18 de junho de 2012
ÁRVORE DA VIDA - Um Estudo Sobre Magia V
Há um outro aspecto da Árvore da Vida que eu gostaria de abordar. Diz respeito ao que é chamado de Quatro Mundos. Esses mundos são regiões metafísicas tanto de consciência quanto de matéria, pois a teurgia sustenta que cada estado de consciência possui seu próprio veículo, um estágio apropriado de substância. Esses mundos podem ser encarados sob dois pontos distintos de análise, sendo que o primeiro coloca uma Árvore em cada um dos quatro mundos, oferecendo-nos assim quarenta Sephiroth no total. Os quatro mundos são chamados de Mundo Arquetípico, no qual os arquétipos ou emanações primordiais são desenvolvidos sob a forma de uma Árvore da Vida.
Pode-se imaginar também essa Árvore da Vida arquetípica representando uma forma humana que, no Livro dos Esplendores, é chamada de Adam Kadmon, o Homem Celestial, que contém em seu interior todas as almas, espíritos e inteligências em toda parte do cosmos. É a Alma Universal, mãe e progenitora divina de todas as outras. Essa Alma é o Homem Divino sobre o qual Lévi fala e ao qual nos referimos anteriormente; essa Alma de cuja grande vida cada ser individual e consciência independente participam.
Os desdobramentos que emergem desse postulado simples e as idéias sugestivas que ele suscita são demasiado numerosos para deles tratarmos nesta oportunidade. Minha intenção primeira foi apresentar apenas um breve resumo da filosofia mágica, deixando ao leitor a tarefa de preencher por si mesmo muitas lacunas que foram deixadas em aberto.
A totalidade das Sephiroth em Olam Atsiluth, o mundo arquetípico, ocupa o plano mais elevado de consciência espiritual, o primeiro surgir de consciência do Ain Soph. À medida que os processos de evolução continuam, Adam Kadmon gradualmente projeta a si mesmo ainda mais na matéria um tanto mais densa, sua unidade sendo aparentemente fragmentada, espelhada em muitas facetas e formando o Mundo Criativo, Olam Briah.
Nesse mundo, o plano contido na imaginação criativa do Macroprosopus é ainda mais elaborado, as centelhas ou idéias separadas sendo revestidas daquela condição de substância sutil apropriada àquela esfera. Aqui, também, uma completa Árvore da Vida é desenvolvida através da reflexão. Do mundo criativo, a Árvore é projetada para um terceiro plano, o Mundo Formativo, Olam Yetsirah, onde as idéias imaginativas do Logos, as centelhas monádicas espirituais já revestidas na substância mental sutil do mundo criativo se modelam em entidades consistentes definidas, os modelos astrais que dão origem ou servem de fundamentos estáveis ao mundo físico. O mundo físico, Olam Assiah, é o quarto e último plano, e como projeção cristalizada do mundo formativo é a síntese e concreta representação de todos os mundos mais elevados.
Está encerrada nessa concepção a justificativa do axioma hermético “Como é acima, é abaixo”. Pois aquilo que existe abaixo possui sua duplicata arquetípica ideal nos mundos mais elevados. Em formas variadas, as idéias arquetípicas encontram sua particular representação abaixo – pedras, jóias, perfumes e formas geométricas todas sendo peculiarmente indicativas na esfera mundana de uma idéia celestial. Essa fórmula metafísica também supre Lévi da devida razão para falar do “dogma único da magia – que o visível é para nós a medida proporcional do invisível”.
O mago francês também observa alhures que “o visível é a manifestação do invisível, ou em outros termos, o perfeito Logos está, em coisas que são apreciáveis e visíveis, na exata proporção com aquelas que são inapreciáveis para os nossos sentidos e invisíveis para os nossos olhos... A forma é proporcional à idéia... e sabemos que a virtude inata das coisas criou palavras, e que existe uma exata proporção entre idéias e palavras, as quais são as primeiras formas e realizações articuladas das idéias”. É essa afirmação filosófica da relação entre idéias e coisas que proporciona a base lógica fundamental de muito que é verdadeiro em magia. Quanto a esse ponto, teremos que voltar a ele mais tarde, pois há ao longo do caminho algumas outras idéias que exigem aprimoramento.
A fórmula do Tetragrammaton é também aplicada aos Quatro Mundos e aos quatro elementos primordiais. A letra “Y” é atribuída ao mundo arquetípico, sendo conseqüentemente o Pai, o gerador de tudo, o todo devorador dos mundos. O “Y” também representa, nesse caso, o elemento fogo, anunciando a natureza impetuosa, ativa e espiritual do Pai. O primeiro “H” do Tetragrammaton é atribuído ao mundo criativo, ao qual, receptivo e passivo, pertence o elemento água. Esse plano representa a Mãe que, antes que o Filho possa ser gerado, aguarda a energia criativa e o influxo da vida divina proveniente do Pai. A letra “V” cabe ao mundo formativo, o Filho que, como o Pai, é ativo, masculino e energético, daí ser o elemento ar sua atribuição. Completando o nome divino temos um segundo “H”, similar à Mãe, passivo e inativo, recebendo quaisquer influências que sejam derramadas em seu interior. Em O Livro dos Esplendores, “H” é chamado de Palácio do Rei e de a Filha, representado o mundo físico, que é a síntese de todos os mundos.
O segundo método é ligeiramente diferente do que acabamos de esboçar. Nesse caso, emprega-se uma única Árvore, sendo os quatro planos assim colocados sobre ela. Kether, a Coroa, ocupando sozinha um plano inteiro, é o mundo arquetípico, o domínio do Logos. A segunda e a terceira Sephiroth, o Pai e Mãe supremos, constituem o mundo criativo, recebendo e executando a divina imaginação. O terceiro plano, ou mundo formativo, o plano astral propriamente – do qual falaremos mais no próximo capítulo – é compreendido pelas seis Sephiroth seguintes, em cujo mundo tudo é preparado para a manifestação visível. Malkuth, o reino, é o mundo físico. Todas as atribuições relativas à primeira descrição dos quatro mundos são válidas para este segundo método, salvo o que já observei, a saber, que estão dispostas numa única Árvore.
Antes de encerrar, é preciso que seja mencionada mais uma série de concepções. Do ponto de vista da teurgia, o universo todo é consciência, vida e inteligência corporificados sob forma visível e invisível. Através do cosmos palpita e vibra uma inteligência, uma consciência espiritual prefigurada em miríades de centelhas ou mônadas, permeando toda forma, e da qual nada nesse cosmos se acha, de maneira alguma, isento. Tal como há vários graus de qualidade de vida mineral, animal e vegetal e inumeráveis estágios de inteligência entre os homens, de acordo com as tradições mágicas essa mesma escala hierárquica de inteligência existe além e acima do homem. Não somente se pode dizer verdadeiramente no tocante ao nosso próprio universo, como também se pode afirmar que alhures nas infinitudes do espaço existem outras hierarquias de sublimes seres espirituais e inteligências divinas. Da Escuridão ignota incompreensível, que é Ain Soph, não há senão uma consciência indivisível, semelhante no mais baixo demônio de feições caninas bem como na mais elevada hierarquia celestial.
Há hierarquias de consciência celestiais e terrestres, algumas divinas, outras demoníacas, e ainda outras que incluem os mais excelsos deuses e Essências universais. Esse é o eixo da totalidade da filosofia mágica. Trata-se ao mesmo tempo de um monoteísmo e de um politeísmo num sistema filosófico único.
O universo todo é permeado por uma Vida Una, e essa Vida em manifestação é representada por hostes de deuses poderosos, seres divinos, espíritos ou inteligências cósmicas, chame-se-os conforme se deseje. A condição e a diversidade espirituais atribuíveis a eles são grandes e intensas; entre eles há aquelas forças deíficas da aurora rosada da manifestação cósmica da qual brotamos, centelhas espirituais arrojadas em sentido descendente a partir de sua essência divina.
Diante disso, é possível ampliar a concepção da Árvore da Vida e dos Quatro Mundos em termos de consciência. As primeiras manifestações são deuses ou seres da mais excelsa consciência que, brotando da Coroa, compreendem a Mente do Logos, ou os administradores imediatos do plano formulado. Esses seres são os deuses, Dhyan Chohans, Elohim, Teletarchae – seja qual for a designação escolhida, a idéia fundamental deve ser firmemente apreendida, ou seja, que há vastas hierarquias de seres no espaço, numa escala sequencial ordenada de descenso dos mais excelsos deuses nos mais elevados mundos às hierarquias menores de seres angélicos dos mundos inferiores. Conectada a cada Sephirah e cada Mundo emanado de Ain Soph há uma certa hierarquia de deuses, cada um deles encarregado de uma tarefa específica na evolução e governo do universo, e detendo uma natureza característica.
Tal como Kether, a Coroa, produziu as outras Sephiroth, assim os mais excelsos deuses desenvolvem a partir de si mesmos outras divindades menos augustas e menos sublimes do que eles próprios. Porquanto os números foram atribuídos às Sephiroth a fim de simbolizar processos criativos no cosmos, e visto que os deuses são atribuídos às Sephiroth, os deuses podem também ser simbolizados por números e as idéias associadas a um processo cósmico particular podem aplicar-se igualmente bem à natureza de um dado deus. Pitágoras disse bem que “há uma conexão misteriosa entre os deuses e os números”.
“Como é acima, é abaixo.” Todas as coisas sobre a Terra têm seus protótipos eternos nos céus, e todos os seres são reflexos simples, tímidos e débeis dos deuses. Quanto mais distante (metafisica e relativamente) estiver qualquer emanação de sua fonte, mais débil e lânguida será em relação àquilo de que procedeu. Os deuses ou Essências universais exprimem mais clara e brilhantemente a natureza espiritual inefável de Ain, e nos eidolons*terrestres deles, os deuses menores, tal brilho límpido se torna mais velado e pálido, e sua expressão obstada.
No homem, a sombra da imagem dos deuses, a irradiação do esplendor de Brahma, na maioria dos casos, aparece inteiramente reprimida. Tal como o calor é para o fogo, diminuindo mais e mais à medida que irradia sua influência a partir da chama, é o homem para os deuses. Quanto mais se distancia deles, mais leva a cabo um processo de autodestruição.
Essa relação entre a ordem da vida e as Sephiroth, entre os deuses, homens e números explica a eficácia dos símbolos mágicos e dos papéis que eles desempenham nos ritos teúrgicos. Os signos e selos são profundamente indicativos de realidades interiores, e cada símbolo particular representa algumas das hierarquias de deuses e inteligências espirituais. Mediante essa doutrina de assinaturas, cada fenômeno** é indissoluvelmente conectado a um nôumeno***, a eficácia da teurgia sendo assim assegurada.
O objeto da magia é, então, o retorno do homem aos deuses, o unir da consciência individual durante a vida com o ser maior das Essências universais, a mais abrangente consciência dos deuses que são as fontes perenes de luz, vida e amor. Somente assim, para o ser humano, é possível haver liberdade e iluminação, e o poder de ver a beleza e a majestade da vida tal como ela realmente é.
Mediante o retorno em espírito às fontes das quais proveio, apenas reabrindo a si mesmo a elas como uma flor dourada se abre e se volta ao sol para absorver ansiosa e avidamente seu sustento e luz, pode o homem atingir a iluminação e a suspensão das amarras e grilhões terrestres. Pela descoberta de seu próprio deus interior em primeiro lugar e formando uma relação indissolúvel com os deuses da vida universal, será encontrada a solução dos problemas do homem e do mundo.
Por meio dessa consciência mais nobre de iluminação transmitida pela união divina é possível desenredar os emaranhados do caos mundial. É possível assim romper as amarras que prendem o homem com uma força superior a todas as cadeias e grilhões mortais. Nenhum rompimento desses ferros é possível a não ser por meio do conhecimento mágico do próprio eu interior e dos deuses de toda existência.
“Se a essência e a perfeição de todo bem estão compreendidas nos deuses, e o primeiro e antigo poder deles é detido por nós, sacerdotes (teurgos), e se por meio daqueles que similarmente se prendem a naturezas mais excelentes e genuinamente obtêm uma união com elas, o início e o fim de todo bem é seriamente ameaçado – se esse for o caso – é aqui que a contemplação da verdade e a posse da ciência intelectual devem ser descobertas. E um conhecimento dos deuses é acompanhado do... conhecimento de nós mesmos.”
(continua - Israel Regardie)
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