26 de maio de 2010

PERCEBER A PARTE COMO O TODO


"O tempo e a mente são inseparáveis" (Eckhart Tolle)

Quando se diz é preciso o ser se libertar da Mente, na verdade o que se pretende dizer é que ele tem que se libertar das limitações que são a mente.

A consciência contém o todo e a parte. Mesmo que se considerem as partes como sendo ilusões ainda assim elas, de certa, forma existem, mesmo como ilusões elas existem, e se existem devem constar no “É”. Seja qual for a coisa, ou condição, real ou ilusória deve fazer parte do “É”, sendo assim mesmo as ilusões são partes integrantes da Consciência.

Na verdade não é mente quem contém as ilusões, mas sim estas que contêm a mente, ou melhor, constituem a mente. A Consciência deve de dar conta das manifestações da mente para que ela – o ser – não seja dominado.

Por ser um tanto difícil a compreensão do que estamos dizendo por se tratar de algo muito abstrato, então vamos usar como analogia o conto: “O Elefante e o Marajá”:

“Visando divertir um Marajá visitante, foi mandado apresentar um elefante a vários cegos, mas de forma que a cada um fosse mostrado apenas uma parte distinta e não o animal como um todo. Depôs, na presença do Marajá foi mandado que cada um dos cegos descrevesse o que era um elefante. A confusão foi tremenda e terminou em luta corporal quando cada um descreveu o animal. Aquele a quem haviam mostrado apenas a pata como sendo o elefante o descreveu de uma forma; ao que haviam mostrado a tromba, de outra; ao que havia haviam mostrado apenas a orelha, de uma outra”.

A luta aconteceu porque não pôde haver concordância entre os cegos a respeito do que era um elefante, a respeito do qual cada um tinha uma idéia diferente conforme o que havia percebido e consequentemente entendido. Neste conto vale a indagação: qual a realidade e qual a ilusão? - É fácil notar que a realidade era o elefante como um todo, enquanto que cada parte era uma ilusão de ser o elefante. Mesmo assim vale salientar que as partes mesmo sendo ilusões, mesmo sendo ilusões concernentes à totalidade, ainda assim não deixavam de serem partes do elefante.

Neste exemplo o elefante pode ser comparado com a consciência e as partes como as ilusões pertencentes a um contexto que chamamos de mente.

Para eliminar a luta dos cegos não seria preciso destruir as partes, mas apenas fazer cada um entender que estava sob a ação da ilusão da existência da parte como sendo todo. Evidentemente não seria fácil um cego perceber o todo, mas naturalmente bastaria que lhes fossem apresentadas as demais patês. Para libertá-los da ilusão seria preciso admitir que idéia que tinha do elefante não passava de uma ilusão de totalidade (não estamos afirmando se tratar de uma alucinação – percepção sem objeto – mas sim de uma ilusão – percepção com objeto. As partes do elefante existem, contudo elas não o ele), que percebera apenas partes e conseqüentemente aquilo que perceberam era Maya.

Esse conto pode ser a aplicado aos seres humanos; as pessoas correspondem aos cegos que, mesmo não percebendo o Todo da Consciência ainda assim acreditavam ser as frações percebidas a realidade. Dizer que a tromba seja a realidade de um elefante é mera ilusão, assim também dizer que as percepções que se tem são verdadeiras no tocante à realidade plena.

Os seres não percebem o todo – Consciência – mas somente as partes – mente. Para chegar a perceber a realidade – o Todo – é preciso entender que aquilo que é percebido, tanto objetiva quanto subjetivamente, é apenas parte da consciência filtrada pela mente.

Aqueles cegos estavam presos à ilusão da parte ser o todo e realmente para eles não era fácil admitir que o outro tivesse razão. A razão dele não comporta a do outro e muito menos a de todos eles compondo a realidade plena. Somente cientificando-se da verdade, o que implicaria no sentir que sua concepção era apenas uma parte de algo distinto, seria a forma de se libertar de ter a certeza de viver na ilusão e de ser ela a verdade. Baseado nisto, podemos dizer que o ser a fim de se libertar necessita recordar sua real natureza, ou seja, se tornar um recordado e então perceber como consciência e não como mente.

As ilusões que integram a mente são partes da consciência, assim podemos dizer que a mente só se manifesta dinamicamente, quando em atividade. As partes do elefante só se manifestou ativamente como algo independente quando ativadas pelos cegos. Fora disto ela apenas existem no elefante (Quando dizemos ativamente nos referimos ao processo de identificação e não a atividade que cada parte exerce no animal). Há correspondência entre isto e a mente.

Para existir como algo independente da Consciência ela procura sempre negá-la para substituí-la. Por esta razão é que há tanto empenho para manter a ilusão como verdade, para conservar a qualquer custo as ilusões que lhes dão sustentação.

Acontece como se as partes do elefante para continuarem a ocupar o lugar dele como um todo procurasse de todas as formas preservar tudo aquilo que lhe servisse de sustentação, até mesmo os próprios cegos. Fizesse tudo para que estes não passassem a enxergar. Pois a partir do momentos que eles viessem a enxergar a partes desmoronaria como todo, cada uma continuaria existindo no elefante, mas não mais tidas como sendo este em sua plenitude.

Assim, para um dos cegos sentir que a parte não era o todo do elefante não seria preciso destruir a parte e sim, de alguma forma, cientificá-lo disto, de forma a não deixar dúvidas. Veja-se que destruir as partes acabaria por destruir o próprio elefante. Uma parte apenas que fosse destruída já não se poderia que o restante era o elefante completo.

O mesmo se pode dizer quanto à mente. Não é destruindo a mente que se liberta o ser, mas fazendo-o entender a verdade que as ilusões são ilusões e não a totalidade. Destruir as ilusões, destruir a mente é o mesmo que destruir a própria Consciência. Consciência é infinito e a infinito nada pode ser adicionado e nem tirado.

O objetivo mais elevado da Senda Mística, e o propósito essencial da V.O.H., é ensinar meios da pessoa se libertar da mente, não tentando destruí-la, por ser isto impossível, mas compreendendo os modos como ela se impõe e não deixando que este o aprisionem. Não vale tentar destruir o dominador, mas sim os elos que mantém o ser prisioneiro.

Em outras palavras, conviver com a mente sem se identificar com ela, pois a destruição seria o mesmo que a eliminação da Consciência. Logicamente uma condição impossível para qualquer ser. Se viesse acontecer ocorreria a volta à Inefabilidade.

Não dizemos que mente e consciência sejam polaridades, mas para o nosso entendimento pode ser assim aceito. Não é possível se destruir um pólo sem que se destrua o outro, desde que ambos são aspectos de uma mesma coisa. Já vimos em temas sobre polaridade que ao se unirem as polaridades chega-se ao Infinito, e então aquilo que antes existia como imanência passa a existir apenas como transcendência.

Baseado no que dissemos sobre a impossibilidade da mente ser destruída, vamos transmitir ensinamentos que visam a entender os laços que mantém o ser distanciados da Consciência Clara, e assim poder fazer com que o domínio sobre os distintos laços sejam sucessivamente desfeitos até quando estes já não sirvam de corrente aprisionante. Desfeito todas os elos o ser estará livre sendo então apenas Consciência.
(José L.Egito-FRC)

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