3 de julho de 2012

TARÔ E A MAGIA


A magia é a ciência e arte de fazer com que ocorra mudança em conformidade com a vontade. Em outras palavras, a magia é ciência, pura e aplicada. Esta tese foi desenvolvida extensivamente pelo Dr. Sir J. G. Frazer. Mas, na linguagem corrente, a palavra magia tem sido usada com o significado do tipo de ciência que as pessoas comuns não compreendem. É neste sentido restrito, na maioria das partes, que essa palavra será empregada neste ensaio. O conhecimento adquirido pode então ser usado na ciência aplicada, que indaga: Como podemos empregar da melhor forma esta ou aquela coisa ou idéia para o propósito que nos parece adequado?

Os gregos da antigüidade estavam cientes de que pelo friccionamento de âmbar (que eles denominavam electron) na seda aquele adquiria o capacidade de atrair para si objetos leves como pedacinhos de papel. Mas eles pararam por aí. Sua ciência teve seus olhos vendados por teorias teológicas e filosóficas do tipo a priori. Foram precisos bem mais de 2.000 anos para que esse fenômeno fosse correlacionado com outros fenômenos elétricos. A idéia de medição era mal conhecida por quem quer que seja salvo por matemáticos como Arquimedes e astrônomos.

Os fundamentos da ciência, como é entendida hoje, foram efetivamente formulados há não mais que duzentos anos. Havia uma imensa quantidade de conhecimento, mas era quase todo ele qualitativo. A classificação dos fenômenos dependia principalmente de analogias poéticas. As doutrinas das correspondências e assinaturas eram baseadas em semelhanças fantásticas. Cornélio Agrippa escreveu sobre a antipatia entre um golfinho e um remoinho de água. Se uma meretriz se sentava sob uma oliveira, esta não daria mais frutos. Se alguma coisa parecia com alguma outra coisa, passava a participar de alguma forma misteriosa de suas qualidades.

Hoje em dia, isso soa como mera ignorância supersticiosa e absurdo, mas não se trata disto em absoluto. O antigo sistema de classificação era às vezes bom, às vezes ruim, dentro de seus limites. Mas em caso algum ele ia realmente muito longe. A engenhosidade natural de seus filósofos naturais, de fato, compensava largamente a debilidade de suas teorias, e acabou finalmente por levá-los (especialmente através da alquimia, onde eram forçados pela natureza do trabalho a acrescer o real às suas observações ideais) a introduzir a idéia de medida.

A ciência moderna, intoxicada pelo sucesso prático atingido por essa inovação, tem simplesmente fechado a porta para qualquer coisa que não pode ser medida. A velha guarda recusa-se a discuti-lo. Mas a perda é imensa. A obsessão com qualidades estritamente físicas tem bloqueado todos os valores humanos reais.

A ciência do Tarô é inteiramente baseada nesse sistema mais antigo. Os cálculos envolvidos são muito precisos, mas nunca perdem de vista o incomensurável e o imponderável.
A teoria do animismo estava sempre presente nas mentes dos mestres medievais. Qualquer objeto natural detinha não apenas suas características materiais, como era também uma manifestação de uma idéia mais ou menos tangível da qual ele dependia. A lagoa era uma lagoa... tudo bem, mas também havia uma ninfa cujo lar era a lagoa. E, por sua vez, a ninfa era dependente de um tipo superior de ninfa, a qual era bem menos intimamente ligada a qualquer lagoa em particular, porém mais às lagoas em geral, e assim por diante, até a suprema Senhora da Água, que exercia uma supervisão geral sobre a totalidade de seu domínio. Ela, é claro, estava subordinada ao Regente Geral de todos os quatro elementos. É exatamente a mesma idéia no caso do oficial de polícia, que tem seu sargento, inspetor, superintendente, comissário, sempre se tornando mais nebuloso e remoto até se alcançar o indistinto Ministro da Justiça, que é, ele próprio, o servo de um fantasma completamente intangível e incalculável chamado de a vontade do povo.

Pode-se duvidar até que ponto a personificação dessas entidades era concebida como real pelos antigos, mas a teoria era que, enquanto alguém com um par de olhos conseguisse ver a lagoa, não conseguiria ver a ninfa, salvo por algum acidente. Mas achavam que um tipo superior de pessoa, por meio de pesquisa, estudo e experimento poderia obter esse poder geral. Uma pessoa ainda mais avançada nessa ciência podia entrar em contato real com as superiores - porque mais sutis - formas de vida. Podia, talvez, fazê-las manifestar-se sob forma material.

Muito disso repousa no idealismo platônico, no qual se sustentava que qualquer objeto material era uma cópia impura e imperfeita de alguma perfeição ideal. Assim, os homens que desejavam avançar na ciência e filosofia espirituais empenhavam-se sempre em formular para si mesmos a idéia pura. Tentavam proceder do particular ao geral, princípio que serviu muitíssimo à ciência ordinária.

A matemática de 6 + 5 = 11 e 12 + 3 = 15 se achava toda aos pedaços. O avanço só chegou quando escreveram suas equações em termos gerais. X2 - Y2 = (X + Y) (X - Y) cobre todos os casos possíveis de subtração do quadrado de um número do quadrado de um outro. E, assim, o sem sentido e abstrato, quando compreendido, possui muito mais sentido do que o inteligível e concreto.

Tais considerações se aplicam às cartas tomadas do Tarô. Qual é o significado do Cinco de Bastões ? Esta carta está sujeita ao Senhor do Fogo porque é um bastão e à Sephira Geburah porque é um cinco. Está sujeita também ao signo do Leão e ao planeta Saturno porque este planeta e signo determinam a natureza da carta. Isto não é mais do que dizer que um martini seco tem em si algum junípero e algum álcool e algum vinho branco e ervas e um bocado de casca de limão e algum gelo. É uma composição harmoniosa de vários elementos que, uma vez misturados, formam um composto único do qual seria muito difícil separar os ingredientes; e, todavia, cada elemento é necessário à composição.

O Cinco de Bastões é, portanto, uma personalidade, cuja natureza é resumida no Tarô, chamando-o de Disputa.

Isto significa que, se usado passivamente na adivinhação, diz-se, quando trazido à tona, “vai haver uma luta”. Se usado ativamente, significa que o curso apropriado de conduta é a contenda. Mas há um outro ponto sobre esta carta, a saber, ela é governada do mundo angélico por dois seres, um durante as horas de luz, o outro durante as horas de escuridão. Conseqüentemente, a fim de utilizar as propriedades dessa carta, uma das maneiras é entrar em comunicação com a Inteligência envolvida e induzi-la a desempenhar sua função. Há, assim, setenta e dois anjos assentados sobre as trinta e seis cartas menores; estes são derivados do Grande Nome de Deus de vinte e duas letras, chamado Shemhamphorasch.

(Texto: Luiz Muller)

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