Retornemos no tempo até cerca de 4.000 AC. A uma determinada altura na história dos antigos habitantes da zona da mesopotâmia, começou a existir uma confusão relativa à identificação dos deuses. Cada lugar adorava um mesmo deus, mas com um nome diferente, e isto tudo fomentou a dificuldade de hoje em identificarmos a diferença entre os deuses.
Quando uma região entrava em guerra com a outra, os deuses de uma se tornavam os “Adversários” (Shaitans) da outra religião e, quando o povo era absorvido, estes deuses também eram absorvidos e transformados em deuses menores OU demônios, conforme a necessidade. Vou usar como exemplo fácil dois tipos de entidades: Devas e Asuras. Se você procurar pelo panteão hindu, os Daevas e os Asuras eram tipos diferentes de divindades. Alguns Asuras eram bons e alguns eram malvados. Os Devas, por outro lado, eram divindades equivalentes aos Anjos católicos, mensageiros dos deuses e auxiliadores da humanidade.
Por outro lado, se fomos observar a mitologia Persa (e depois o Zoroastrismo), nos quais foram aplicados o conceito de Bem x Mal, veremos que os Devas acabaram se tornando “A personificação de todo o mal imaginável” e os Ahuras (Asuras) são a personificação das divindades e os servos dos deuses do bem. Ou seja, os anjos dos hindus são os demônios dos Persas e vice-versa.
Na Mesopotâmia existia um deus chamado BAAL. Baal possuía os mesmos atributos de Zeus ou Odin. Era o pai celestial, senhor cósmico que vigiava a Terra e fulminava as pessoas com relâmpagos se fosse necessário. Era o deus da fartura e da fertilidade, em cuja morada ficava a cornucópia (aquele chifre que brotava comida em abundância) e assim por diante…
O nome Baal deu origem a Beliel o qual vem referido até no novo testamento. Este personagem teve a sua origem muito anteriormente como o príncipe do mundo, título que lhe garantia uma superioridade em relação aos outros componentes da divindade desta época. Este deus era conhecido também por Enki - O Senhor da Terra
Existem inúmeras referências a ele na Bíblia, como por exemplo:
Números 22:41 (Os Hebreus tinha Altares a Baal)
Juízes 2:13 (o povo de Israel serviram Baal e Asterath)
Juízes 6:25 (Deus manda destruir o Altar de Baal)
1 Reis 16:31 (Jeroboão adora Baal)
1 Reis 18:19 (Desafio entre Yahweh, Baal e Asterath)
1 Reis 22:54 (Acazias adora Baal)
2 Reis 10:19-28 (Jeú arma uma cilada aos sacerdotes de Baal)
2 Reis 11:18 (Destruição do Templo de Baal)
2 Reis 17:16 (Novamente adoração a Baal)
2 Reis 23:05 (Referência aos adoradores de Baal, da Lua, do Sol e de outros planetas.)
Naquele tempo, existia um costume de sacrificar crianças para garantir a colheita de uma vila. Normalmente o primogênito. Não apenas os mesopotâmicos, mas também os cartagineses, rivais dos romanos no controle do Mediterrâneo e derrotados por Roma nas Guerras Púnicas, costumavam sacrificar crianças para oferecer aos deuses.
Na bíblia, vemos isso no sacrifício que Abraão vai fazer de Isaac e é impedido pelo anjo, indicando alegoricamente que a humanidade não necessitava mais deste tipo de sacrifício.
Existia em Cartago uma estatua de Baal de proporções imensas. A imagem tinha as mãos voltadas para frente e ligeiramente inclinadas em direção à terra, sobre as quais eram colocadas as crianças escolhidas para o sacrifício: sem apoio, as crianças escorregavam e caíam em uma grande fogueira, acesa aos pés da estátua. Para o povo cartaginês, os seres imolados tornavam-se divindades. Músicos tocavam flautas e tambores durante o ritual, e as próprias mães entregavam seus filhos para os sacerdotes.
A palavra “Baal” significa “Senhor” e cada cidade ou aldeia fenícia contava com seu Baal, e o mais importante era o de Tiro, chamado pelos seguidores de Baal Afelkart (este nome deu origem mais tarde ao “demônio” chamado Belfegor, que consta dos bestiários medievais que eu falarei mais para a frente).
Muitos fenícios (assim os gregos chamavam os cananeus), durante períodos de guerra, de seca ou de outras pragas ofereciam o primeiro filho ao deus. O nome deste sacrifício é “Moloch” e o termo acabou se tornando sinônimo do deus cananeu. No Antigo Testamento, o livro do Levítico adverte os fiéis: “Não darás teu filho em oferenda a Moloch, nem profanarás o nome do teu Deus”.
Zebub é o nome hebreu para “As coisas que podem voar” ou, no sentido mais específico, os gênios do ar, silfos ou outras entidades astrais do ar e dos céus. Baal, como já vimos, significa “Senhor”. Desta maneira, Baal-Zebub significa “Aquele que é o senhor dos gênios elementais do ar”.
Belzebu como “Senhor das Moscas” surge da interpretação distorcida da bíblia do Rei James que chama Baal-Zebub de “Lord of the things that can fly” sendo que, em inglês, “fly” também quer dizer “mosca”. Então para justificar a aura “maléfica” de Belzebu, nada mais conveniente do que associá-lo a coisas repugnantes… em 1863, Collin de Plancy escreve o “dicionário infernal” e reinventa Belzebub como uma mosca gigante. O dicionário infernal foi um dos inúmeros livros que pesquisei em minha Enciclopédia de Mitologia. Você pode visualizar esta obra de domínio público AQUI.
Os Daemon são os anjos pessoais. Esta palavra grega significa “Espíritos” e representam os Mentores (o nome dado no Kardecismo) que cuidam de cada pessoa durante sua encarnação. Segundo os ocultistas, toda pessoa possuía seu próprio Daemon, responsável por acompanhá-la e protegê-la em caso de perigo, na medida do possível.
De seu nome surgiu a palavra Daemonium, ou mais tarde “Demônio”, para designar os seres malignos. A origem deste nome vem da tradução de Shaitan. Shaitan (hebraico), Satanas (aramaico), significa “Adversário” e pode ser usado até mesmo para designar seu oponente no xadrez ou videogame. Para um time de futebol, os torcedores dos outros times podem ser chamados de shaitans… É uma palavra como qualquer outra, usada pelos povos antigos para designar qualquer povo que fosse oponente ao seu durante uma batalha e, mais tarde, estendido aos deuses destes povos.
Na bíblia, costumam dizer que a palavra está associada a um ente misterioso que teria se rebelado e deixado de servir a Deus e que aparece em Ezequiel 28: 12 a 19. Satanás também aparece no livro de Jó, como o “adversário” que disputa com Deus para ver até quanto conseguiriam torrar a paciência do pobre do servo.
Vocês podem ver com seus próprios olhos que não aparece nada sobre chifres, patas de bode ou tridentes relacionados com o tal “adversário” na Bíblia. Apenas referências isoladas a deuses fenícios, babilônicos, touros de ouro e outras divindades. Com o tempo (1.600 anos, para ser mais exato), foi construída toda uma salada de frutas envolvendo deuses das religiões adversárias (ou “satânicas”, usando a etimologia correta da palavra) para gerar todo este folclore demoníaco que temos hoje em dia.
(Marcelo Del Debbio)
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