21 de junho de 2013

A CRIATURA XIV



Comentamos que nas primeiras encarnações no reino Humano, a individualidade nascente vivencia uma pressão intensa de duas forças oponentes. De um lado a força das tendências instintivas pressionando para que o indivíduo retorne às práticas, agora impróprias, dos costumes que vivenciou nos reinos anteriores.

Do outro lado o irresistível fluxo de vida, impulsionando na direção do progresso. Neste início de vida individualizada a principal faculdade que atua nesse ciclo evolutivo de vida é o sentimento de Egoísmo.

Nessa etapa ele é indispensável. E vejamos porque.

Annie Besant, a ilustre e competente sucessora de Helena Petrovna Blavatsky na condução dos destinos da Sociedade Teosófica, portanto uma respeitável autoridade no assunto, em seu livro O PODER DO PENSAMENTO, fazendo referência à imposição que melhor caracteriza o Ser, diz que, para a Consciência se tornar a Conhecedora das indescritíveis experiências que vivenciará, terá, antes, que convencionar um sistema que defina a posição entre ela e os corpos que usará. Isto é, definir quem é quem. Vejam isso numa figura.

A figura nos descreve que a Consciência é o verdadeiro Eu, sendo, portanto, o único Conhecedor. Os corpos usados nos diferentes reinos são apenas elementos de contato com ditos ambientes. Ou seja, são instrumentos que tornam possível à consciência fazer-se conhecida e conhecer dali.

Além disso, a figura também demonstra que a consciência estimula os seus corpos, lançando sobre eles seu raio de vida, ao mesmo tempo em que é por estes estimulada.

Portanto, uma via de duas mãos de trânsito onde, ao final, todos os extremos são beneficiados.

A Consciência evolui com as experiências colhidas através de seus corpos, enquanto que as matérias que formam estes dão também um passo à frente, pois que na pequenez de seus átomos exercitam-se consciências iniciantes. (Falaremos disso detalhadamente mais tarde).

Isso significa que entre a Consciência e o corpo de que no momento se utiliza em algum plano de manifestação, há um entrelaçamento lógico e inseparável para que ocorra a duração da vida deste.

Conclusão - se houvesse alguma dúvida - : a Consciência é o ente supremo, formador e conservador desse conjunto de que aqui se trata.

Embora, definitivamente convencionado quem é quem, como demonstra a figura, achamos, porém, que os comentários que se seguiram não são suficientes para esclarecer a questão no todo. Por isso seguiremos nas informações.

A consciência, ou a Mônada, ao iniciar suas experiências no reino Humano ainda se encontra misturada a tantas outras, igualmente sem definição própria de rumos a tomar.

Para solucionar a questão é preciso dota-la de instrumento que lhe permita tomar decisões frente a cada situação nova que as experiências, daqui para frente, exigirão, pois que dela, doravante, se cobrará responsabilidades.

Para essa providência entra em cena a força aglutinante chamada Egoísmo.

A figura a seguir ajudará na compreensão da razão que justifica ser o sentimento de Egoísmo necessário e indispensável nessa etapa.

No quadro "A" da figura temos o que se poderia chamar de indivíduos iniciais. Os Elementais que estudamos anteriormente. Destes, ainda não se pode cobrar responsabilidades, pois, pensam e agem em grupos sob tutela de um Deva diretor.

No quadro "B" aparecem os indivíduos, agora, "separados" uns dos outros. Ao redor de cada um, forças aglutinantes formam um campo gravitacional, respectivo e exclusivo.

Essas forças aglutinantes são o que estamos chamando de sentimento de Egoísmo, e o campo gravitacional, - estamos usando esse nome apenas para nossa conveniência de estudo - , se torna uma espécie de "invólucro" que vem de "separar" um indivíduo do outro.

As palavras "invólucro" e "separar" as colocamos entre aspas porque denominam uma subjetividade. Isto é, em realidade esse invólucro não existe e a ideia de separatividade entre os seres é a mais ilusória das ilusões. (Desculpem a redundância, mas é proposital).

Todavia, apesar da subjetividade, são indispensáveis por um longo período da existência inicial no reino Humano.

Prossigamos. Desse desenvolver formou-se a conceituação que a ciência psicológica rotulou de Egocentrismos.

Pela ação irradiante de tal campo, os corpos que dita consciência, também chamada de EGO, vier a possuir, serão de exclusivo uso dela.

A figura seguinte nos mostra que tudo que aos corpos influir convergirá à única dona, a Consciência Individualizada.

Os efeitos de tudo que se originar exteriormente e vier a tocar nos corpos se centrará naquele EGO.

Sem esse magnetismo que é o concentrador da Consciência em si mesma, ela só poderia continuar a vivência cósmica desde que fosse junto a reinos grupais. Jamais viria a ser um Indivíduo tal qual nós nos conhecemos.

Como toda a descrição acima apela, sobremaneira, para a imaginação, para facilitar o entendimento vejamos a seguir um exemplo comparativo numa outra figura.

A figura é uma tentativa para descrever porque nessa fase de formação definitiva do indivíduo o sentimento chamado egoísmo é necessário e até benéfico.

O quadro "A" mostra a metade de uma laranja. A forma de representar a laranja é para tornar visível o que desejamos mostrar: o conjunto dos gomos da fruta.

A laranja inteira representa o TODO de um sistema qualquer, no qual se acham encerrados incontáveis indivíduos. Além disso, a palavra sistema faz subentender que há um limite. No exemplo, o limite do sistema é a casca da fruta.

Só para ficar bem claro, repetimos que dentro da casca, ou do sistema, se encerra um número incontável de indivíduos.

O quadro "B", mostra uma parte daquele TODO, ou uma parte do Sistema. É um gomo da laranja. Também o representamos partido, no qual se vê inúmeras gotículas do sumo da fruta.

As gotículas representam os indivíduos pertencentes àquela divisão do Sistema, e a membrana que os envolve, dando forma ao gomo, representa, justamente, a "separatividade" entre as partes do Sistema. Isto é, a membrana separa os indivíduos situados numa partição do Sistema, dos demais situados nas outras partições.

Expliquemos: Num sistema os indivíduos estão separados por classes, ou tipos, conforme os planos nos quais se encontram.

Exemplo: os do plano Físico estão separados daqueles outros contidos no plano Astral. Não obstante, embora subjetivamente assim "separados", o Sistema é um só.

Também, por outro exemplo, podemos ver a membrana como divisória de regiões geográficas aqui no plano Físico. Indivíduos que habitam uma cidade e outros que residem noutra cidade. Cada cidade, em si, seria o invólucro que a membrana do gomo da laranja quer expressar.

Apesar dos indivíduos de uma cidade estarem, fisicamente, separados dos indivíduos da outra cidade, todos, porém, habitam o mesmo planeta, num dos planos existenciais de um mesmo Sistema.

O quadro "C", mostra, isoladamente, uma gotícula do sumo da fruta. Este é o indivíduo. Embora a seiva contida numa gotícula seja exatamente igual à seiva de todas as demais gotículas da mesma laranja, para não se misturarem e se diluírem entre si, cada gotícula está encerrada numa embalagem cujo invólucro é uma delicada película.

E aqui vai a comparação que se deseja fazer com a descrição feita no início deste texto: Sendo a gotícula a representação do indivíduo num Sistema, a delicada película que o isola dos demais, representa o sentimento de Egoísmo. Em razão dessa somatória de envoltórios que se superpõem, representados que foram pela casca da laranja e da membrana do gomo, o resultado é a consolidação total do Ser.

Para melhorar ainda mais nosso raciocínio, refaçamos a descrição acima usando de outras palavras.

O sumo da fruta, usada como exemplo figurativo, é o nosso EU, a consciência ou EGO. A delicada película que envolve a gotícula é o sentimento chamado de Egoísmo.

Nesse início de individualização esse sentimento se torna necessário, como dissemos linhas atrás, para, por seu mecanismo e ação psíquica, fixar naquele Ser o senso de individualidade. Lembrem-se que ele está recém chegado dos reinos onde as criaturas lá viventes não possuem individualidade, mas, ao contrário, misturam-se anonimamente, desaparecendo no conjunto. Exatamente o oposto do que agora lhe acontece, onde se destaca dos demais por força de sua exclusiva vontade.

Esse senso de individualidade irá, gradativamente, força-lo a substituir os automatismos instintivos pelas tomadas de iniciativas que obrigatoriamente virão, devido ao necessário uso da observação e comparação sobre as experiências que de agora em diante passará.

É o despertamento, no indivíduo, a partir do nível físico, daqueles aspectos que se lhe fixaram na etapa de descenso, quando passou pelos planos Átma, Búdhico, Mental Superior, Mental Inferior e Astral. Quais sejam, os aspectos Vontade, Sabedoria, Atividade, Pensamento e Sensação. Nas experiências que agora vai vivendo tem e terá as necessárias oportunidades de provar daqueles temperos.

Sem esta alavanca do Egoísmo o indivíduo permaneceria como, e apenas, animal pensante. Seria uma coletividade de anônimos. Jamais individualizados, verdadeiramente. Tal qual se sucede com os gomos da laranja que é espremida. Todo seu caldo, dantes separado em pequenas gotículas, volta a ser um só volume a encher um copo. Naquele volume não se distingue os "indivíduos" que há bem pouco eram gotículas.

Nesse passo progressivo que irresistivelmente o arrasta na direção da evolução, obscurece-se o animal que foi, e desperta o HOMEM !

Outro grande benefício de tudo isso é que, por ser o sentimento de Egoísmo uma força centrípeta, seus impulsos levam a individualidade nascente a solidificar-se em si mesma. Sem ele, como já se disse, ocorreria a possibilidade de, diante dos desafios da vida humana, o indivíduo acovardado preferir "diluir-se" no conjunto para nele desaparecer.

Aliás, essa é a impulsão que leva um indivíduo ao suicídio. Ilusória tentativa de fuga e desaparecimento, quando se sente impotente diante dos desafios.

Todavia, depois de definitivamente formada a individualidade, inicia-se no Ser outro processo desenvolvimentista. Desta vez para corrigir as anomalias causadas pelo excesso de centralização do Ser em si mesmo, pois, neste caso, aí sim, este estado de centralização pode torna-lo perigoso para seus semelhantes.

Como se trata de assunto de inquestionável importância, ele será tratado ao longo dos próximos textos.Passemos agora a um esclarecimento adicional, e também indispensável.

A forma conceitual que na atualidade se atribui ao sentimento de egoísmo, nada se compara com a motivação justa que levou à sua criação. O sentimento condenável não é o mecanismo do Egoísmo de cuja consequência tem-se o indivíduo, e que acima ficou esclarecido.

O que se condena é a modalidade de procedimento do homem que, embora intelectualmente desenvolvido, teimosamente se comporta numa continuada exteriorização dos reflexos de suas últimas experiências nos reinos Animal e Elemental.

E essa forma hodierna se torna condenável porque quando se juntam os reflexos do instinto animal somados ao raciocínio analítico que agora possui, temos, como resultado, uma criatura artificiosa no mal. Ou, um criminoso deliberado. Não importa em que instância atue com sua maldade e covardia.

Sejam nos crimes da chamada marginalização popular, ou nos que se apresenta como pessoa de bem, engravatado quando homem, ou em estilo socialite quando mulher.

São os executivos(as) das grandes empresas, os(as) políticos(as), os(as) governantes(as), os(as) legisladores(as). É, de fato, um (uma) criminoso(a) deliberado(a). É o requinte da inteligência sendo usado nos planejamentos de ordem negativa.

Mas essa questão veremos, com maiores particularidades, quando nosso estudo atingir a análise do homem moderno, nos textos que se seguirão.

(Texto: Luiz Antonio Brasil - Continua)

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