12 de fevereiro de 2014

O PLANO ASTRAL III


B - Os Mortos
Em primeiro lugar, deve-se entender que a designação "mortos" é absolutamente errônea, visto que as entidades nela englobadas estão tão vivas como nós — a maior parte das vezes têm mesmo uma vitalidade muito maior. Quando dizemos mortos, queremos apenas referir-nos àqueles indivíduos que momentaneamente se libertaram do corpo físico.

Distinguimos nove espécies principais:
1.° — Os Nirmânakáyas. (4) — Referindo-nos a esta classe tão somente para não deixar a enumeração incompleta, porque é muito raro que Seres tão elevados se manifestem nos planos, inferiores. No entanto, quando por qualquer forte necessidade, derivada da missão sublime que lhes foi confiada, uma destas Entidades julgue necessário descer ao plano astral, trata de se rodear de um corpo dessa matéria, precisamente, como vimos, o faz um Adepto que, revestido do corpo mental, não poderia ser percebido à luz astral. Para poder manifestar-se imediatamente em qualquer dos planos, retém sempre dentro de si alguns átomos de cada um deles, em volta dos quais, como núcleo, pode instantaneamente agregar outra matéria e assim ter sempre à sua disposição o veículo que deseja.

Acerca dos Nirmânakáyas pode consultar-se, para mais ampla informação, o livro de Madame Blavatsky, A Voz do Silêncio, e o meu pequeno volume Auxiliares Invisíveis.

2.º — Os Discípulos à espera da reencarnação. — Na literatura teosófica está escrito em várias obras que quando o discípulo chega a um certo grau de desenvolvimento, está em condições de, com o auxílio do Mestre, libertar-se da lei da natureza que faz passar todos os seres humanos, depois da morte, para o mundo-céu, para aí gozar os resultados espirituais das aspirações elevadas que teve durante a vida terrestre.

Como, na hipótese considerada, o discípulo deve ser uma criatura de grande pureza de vida e de grande nobreza de pensamentos, é natural que estas forças espirituais tenham uma intensidade anormal. Portanto, se ele, servindo-me de uma expressão técnica, "tomar o seu Devachân", é provável que este seja de longa duração; mas se, em vez de se conservar no Devachân, preferir o "Caminho da Renúncia" (começando assim, embora em grau muito inferior e pelos caminhos, mais humildes, a seguir as - pegadas do Grande Mestre da Renúncia, que foi o próprio Gautama Buda), pode despender essa reserva de força numa direção oposta; empregá-la em benefício da humanidade, e, por a mais infinitesimal que seja a sua contribuição, tomar a sua minúscula parte na grande obra dos Nirmânakáyas. Seguindo este caminho de abnegação, sacrifica, é certo, séculos da mais intensa bem-aventurança, mas, em compensação, fica com a enorme vantagem de poder continuar a sua vida de trabalho e de progresso sem interrupção.

Quando o discípulo, que escolheu este caminho, morre, esta morte é apenas mais uma saída do corpo, além das muhas que já praticou, e uma espera no plano astral até que o Mestre lhe destine uma reencarnação conveniente e merecida. Isto só pode ser feito com permissão de uma autoridade de categoria muito elevada, porque, constituindo uma exceção à lei geral, ninguém deve tentá-lo sem obter essa autorização. E mesmo depois de conseguida esta, a força da lei natural é tão grande, que se o discípulo não se confinar estritamente no plano astral, e por um momento tocar o plano mental, será de novo arrastado por uma corrente irresistível para o curso normal da evolução.

Em alguns casos, embora muito raros, pode-se lhe evitar um novo renascimento, dando-se-lhe imediatamente um corpo de adulto cujo antigo habitante já não precise dele. É, porém, difícil encontrar disponível um corpo apropriado, de modo que a maior parte das vezes tem de esperar no plano astral, até que se lhe apresente a oportunidade de um renascimento apropriado.

Entretanto, enquanto espera, não perde o seu tempo, porque não deixa de ser quem era e está em melhores condições para continuar a obra que lhe foi atribuída pelo Mestre. Digo em melhores condições porque, despojado do corpo físico, não tem a entravá-lo a possibilidade da fadiga. Com a consciência alerta e absolutamente plena, pode vaguear à vontade e facilmente por todas as divisões do plano.

O discípulo à espera da reencarnação não é, evidentemente, um dos habitantes mais comuns do plano astral, mas pode lá encontrar-se ocasionalmente. Forma, por isso, uma das nossas classes, que se hoje é reduzida, há de aumentar em número à medida que a evolução da humanidade vá avançando no seu caminho progressivo.

3.° — Dos mortos vulgares. — Escusado é dizer que esta classe é milhões de vezes maior do que as já estudadas, e que o caráter e condições de seus membros oscilam entre larguíssimos limites. E é também dentro de larguíssimos limites que varia a duração da sua estada no plano astral, pois, enquanto uns aí passam apenas algumas horas, outros podem lá permanecer durante anos e até séculos.

O homem que levou na terra uma vida de pureza, cujos sentimentos e aspirações predominantes foram sempre altruístas e espirituais, pouca atração sente pelo plano astral, e, não havendo nada que lá o prenda, a sua atividade não chega a ser despertada durante o pequeno período da sua vida astral. A razão disto reside no fato de que depois da morte o homem verdadeiro recolhe-se em si mesmo. Logo ao primeiro passo deste processo, arroja de si o corpo físico, e quase logo a seguir o duplo etérico, para que possa libertar-se tão cedo quanto possível do corpo astral ou de desejos, e ingressar no mundo-céu, que é a única região onde as suas aspirações espirituais podem frutificar de uma forma consentânea com os sentimentos elevados que teve na terra.

O homem nobre, de espírito elevado, pode fazer isto, porque soube dominar todas as paixões terrenas durante a vida física. Sua força de vontade foi dirigida para canais elevados e pouca energia de desejos inferiores tem disponível para ser utilizada no plano astral. Portanto, a sua permanência aí será de breve duração, e segundo todas as probabilidades, passará a sua curta vida astral num estado letárgico de semi-consciência até mergulhar no sono profundo, durante o qual os seus princípios elevados se libertam do invólucro astral e ingressam na vida bem aventurada do mundo-céu.

Para aqueles que ainda não entraram no caminho do desenvolvimento oculto, como no caso que estamos considerando, o que acabamos de descrever representa o mais que se pode conseguir, e na melhor das hipóteses. Mas, geralmente, poucos o atingem, porque o homem mediano raras vezes consegue libertar-se na terra de todos os desejos inferiores, de modo que é sempre necessário uma demora mais ou menos longa nas várias subdivisões do plano astral, para que as forças geradas na terra possam consumir-se mutuamente e pôr em liberdade o Ego superior.

Todos, sem exceção, têm de passar por todas as subdivisões do plano astral no seu caminho para o mundo-céu, mas alguns há que os percorrem inconscientemente. Precisamente como é necessário que o corpo físico contenha dentro da sua constituição matéria física em todos os estados — sólido, líquido, gasoso e etérico — é indispensável também que o veículo astral contenha partículas pertencentes a subdivisões similares da matéria astral, embora em proporções variáveis segundo o caso.

Ora, não devemos esquecer que, justamente na matéria do seu corpo astral, o homem colhe a essência elemental correspondente, e que durante a vida esta essência é segregada do oceano de matéria semelhante, e transforma-se no que se pode chamar uma espécie de elemental artificial.

Durante algum tempo, este elemental tem uma vida sua, separada, e segue independentemente o curso de sua evolução própria, descendente para a matéria, sem preocupações — e mesmo sem conhecimento — da conveniência ou interesse do Ego a que está ligado. É isto que dá lugar à perpétua luta entre a vontade da carne e a vontade do espírito, de que tanto falam os escritores religiosos.

Contudo, se é certo existir "uma lei dos membros cm guerra com a lei do espírito",e se é certo que se o homem ceder em vez de tentar dominar-se, o progresso da sua evolução se ressentirá extraordinariamente, nada nos autoriza, porém, a considerar isso um mal, porque é apenas e sempre a Lei — o eterno fluir do poder Divino no seu curso regular, embora neste caso esse curso seja descendente para a matéria em vez de ascender em sentido contrário, para longe dela, como é o nosso.

Quando o homem, ao morrer, abandona o plano físico, as forças desintegrantes da natureza começam a exercer a sua ação sobre o corpo astral; este elemental se vê ameaçado da perda da independência da sua existência, e naturalmente reage, procurando defender por mais tempo possível a integridade do corpo astral. Para isso trata de lhe modificar a estrutura, tentando dispor-lhe a matéria em camadas concêntricas, das quais a externa pertence ao sub-plano mais inferior e é, portanto, a mais espessa, a mais grosseira e a mais resistente à destruição.

Mas o homem não pode abandonar o sétimo sub-plano senão depois de ter libertado o mais possível o seu eu real da matéria deste sub-plano. Feito isto, a sua consciência vai focar-se na camada concêntrica imediatamente a seguir (que é formada pela matéria da sexta subdivisão) ou, exprimindo a mesma ideia por outras palavras, o homem passa para o próximo sub-plano.

Em suma, quando o corpo astral esgotou todos os atrativos oferecidos por uma certa divisão, quase toda a matéria desta se solta dele e entra num mais elevado estado de existência. A sua gravidade específica, por assim dizer, vai diminuindo constantemente, e ele vai-se elevando gradualmente dos estratos mais densos aos mais sutis, demorando-se apenas onde se sinta sob a ação de um perfeito equilíbrio.

É evidentemente esta a explicação para o fato de os mortos que aparecem nas sessões espiritistas dizerem que estão para ingressar numa esfera superior, da qual lhes será impossível, ou pelo menos mais fácil, a comunicação com a terra por meio de médium. E é realmente um fato positivo que quando um morto chega à subdivisão superior deste plano, é lhe absolutamente impossível comunicar-se com qualquer médium vulgar.

Assim, vemos que a duração da permanência de um indivíduo em qualquer das subdivisões do plano astral, é rigorosamente em função da quantidade de matéria dessa subdivisão, subsistente no seu corpo astral, e por sua vez, depende do gênero de vida que levou na terra, dos desejos que acalentou e da espécie de matéria que, com o seu procedimento, atraiu para si. É, pois, possível reduzir ao mínimo a quantidade de matéria das subdivisões astrais inferiores, por meio de uma vida cheia de pureza e de pensamentos nobres e, em todos os casos, elevá-la ao que se pode chamar o ponto crítico, no qual basta o mais leve toque de força desintegrante para lhe romper a coesão, reduzindo-a ao seu estado original e deixando ao homem a passagem livre para o próximo sub-plano.

Esta passagem é, como já se disse, extremamente rápida para as pessoas de espírito elevado, pois atingem facilmente esse ponto crítico, de forma que se pode dizer que tais pessoas só recuperam a plenitude da consciência no plano mental. É claro que, sempre é bom insistir, esses sub-planos não ocupam espaços diferentes; interpenetram-se mutuamente, de modo que dizer-se que uma pessoa passa de um sub-plano para outro, não quer dizer que realize qualquer deslocamento no espaço, mas tão só que o foco da sua consciência transita da camada externa para a que internamente lhe fica mais próxima.

(C. W. Leadbeater - Continua)

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