A NASCA DA INGLATERRA
Aproximadamente sobre 200km, desde o condado de Sussex ao Devão mas, principalmente, sobre as colinas de Dorsete, o sul da Inglaterra está marcado de geoglifos com representações diversas, sobretudo animais e humanas.
Os geoglifos antropomorfos começam perto de Eastbourne com o Grande Homem de Wilmington (80m) e terminam a norte de Dorchester com o Gigante da Maça de Cerne Abbas (55m).
São desenhos imensos contornados por fossos que se estendem cerca de 1 hectare. Se lhes pode comparar, salvo na capa de erva verde, aos sulcos de Siguas, perto de Arequipa.
O gigante de Cerne Abbas esgrime uma maça. O de Wilmington, mais pacífico, tem um bastão na mão. Sua origem é quase desconhecida mas se supõe que Cerne Abbas ilustra a lenda dum Hércules local, enquanto que em Wilmington se trataria dum pastor vigiando os prados onde pastam rebanhos de ovelhas e manadas de vacas.
Que razão obscura impulsionou aos antigos grandes bretões a gravar essas personagens. Quiçá o desejo de perpetuar uma lenda, em Dorsete. Quiçás uma certa magia protetora, no Sussex?
Mas os desenhos mais numerosos e mais interessantes, já que se identificam com as pistas de Nasca, são as representações de cervos, de cavalos e de motivos heráldicos que abundam sobre as colinas do Dorsete.
Sua técnica é exata: O substrato, como nos pampas do Peru, sendo de calcáreo muito branco sob uma delgada capa de erva, basta desmatar o solo pra obter um traçado. Ao se oxidar ou se sujar o solo, se fixou, há anos, determinados desenhos filtrando cimento sobre as superfícies postas em evidência.
Os geoglifos de cavalo, em Uffington, em Westbury, em Hambledon, são as mensagens de admiração e de respeito deixadas pelos povos antigos, embora também se diga que remontariam à época do rei Alfredo o Grande (século IX) que expulsou da Grã-Bretanha os daneses.
Os cervos parecem mais recentes. Alguns são, inclusive, deste século. Simbolizam, à vez, a paixão dos ingleses pela caça e a crença na virtude redentora atribuída ao animal-imagem de Cristo e a seu poder redentor.
Há uma dezena de geoglifos de cavalo e muitos mais de cervos e de motivos diversos e recentes que chegam à lenda, como sobre as colinas do Peru.
Aqui e ali uma lembrança atávica impulsionou os autóctones a escrever mensagens gravadas mas seria necessário fuçar na profundeza do inconsciente pra discernir o motivo que os fez agir.
Deve se deixar constância dum dado, sem dúvida, de grande importância: A Nasca da Inglaterra está, «exatamente, sobre a mesma latitude que a Nasca do Canadá. A linha inglesa dos geoglifos parece marcar a trilha tomada faz já de 5.000 a 10.000 anos pelas tribos de nossa Europa pra ir povoar a América.
AS NASCAS DE FRANÇA
O homem evoluído é um escritor-arquiteto que confia aos geoglifos a expressão de sua cultura, de seu trabalho, de sua ocupação e dos feitos mais importantes de sua existência.
Visto desde o céu, em avião, seu trabalho é um admirável mosaico de bosque, de plantação e de pasto do agricultor; de cubo, de paralelepípedo, de círculo, de reta, de curva ou de linha sinuosa no caso do arquiteto; de cidade, de povo, de monumento, de jardim ou de humildes casebres àqueles que trabalham pra construir, se hospedar ou tornar agradáveis os sítios onde habitam.
Porque, de fato, nossos fossos, sulcos, caminhos e rios são geoglifos naturais ou artificiais que expressam uma mensagem do homem ou da Natureza.
A RODA DE ENSERUNE
Muito conhecida pelos habitantes do Hérault, mas ignorada pela maioria dos franceses, a roda de Enserune é, provavelmente, o único geoglifo da França. Vista de avião ou do mirante situado sobre uma colina antiga, se apresenta como uma imensa e perfeita roda cujos vinte raios se reúnem no centro.
Nosso amigo Max Seguy, de Béziers, que conhece bem o lugar, diz que esse desenho se parece a uma torta partida geometricamente. De fato, os raios da roda, cujo diâmetro deve se aproximar dos 4km ou 5km, são fossos de drenagem separando os vinhedos e os campos de diversos proprietários.
O conjunto, chamado roda de Enserune ou de Montady, se estende a 6km de Béziers, entre as estradas que vão, duma parte a Capestang e de outra parte a Narbona.
Nossa documentação, que nos foi fornecida por Henry Nohet, secretário da prefeitura de Montady, aponta os detalhes sobre a história do geoglifo, que a tradição remonta à época dos romanos.
O abade Ginieis descobriu nos arquivos de sua paróquia a carta constitutiva outorgada em 13 de fevereiro de 1247 pelo arcebispo de Narbona, concedendo a três senhores da periferia e a um notário de Béziers «o poder e as facilidades pra secar o estancado de Montady e de transbordar sua água no de Capestang que pertencia ao mencionado arcebispo».
O estancado não era, então, senão um lago infecto cuja água estancada era muito malsã.
AS MISTERIOSAS ESTRELAS DE CLOYES
Em 1957 o instituto geográfico nacional tirou fotos aéreas na região situada a 60km de Chartres, até Cloyes-sur-Loire.
Com estupefação os geógrafos comprovaram sobre os negativos manchas claras em forma de estrela de 9 braços, alinhados sobre um eixo norte-sul e distantes de 300m a 400m umas das outras. Cada braço tinha 4 pontos e as estrelas, dum diâmetro de 35m, tinham, após exame, uma luminosidade muito variável.
Fenômeno ainda mais intrigante: Os levantamentos anteriores a 1957 não revelaram pegada dos desenhos.
Empíricos deduziram, imediatamente, que se tratava de mensagens impressas por extraterrenos. Mais racionalistas, físicos se pronunciaram por resíduo radiativo.
Mas quem teria podido se divertir nos dispor assim e naquele lugar?
O mistério perdura sobre a origem desses geoglifos brancos e irradiantes mas a tese que prevalece é a de sondagens efetuadas por uma empresa de geofísica (CGG), não se sabe com qual finalidade.
Um enigma a esclarecer!
OS TRAÇADOS DE ECKWERSHEIM
Na margem dos geoglifos mas, talvez, em relação seu misterioso ignoto, é interessante assinalar os enigmáticos traçados de Eckwersheim, pequeno povoado de 800 habitantes no baixo Reno.
Durante a noite de Natal de 1975 caiu neve e, na manhã seguinte, alguém observou, estupefato, um sulco contínuo, com largura aproximada de 10cm, que começava na porta do jardim de sua casa, bifurcava até a horta contornando as árvores e as cercas-vivas, prosseguindo sobre uma pequena taipa de 50cm e se perdia repentinamente.
As bordas do sulco estavam cortadas nitidamente como com instrumento cortante.
Outros traçados idênticos atravessavam as ruas, com grande retidão ou se convertiam em circunferências perfeitas.
Não havia claro início, nem final detectável... Que animal teria sido o autor. Que fenômeno poderia explicar?
Igual como em Nasca, tampouco os naturais de Eckwersheim puderam adivinhar o enigma desses geoglifos!
NASCA DE UM PÓLO A OUTRO
...Reunimos documentação importante sobre os geoglifos ou traçados de natureza análoga que se podem encontrar no Canadá (Medicine Wheels, Indian Boulder effigies), em Estados Unidos (geoglifos dos desertos de Colorado e de Novo México), no Peru (Nasca, naturalmente, mas também Geoglifos de Touro Morto e de Siguas, até Arequipa), na Inglaterra (geoglifos das colinas do Dorsete e desenhos traçados em sulco no sul e o sudoeste de Londres, etc).
Realizamos películas (pessoais) desses modos de expressão, no Peru e na Inglaterra, e possuímos em nossa fototeca fotos de todos os geoglifos acima mencionados. Apesar de tudo não podemos apresentar sobre o tema mais que uma hipótese.
Algumas observações adquirem certeza:
— A Nasca do Peru não é obra dum só homem ou de alguns pastores ociosos.
Há milhares de desenhos. Sua conformação, com freqüência perfeita, sua superfície, sua longitude implicam um trabalho em massa ou, ao menos, a tarefa duma etnia ou dum povo.
Seu distanciamento das zonas habitáveis (25km a 40km) parece demonstrar o caráter necessário ou sagrado desses geoglifos.
Foi necessário que uma etnia viesse habitar o pampa desértico, o qual supõe um deslocamento considerável de homens e de meios de subsistência.
— Os geoglifos foram executados com grande esmero. Do que se deduz uma impressão de respeito e dalgo sagrado.
— Sua execução exigia uma grande destreza em geometria e em técnica.
Ao se dar a circunstância de que as montanhas e os morros estão demasiado apartados pra ter servido de observatório ou de centro de comando, há de admitir que os desenhistas utilizavam:
— planos com escala de reprodução dos desenhos,
— ou possibilidade fantástica de visão e de memória que lhes permitiam prosseguir um desenho sem esquecer a escala de proporção e as partes já traçadas.
Em resumo, essa gente teria tido um condicionamento mental lhes permitindo situar sempre exatamente o momento presente de seu traçado.
Pros ameríndios o tempo tinha um significado, um valor e uma densidade que escapam a nossos conceitos cerebrais, como lhes escapa o sistema dos desenhos prodigiosamente emaranhados gravados sobre os calhaus da gruta de Lussac-les-Cháteaux (Vienne) pelos homens do período magdaleniense.
Eliminamos a primeira hipótese, reprodução a grande escala, e retemos, pruma explicação aparte, o condicionamento cerebral particular.
— O pampa de Nasca é um imenso quadro branco gípseo, recoberto de óxido e de pedra parda. O passo dum homem deixa uma pegada grisácea. Vários passos no mesmo sítio rompem a delgada capa parda e descobrem o substrato branco.
Esse fenômeno deve ter solicitado imperiosamente a atenção dos habitantes da região e lhes dar o desejo de escrever sobre esse quadro branco-pardo.
— Se se admite que a existência do quadro motivou o desejo de escritura, devemos pensar que o tema a tratar: Desenhos geométricos, zoomorfos, antropomorfos, etc., ocupa lugar de importância secundária.
A partir dessas considerações, aleatórias mas aceitáveis, precisamos imaginar as razões, as idéias que puderam germinar no cérebro dos homens de Nasca.
Fazer um calendário astronômico?
Estudamos bem Nasca: As linhas e as pistas vão a toda direção possível e sobre onde escolher pra decidir um enfoque de Sírio, de Vênus, de Marte ou de Aldebarã!
E um calendário servindo pra quê e pra quem numa região desabitada?
Consideremos, pois, outras explicações. Obra gratuita. Fórmulas mágicas pra guiar a alma ou a vida no mundo dos mortos. Mensagem destinada a ser vista desde o céu pelos deuses. Ex-voto. Captação. Representação do céu?
A essas hipóteses, já muito numerosas, há de acrescentar outra: Realização pictórica de inspiração em massa, sem espírito individual, como é o vôo oscilante de determinados grupos de pássaro. Obra-mestra dum inconsciente coletivo realizando uma obscura tarefa geométrica, como as aranhas tecendo sua admirável teia?
É provável que um dos termos dessa nomenclatura beire ou represente a verdadeira intenção!
TÉCNICA DOS TRAÇADOS
Os desenhos e os grafites são, geralmente, formados com pedra ou com pilhas da planta itchu.
No Chile se retira a oxidação parda do solo pra deixar aparecer zona branca ou, ao contrário, se amontoam calhaus pardos sobre uma colina de cor clara (informe de Hans Niemeyer F.).
Em Estados Unidos acontece o mesmo que em Nasca. Abaixo a Espiral Jetty - EUA.
No Canadá os geoglifos estão traçados com pedras de cor clara dispostas sobre um fundo mais escuro.
Na Inglaterra se retira a capa verde herbácea ou das colinas pra deixar aparecer o substrato cretáceo.
No Chile se encontram geoglifos representando cruzes de Malta, estrelas, sóis, o qual permite supor uma preocupação com o sagrado, com o culto.
Esses desenhos são, provavelmente, posteriores aos geoglifos de Nasca. Possivelmente são, inclusive, relativamente recentes, o qual apresenta, por esse mesmo motivo, grande interesse, já que, esclarecendo a intenção recente, se têm uma possibilidade de captar a intenção antiga.
(Robert Charroux - Continua)
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