17 de julho de 2009

Gênese e a Cabala


É difícil acreditar que uma pessoa inteligente não creia em Deus. Pode não ser da mesma maneira que determinadas religiões pregam, pode ser de um ângulo bastante singular, mas, com certeza, acreditará numa força inteligente suprema no universo, força esta que é capaz de criar o universo e mantê-lo em tão perfeito equilíbrio, formar complexos organismos e, acima de tudo, tornar este amontoado de proteínas, sais minerais e água num ser vivo.

Desde os primórdios trazemos incrustado em nosso ser a noção e temor a uma força superior, por mais primitiva que seja (relâmpago, sol, etc.). A inteligência nos fez repassarmos estes conceitos e, algumas vezes, os fez evoluir.

O nome que damos a Deus é irrelevante. O importante é a noção de que Ele é a fonte ou origem de tudo que nos cerca, o Ser que criou as leis (ou deuses) que dirigem o universo.

Cada um de nós tem a possibilidade de aceitar a verdade de forma diferente, uns mais intelectualmente e outros baseados na fé.

No fim da Idade Média, se acentuou sobremaneira a distinção entre ciência religião. A ideia de tomar os mitos como verdades ao “pé da letra” e a perseguição que se fazia àqueles que estudavam estes mitos ou os fenômenos naturais, deixava perplexo os homens que tinham caráter de cientista ou pesquisador.

Uma vez sem o acesso à tradição oral e com a Igreja forçando a crença nos mitos tal qual estão escritos, quem tinha uma inteligência mais dinâmica, não aceitou contos de fadas como a explicação do mundo.

Primeiro que o conhecimento foi repassado em forma de parábolas, lendas, histórias, mitos e fábulas. Este procedimento é típico dos Iniciados de todas as épocas. O motivo disto é que nem todos, naquele tempo como agora, teriam condições de entender a verdade em sua plenitude.

Quanto mais se recua no tempo, mais notamos que, para vencer a dificuldade da grande massa popular em acessar os avanços culturais e escolares, os Adeptos as transmitiam numa forma pouco cientifica, mais didática.

Além disto, parece haver uma preocupação constante por parte dos homens que detêm a Tradição, em não banalizar este conhecimento. As grandes autoridades religiosas apresentaram o mesmo comportamento no decorrer de nossa história.

É necessário que entendamos que nossos Grandes Iniciados entendiam e transmitiam, verbalmente ou em escrituras, os conhecimentos obtidos em linguagens simbólicas, dentro da idéia de não banalizá-las para evitar a deturpação e mau uso, para que somente iniciados as entendesse.

Logo após a sua apresentação aos cientistas, a Teoria do BIG-BANG foi estudada profundamente e aceita como uma possibilidade concreta para explicar o início de nosso universo. Em resumo, esta teoria afirma que antes da existência do espaço - tempo como conhecemos, este era uma incrível concentração de energia - matéria que explodiu, espalhando-se em todas as direções, originando o universo que conhecemos. Tudo que compõem este plano de existência partiu de um único "lugar".

O mais incrível disto é que muito antes dos cientistas chegarem a esta conclusão, as origem do universo mais antigos que se conhecem vem da antiga Roma. Nesta, e nos povos que partilharam de territórios próximos na época, nossa origem são contadas como criação de deuses com diversos nomes, como AN, ENLIL e EN-KI.


A cabala judaico - cristã, também anterior a nossa ciência, nos ensina que Deus iniciou a Criação a partir da transmutação de um finito "pedaço" de si (pois Ele era a única e infinita existência), o que dá dimensões pontuais a sua parte transmutada finita, vindo mais uma vez a "casar" com o Big-Bang.

Mas vamos à Gênese: No principio, Deus eterno era único em sua existência. No momento em que quis conhecer-se, gerou uma "imagem" de si mesmo, pois a vontade do Pai torna-se ação.Então em sua perfeição, Deus criador (gerador) e, vou permitir-me chamar, Deus criatura (gerado) amaram-se e reconheceram-se como uno, isto gerando um "movimento" divino de sua integração e interação. A este movimento da existência os cristãos chamam de Espirito Santo, formando a "Divina Trindade".

Para dar um presente ao Deus criado (Filho), o Primeiro concebeu a "criação" (chamarei assim todo o plano de existência) para que o Primogênito pudesse saber como é o amor a algo criado, pois o mesmo ainda não sentira o amor de algo inferior a Si, de uma criação.

"No Princípio era o Verbo, (ou O Logos) e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava No Princípio com Deus. Tudo foi feito por Ele, nada do que tem sido feito foi sem Ele. NEle estava a Vida, e a Vida era a Luz dos homens".

Se Deus é eterno, o que ele fazia antes de nos criar? Antes de Sua Trina Divisão Ele era menos perfeito?"

Segundo a Cabala, para dar execução àquilo que já havia planejado, Ele cria de sua essência (a transmutação de uma parte finita de si, como já referido) seu agente executor, o qual chamaremos de Cristo Cósmico.

Pela primeira vez surge algo diferente da "Essência Divina", uma substância. A partir de agora se entenda como criação como tornar existente algo a partir de uma modificação da substância que lhe dá origem.

Cabala (Tradição) Cristã tem suas raízes na Kabbalah judaica, a qual podemos consultar em sua fonte original, no Antigo Testamento. É mister ressaltar a importância da análise dos textos bíblicos na sua forma mais original possível por dois principais motivos:

- o primeiro é devido aos erros de tradução, uma vez que no hebraico antigo a maioria das palavras apresenta vários significados, exigindo que o tradutor entenda o contexto de sua leitura para uma tradução acertada;

- o segundo só nos é revelado com uma atenciosa e crítica leitura daqueles textos, pois pesquisadores já detectaram várias interpolações, "autorias indevidas" e censura nos textos bíblicos. Provavelmente para salvaguardar o conhecimento preciso para aqueles que o detinham em sua forma original, entenda-se aí as altas autoridades eclesiásticas judaicas que eram os únicos a poderem manipular os manuscritos deixados por Moisés.

Notemos ainda que "céus e terras" anteriormente referido em seus originais, revelam que estas diziam "altura" (águas superiores), e "profundidade", referindo-se a duas grandes divisões:

- altura (águas superiores): este é o lugar do Cristo Cósmico sem alteração alguma, ele com todo seu esplendor. É a morada daquele que foi feito para criar (equivale a clara do Ovo Cósmico egípcio);

- profundidade: sua já referida transmutação de uma substância para outra substância (Cristo Cósmico) que dará vazão a criação. A energia, para tornar-se matéria necessita de diversos estágios intermediários para diminuir sua "vibração". Até agora temos o primeiro "estágio", a primeira forma que pode comunicar-se diretamente com Deus. O universo material ainda não existe (equivale à gema do já supracitado ovo no mito egípcio).

O importante aqui é a ideia de polaridades complementares, negativo/ positivo ; vazio/cheio ; yin/yang ; mulher/homem , os grandes motores da existência. Sem um, o outro não tem sentido. Um é necessário à existência do outro e deles tudo provém.

Em Gênesis I,1, em hebraico, o texto traz expressões "e Deus disse" trazendo aí interpolações da sagrada escritura e confundindo Deus Logos com o Cristo Cósmico e com a Tríade Superior. Somente em Gênesis II,3 é que nos é apontada com clareza a criação do Cristo Cósmico quando nos traz "3) E abençoou Deus ao dia sétimo, e santificou-o, porque nele cessou toda a sua obra, que criou Deus para fazer.". Daí concluímos que após o Cristo, a vontade do Pai foi executada por este, sua "obra". Claro que Cristo Cósmico colocou em execução aquilo que Deus Pai já idealizara, pois sem que Deus a crie em si, nada poderia existir, como uma construção que só é executada após ter sua planta terminada.

Isto posto, podemos afirmar que tudo o que existe, visível ou invisível, é primeiramente manifestada nos planos superiores, é necessária a existência em todos os planos metafísicos para a existência no físico. Verificamos este fato em Gênesis II,5 "4). Estas são as origens dos céus e da terra ao serem criados; no dia de fazer (verbo utilizado quando a ação é do Cristo Cósmico), o Eterno Deus, terra e céu. 5). E toda a planta do campo antes que houvesse na terra e toda a erva do campo antes que germinasse..."

Antes da criação do homem, veio a existência a entidade que chamaremos de Tríade Superior, que era subordinada diretamente ao Cristo Cósmico, por onde todo o fluxo de energia passaria e que governaria o Éden. Era praticamente a manifestação do Cristo nas "profundezas".

Em Gênesis II,7 é descrita a criação do Homem como ser completo o qual representamos com dois triângulos sobrepostos (estrela de Salomão ). Este Homem é, como descrito em seguida na bíblia, criado no Jardim do Éden e no cap. II versículos 16 e 17 lhe é dito " 16) E ordenou o Eterno Deus ao homem, dizendo: ‘De toda árvore do jardim podes comer: 17) E da árvore do conhecimento, do bem e do mal, não comerás dela; porque no dia em que comeres dela, morrerás’". E mais adiante relata a criação da mulher "21) E fez o Eterno Deus cair um sono pesado sobre o homem e (este) adormeceu; e tomou uma das suas costelas e formou com ela ... 22) ...uma mulher, e a trouxe ao homem".

Aqui precisamos esclarecer o seguinte:

- árvore é considerada, dentro da cabala, como uma ligação, uma passagem interfaces, entre planos diferentes, portanto o liberou para percorrer todos os planos da criação;

- morrer significa uma mudança radical, mais especificamente neste caso, a perda da atual consciência ( abordaremos o assunto mais adiante);

- o que foi traduzido como costela, na realidade era a palavra hebraica “sela” a qual significa, além de costela, uma metade.

Não é a toa que misticamente o homem completo é simbolizado pela sobreposição de duas metades. Isto representa sua imagem (triângulo para cima) e semelhança com Deus, indicando a sua dupla composição. Tomar uma de suas partes é separar esta dupla natureza em duas distintas: homem e mulher.

Vemos representadas esquematicamente dentro do Éden as três grandes almas. Todo homem descende deste Adão bem como toda mulher é parte desta Eva.

A casa, ou plano, ocupado pela primeira tríade chama-se Olam HaAzilut (o mundo da emanação). O da Segunda tríade, Olam HaBriá (o mundo da criação). O plano seguinte, Olam HaIezirá (o mundo da formação), e o último plano denomina-se Olam HaAssiá (o mundo da ação ou produção).

Éden e Adão (Adam) não trazem mera semelhança gráfica. A figura da árvore, já acima exposta, costuma corriqueiramente, nos livros iniciáticos, ser sobreposta a uma silhueta humana. A Tríade Superior na cabeça, Adão no peito e Eva no ventre. A este ser, os cabalistas denominam ADAM KADMON PROTOPLASTA. Este seria a imagem e semelhança de Deus. Sem impurezas.

Seguiremos com este assunto mais a frente.
(Leonardo Oliveira de Araújo)

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