13 de outubro de 2009

INTRUÇÃO À GEOMETRIA SAGRADA I

"A geometria sagrada obedece às leis cósmicas e expressa graficamente as relações e proporções entre os mais diversos polígonos regulares e especiais. Expressa a própria harmonia musical e, como a música, diz coisas que o nosso intelecto sozinho, sem a colaboração do centro emocional, não pode compreender. Usamos a geometria sagrada e o eneagrama, com as suas relações e analogias gráficas, para aceder os centros superiores, cuja linguagem é simbólica e directa, levando-nos a subconscientemente reconhecer a ordem no meio do caos". (Gurdjieff)

A geometria existe por toda parte na natureza: a sua ordem subjaz à estrutura de todas as coisas, das moléculas às galáxias, do menor vírus à maior baleia. Apesar do nosso distanciamento do mundo natural, nós, os seres humanos, ainda estamos amarrados às leis naturais do universo.

A geometria - termo que significa "a medição da terra" ¬ talvez tenha sido uma das primeiras manifestações da civilização em seu nasce douro. Instrumento fundamental a tudo o que é feito pelas mãos humanas, a geometria desenvolveu-se de uma habi¬lidade primitiva - a manipulação da medida, que nos tempos an¬tigos era considerada um ramo da magia.

A harmonia inerente à geometria foi logo reconhecida como a expressão mais convincente de um plano divino que subentende-se ao mundo, um padrão metafísico que determina o padrão físico. Esta rea¬lidade interior, que transcende a forma exterior, continuou a ser ao longo de toda a história a base das estruturas sagradas.

A proporção e a harmonia seguem naturalmente o exercício da geometria sagrada, que parece correta porque ela é correta, ligada como está metafisicamente à estrutura esotérica da matéria.

A geometria sagrada está inextricavelmente ligada a vários prin¬cípios místicos. Talvez o mais importante deles seja aquele que se atribui ao fundador da alquimia, Hermes Trismegisto, o Três Vezes Grande Heimes. Esta máxima é o fundamental. "Acima, como abai¬xo" ou "O que está no mundo menor (microcosmo) reflete o que está no mundo maior ou universo (macrocosmo)"

Assim, a geometria sagrada diz respeito não só às proporções das figuras geométricas obtidas segundo a maneira clássica com o uso da régua e compassos, mas também às relações harmônicas das partes de um ser humano com um outro; à estrutura das plantas e dos animais; às formas dos cristais e dos objetos naturais - a tudo aquilo que for manifestações do continuum universal.

Os princípios norteadores da geometria sa¬grada transcendem as considerações religiosas sectárias. Como uma tecnologia que tem o objetivo de reintegrar a humanidade no todo cósmico, ela funcionará, como a eletricidade, para todas as pessoas que observarem os critérios, não importa quais sejam os seus prin¬cípios ou propósitos.

A aplicação universal dos princípios idênticos da geometria sagrada em lugares separados no tempo, no espaço e por crenças diferentes atesta a sua natureza transcendental.

Assim, a geometria sagrada foi aplicada nos templos pagãos do Sol, nos reli¬cários de Ísis, nos tabernáculos de Jeová, nos santuários de Marduk, nos santuários erigidos em honra dos santos cristãos, nas mesquitas islâmicas e nos mausoléus reais e sagrados. Em todos os casos, uma cadeia de princípios imutáveis conecta essas estruturas sagradas.

Por ser a geometria uma imagem da estrutura do cosmos, ela pode ser facilmente utilizada como um sistema simbólico para a com¬preensão de várias estruturas do universo. Todos os padrões geométricos refletem, verdades que estão muito além das suas simples derivações, mesmo os complexos relaciona¬mentos com outras geometrias. A estrutura deles está em harmonia com o universo e com todas as formas físicas, estruturais e psico¬lógicas que constituem a unicidade.


Toda forma geométrica está investida de significado psicológico e simbólico. Assim, tudo aquilo que é feito pelas mãos do homem e que incorpora esses símbolos de uma maneira ou de outra torna-se um veículo para as idéias e as concepções corporificadas em sua geometria. Através dos tempos, as geometrias simbólicas complexas agiram como a base para a arquitetura sagrada e profana, variando a geometria de acordo com a função.

Algumas geometrias continuam sendo ainda hoje poderosas imagens arquetípicas da fé: logo ocorre à nossa mente, com símbolo do judaísmo, o hexagrama. Outras geometrias foram menos conhecidas pelo público, sendo usadas para indicar àqueles que "estavam a par" alguma verdade esotérica, como o Vesica Piscis do tampo da Fonte Chalice em Glastonbury. Outras, todavia, estão ocultas nas profundezas dos artefatos místicos - ou até mesmo nas brincadeiras das crianças.

Onde quer que a geometria tenha sido usada, consciente ou inconscientemente, o seu simbolismo ainda se faz presente. Através de todo o universo conhecido, a função da sua geometria é um valor imutável da existência transitória.

O círculo:
Talvez o círculo tenha sido o símbolo mais antigo desenhado pela raça humana. Simples de ser executado, é uma forma cotidiana encontradiça na natureza, vista nos céus como os discos do sol e da lua, e ocorre nas formas das plantas e dos animais e nas estru¬turas geológicas naturais.

O círculo representa o completamento e a totalidade, e as estruturas redondas ecoam peculiarmente esse princípio.

"Faze um círculo ao redor do homem e da mulher e desenha fora dele um quadrado e fora do quadrado um triângulo. Faze um círculo ao redor dele e terás a pedra dos filósofos.”(Rosarium Philosophorum.


O círculo contém aí a imagem do homem, como no famoso desenho virtuoso de Leonardo da Vinci. Com base nesta figura fun¬damental, pode-se produzir o quadrado e, depois, as outras figuras geométricas. A pedra dos filósofos, a súmula de todas as coisas e a chave para o conhecimento, é produzida dessa maneira e representada pelo círculo, a figura matriz de que podem ser geradas todas as outras figuras geométricas.

Essas figuras - o vesica piscis, o triângulo eqüilátero, o quadrado, o hexá¬gono e o pentágono -, todas elas mantêm relações diretas umas com as outras.
O quadrado

Geometricamente, o quadrado é uma figura única. Pode ser dividido com precisão por dois e por múltiplos de dois apenas com um esboço. Também pode ser dividido em quatro quadrados quando se faz uma cruz que define automaticamente o centro exato do quadrado. O quadrado, orientado para os quatro pontos cardeais (no caso das pirâmides egípcias, com um exatidão fenomenal), pode ser novamente bisseccionado por diagonais, que o dividem em oito triângulos. Essas oito linhas, partindo do centro, formam os eixos que indicam as quatro direções cardeais e os "quatro cantos" do mundo - a divisão óctupla do espaço. Representando o microcosmo e, em conseqüência, considerado como um emblema da estabilidade do mundo.

O hexágono:


O hexágono é uma figura geométrica natural produzida pela divisão da circunferência de um círculo por meio dos seus raios. Os pontos da circunferência são conectados por linhas retas e produzem uma figura com seis lados iguais.

É produzido naturalmente na fervura e na mistura de líquidos. O físico francês Bénard observou, durante as suas experiências de difusão em líquidos, que os padrões hexagonais se formavam freqüentemente em toda a superfície. Sujeitos às mesmas forças universais de viscosidade e de difusão, padrões similares são criados naturalmente num líquido fervente. O hexágono natural mais bem conhecido é aquele que se vê nos favos das abelhas.

A relação direta do hexágono com o círculo está ligada a uma outra propriedade interessante segundo a qual os vértices alternados dessa figura podem ser conectados por linhas retas para a produção do hexagrama. Essa figura, composta de triângulos eqüiláteros que se interpenetram, simboliza a fusão dos princípios opostos masculino e feminino, quente e frio, água e fogo, terra e ar, etc. e é, por conseguinte, símbolo da inteireza arquetípica, o poder divino da criação.

O triâgulo:
Todos os símbolos geométricos, possuem seu valor, mas o triângulo é de grande importância e a variedade em sua aplicação é difundida em todos os sistemas. É a representação simbólica de Deus. Seus pontos estão em harmonia, equilíbrio, não têm tensão. A distância é a mesma entre qualquer de seus pontos. Todas as três civilizações usaram pirâmides de Luz.

Seja pelo círculo, pelo triângulo ou pelo quadrado, o mistério da geometria sagrada conduz todas as peças e elementos da sociedade a uma herança comum, uma unidade conjunta de criatividade evolutiva presente em todas as filosofias e cosmologias precedentes e subseqüentes. Noções de geometria sagrada já eram escritas há mais de vinte e cinco séculos, e desde então este tema inesgotável tem sido tratado pelas tradições religiosas de todas as principais culturas da Ásia, Europa, Oriente Médio, África, Américas e Pacífico.

No uso hábil da geometria, encontramos sentido não apenas para os números irracionais, mas para todas as formas psicológicas que transcendem a estrutura social, como o sinal de uma cruz dentro de um círculo, um símbolo espiritual profundo de irmandade reconhecido por seus adeptos. Na geometria sagrada a vitória superior da consciência é encontrada através do poder do Espírito Supremo.
Fonte: "Geometria Sagrada", Nigel Pennick.

Um comentário:

Obrigada por sua atenção!
Paz Profunda!