14 de junho de 2010
Astrologia do passado
Nada mais interessante imaginar que Astrologia possui em torno de duzentos e cinqüenta pais históricos, contando apenas dos helênicos para cá. Isto pode significar que para a obtenção de uma construção coerente do pensamento Astrológico, desde suas origens até hoje, ao menos uns cinqüenta títulos básicos são de leitura obrigatória. Segundo o historiador Alexander Gurshtein , Astrologia é uma Ciência de oito mil anos, que datou o primeiro Zodíaco sistematizado, já em doze signos há seis mil anos antes de Cristo, de origem Suméria.
Análogo aos estudos de filosofia, onde o pensador não pode deixar de tomar contato com as obras de Aristóteles e Platão, que está há dois mil e quatrocentos anos da presente data, o Astrólogo que estuda apenas autores contemporâneos equivale a um filósofo que só estudou Carl Popper (nenhum menosprezo a autores contemporâneos, ou à Popper que considero um grande pensador). Não se trata de apologia ao mofo e sim da construção coerente do pensar Astrológico em torno dos estruturadores de suas bases. Se casas, aspectos, progressões, lunações e direções primárias são técnicas que funcionam, quem as construiu? Não seria no mínimo descuido de nossa parte deixar de estudá-los ou sequer saber como enxergavam a Astrologia? Afinal, como podemos entender o pensar astrológico sem este domínio?
Alguns destes textos básicos é o "Tetrabiblos" de Cláudio Ptolomeo, muito útil para se entender o sentido e os fundamentos da Astrologia como ciência natural. Nele, já encontramos inclusive estudos das direções primárias (aproximadamente 150 d.c.) e a Astrologia Mundial, entre outros tópicos. Não estudar isto equivale a não ter lido "República" de Platão, na filosofia ou "O capital" de Marx, em Sociologia. Outros textos básicos são o "De Caelo" e "Metafísica ". O "Timeu", de Platão, é essencial para se entender o sentido original da Astrologia e seus fundamentos. Os estudos de Geografia e Astronomia do Geógrafo de Alexandria Eratóstenes não poderão deixar de ser considerados, bem como os do Astrônomo Eudoxo de Cnido.
Outros astrólogos que influenciaram séculos de pensamento podem ser igualmente importantes quando se quer entender o significado da Astrologia. Alguns títulos como o "Astronomicon" do poeta Marcus Manílius são referências importantes para se entender as futuras confusões que as pessoas faziam e fazem até hoje entre as constelações e Signos eclípticos, por exemplo (infelizmente, alguns astrônomos também).
Os estudos dos papiros de Letius Valens de horóscopos gregos por exemplo, podem ser encontrados em ricos e minuciosos comentários no "Greek Horoscopes" de Oto Neugebauer e Van Hoesen . Em torno de duzentos papiros são comentados, além de um extenso estudo de datação. Pode-se nesta obra, por exemplo, perceber aspectos interpretativos que estão totalmente esquecidos nos dias de hoje. Não havia uma distinção entre mapa natal e planilha de previsões.
Outro texto chave é o Caibalion, que contém uma das mais importantes e ricas formas de se entender a cosmologia do Egito levada para Grécia. Nele, são discutidas as sete leis cosmológicas de Hermes-Thoth: o ritmo, a vibração, a polaridade, a causa e o efeito, o mentalismo (antecipando as ciências cognitivas), o princípio do gênero (sem o qual não se entende a questão dos gêmeos em Astrologia ) e o princípio da correspondência, de onde saiu a expressão : "O que está em baixo é análogo ao que está em cima". O "Corpus Herméticum", atribuído a hermetistas gregos, traduzido do grego pelo astrólogo e filósofo Marcílio Ficino (Séc XV), é outro texto que não pode deixar de ser estudado com atenção. Em um de seus capítulos, o efeito astrológico é discutido na ação dos "Daimons ", forças misteriosas que lembram muito as idéias do "universo interligado" da Física moderna.
Outros autores interessantes são: Al Biruni, e seu " O livro de Instruções dos elementos da Arte da Astrologia", do Séc XI, os textos de São Thomas "Suma contra os gentios" e "Suma Teológica", onde o filósofo, discípulo de Alberto Magno (um grande estudioso do Aristotelismo e da Tradição Hermética) discorre sobre a ação dos corpos celestes sobre o humano. Seus limites de efeito, a liberdade, e a defesa da Astrologia como ciência lícita entre os cristãos é apresentada com uma elegância singular.
Outros autores como Francis Bacon "Teoria do Céu", e a maravilhosa obra de Kepler : Harmonica Mundi , onde o Astrônomo e Astrólogo, invoca a profunda relação entre as proporções do universo e as leis de ondulatória, relacionando a Astrologia com a Música de uma forma curiosa e inventiva. O "Primum Móbile" de Placidus de Titius e o o "Anima Astrologiae" de Guido Bonatus podem compor uma sinfonia que ecoa do passado, como um reflexo vivo de mentes que se dedicavam ao estudo da Astrologia há mais de quatro ou cinco séculos atrás. Dentre estes, podemos destacar também o "Chirstian Astrology", de William Lilly, ( Sec XVII ) em um maravilhoso tratado que apresenta desde as bases elementares da Astrologia, até o estudo das direções primárias. A obra de Lilly, repleta de uma astrologia árabe, apresenta-se em um inglês para lá de clássico, e em tipografia original.
Entre os inúmeros textos antigos que coleciono e estudo, está a obra mestra de Morin de Villefranche: o Astrologia Gallica (Astrologia da Gália antiga França) em um único tomo, em latim de província . O pai da Astrologia Moderna discute todo o edifício da Astrologia desde os antigos, até seus contemporâneos. No tomo XXI "Teoria das determinações, Morin expõe sua "Astrosintesis" técnica hoje conhecida como "Dinâmica de Interpretação" de mapas natais. O Tomo XXII "Direções Primárias", também traduzido para o Inglês, trata da questão das previsões. Este texto encadernado pesa com capa de couro e caixa de suporte, vinte e quatro quilos, e se poderia estudá-lo durante toda uma vida.
Outros exemplares do "Astrologia Gallica" estão nas mãos do estudioso paulista José Maldonado, professor de Física e Astrólogo e também o professor de Astrologia Raul Varela, no Rio de Janeiro, um fac-símile idêntico ao da foto, pertence ao acervo da "Astrocientiae", de propriedade do astrólogo Érico Vital Brasil, um grande incentivador da Astrologia Clássica no Rio de Janeiro. É louvável também o trabalho de tradução para o português do "Minha vida perante os astros", de Morin, por Márcia Bernardo (Diretora da escola Santista de Astrologia - SP), num curioso e divertido estudo de Morin sobre os métodos de previsões. São muitas as raridades e seu campo quase tão vasto quanto o das estrelas. Todos os dias, novas publicações do alemão traduzidas para o Inglês e Francês de estudos cuneiformes nos revelam muito da Astrologia da Mesopotâmia e Babilônica, pré Gregas.
Todo astrólogo que estudou seriamente acabou se tornando um arqueologista ou um restaurador de conhecimento em Astrologia. Ler em línguas antigas e outros idiomas é antes de fundamental, necessário. Cabe ao leitor, se desejoso de se aprofundar no tema, comprar um bom livro de História da Astrologia, e daí, pacientemente, ir colecionando por toda uma vida os livros (não só antigos, obviamente) de um saber tão antigo quanto a própria civilização.
(Texto de Carlos Fini - Astrólogo)
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