6 de julho de 2009

Tempo e Espaço


A consciência contém o todo e a parte. Mesmo que se considere ilusão ainda assim as partes, de certa, forma existem e se existem devem constar no “É”. Seja qual for a coisa, ou condição, que real ou ilusoriamente exista deve fazer parte do “É”, logo é parte integrante da Consciência. A mente se existe, quer ela seja realidade ou ilusão, está presente no “É” . Como o “É” se trata de um registro pleno poderia como tal deixar de conter todas as ilusões? Tudo o que faz parte do “É” não se extingue porque o “É” é eterno desde que ele está fora do espaço-tempo.

Sejam como realidades ou como ilusões os elementos constitutivos da mente aprisionam o ser, setorizando e limitando a percepção que se tem da Consciência. Há condições que limitam a Consciência condicionando e limitando a percepção. É preciso que se tenha uma compreensão exata sobre a natureza dos elementos limitantes que em sua totalidade compreende a mente. Um dos principais meios que limita a percepção do todo é a falsa idéia de tempo linear. O Tempo, como algo absoluto, é o mais importante elemento presente na Consciência, mas como no processo do “se ver em parte” ocorre o surgimento então esta modifica o tempo absoluto gerando o tempo seqüencial – tempo linear, ou tempo cronológico. A única realidade está representada como o “É”. Coisa alguma está fora dele, pois se fosse de outra forma não seria infinito. No “É”, em termos de tempo, só existe o Eterno Agora, portanto não há passado e nem futuro, somente presente. Transportando ao sentido gramatical poderemos dizer que no Eterno Agora só há o tempo verbal presente. É a mente quem gera a idéia de passado e de futuro e isto funciona de forma fazer parecer que existem dois mundos distintos, o Transcendente e o Imanente. Na verdade o Imanente se baseia na condição de manifestação parcial da Consciência. Na Consciência ocorre o mesmo, a parte percebida por cada ser compõe um mundo distinto – mundo imanente – mas que não é o verdadeiro mundo-Transcendente. A percepção parcial é que motiva a existência aparente de um outro mundo – Imanente. O não perceber o tempo como algo absoluto e infinito gera a ilusão de tempo linear. Nesta condição ele se apresenta de forma tríplice: passado, presente, e futuro. Mas, a ilusão do tempo é tão marcante que faz com que seja tremendamente difícil a pessoa de dissociar dela.

O Imanente é um mundo baseado em passado e futuro e onde não há lugar para o presente, para o agora. Quando é o presente – agora? Jamais ele é encontrado no Mundo Imanente, neste mundo que aceitamos como algo real e concreto.

Tome como exemplo uma hora qualquer como, por exemplo, Meia Noite. Quando ocorre a meia noite? Quando é o agora da Meia Noite? Faltam 10 minutos, falta um minuto, um segundo, um nanosegundo, e assim por dia nesse processo cada vez o tempo faltante diminui, mas quando é que ele zera? Em nível de tempo linear jamais se chega a atingir a Meia Noite. Isto tende para infinito, portanto somente no infinito ocorre o agora, contudo quando isto acontece, em se tratando de Infinito, já não é mais Imanência e sim Transcendência. Tempo infinito é Eterno Agora uma condição somente existe como o “É”. Por outro lado, no “É” – Eterno Agora – não pode haver nem passado e nem futuro, pois tudo “ali” é presente, tudo é agora. Mas, ver isto é ver a totalidade.

Vemos que ao se falar de Mundo Imanente tem-se que eliminar o presente onde somente os únicos tempos verbais aplicáveis são passado e futuro. Contudo, devemos examinar o passado. Esta é uma condição que só existe no presente. Algo que sentimos, como passado, quando ocorreu ele era presente.
Considere uma ação qualquer do passado e veja que ao ocorrer ela era presente. Então como é que fica, se o agora – o presente – não existe! Então o passado só existiria no Transcendente, mas já dissemos que no Transcendente o que existe é o Eterno Agora em que não pode haver passado e nem futuro, pois se assim não fosse aquilo perderia a condição de Eterno Agora. Como então sair desse paradoxo? Entendendo-se que tudo é “agora”, que passado e futuro são artifícios da mente e, desde que não põem existir tanto no Mundo Imanente quanto no Transcendente. Assim há de se convir que aquilo que se acredita ser o passado é uma mera ilusão, um artifício da mente que diz respeito à percepção limitada ao nível de Consciência. Evento algum ocorre no passado, pois quando ele ocorreu era presente, e se presente ocorre no “É”. Presente é uma condição única do Transcendente. Isto mostra que a idéia de passado é um artifício mental, e que tudo ocorre no presente, tudo existe e ocorre somente no “É”. A análise do passado mostra claramente que o mundo imanente é pura ilusão. Trata-se de uma armadilha da mente cujo objetivo é assegurar a individualidade e a manutenção do Ego.

Assim como acontece com o tempo, também acontece com relação a espaço. Ele não deixa de ser um dos padrões de ilusão inerente à mente. Isto é o que resumidamente vemos nessa palestra. Evidentemente não é fácil uma pessoa aceitar e, menos ainda, entender se lhe for dito que espaço não existe. Pelo simples fato dele se sentir em um lugar é o suficiente para o seu intelecto lhe dar inteira confiança de que não pode negar a existência de um lugar, tal como a de um momento presente. Segundo o que preceitua a Teoria da Relatividade de Einstein o espaço não tem um padrão último de medida e não ser o mesmo em todas as circunstâncias. Segundo a Teoria da Relatividade, o que corresponde ao que as doutrinas metafísicas, entre elas o Hermetismo, vêm afirmando há milênios.

A Teoria da Relatividade mostra que o espaço não possui as propriedades mencionadas por Euclides em seus postulados e axiomas que condizem com o que a percepção limitada das pessoas determina. Mas, bem antes de Einstein, já Zenão e Pitágoras na Grécia, assim também diversos sábios da Índia e o Hermetismo desde o Antigo Egito haviam descoberto e assinalado contradições inerentes à idéia comum de espaço como algo com características de existência real e de inalterável fixidez. Perceberam que, sob certo ponto de vista, o espaço é mensurável, relativo e finito, mas sob outro ele é incomensurável, absoluto e infinito em todas as direções. Aceitando-se que espaço é apenas a localização das coisas existentes, então poderia ser algo mensurável, algo com dimensão e cujo limite seria marcado pelo esgotamento das coisas que o constituem. Sob o outro ponto de vista ele não pode ter limite desde que não existem limites separativos no Mundo Transcendental, o que quer dizer; não existem coisas distintas, mas apenas uma só. A existência de coisas é decorrência da limitação da percepção. Se não existem coisas também não pode existir algo constituído por elas. A ignorância sobre a unicidade das coisas leva alguns à idéia da existência de espaço mensurável cujo indicador seria as coisas existentes. Segundo o primeiro ponto de vista podemos delimitar o espaço mediante as suas partes, ou seja, pela extensão dos objetos físicos. Mas, conforme o segundo ponto de vista, tais partes não têm existência em separado do Todo, e sendo assim não é possível determinar limites, pois quando se tenta reunir todas as partes, jamais se consegue chegar a um agregado que seja a totalidade do espaço. Se o limite do espaço não fosse o limite da totalidade das coisas, então haveria sempre mais espaço além do limite do que se julga ser o todo. Hipoteticamente se juntássemos mais elementos ao espaço ele cresceria, mas cresceria a partir do que e de onde? Quando se falamos de espaço surge a idéia do aqui e do ali, e nos encontramos diante de uma curiosa situação, pois espaço traz a idéia de ser algo em que alguma coisa existe ou aquilo em que a ordem do mundo se diferencia, e se não existem “coisas” espaço deixa de existir. Diz Paul Brunton: “Pensemos num ponto colocado sobre uma folha de papel em branco. A geometria define ponto como sendo uma posição sem grandeza, portanto não tendo qualquer dimensão. Vale dizer que o ponto não contém nada no seu interior e que não há lugar para ser colocado alguma coisa dentro dele”. “Nessa análise ver-se-á que o ponto não é um absoluto espacial e por isso o espaço, tal como o exposto, ele ao mesmo tempo existe e não existe”.

O que significa aqui? Aquele raciocínio que já fizemos para tempo, também é válido para espaço. O que é o aqui, onde ele se situa? – Quando falta para se atingir o aqui? Poder-se-ia dizer, falta tantos metros, centímetros, milímetros, e assim por diante. Esse escalonamento decrescente só cessa no infinito. O aqui seria um ponto inatingível a não ser no Infinito, e no infinito não comporta o aqui porque nele não existem separações por se tratar de um continuum. Sem separações o ponto representativo do aqui, não existe e consequentemente também não existe lugar. Logo, espaço não tem existência real. Tente diminuir uma coisa qualquer, diminua-o seguidamente, cada vez mais, então onde isto vai parar? Por certo no infinito. Veja que aqui também acontece o mesmo que acontece com referência ao tempo. Onde ocorrem o tempo zero e o espaço zero? Somente deveriam acontecer no Infinito. Onde se situa o ponto zero do espaço? Vemos que não pode ser em nível de Imanência. Assim podemos dizer que o ponto zero, o inespacial somente poderia existir no próprio infinito, mas infinito não tem centro nem periferia, não tem o dentro e nem o fora. O infinito tem que necessariamente ser inespacial. No “É” não existe lugar para se situar o aqui ou o ali. Pelo que foi exposto se conclui que espaço é simplesmente uma condição da mente por não poder existir nem no plano imanente e nem no transcendente. Se o espaço compreende a localização das coisas o que as separa? A mente exige um limite para tudo, mas qual é esse limite? Já vimos em palestras passadas que sempre existe um elo intermediário entre uma coisa e outra. Tudo isso são condições ilusórias impostas pela mente. É a mente quem nos obriga a encarar todas as coisas como existentes no espaço e no tempo. O espaço parece ser uma condição necessária do processo da percepção. Não nos é possível separar uma só coisa do tempo e do espaço. Contudo, jamais vemos o tempo e o espaço propriamente ditos! Não recebemos nenhuma impressão sensorial direta do espaço puro e do tempo puro. Pensemos em uma condição em que coisa alguma se faça sentir. Nesse estado que sensação se poderia ter? – Compreensão da inexistência, mas como tal o que se sentiria, que percepção sensorial de poderia ter? Ter-se-ia a compreensão de se tratar de um nada, mas o que se sentiria no nada? Não nos é possível revestir o simples conceito de espaço com nenhuma imagem mental; só podemos pensar em alguma coisa ocupando um lugar e tendo alguma dimensão, daí conhecermos o espaço apenas como uma propriedade das coisas e o tempo como uma propriedade do movimento.

(Texto: José Laercio do Egito-FRC)

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