25 de maio de 2010

JACQUES DE MOLAY


Jacques DeMolay nasceu em Vitrey, uma pequena e próspera região em Haute Saone, França, no ano de 1244. Quase tudo o que temos conhecimento sobre sua vida se deve aos registros templários posteriores à sua entrada na Ordem e muito pouco se sabe a respeito de sua infância ou adolescência.

Se você começou a ler esta série agora, eu recomendo que leia antes os artigos sobre a Primeira Cruzada, sobre a Segunda e Terceira, sobre a Quarta Cruzada e os Cátaros, sobre a Quinta, Sexta e Sétima Cruzada pelo ponto de vista Templário, postados anteriormente.

Aos 21 anos de idade, Jacques DeMolay foi iniciado na Ordem dos Cavaleiros Templários. Até então, os Templários eram uma organização sancionada pela Igreja Católica Romana, com a função de proteger e guardar as estradas entre Jerusalém e Acre, um importante porto da cidade no Mar Mediterrâneo. A Ordem dos Cavaleiros Templários participou das Cruzadas e conquistou um nome de valor e heroísmo.

Apesar das derrotas sucessivas para os mamelucos, a situação das Ordens de Cavalaria na Europa estava muito boa. Muitos nobres e príncipes enviaram seus filhos para serem Cavaleiros Templários e isso fez com que a Ordem passasse a ser muito rica e popular em toda a Europa.

Tradicionalmente, o filho mais velho permanecia junto aos reis porque era o herdeiro, o filho mais novo era mandado para a Igreja para fazer parte do clero e aos irmãos do meio, não havia outra saída que não fosse se alistar nos exércitos e tentar conquistar o seu próprio pedaço de terra. Muitos deles conseguiam doações substanciais de suas famílias para a causa Templária (ou hospitalaria ou teutônica) e aos poucos, a Ordem ergueu um complexo de riquezas que a tornou uma das organizações mais poderosas de todo o Planeta.

Em 1298, Jacques DeMolay foi nomeado Grande Mestre dos Cavaleiros, uma posição de poder e prestígio. Jacques DeMolay assumiu o cargo após a morte de seu antecessor Teobaldo Gaudini no mesmo ano (1298) e durante uma crise sem precedentes nos territórios ocupados pelos muçulmanos.

Jacques DeMolay passou por uma difícil posição pois as cruzadas haviam falhado miseravelmente em todos os sentidos e os ataques mamelucos estavam tomando cada centímetro do deserto, forçando os cavaleiros a recuarem cada vez mais. Nas últimas batalhas antes de sua posse, os mamelucos haviam tomado algumas cidades e portos vitais dos Cavaleiros Templários e os Hospitaleiros, restando apenas um único grupo do confronto contra os Sarracenos.

Enquanto Jacques e os outros marechais tentavam conseguir reforços na Europa, os Cavaleiros Templários começavam a se reorganizar. Eles foram forçados a se exilarem na a Ilha de Chipre após a queda do Acre, em 1291, esperando pelo público geral para levantar-se em apoio à outra Cruzada.

Demolay conseguiu acordos com o papa Bonifácio VIII, com Edward I (da Inglaterra), Jaime I (de Aragão) e Carlos II (de Nápoles) que garantiriam suprimentos e novos homens. A Igreja, porém, desejava que as Ordens Templária e Hospitalaria se fundissem em uma só organização, apesar de protestos dos dois Grãos Mestres. Jacques atendeu a dois encontros no Sul da França com líderes da Igreja e dos Hospitalários a respeito deste assunto, sem chegarem a um acordo.


De 1299 a 1303, Jacques permaneceu no Chipre, planejando um contra-ataque aos Mamelucos com a ajuda das tropas cristãs, as forças armênias e um novo aliado: os Mongóis. Ghazan, o general mongol de Ikhanate, propôs uma aliança franco-mongólica para expulsar os mamelucos da Síria e do Egito. Durante gerações os mongóis tentaram, sem sucesso, expulsar os mamelucos para poderem ficar com aquele pedaço de terra e a aliança com as cavalarias cristãs parecia uma boa idéia.

A coalizão conseguiu uma vitória na batalha de Wadi-al-Khazandar, em dezembro de 1299, enquanto Jacques e o rei Henrique II de Jerusalém comandavam uma frota de 16 navios que realizavam ataques paralelos nas costas egípcias, enfraquecendo as defesas mamelucas.

Os Templários conseguiram dominar uma pequena base em Tortosa em 1300 mas os mongóis foram barrados e não conseguiram reforçar a posição em 1300, 1301 e 1302, quando as tropas mamelucas tomaram o castelo na Batalha deRuad, em 26 de setembro de 1302.
Enquanto isso, na Europa, continuava a pressão papal para que as duas Ordens se fundissem em uma.

Em 1305, o papa Clemente V, recém empossado, convocou os Grãos mestres para uma reunião na França para perguntar suas opiniões a respeito da fusão das duas ordens e da proclamação de uma nova cruzada. Demolay era contra a fusão das ordens já que, para ele, cada uma delas possuía missões diferentes. Também argumentava que precisariam de um movimento gigantesco para fazer frente aos mamelucos, já que pequenas tropas seriam apenas alvos fáceis para os exércitos muçulmanos.

Em 6 de junho, os dois Grãos Mestres foram oficialmente convocados para irem até Poitiers para uma reunião, mas esta reunião acabou adiada por duas vezes, por conta de uma doença do papa.

Nesse meio tempo, o rei Felipe, o belo, estava atolado em dívidas com os Templários por conta de sua guerra contra a Inglaterra. Ele estava enchendo o saco do papa para que Clemente unisse as duas ordens sob uma bandeira e que ele, Felipe, ficasse como Rex Bellator (Rei Guerreiro). Além destas palhaçadas, Felipe estava arrumando encrencas com o papado ao ameaçar taxar as Igrejas na França.

O papa Bonifácio VIII tentou excomungar Felipe, mas foi encontrado morto em circunstâncias misteriosas logo antes de assinar seu decreto. Seu sucessor, Benedito VIII, tentou contestar o rei, mas acabou morto, envenenado. Clemente, que era mais esperto que a maioria dos ursos, fez um acordo com o rei e abriu as pernas da Igreja Católica para os interesses da França. Ele chegou, inclusive a mudar o papado de Roma para Poitiers, na França, onde ficaria como um marionete do rei.

O Líder dos Hospitaleiros ficou detido na Terra Santa por conta de ataques contínuos a Rhodes, então Demolay ficou sozinho na França com o papa e o rei picareta.

Para mover seu plano astucioso, Felipe usou um nobre francês de nome Esquin de Floyran. O nobre teria como missão denegrir a imagem dos templários e de seu Grão Mestre Jacques DeMolay e, como recompensa Floyran receberia terras pertencentes aos Templários logo após derrubá-los.

Jacques conversa com o rei em 24 de junho de 1307 sobre a Ordem e se recusa a unir as duas potências. Em 14 de setembro de 1307, Felipe começa movimentar seus agentes contra os Templários em toda a França. Os agentes do rei avançam sobre os Templários e capturam suas fortificações, somando as riquezas que encontravam ao tesouro real.

O ano de 1307 viu o começo da perseguição aos Cavaleiros. Apesar de possuir um exército com cerca de 15 mil homens, Jacques Demolay havia ido a França para o funeral de uma Princesa da casa Real Francesa e havia levado consigo poucos homens, sendo esses todos nobres. Na madrugada de 13 de outubro (uma sexta-feira, de onde se originou a história de sexta-feira 13 ser um dia infame) Jacques DeMolay, juntamente a seus amigos, foram capturados e lançados nas masmorras pelo chefe real Guilherme de Nogaret.

Durante sete anos, Jacques DeMolay e os Cavaleiros sofreram torturas e viveram em condições subumanas. Enquanto os Cavaleiros não se dobravam, Felipe IV gerenciava as forças do Papa Clemente para condenar os Templários. Suas riquezas e propriedades foram confiscadas e dadas à proteção de Felipe.

Após três julgamentos, Jacques DeMolay continuou sendo leal para com seus amigos e Cavaleiros. Ele se recusou a revelar o local das riquezas da Ordem, e recusou-se a denunciar seus companheiros.

Em 18 de Março de 1314, ele foi levado à Corte Especial. Como evidências, a Corte dependia de confissões forjadas, supostamente assinadas por Jacques DeMolay, mas em público, ele desmentiu as confissões forjadas. Sob as leis da época, a pena por desmentir uma confissão, era a morte.

O Conselho que começou em 1310 e se arrastou por quase dois anos, terminou com Jacques Demolay e Guy D’Auvergne sendo sentenciados a queimar em praça pública. Sua execução ocorreu em 18 de Março de 1314. Suas últimas palavras foram:

“Senhor, permiti-nos refletir sobre os tormentos que a iniqüidade e a crueldade nos fazem suportar. Perdoai, ó meu Deus, as calúnias que trouxeram a destruição à Ordem da qual Vossa Providência me estabeleceu chefe. Permiti que um dia o mundo, esclarecido, conheça melhor os que se esforçam em viver para Vós. Nós esperamos, da Vossa Bondade, a recompensa dos tormentos e da morte que sofremos para gozar da Vossa Divina Presença nas moradas bem-aventuradas. Vós, que nos vedes prontos a perecer nas chamas, vós julgareis nossa inocência. Intimo o papa Clemente V em quarenta dias e Felipe o Belo em um ano, a comparecerem diante do legítimo e terrível trono de Deus para prestarem conta do sangue que injusta e cruelmente derramaram.”

O primeiro a morrer foi o Papa Clemente V, logo em seguida o Chefe da guarda e conselheiro real Guilherme de Nogaret e, no dia 27 de novembro de 1314, morreu o rei Felipe IV com seus 46 anos de idade.

Em 2002, A Dra Barbara Frale encontrou uma cópia dos Pergaminhos de Chinon nos arquivos secretos do vaticano. Um documento que confirma explicitamente que o Papa Clemente Vhavia absolvido Jacques deMolay e outros líderes da Ordem, incluindo Geoffroi de Charney e Hughes de Pairaud. Ela publicou seus artigos no Journal of Medieval History, em 2004.

Um documento, apreendido pelas tropas de Napoleão depois de terem invadido a cidade de Roma, em 1809 e referido por Gérard de Sede descrevia o testemunho de um templário, de nome Jean de Châlons aludindo a “três carroças enormes puxadas por cinquenta cavalos que haviam saído, na quinta-feira, 12 de Outubro de 1307 (a véspera da prisão dos templários), do Templo de Paris, conduzidas por Hughes de Châlons, Gérard de Villers e cinquenta outros cavaleiros, transportando “totum thesaurum Hugonis Peraldi” (Hugo de Pairaud, o grande Visitador de França).

O mesmo templário teria afirmado que o conteúdo das três carroças teria sido embarcado no porto templário de La Rochelle e seguido em 18 navios da armada dos templários com destino desconhecido, mas que, certamente seriam paragens mais amistosas para a Ordem do que as de França…

Continua em breve com "O fim dos Templários e o começo da Maçonaria".
(Texto de Marcelo Del Debbio)

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