12 de março de 2014

O PLANO ASTRAL IV




As únicas pessoas que normalmente despertam no sétimo subplano
do plano astral, são as de aspirações grosseiras e brutais — os ébrios, os
sensuais e quejandos. A sua permanência depende da intensidade dos seus
desejos; geralmente o seu sofrimento é horrível pelo fato de, conservando
vivos os grosseiros apetites que os dominaram na terra, lhes é impossível
agora satisfazê-los, exceto, uma vez por outra, quando conseguem
apoderar-se de uma criatura viva, com vícios iguais aos seus, e obcecá-la
completamente.

As pessoas de moralidade mediana não terão de permanecer muito
tempo neste sétimo subplano. É geralmente no sexto que a sua demora se
acentuará, principalmente se os seus desejos e pensamentos predominantes
giraram em torno de coisas mundanas, porque é nessa subdivisão que
encontrarão os lugares e pessoas com quem na terra andaram mais ligadas.
O quinto e o quarto subplanos são semelhantes ao sexto. À medida que
ascendemos através deles, as associações de idéias puramente terrestres
perdem gradualmente sua importância, e há uma tendência para moldarmos
o ambiente em concordância com os mais persistentes dos nossos pensamentos.

Chegados à terceira subdivisão, reconhece-se que esta característica
substituiu inteiramente a visão das realidades do plano. Porque, aqui, os
seus habitantes criaram cidades imaginárias para si mesmos, e nelas vivem
com a sua fantasia — criações não exclusivas da imaginação de cada um
deles, como no mundo-céu, mas calcadas sobre a herança dos pensamentos
e fantasia dos seus predecessores. É nesta subdivisão que se encontram as
tais igrejas e escolas e "habitações na Summerland" de que falam os
espiritistas americanos, embora menos reais e muito menos magnificentes
para qualquer observador sem preconceitos do que para os seus
entusiásticos criadores.

O segundo subplano parece ser o habitat dos devotos egoístas e
pouco espirituais. É lá que eles usam as coroas de ouro e adoram a
representação material e grosseira da divindade peculiar da sua terra e do
seu tempo. A subdivisão mais elevada é especialmente destinada àqueles
que em vida se dedicaram a trabalhos de ordem material, mas de caráter
intelectual, e que os seguiram não com o fito de com eles bem servir e
ajudar os seus semelhantes, mas impelidos por motivos egoístas ou
simplesmente por exercício intelectual. Tais criaturas estacionam nesta
divisão por bastante tempo — deliciados por poder prosseguir na ocupação
dos seus problemas intelectuais, mas sem fazer bem a ninguém e pouco
progredindo no caminho para o mundo-céu.

Repito mais uma vez que a estes diferentes subplanos não deve ligarse
a ideia de localização no espaço. Qualquer entidade que funcione num
deles poderia ser repentinamente transportada dali para a Austrália, ou para
onde quer que qualquer pensamento momentâneo se lembrasse de a levar.
Mas o que não é lhe possível é transferir a consciência de um subplano para
o imediatamente a seguir, sem ter-se dado o processo de libertação de
matéria, a que já nos referimos. Não há, que se saiba, exceção a esta regra,
apesar de as ações de um homem, quando se acha consciente num dos subplanos,
poderem, até certo ponto, abreviar ou prolongar a sua permanência ali.

Mas o grau de consciência que um indivíduo terá num determinado
subplano, não obedece à mesma lei. Tomemos um exemplo extremo para
melhor compreensão. Suponhamos um homem que trouxe da última
encarnação tendências que exigem para a sua manifestação grande
quantidade de matéria do sétimo ou último subplano, mas que na vida
presente teve a felicidade de se convencer, logo de princípio, da
possibilidade e da necessidade de dominar essas tendências. Não é provável
que os seus esforços sejam inteiramente bem sucedidos; mas se o fossem, a
substituição no corpo astral das partículas grosseiras pelas mais sutis,
dar-se-ia regularmente, embora com lentidão.

Este processo é, na melhor das hipóteses, sempre lento e gradual, de
modo que nada mais natural que o homem em questão morresse antes tê-lo
meio terminado. Neste caso lhe restaria ainda bastante matéria grosseira na
constituição do corpo astral, suficiente para lhe prolongar a sua estada no
plano astral. Mas como a sua consciência não chegou a se habituar a
funcionar nessa matéria, e como não lhe era possível adquirir esse hábito, o
resultado seria que, embora a sua permanência nesse subplano dependesse
do tempo que essa parte de matéria levasse a desintegrar-se, ele estaria
sempre num estado de inconsciência. Isto é, ele ficaria como se estivesse a
dormir durante o período dessa permanência, e portanto, passaria
absolutamente ileso, não se sentindo afetado por nenhuma contrariedade
nem pelas misérias do subplano considerado. Diga-se de passagem que, no
plano astral, a extensão das comunicações é determinada, como na terra,
pelo conhecimento da entidade.

Ao passo que um discípulo, revestido do corpo mental, pode
comunicar os seus pensamentos mais facilmente e mais rapidamente que
sobre a terra, por meio de impressões mentais, às entidades humanas que
habitam o mundo astral, estas não têm geralmente a mesma faculdade e
parecem mesmo estar sujeitas a restrições iguais às nossas, ou talvez menos
rígidas, mas pouco menos. Resulta daí que estas se reúnem, como na terra,
em grupos, ligados por uma comunhão de idéias, de crenças e de língua.

A ideia poética de que a morte nivela todos não passa de um absurdo, fruto da
ignorância, porque, na grande maioria dos casos, a perda do corpo físico
não tem a menor influência no caráter e na inteligência da pessoa, e, entre
aqueles a que chamamos mortos, há tantas variedades de inteligências
como entre aqueles a que chamamos vivos.

As teorias correntes no Ocidente a respeito do destino do homem
post-mortem estão tão longe da verdade que mesmo pessoas muito
inteligentes se sentem extremamente confusas e pasmadas ao despertarem
no plano astral. A situação em que o recém-vindo se encontra é tão
radicalmente diferente daquilo que o levaram a acreditar, que não é raro
encontrarem-se lá criaturas que se recusam obstinadamente a crer que já
transpuseram os portais da morte. Realmente, a nossa tão gabada fé na
imortalidade da alma é tão pouco firme, que a maioria das criaturas vê no
simples fato de ainda se acharem conscientes uma prova absoluta de que
não morreram.

Também a horrível doutrina da punição eterna é a culpada da grande
dose de terror, grandemente lamentável e profundamente injustificado, com
que os mortos ingressam na vida superior. Em muitos casos passam longos
períodos de um sofrimento mental de intensa agudeza enquanto não
conseguem libertar-se desta monstruosa blasfêmia, e convencer-se de que o
mundo é governado, não segundo o capricho de qualquer demônio, ávido
de angústias humanas, mas segundo a grande lei da evolução,
profundamente benévola e maravilhosamente paciente.

Muitos dos que estamos estudando não chegam a apreender este fato
da evolução, mas continuam a flutuar ao acaso no mundo astral, tal qual
impelidos por influências do que fizeram na vida física precedente.
Qualquer que seja o nível intelectual da entidade, a sua inteligência varia
sempre em vigor, tendendo mesmo a diminuir, porque a mente inferior do
homem é levada em direções opostas, pela natureza espiritual superior que
atua de cima e pelas intensas forças de desejos, que vêm de baixo.
Por isso, ele oscila entre as duas atrações, com uma tendência crescente para as
superiores, à medida que os desejos inferiores se vão consumindo. Tem
aqui cabimento uma das críticas que se fazem às sessão espiritistas.
Evidentemente um homem ignorante ou degradado pode aprender muito,
depois da morte, em contato com assistentes sérios, dirigidos por pessoa
competente, e ser assim ajudado e erguido da sua degradação. Mas no
homem comum, a consciência se eleva constantemente da parte inferior da
natureza para a superior; e, evidentemente, nunca pode ser útil e favorável
à sua evolução o redespertar-lhe esta consciência inferior, arrebatando-o
do seu estado atual e arrastando-o de novo ao contato com a terra por meio de um médium.

Compreenderemos melhor o perigo deste despertar inoportuno, se
nos lembrarmos de que o homem real, retirando-se cada vez mais em si
mesmo, torna-se cada vez menos apto para influenciar e governar a sua
parte inferior que, todavia, à separação completa, fica em condições de
gerar Karma, e abandonado às suas próprias forças, é mais provável que
crie mau Karma e não bom.

Independente de qualquer questão de desenvolvimento por meio de
um médium, há uma outra influência, bastante freqüente, que pode retardar
consideravelmente o caminho do mundo--céu à entidade desencarnada: são
as manifestações intensas de exagerados desgostos dos sobreviventes por
causa da partida do seu parente ou amigo. As ideias do Ocidente sobre a
morte, velhas de séculos, mas falsas e, direi mesmo, irreligiosas, dão
o triste resultado de não só nos causarem um sofrimento moral tão intenso
quão desnecessário pela partida temporária dos entes queridos, mas de nos
fazerem contribuir, com o nosso desgosto inútil, para o mal daqueles que
tanto amamos.

Ao passo que o nosso irmão desaparecido cai sossegada e
naturalmente no sono inconsciente que precede o despertar magnífico nos
esplendores do mundo-céu, nós o obrigamos por vezes a sair dos seus
sonhos venturosos, chamando-o à recordação da vida terrestre pela
violência do desgosto e das saudades apaixonadas dos seus mais próximos,
que lhe despertam- vibrações correspondentes no corpo de desejos e lhe
causam assim uma aguda sensação de mal-estar.

Seria de grande utilidade que aqueles cujos entes queridos a morte
separou, aprendessem nestes fatos indubitáveis a refrear, por amor dos seus
mortos queridos, as suas manifestações de um desgosto, que embora natural,
é na sua essência um sinal de egoísmo. Não que as doutrinas
ocultas aconselhem o esquecimento dos mortos. Longe disso. O que elas
sustentam e defendem é que a recordação afetuosa de um amigo que a
morte levou, é uma força que devidamente canalizada por meio de
convictos e sinceros votos pelo seu progresso para o mundo-céu, e pela
tranqüilidade da sua passagem pelo estado intermediário, lhe pode ser de
altíssima vantagem. Ao passo que essa recordação, tornada pelo desgosto
moralmente doentia, exagerada com lutos e lágrimas, pode impedir-lhe o
caminho, fazendo-o árduo e penoso. É precisamente por isso que a religião
hindu prescreve acertadamente as cerimônias Shrâddha pelos mortos e a
religião católica manda que se façam orações por eles.

Acontece, às vezes, o contrário, isto é, o desejo de fazer
comunicações vem do outro lado, eco morto que deseja ardentemente
comunicar-se com aqueles que deixou. Por vezes se trata de uma
mensagem de importância, por exemplo, a indicação do lugar onde está
escondido um testamento desaparecido; porém, na maioria das vezes, são
mensagens triviais. Mas seja como for, é sempre da máxima importância
que o morto comunique o mais depressa a sua mensagem, principalmente
se a tem fortemente gravada na mente, para que não se dê o caso de,
conservando-a, manter-se num estado de ansiedade, que lhe desviaria
constantemente a consciência de novo para a terra, impedindo de se focar
nas esferas superiores. Neste caso, um médium por intermédio de quem o
morto possa falar ou escrever, ou um psíquico que o compreenda, presta-lhe
evidentemente um grande serviço.

E por que não pode ele falar ou escrever sem a intervenção de um
médium? A razão reside no fato de um estado de matéria poder geralmente
atuar apenas sobre o estado que lhe está imediatamente inferior, e como no
seu organismo apenas há a matéria grosseira que também entra na
composição do corpo astral, torna-se-lhe impossível enviar vibrações à
substância física do ar ou mover o lápis, também de matéria física, sem
pedir emprestada matéria viva da ordem intermédia contida no duplo
etérico, e é graças a esta que qualquer impulso se transmite de um plano
para outro. E a qualquer outro indivíduo que não fosse um médium, não lhe
seria fácil utilizar a matéria, por causa da extrema justeza em que se acham
os princípios numa criatura vulgar, dificilmente separáveis pelos meios
geralmente ao alcance dos mortos, ao passo que num médium, e é
precisamente esta a característica essencial das suas faculdades, os
princípios podem separar-se rapidamente e fornecer a matéria para a
desejada manifestação.

Quando não vê possibilidade de estabelecer a comunicação por meio
de um médium, ou porque não o ache, ou porque não saiba fazer-se
compreender por meio dele, o morto recorre muitas vezes a si mesmo,
fazendo toda a espécie de tentativas grosseiras e desastradas, pondo em
ação, numa atividade desordenada, forças elementais. É talvez por isso que
tantas vezes se vêem nas sessões espiritistas essas incompreensíveis
manifestações de espíritos, derrubando mesas, atirando pedras, pondo
campainhas a tocar, etc. Pode acontecer que um médium que se encontre
no local onde se dão estas manifestações, compreenda e venha a descobrir
o que a entidade que as origina quer dizer, pondo fim aos distúrbios. Mas
isso é raro, visto que essas forcas elementais são geralmente postas em ação
por causas múltiplas e variadíssimas.

(C. W. Leadbeater - CONTINUA)

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