24 de junho de 2015

CULTO AO DEUS MITRA

Deidade de origem índo-iraniana e caldaica (vinculado a Varuna, o Céu, e formando em ocasiões casal com Ahura-Mazda, o deus salvador, em sua luta com Ahrimán, o aspecto tenebroso da criação), Mitra foi adotado por Roma como um de seus principais númenes tutelares, até o ponto de ser considerado como o "protetor e sustento do Império".

É de destacar que a época de seu maior apogeu (entre os séculos I e IV) coincide com o florescimento das doutrinas herméticas, gnósticas e neoplatônicas alexandrinas, com as quais o mitraísmo teve sem dúvida seus contatos, beneficiando-se de muitas de suas ideias.

Contatos que também existiram com o cristianismo incipiente, como o demonstram as numerosas analogias entre as figuras de Mitra e de Cristo, já observadas por alguns pais da Igreja, como Justino e Tertuliano.

Sua festa principal se celebrava no 25 de dezembro, dia do solstício de inverno, coincidindo assim com o nascimento do "sol invencível" e vitorioso das trevas (dies natalis Solis invicti Mitra).

Segundo a lenda, Mitra nasce da "pedra" (petra genitrix) à beira de um rio, portando em suas mãos a espada e a tocha, símbolos associados à Justiça e à purificação pelo fogo e pela luz da Inteligência.

Trata-se, pois, de uma deidade eminentemente solar (os gregos chegaram a vinculá-lo com o próprio Apolo, e também com Hércules), o que está claramente indicado na própria raiz mir constitutiva de seu nome, que significa "sol".

Assim o testemunha o imperador Juliano (iniciado nos mistérios mitraicos pelo filósofo neoplatônico e pitagórico Máximo de Éfeso) quando se dirige a Mitra nestes termos:

"Este Sol, que o gênero humano contempla e honra desde toda a eternidade, e cujo culto faz sua felicidade, é a imagem viva, animada, razoável e benfeitora do Pai Inteligível".

Outro significado de seu nome é o de "chuva", mas entendida em seu aspecto de "orvalho" vivificador, símbolo do descenso das influências espirituais.

Num antigo hino iraniano se diz que Mitra está sempre desperto e vigilante, observando cuidadosamente todas as coisas. Vai à chamada dos débeis, e seu poder é empregado sempre a favor do gênero humano.

Mitra é, efetivamente, o amigo e protetor dos homens, o que lhes infunde as virtudes heroicas: o valor, a força interior, a lealdade, a fraternidade, e como deidade intermediária entre o mundo superior e o inferior, é também (tal qual Hermes) o guia que os conduz em sua ascensão para a origem através das esferas planetárias.

Neste sentido, assinalaremos que entre os romanos os mistérios de Mitra se dividiam em sete graus, em correspondência com a escala planetária, mas disposta na ordem seguinte:

Lua, Vênus, Marte, Júpiter, Mercúrio, Sol e Saturno.

Ditos graus recebiam os nomes de Corvo (Corax), Oculto –ou Noivo– (Cryphius), Soldado (Miles), Leão (Leo), Persa (Perses), Correio –ou Companheiro– do Sol (Heliodromus), e por último Pai (Pater).

Os três primeiros constituíam um período de preparação, durante o qual o adepto devia morrer para sua condição anterior, o que está claramente expressado pelo Corvo, cuja cor escura simboliza precisamente a fase de nigredo ou morte alquímica.

Durante esse período, era instruído pela "força forte das forças" e pela "Reta incorruptível", instando-lhe a um "persistir da potência da alma numa pura pureza".

Os mistérios culminavam com a obtenção do grau do Pai, através do qual –como hierofante (pater sacrorum, pater patrum) e chefe da comunidade mitríaca– atingia-se o Princípio incondicionado, morada dos Bem-aventurados, "aonde já não existe um aqui ou um ali, senão que é calma, iluminação e solidão como num oceano infinito".

Os ritos se celebravam em cavernas e criptas subterrâneas chamadas mitreums, que constavam de dois níveis, um superior e outro inferior, representando respectivamente o céu e a terra.



Nessas criptas se encontravam figurados os símbolos fundamentais da cosmogonia hermética: os círculos planetários, a roda zodiacal, e os ciclos dos elementos, onde o fogo aparecia como o principal agente purificador. Em cima do altar, encontrava-se a efígie de Mitra no momento de imolar com sua espada o touro primordial ("Mitra tauróctono"), cujo sangue vertido em terra a fecundava, surgindo dela o trigo e o "pão de vida", alimento de imortalidade.

Como manifestação da potência geradora da natureza, este animal é também o símbolo dos influxos lunares e telúricos, que determinam a existência do mundo inferior, e que no homem se expressam através de sua ânima ou energia vital.

É dita energia, em seu estado de "pedra bruta", que Mitra "doma" e "sacraliza" quando cavalga o touro, direcionando-a num sentido superior, até convertê-la no motor ou fogo sutil que faz possível a transmutação e a regeneração.

Texto: Federico Gonzalez

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