: erem Iadanahe. Pilae farezodem zodernurezoda adana gono Iadapiel das homo-tohe; soba ipame lu ipamis: das sobolo vepe zodomeda poamal, od bogira sai ta piapo Piamoel od Vaoan. Zodacare, eca od zodameranu! odo cicale Qaa; zodorje, lape zodiredo Noco Mada, Hathahe IAIDA! “

“Eu reino sobre vós, diz o Deus da Justiça, em poder exaltado acima do Firmamento da Ira, em cujas mãos o Sol é como uma espada e a Lua como um fogo penetrante; quem mede vossas Vestes no meio de minhas Vestimentas e vos atou como as palmas de minhas mãos; cujos assentos eu guarneci com o Fogo da Coleta e embelezei vossas vestes com admiração; para quem eu produzi uma lei para governar o Santíssimo, e entreguei a vós uma Vara , com a Arca do Conhecimento. Ademais, vós erguestes vossas vozes e jurastes obediência e fé Àquele que vive e triunfa, cujo princípio não é, nem o fim pode ser; que brilha como flama no meio de vossos palácios e reina entre vós como o equilíbrio da justiça e da verdade.

“Movei, pois, e mostrai-vos! Abri os mistérios de vossa criação. Sede amistosos comigo pois eu sou servo do mesmo Deus que é o vosso, o verdadeiro Adorador do Altíssimo.”

Embora via de regra os exemplares de rituais apresentados por Éliphas Lévi em seus diversos escritos sejam de qualidade muito precária e não se prestam em absoluto ao seu emprego prático, há uma notável exceção em seu Dogma e Ritual de Alta Magia. Ele chama este ritual de Oração aos Silfos.

“Espírito de Luz, Espírito de Sabedoria, cujo alento concede e retira a forma de todas as coisas; Tu diante de quem a vida de todo ser é uma sombra que transforma e um vapor que desvanece; Tu que ascendes às nuvens e com efeito voas sobre as asas do vento; Tu que expiras e as imensidades ilimitadas são povoadas; Tu que aspiras e tudo que de Ti brotou a Ti retorna; movimento sem fim na estabilidade eterna, sê Tu abençoado para sempre!

“Nós Te louvamos, nós Te abençoamos no império fugaz da luz criada, das sombras, reflexões e imagens: e nós aspiramos incessantemente ao Teu esplendor imutável e imperecível. Possa o raio de Tua inteligência e o calor de Teu amor descer sobre nós; que aquilo que é volátil será fixo, a sombra se converterá em corpo, o espírito do ar receberá uma alma e o sonho será pensamento. Não mais seremos varridos ante a tempestade, mas teremos à rédea os corcéis alados da manhã e guiaremos o curso dos ventos da noite, de modo que possamos fugir para a Tua presença. Ó Espírito dos Espíritos, ó Alma eterna das Almas, ó Imperecível Alento da Vida, ó Suspirar Criativo, ó Boca que com efeito expira e retrai a vida de todos os seres no fluxo e refluxo de Teu eterno discurso, que é o oceano divino de movimento e de verdade! “

Todos os rituais seguintes tratam do ramo da magia que diz respeito à evocação dos espíritos e exige poucos comentários ou explicações além do que já foi fornecido nos capítulos em que esse assunto é abordado. A forma da Segunda Conjuração de A Goécia, o melhor desta obra, é assim:

“Eu te invoco, conjuro e ordeno, Tu espírito N., a aparecer e te mostrares visivelmente a mim diante deste círculo, sob aspecto atraente e agradável, destituído de qualquer deformidade ou tortuosidade, pelo nome e no nome IAH e VAU, que Adão ouviu e falou; e pelo nome de Deus AGLA, que Lot ouviu e foi salvo com sua família; e pelo nome IOTH que Jacó ouviu do Anjo em luta com ele e foi liberto da mão de Esaú, seu irmão; e pelo nome ANAPHAXETON, que Aarão ouviu e falou e foi feito sábio; e pelo nome ZABAOTH, que Moisés nomeou, e todos os rios foram transformados em sangue; e pelo nome ASHER EHYEH ORISTON, que Moisés nomeou e todos os rios produziram rãs e estas entraram nas casas destruindo todas as coisas; e pelo nome ELION, que Moisés nomeou e houve grande chuva de granizo como jamais houvera desde o princípio do mundo; e pelo nome ADONAI, que Moisés nomeou e ali surgiram gafanhotos que se espalharam por toda a terra, e devoraram tudo que a granizo deixara; e pelo nome SCHEMA AMATHIA, que Josué invocou e o sol suspendeu seu curso; e pelo nome ALPHA e OMEGA, que Daniel nomeou e destruiu Bel e matou o dragão; e no nome EMMANUEL, que as três crianças, Shadrach, Meshach e Abednego, entoaram no meio da fornalha ígnea, e foram libertados; e pelo nome HAGIOS; e pelo Selo de ADONAI; e por ISCHYROS, ATHANATOS, PARACLETOS; e por O THEOS, ICTROS, ATHANATOS e por estes três nomes secretos AGLA ON TETRAGRAMMATON eu intimo e constranjo a ti. E por estes nomes, e por todos os outros nomes do Deus VIVO e VERDADEIRO, o SENHOR TODO-PODEROSO, e exorcizo e ordeno a ti, ó espírito N., mesmo por Aquele que proferiu a Palavra e foi feito, e ao qual todas as criaturas obedecem; e pelos terríveis julgamentos de Deus; e pelo incerto Mar de Vidro que está diante da Majestade divina, vigorosa e poderosa; pelas quatro bestas perante o trono que têm olhos na frente e atrás; pelo fogo ao redor do trono; pelos santos anjos do Céu; e pela poderosa sabedoria de Deus, eu com poder exorcizo a ti para que apareças aqui diante deste círculo a fim de satisfazer minha vontade em todas as coisas que a mim se afigurarão boas; pelo Selo de BASDATHEA BALDACHIA; e por este nome PRIMEUMATON, que Moisés nomeou, e a terra se abriu e com efeito tragou Kora, Dathan e Abiram. Por conseguinte, tu darás respostas fidedignas a todas as minhas demandas, ó espírito N., e realizarás todos os meus desejos na medida da capacidade de tua posição. Portanto, vem, visível, pacífica e afavelmente, agora sem demora, a fim de manifestar aquilo que eu desejo, falando com voz clara e perfeita, inteligivelmente, e para meu entendimento.”

Em The Magus,Barrett apresenta uma ligeira variação do ritual acima. Idêntico à versão da Goécia até o trecho que menciona Kora, Dathan e Abiram, excetuando alguma alterações secundárias, principalmente referentes a nomes, segue-se uma seção inteira que é exclusiva ao ritual de Barrett, merecendo a citação aqui devido à presença dos nomes bárbaros.

“E no poder daquele nome PRIMEUMATON, comandando toda a hoste do céu, nós vos amaldiçoamos e vos despojamos de vossa função, alegria e posição e com efeito vos prendemos nas profundezas do poço de fundo para que aí permaneçais até o dia terrível do juízo final; e vos prendemos ao fogo eterno, e ao lago de fogo e enxofre, a menos que apareçais incontinenti diante deste círculo para executar nossa vontade; por conseguinte, vinde por estes nomes ADONAI, ZABAOTH, ADONAI, AMIORAM, vinde, vinde, vinde, Adonai ordena; Sadai, o mais poderoso Rei dos Reis, cujo poder nenhuma criatura é capaz de resistir seja para vós sumamente medonho, a menos que obedeceis, e de imediato aparecei afavelmente diante deste círculo, que a chuva do infortúnio e o fogo inextinguível permaneçam com vós; e portanto vinde em nome de Adonai, Zabaoth, Adonai, Amioram; vinde, vinde, vinde, por que retardais? Apressa-vos! Adonai, Sadai, o Rei dos Reis vos ordenam: El, Aty, Titcip, Azia, Hin, Hen, Miosel, Achadan, Vay, Vaah, Eye, Exe, A, El, El, El, A, Hau Hau, Vau, Vau, Vau.”

Dos métodos de Honório (Papa Honório III, pontífice de 1216 a 1227) extraí a invocação que se segue, tendo-a condensado ligeiramente. Porquanto se trata de uma evocação do espírito Rei Amaimon, que figura como um dos hierarcas em A Goécia, e visto que sua comemoração tem teor cristão, é reproduzida abaixo para que uma comparação possa ser efetuada com o ritual precedente, de teor judaico.

“Ó tu Amaimon, Rei e Imperador das partes do norte, eu te chamo, invoco, exorcizo e conjuro pela virtude de poder do Criador, e pela virtude das virtudes, a me enviar logo e sem demora Madael, Laaval, Bamlahe, Belem e Ramath, com todos os outros espíritos submetidos a ti, sob forma agradável e humana! Em qualquer lugar que estejas agora, aproxima-te e rende aquela honra que deves ao verdadeiro Deus vivo que é teu Criador. Eu te exorcizo, te invoco e sobre ti imponho o mais elevado mandamento pela onipotência do Deus sempre vivo, e do Deus verdadeiro; pela virtude do Deus santo e o poder DELE que falou e todas as coisas foram feitas, e mesmo pelo Seu santo mandamento os céus e a Terra foram feitos, com tudo que neles está contido! Eu intimo a ti pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, mesmo pela Santa Trindade, pelo Deus ao qual não podes resistir, sob cujo império compelirei a ti: eu te conjuro por Deus-Pai, pelo Deus-Filho, pelo Deus-Espírito Santo, pela Mãe de Jesus Cristo, Santa Mãe e Perpétua Virgem, por seu sagrado coração, por seu leite abençoado que o Filho do Pai sugava, por seu corpo e alma santíssimos, por todas as partes e membros dessa Virgem, por todos os sofrimentos, aflições, trabalhos, agonias que ela suportou durante todo o curso da vida Dele, por todos os suspiros que ela deu, pelas santas lágrimas que ela verteu enquanto seu querido Filho chorava antes da ocasião de Sua dolorosa Paixão e sobre o madeiro da Cruz, por todas as coisas sagradas e santas que são ofertadas e feitas, e também por todas as outras, tanto no céu como na Terra em honra de nosso Salvador Jesus Cristo, e de Maria Abençoada, Sua Mãe, por tudo que seja celestial. Conjuro-te pela Santa Trindade, pelo sinal da Cruz, pelo mais precioso sangue e água que jorraram do flanco de Jesus, pelo suor que escorreu de todo Seu corpo, quando Ele disse no Jardim das Oliveiras: ‘Pai, se for tua vontade, afasta de mim este Cálice’; por Sua morte e paixão, por Seu sepultamento e gloriosa ressurreição, por Sua ascensão, conjuro-te também pela coroa de espinhos que foi colocada sobre Sua cabeça, pelo sangue que escorreu de Seus pés e mãos, pelos pregos com os quais Ele foi pregado ao madeiro da Cruz, pelas lágrimas santas que Ele derramou, por tudo que Ele sofreu voluntariamente por grande amor a nós, por todos os membros de nosso Senhor Jesus Cristo.

“Eu te conjuro pelo julgamento dos vivos e dos mortos, pelas palavras do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, pelas Suas pregações, por seus dizeres, por todos Seus milagres, pela criança em faixas, pela criança chorosa gerada pela mãe em seu útero mais puro e virginal, pela gloriosa intercessão da Virgem Mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, e por tudo que é de Deus e da Mãe Santíssima, tanto no céu como na Terra. Eu te conjuro, ó tu grande Rei Amaimon, pelos Santos Anjos e Arcanjos, e por todas as ordens abençoadas de espíritos, pelos santos patriarcas e profetas, e por todos os santos mártires e confessores, por todas as virgens santas e viúvas inocentes, e por todos os Santos de Deus.”

Muito similar a este ritual é o que se segue, transcrito de A Chave de Salomão, o Rei. Trata-se, entretanto, de uma invocação cabalística, não contendo quaisquer elementos. O principal ponto a despertar interesse é que depois do proêmio, cada parágrafo é uma conjuração por e através do nome e poder de cada uma das Sephiroth da Árvore da Vida. Este ritual é o primeiro ritual evocatório da Chave, o segundo sendo muito semelhante realmente à segunda conjuração da Goécia.

“Ó vós Espíritos, vós eu conjuro pelo Poder, Sabedoria e Virtude do Espírito de Deus, pelo incriado Conhecimento Divino, pela extensa Misericórdia de Deus, pela Força de Deus, pela Grandeza de Deus, pela Unidade de Deus, e pelo Nome Santo EHEIEH, que é a raiz, tronco, fonte e origem de todos os outros nomes divinos, daí extraindo todos eles sua vida e sua virtude as quais tendo Adão invocado, adquiriu ele o conhecimento de todas as coisas criadas.

“Eu vos conjuro pelo nome indivisível IOD, que marca e expressa a Simplicidade e a Unidade da Natureza Divina, que tendo Abel invocado mereceu escapar das mãos de Caim, seu irmão.

“Eu vos conjuro pelo nome TETRAGRAMMATON ELOHIM, que expressa e significa a Grandeza de uma Majestade tão sublime, que tendo Noé o pronunciado, o salvou e protegeu a ele mesmo com toda sua casa das Águas do Dilúvio.

“Eu vos conjuro pelo nome do Deus EL forte e prodigioso, que denota a Misericórdia e Bondade de Sua Majestade Divina, que tendo Abraão o invocado, foi julgado digno de vir da ur dos caldeus.

“Eu vos conjuro pelo mais poderoso nome de ELOHIM GIBOR, que exibe a força de Deus, de um Deus todo-poderoso, que pune os crimes dos perversos, que busca e castiga as iniqüidades dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta gerações; que tendo Isaque invocado, foi julgado digno de escapar da espada de Abraão, seu pai.

“Eu vos conjuro e vos exorcizo pelo nome mais santo de ELOAH VA-DAATH, que Jacó invocou quando mergulhado em grande problema, e foi julgado digno de ostentar o nome de Israel, que significa Vencedor de Deus, e foi libertado da fúria de Esaú, seu irmão.

“Eu vos conjuro pelo nome mais potente de EL ADONAI TSABAOTH, que é o Senhor dos Exércitos, governando nos Céus, que José invocou, e foi julgado digno de escapar das mãos de seus Irmãos.

“Eu vos conjuro pelo nome mais potente de ELOHIM TSABAOTH, que expressa piedade, misericórdia, esplendor e conhecimento de Deus, o qual foi invocado por Moisés, ele foi julgado digno de libertar o povo de Israel do Egito, e da servidão ao Faraó.

“Eu vos conjuro pelo mais potente nome de SHADDAI, que significa fazer o bem a todos; e que Moisés invocou e tendo golpeado o Mar, este se dividiu em duas partes ao meio, do lado direito e do esquerdo. Eu vos conjuro pelo mais santo nome de EL CHAI, que é aquele do Deus Vivo, de cuja virtude a aliança conosco e a redenção para nós foram feitas; e que Moisés invocou e todas as águas retornaram ao seu estado prévio e envolveram os egípcios, de modo de nenhum deles escapou para levar as notícias à terra de Mizraim.

“Finalmente, eu vos conjuro todos, vós Espíritos rebeldes, pelo mais Santo Nome de Deus ADONAI MELEKH, que Josué invocou e interrompeu o curso do Sol em sua presença através da virtude de Methraton, sua principal Imagem; e pelas tropas de Anjos que não cessam de chorar dia e noite, QADOSCH, QADOSCH, QADOSCH, ADONAI ELOHIM TSABAOTH, que é Santo, Santo, Santo, Senhor-Deus das Hostes, Céu e Terra estão repletos de Tua Glória; e pelos Dez Anjos que presidem às Dez Sephiroth, pelas quais Deus comunica e estende Sua influência sobre coisas inferiores, as quais são Kether, Chokmah, Binah, Gedulah (ou Chesed) Geburah, Tiphareth, Netsach, Hod, Yesod e Malkuth.

“Eu vos conjuro novamente, ó Espíritos por todos os Nomes de Deus e por todas Suas obras maravilhosas; pelos céus; pela Terra; pelo mar; por toda a profundidade do Abismo e por aquele firmamento que o próprio Espírito de Deus moveu; pelo sol e pelas estrelas; pelas águas e pelos mares e tudo neles contido; pelos ventos, os remoinhos e as tempestades; pelas virtudes de todas as ervas, plantas e pedras; por tudo que está nos céus, sobre a Terra e em todos os Abismos das Sombras.

“Eu vos conjuro novamente e vos incito poderosamente, ó Demônios, em qualquer parte que vós podeis estar, que sejais incapazes de permanecer no ar, fogo, água e terra ou em qualquer parte do universo ou em qualquer sítio agradável que possa vos atrair, mas que vós venhais prontamente cumprir nosso desejo e todas as coisas que exigimos de vossa obediência.

“Eu vos conjuro novamente pelas duas Tábuas da Lei, pelos cinco livros de Moisés, pelas Sete Lâmpadas Ardentes no Castiçal de Deus ante a face do Trono da Majestade de Deus, e pelos Santo dos Santos onde se permitiu a entrada apenas a KOHEN HA-GODUL, ou seja, o Alto Sacerdote.

“Eu vos conjuro por Aquele que criou os céus e a Terra e que mediu esses céus no oco de Sua mão e encerrou a Tera com três de Seus dedos, que está sentado sobre o Querubim e sobre o Serafim e junto ao Querubim, que é chamado de Kerub, que Deus constituiu e colocou para guardar a Árvore da Vida, armado de uma espada flamejante, depois que o Homem tinha sido expulso do Paraíso.

“Eu vos conjuro novamente, Apóstatas de Deus, por Ele que sozinho executou grandes maravilhas, pela Jerusalém celestial; e pelo Mais Santo Nome de Deus em Quatro Letras, e por Aquele que ilumina todas as coisas e brilha sobre todas as coisas pelo seu Nome Venerável e Inefável, EHEIEH ASHER AHEIEH, que vinde imediatamente para realizar nosso desejo, qualquer que seja ele.

“Eu vos conjuro e vos ordeno em absoluto, ó Demônios, em qualquer parte do Universo que podeis estar, pela virtude de todos estes Nomes Santos: ADONAI, YAH, HOA, EL ELOHA, ELOHINU, ELOHIM, EHEIEH, MARON, KAPHU, ESCH, INNON, AVEN, AGLA, HAZOR, EMETH YIII ARARITHA, YOVA HAKABIR MESSIACH, IONAH MALKA, EREL KUZU, MATZPATZ, EL SHADDAI; e por todos os Nomes Santos de Deus que foram escritos com sangue no sinal de uma eterna aliança.

“Eu vos conjuro novamente por estes outros nomes de Deus, Santíssimos e desconhecidos, por virtude dos quais vós tremeis todos os dias: BARUC, BACURABON, PATACEL, ALCHEEGHEL AQUACHI, HOMORION, EHEIEH, ABBATON, CHEVON, CEBON, OYZROYMAS, CHAI, EHEIEH, ALBAMACHI, ORTAGU, NALE, ABELECH, YEZE; que vós venhais rapidamente e sem demora à nossa presença de toda região e todo clima do mundo em que vós podeis estar, para executar tudo que nós ordenaremos no Grande Nome de Deus. “

A de Occulta Philosophia de Agrippa contém vários rituais curtos para uso diário, sendo cada um específico para a evocação das entidades que se conformam aos dias. O ritual para domingo, por exemplo, é:

“Eu vos conjuro e vos confirmo, vós poderosos e santos anjos de Deus, no nome Adonai, Eye, Eye, Eya que Aquele que era e é, e é para vir Eye, Abray; e no nome Saday, Cados, Cados, Cados, sentado nas alturas sobre o querubim; e pelo grande nome do próprio Deus, forte e poderoso que é exaltado acima de todos os céus; Eye, Saraye, que criou o mundo, os céus, a terra, o mar e tudo que neles existe no primeiro dia e os selou com seu santo nome Phaa; e pelo nome dos anjos que governam no quarto céu, e servem diante do sumamente poderoso Salamia, um Anjo grandioso e honorável; e pelo nome de sua estrela, que é Sol, e pelo seu signo, e pelo nome imenso do Deus Vivo e por todos os nomes já ditos, eu conjuro a ti, Miguel, ó grande Anjo, que és o principal regente deste dia; e pelo nome Adonai, o Deus de Israel, eu te conjuro, ó Miguel, para que trabalhes para mim e satisfaz todas minhas petições de acordo com minha vontade e desejo em minhas causas e negócios.”

Quando durante a cerimônia de evocação há sinais aparentes de que a manifestação do espírito está ocorrendo, quando a fumaça do incenso rodopia na direção do triângulo e assume uma forma tangível, uma oração ou boas vindas aos espíritos deve ser recitada. A forma recomendada por Barrett é:

“BERALANENSIS, BALDACHIENSIS, PAUMACHIA e APOLOGIA SEDES, pelos mais poderosos reis e poderes, e os mais poderosos príncipes, gênios, Liachidae, ministros da sede tartárea, príncipe-chefe da Sede de Apologia, na nona região, eu vos invoco e vos invocando, vos conjuro; e estando armado de poder proveniente da suprema Majestade, eu vos ordeno com rigor, por Aquele que falou e se fez e ao qual estão submetidas todas as criaturas; e por este nome inefável, Tetragrammaton Jehovah, que sendo ouvido os elementos são derrubados, o ar é agitado, o mar retrocede, o fogo é extinguido, a terra treme, e toda a hoste dos seres celestiais, terrestres e infernais de fato tremem conjuntamente, e são transtornados e confundidos, por conseguinte, incontinenti, e sem demora, vinde de todas as partes do mundo, e dêem respostas racionais a todas as coisas que indagarei; e vinde pacífica, visível e afavelmente agora, sem demora, manifestando o que desejamos, sendo conjurados pelo nome do Deus vivo e verdadeiro, Helioren, e cumpra o que ordenamos, e persisti até o fim e em conformidade com nossas intenções, visível e afavelmente a nós falando com voz clara, inteligível e sem qualquer ambigüidade.”

No mesmo livro, Francis Barrett nos apresenta uma outra breve alocução a ser recitada quando a manifestação da entidade necessária é concluída; isto é quando o espírito fica perfeitamente claro e visível no triângulo.

“Contemplai o pantáculo de Salomão que eu trouxe a vossa presença; contemplai a pessoa do exorcista no meio do exorcismo, que é armado por Deus, sem medo, e bem provido, que com poder vos invoca e vos chama exorcizando; vinde, portanto, com velocidade, pela virtude destes nomes: Aye, Saraye, Aye Saraye: não retardai vossa vinda, pelos nomes eternos do Deus vivo e verdadeiro, Eloy, Archima, Rabur e pelo pantáculo de Salomão aqui presente que poderosamente impera sobre vós; e por virtude dos espíritos celestiais, vossos senhores; e pela pessoa do exorcista no meio do exorcismo; sendo conjurado apressai-vos e vinde e obedecei ao vosso mestre, que é chamado Octinomos. Preparai-vos para ser obedientes ao seu mestre em nome do Senhor, Bathat ou Vachat investindo sobre Abrae, Abeor vindo sobre Aberer.”

Quando todas as questões do exorcista forem devidamente respondidas pelo espírito evocado, e todos os desejos do mago tiverem sido tão satisfeitos que não haverá mais necessidade de retê-lo no triângulo de manifestação, dever-se-á dar a licença de partida do cenário de evocação. O procedimento costumeiro consiste em recitar uma Licença de Partida e a forma de Licença indicada e A Chave de Salomão, o Rei é a seguinte:

“Por virtude destes pantáculos e porque vós fostes obedientes e acataram aos mandamentos do Criador, senti e inalai este odor agradável e depois parti para vossas moradas e retiros; que haja paz entre nós e vós; estejai sempre prontos para vir quando fordes citados e convocados; e que possa a bênção de Deus, na medida em que sois capazes de recebê-la, estar sobre vós contanto que sejais obedientes e bem dispostos a vir a nós sem ritos solenes e observâncias de nossa parte.”
F I M
(Autor:ISRAEL REGARDIE)

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