17 de novembro de 2012

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS VI

Capítulo VII
O ESOTERISMO DAS PEDRAS E DOS MENIRES
Se possuem algumas luzes sobre os dolmens e os cromeleches, se é muito mais evasivo em relação aos menires.

O menir, diz o dicionário Larousse (do bretão men=pedra e hir=larga) é um monumento megalítico formado por uma pedra alçada. Se lhe supõe comemorativo de acontecimento ou edifício dedicado ao culto.

Existem perto de 5.000 menires na Bretanha, dos quais 2.935 formam os célebres alinhamentos de Carnaque.

Os menires são lápides sepulcrais, marcos, acumuladores de energia telúrica, nomes em pé, ou outra coisa? Isso é o que poderia revelar o verdadeira destinação do monumento se conhecesse, mas os primeiros ocupantes do Ocidente e, depois, os celtas, não nos tem deixado esclarecimento sobre esse tema.

Os menires eram objeto de culto e passavam por conter um poder mágico: É a única certeza que temos.

A CARRETA INVENTADA ANTES DO CAVALO!
Menir significa: Pedra larga. Não é totalmente seguro que men signifique pedra.
Men, man, memez em inglês, em germânico e em céltico significam: Homem e montanha, que somos tentados ao relacionar com emana (grande, em sânscrito), com Manu o sábio herói do dilúvio hindu, com Manannan, o mago-feiticeiro da ilha de Man, umbigo do mundo, com Mannus, o primeiro homem na mitologia germânica, com emana, o poder das estátuas da ilha de Páscoa.

O menir, na tradição, participa estreitamente da montanha, do poder, de Deus e do primeiro homem da criação.

Na arqueologia clássica, o dólmen passa por ser mais antigo que o menir. Mas é um costume dos pré-historiadores oficiais decretar que a porretada existiu antes do porrete, o rio antes do vale, o tremor de terra antes da Terra e a bicicleta antes da roda!

Desse modo nos ensinam que a idade do bronze (cobre e estanho) é anterior à idade do ferro, e que os andaimes, por exemplo em Lascaux, existiu antes da parede!
Sobre tais bases os pré-historiadores declaram que o dólmen, formado por três, quatro ou cinco menires suportando uma mesa de pedra, é mais antigo que o menir!

Se fazendo eco do ponto de vista oficial, o jornalista cientista H. de Saint-Blanquat, numa revista especializada, depois de escrever que já não existe mistério nos megalitos prossegue com essas linhas não menos assombrosas: «Se tem a certeza de que os menires foram elevados numa época em que se construíam também os dolmens...«Mas nenhuma prova existe de que esses menires tenham sido erigidos antes do -3000».

O mesmo especialista concede -4.400 a -4.600 anos, ou seja, uma antiguidade de 6.000 a 6.600 anos aos dolmens do Poatu, da Normandia, da Bretanha, de Portugal e da Escócia!

É verdade que abade Breuil, que não acreditava nas casas dos homens pré-históricos e em seu labirinto de cimento, escreveu a propósito do forno pra cozer da Coumba do Pré-Neuf em Noaillé (Correze):

«Os vãos... foram cuidadosamente guarnecidos com pedras menores mantidas por uma massa de terra argilocalcárea e areia», a qual, salvo erro, é, precisamente, o cimento usado pelos pedreiros.

Sejamos sérios, por favor: O menir é mais antigo que o dólmen, posto que é necessário utilizar menires pra construir um dólmen!

E cai por seu peso, pra todo homem dotado de lucidez, que a pedra levantada (menir), em todos os países do mundo, remonta à mesma data das primeiras tumbas que foram edificadas.

OS CELTAS: 2.500 OU 5.000 ANOS
Se os megalitos são, particularmente, abundantes na Irlanda e na Bretanha, é porque esses países estavam muito afastados das trilhas frequentadas pelas migrações de todo tipo.

O pré-historiador H. Hubert opina que a invasão ao Ocidente pelos celtas pode ter sido causada por recuos do mar ou, quiçá, por algum invento náutico, já que eram, indubitavelmente, navegantes.

Os celtas não são uma raça mas um povo ou um grupo de povos «distintos dos greco-latinos, dos germanos, dos balto-eslavos, dos iberos e dos lígures» com os quais têm, no entanto, numerosos pontos comuns.

H. Hubert os dividiu em quatro grupos: Goideles, pietos, bretões (incluídos os galos) e belgas. Provavelmente se afastariam do tronco indo-europeu no Oriente.
Os primeiros elementos que penetraram na Gália, e talvez, também, na Espanha, são, se diz, os pictões do Poatu, aparentados aos pictos de Escócia.

Se estabeleceram no Ocidente na idade do bronze, o que resultou extremamente vago, já que os pré-historiadores estão tão pouco seguros de sua ciência que estendem a idade do bronze desde -2.000 anos (Altine-Depe, Turcomênia) a -8.000 anos (Medzamor, Armênia soviética).

Tomemos uma data média. 3.000 e, digamos que os celtas têm uma antiguidade de 5.000 anos, que excede a decretada em altas esferas: 2.500 a 3.000 anos somente!

É certo que a cepa permaneceu mais pura na Irlanda e na Bretanha mas, pelo menos no que concerne a nosso país, se os mais importantes centros de megalito subsistiram no país de Amor (Bretanha), parece que os principais santuários foram edificados noutros sítios: Em Chartres, em Loudun, em Saint Benoit-sul-Loire, no monte São-Miguel, em Autun, nos Vosgos e em Marselha.

DATAÇÃO DOS MEGALITOS
Segundo a cronologia adotada pelos meios oficiais, a civilização dos dolmens remontaria ao tempo do invento da agricultura, há 7.000 anos.

Os megalitos mais antigos, de acordo com essa cronologia, se situariam assim no tempo:

— Poatu — Normandia — Bretanha — Portugal — Escócia: 6.000 a 6.700 anos
— Dólmen da ilha Gaignog em Landéda (Finisterra): 5.850 anos

— Bougon (Deux-Sévres): 5.850 anos
— Plouezoch (29.N. Finisterre): 5.500 anos.
— Síria — Líbano — Palestina: 5.200 anos. — Dolmens do Cáucaso: 5.000 anos
— New-Grange, na Irlanda: 4.500 anos
— Carnaque: 4.000 anos
— Estonerrenge: 4.000 anos
— Dolmens do Maciço Central: 4.000 anos
— Índia — Paquistão — Irã — Filitosa: 3.500 anos
— África do Norte: 3.000 anos
— Japão — Coréia — Manchúria — Índia — Ásia — Oceania: 2.000 anos, pelo menos.

Essa datação dos dolmens e monumentos megalíticos é, talvez, exata mas temos boa razão pra crer que os menires são, notavelmente, mais antigos.

Seja o que for e, contrariamente ao ensino oficial, pretendemos que os celtas foram construtores de monumento megalítico, ao menos em seu período tardio, e estão indissoluvelmente ligados por sua história e crença aos menires e aos dolmens.

O HOMEM VERTICAL, A MÃO E O GRAFITE
A história do menir não pode se dissociar da do penhasco do qual saiu e da grande aventura humana.

Não está demonstrado que o berço do homem seja nossa Terra, filha do Sol, mas pensamos que nossos antepassados mais prováveis viram o dia sobre nosso solo, em tempos imemoriais.

Nessa hipótese, a data mais importante da humanidade foi seu acesso à posição vertical que condicionou o desenvolvimento do cérebro, da inteligência e permitiu a evolução até uma civilização elaborada.

O homem vertical teve a grande oportunidade de liberar as mãos (a menos que essa liberação adquirida anteriormente não tenha motivado sua nova posição).
Certo é que seu pensamento já existia mas se pode dizer que se afirmou com a destreza de sua mão que podia colher e criar.

A palavra mão, escreveu Dimitri Panine, é, talvez, a mais antiga do mundo e da língua original, já que a mão foi, em definitivo, a primeira ferramenta e quase o primeiro pensamento do homem original.

É interessante vincular essa ideia ao menir erguido que servirá pra suportar o pensamento do homem, inclusive não formulado, inclusive abstrato.

No princípio o homem vertical, por simples impulso mecânico, talvez, como no menino de nossos dias, traçou com seu dedo um risco no solo. Foi o primeiro geoglifo e, depois, com um calhau rude, rabiscou sobre uma rocha mole, e foram os primeiros grafites.

Os traçados primordiais que deviam culminar no símbolo e na escrita foram, sem dúvida, o risco horizontal, o risco vertical, a quadrícula e, enfim, o círculo. Se encontram em numerosas cavernas marcas de mãos ou de pés que são signos de posse, mas a arte mural mais antiga está representada por meandros, uns entrelaçados e arabescos macarrônicos (espirais), como dizia o abade Breuil, traçados sobre a argila ou sobre rocha, com os dedos. Se encontram essas raspaduras digitais nas grutas de Gargas, de Baume-Latrone, de Ganties-Montespan.

As marcas de mãos são frequentes em Altamira, Castelo, La Pasiega, na España. Nas grutas de Gargas, Trois-Fréres, Portel, Pech-Merle, Rocamadour, Font-de-Gaume, Pont D’arc, etc., na França.

Existem marcas de pés na argila da gruta de Niaux, e gravadas na pedra da Roche-aux-Fras, na ilha de Yeu, e na Roche-aux-pieds, de Lanslevillard (Sabóia).

O esboço duma civilização acabava de nascer: O homem já tinha, sucessivamente, a sua disposição os quatro elementos essenciais: O pensamento, a mão, a pedra e o traçado.

A água e a argila lhe haviam dado a vida, a pedra ia lhe dar o arranque da civilização com o betel (Segundo Bochart (1730-1794) essa palavra é fenícia e significa pedra esférica ou arredondada), o kudurru (também chamada Melisipak* ), a baliza, o menir, o pilar, o obelisco.

*A organização do mundo divino refletia a organização política da sociedade. Há uma hierarquia, no topo da qual está Anu, o deus do firmamento, e Enlil, o deus do ar-atmosfera. Anu e Enlil são os deuses supremos, reis do céu e da terra. No mundo divino, a realeza é compartilhada, como aparece na iconografia e em pedras kudurru, que mostram os limites geográficos no segundo milênio.

O PEDERNAL
Em todos os tempos, os homens acreditaram que o pedernal ou sílex ou silicato de alumínio continha o fogo do céu e o princípio-vital. E é curioso comprovar que nunca alguma estátua foi talhada em sílex, sem dúvida porque é um material duma extremada dureza, mas também, quiçá, por medo de ver a estátua se animar com sentimento homicida contra o sacrílego que a esculpiu.

Os celtas colocavam, religiosamente, pedras de pedernal, talhadas ou não, sob os dolmens. Era uma maneira de proporcionar vida ao templo e aos manes dos antepassados, talvez pra fixar o espírito dos mortos.

Os homens da pré-história não tiveram reparo em moldar a argila e em esculpir toscamente a pedra com forma humana com finalidade religiosa mas não talharam o sílex, exceto pra converter em utensílio cotidiano. Parece que o tabu da estatura antropomorfa tenha nascido com a tomada de consciência do divino.


Entre os drávidas e em numerosos outros povos, a pedra tinha, também, essa propriedade de fixar os espíritos bons ou maus.

Por esse motivo se rodeava a tumba dos mortos com um círculo de pedras, com a finalidade de aprisionar os fantasmas e os ressuscitados.

«Em distintos sítios se atira uma pedra sobre o caminho de regresso, depois de haver inumado um morto. Desse modo a pedra obstrui o espírito do morto, criando um fantasma que se fixa nessa pedra e se volta, assim, impotente pra inquietar os vivos.» (J. Boulnois.)

PEDRA E ÁGUA DA VIDA
Na Bíblia, a terra e o céu foram criados primeiro em potência de manifestação formal, escreveu J. Boulnois.

A terra e o céu sendo a Água, miticamente separadas por Deus depois da criação da luz, em água inferior (terra e oceano) e água superior (céu).

«Somente a água inferior produz, por uma espécie de corporificação, a substância formal, individualizada, sensível, da terra e da água. É necessário, pois, compreender pela Água, uma espécie de substância primordial».

Pois bem, segundo a tese de professor Louis Kervran, terra e água são sinônimo, o calcário engendrando a água e, sem dúvida, vice-versa, pelo processo de sedimentação e de infiltração.

O princípio-vital está, portanto, tão intimamente ligado à pedra andrógina (argila) como à água.

É certo que, na lenda cristã, primária e fundamentalmente destinada ao erro pelo fato de que Deus é diferente do universo e ausente da matéria, o primeiro homem, Adão, foi feito de argila morta, que o Criador animou com seu alento.

Mas a maior parte das outras tradições respeitam mais a linha científica e atestam que a pedra ou argila possui vida, sendo, inclusive, fonte de vida em igualdade com a água.

Na Índia do sul e no Ceilão, país dos tamis dravídicos, uma pedra informe assinala, às vezes, a entrada ou o centro do povoado.
O grande iniciado alemão Jakob Boheme (1575-1624) dizia:

«Uma pedra não é, no entanto, mais que água.»

É regada ritualmente a cada dia e se a chama pedra umbilical ou pedra da vida, o que nada teria de extraordinário, já que esse costume é quase universal, se a pedra umbilical não tivesse uma particularidade notável e, inclusive, mágica: Caiu do céu!

Tudo o que vem do país dos deuses é sagrado, por isso os aerolitos ou meteoritos gozaram de grande veneração entre os povos da Antiguidade, principalmente quando essas pedras caídas do céu eram tectitas: Pedras hialinas de cor negra.

PEDRAS CELESTES, NEGRAS OU VERDES
No Peru os incas construíram o Templo do Sol do lago Titicaca, tendo, como primeiro elemento, uma pedra negra procedente do céu.

Cealcoquim, cidade mítica de Honduras, devia sua fortuna e seu poderio a uma pedra negra trazida por uma mulher branca de beleza incomparável que, tal como um anjo, descera das nuvens.

As lendas andinas falam também da pedra negra de Ancovilca, único vestígio duma cidade edificada no fundo dum lago e que um tremor de terra fez desaparecer.

Em Meca, os muçulmanos veneram uma pedra negra, a Hadjar-el-Asuad (Hadjers'ul-Esswed) encravada no ângulo leste da Caaba, o santuário da grande mesquita.

É considerada prenda da aliança que Deus fez com os homens na pessoa de Adão, que a levou ao abandonar o paraíso terreno mas outra tradição assegura que foi o anjo Gabriel quem a entregou a Abrão.

A Hadjar-el-Asuad era, muito provavelmente, um meteorito e foi um dos mais antigos ídolos do Hadjaz.

Os escritores de Bizâncio, escreveu E. Saillens, estão de acordo em dizer que a pedra representava a Anaíta, quer dizer, Astartéia, a estrela da manhã.

Quando apareceu Maomé, o templo em que se lhe rendia homenagem estava, assim como o betilo (significa casa da divindade. Tipo de estátua muito estilizada, em pedra local, do período nurágico), rodeado de pedras e de imagens sagradas representando as 360 tribos do deserto.

O profeta fez desaparecer as imagens mas não se atreveu a tocar essa decana e, desde então, o dia de Vênus, sexta-feira, ficou como dia sagrado.

Os hebreus, renderam, antanho, culto a essa pedra negra que representava Meni, deusa da fortuna (Isaías, LXV, 11). Meni era o planeta Vênus que os árabes denominam a Pequena Fortuna e os persas Nanaia ou Anaíta, duma palavra armênia (II, Macabeus, I, 13, Estrabão XV, 733). Era também a divindade árabe Emana adorada sob a forma duma pedra pelas tribos instaladas entre Meca e Medina (Corão, Lili, 19).

Entre os celtas uma pedra verde misteriosa era, quiçá, também de natureza meteorítica: La Calláis. Perto dum milhar foram encontradas sob dolmens mas não se sabe que poder ou virtude se supunha possuir.

Um enigma rodeia as pedras verdes que têm uma relação evidente com o planeta Vênus.

No Templo de Chavim, Peru, se pode ver um grande monolito de serpente chamado a pedra verde do mundo, que bastava remover, antanho, pra provocar um dilúvio. Esse monolito, segundo se dizia, procedia de Vênus, o mesmo que a pedra do Santo-Graal, a esmeralda verde caída da fronte de Lúcifer.

Por outra parte, é curioso mencionar que os fungos psilocibos do México, país do Deus venusiano Quetzalcoatle, têm a propriedade de fazer ver toda vida de cor verde.

No interior do Templo de Chavim, encontra-se a pedra raimondi, um gigantesco monólito verde. Representa um ser híbrido, metade homem, metade felino, cujo adorno de cabeça é constituído por serpentes e goelas abertas.

A lousa alta e estreita tem, na extremidade inferior, uma estranha figura de difícil interpretação: corpo de homem, guarra de jaguar e cabeça híbrida - meio jaguar, meio touro pois em cornos.

A PEDRA DE SAYWITE
A 3.600m de altura, no Peru, a 45km da cidade de Abancay, sobre uma pendente da cordilheira que domina o rio Apurimaque, uma estranha pedra se burla dos arqueólogos: A pedra de Saywite.

Mede 4,10m de longitude, 3,10m de largura por altura aproximada de 1,20m, e sua superfície superior está esculpida com baixos-relevos que, a primeira vista, parecem representar a maquete duma cidade incaica com plataformas, terraços, templos, casas, ruas, nichos e... um notável sistema de drenagem de água, de tal modo que a chuva nunca se estanca sobre o calcário e escapa até o exterior mediante pendentes bem calculadas e pelo labirinto de canais.

Essa cidade em miniatura está povoada de algumas personagens, sem dúvida, simbólicas, já que são muito pouco numerosas, por quatro pumas orientados até os pontos cardeais e se notam esboços de plantas.

Quanto ao suposto significado do monolito, oscila entre o monumento pra oráculo e a maquete dum lugar sagrado que ficaria a descobrir na solidão da cordilheiras dos Andes.

Os antigos povos anteriores aos quíchuas sempre tiveram a pedra em grande veneração e, como os assírio-babilônios e os fenícios, faziam delas a morada dos deuses.

Com grande incerteza pensamos que a pedra esculpida de Saywite é uma imagem simbólica do mundo, da essência primitiva de Deus, do Vivente e das civilizações representadas por uma cidade sagrada.

A COMPANHEIRA ASHERAT
A pedra e a água estão intimamente ligadas, seja pra fazer o manancial ou o poço, seja pra designar a altura sagrada da igreja ou da catedral.

A igreja, a água e a pedra adotam o mesmo processo de sacralização que os antigos relacionavam com uma cosmogênese venusiana.

Nas mais antigas mitologias se diz que a chegada de Istar ou de Astartéia a nosso sistema solar provocou chuvas diluvianas e inundações.
Enki, deus do oceano primordial na mitologia assírio-babilônia, tinha por filha a deusa Nina, a Dama da Água, identificada a Istar como a representante do planeta Vênus.

A mesma tradição assírio-babilônia faz essa deusa responsável pelo dilúvio universal.
«O terror que se espalha no universo alcança os próprios deuses... Istar, mais assustada, sem dúvida, que os demais grita como uma mulher em parto. Se arrepende de ter apoiado, quiçá, inclusive, provocado a decisão dos deuses. Ela não desejava um castigo tão terrível (Mythologie genérale (Mitologia geral), F. Guiraud).»
Istar, na Fenícia, recebia o nome de Astart ou Asherat. Pois bem, Asherat-do-mar, a Estrela-do-mar*,é a deusa dos rios e dos oceanos.

Em seu livro notável e iniciático: Le pape des escargots (O papa dos escargôs) (escargô é um caracol gigante apreciado na culinária francesa), Henri Vincenot recalca a estranheza da oração cristã Ave maris stella cujo texto é: «Salve, estrela do mar, santa mãe de Deus, mãe permanecendo virgem, porta feliz do céu, aceites a saudação dos lábios de Gabriel, e mudando o nome de Eva nos estabeleças na paz.»

Apesar de seu título humorístico, Le pape des escargots, de Henri Vincenot, é um livro de alta iniciação, particularmente no que concerne à igreja cristã druídica e ao simbolismo. Ademais, esse livro-chave é uma obra-mestra, de leitura cativante.
Um dos poemas traduzidos das tabuletas cuneiformes de Ras Shamra (Síria), que remonta a 3.400 anos, poderia dar muito o que pensar aos franco-mações ainda aferrados à fábula do templo de Salomão.

Baal, o maior dos deuses depois de El, e mais recente também. «Não temas — dizem as tabuletas — recinto sagrado nem templo como é devido a um filho de Asherat».

Por conseguinte, se lhe construirá um sem intervenção humana, como no caso do templo de Jerusalém.

Asherat-do-Mar estava encarregada pelo deus El a dar autorização de construir, e depois ela comunicou a Latpão, o deus que tem o dom da sabedoria, a ordem de começar a obra...

«Eis aqui que Amat Asherat confecciona os ladrilhos. Uma casa será construída pra Baal, em sua qualidade de deus, e um recinto sagrado por ser filho de Asherat».

Baal trabalha, ele mesmo, na construção e derruba com sua serra raio do céu os cedros do Líbano.

Como se pode julgar, os próprios deuses não sentem repulsa em se converter em carpinteiros ou pedreiros: Baal serra, Vênus confecciona ladrilho.

Eis aqui dois formosos e célebres Companheiros do Dever, dois honrados franco-mações muito mais simpáticos que o tortuoso Salomão!

O templo de Jerusalém foi construído pelos fenícios no século XI. As tabuletas de Ras Shamra do século XIII são, por conseguinte, se as datações são exatas, duzentos anos mais antigas. No entanto, o caráter lendário, confuso, inverossímil da tradição referida ao templo faria supor que as tabuletas fenícias relatam os verdadeiros detalhes de sua edificação.

Em nossa opinião Salomão açambarcou exatamente uma construção fenícia como os hebreus açambarcaram ao deus Jeová dos beduínos do deserto.

VÊNUS, CHAVE DE OURO DO PASSADO
Eis aqui, pois, a Asherat franco-maçônica, fabricante de ladrilho, e a Baal construtor dum templo que, se não é o edifício antigo de Baalbek, seria, quiçá, o de Jerusalém.

Os hebreus, disse Oséias, adoravam um deus sob os carvalhos: Baal.

Falando de sua mãe aos hebreus, o Senhor disse: Oséias — Capítulo II, Versículo 13: — ‘Me vingarei nela dos dias que consagrei a Baal’... Vers. 16: ‘Em tal dia ela me chamará seu esposo e já não me chamará Baal.’

Salomão nunca pôs a mão na massa... Asherat, ao contrário, amassava os ladrilhos.
No Egito, onde não se espera encontrar mais que Ra, o deus Sol, o planeta Vênus desempenha, também, um papel preponderante.

O iniciador Pta, cujo nome verdadeiro é Ptah-Sokar-Osíris, era um grande construtor e tinha por emblema a medida codo.

Quanto a Atur, deusa do céu, se a chamava Afrodite entre os gregos. Dama de Biblos entre os fenícios e rainha do Ocidente. Era identificada ao planeta Vênus.

O lugar mais alto de Egito é, com Abidos, a imenso altura de Sacara onde se encontram as tumbas dos reis desde a primeira dinastia, as mais antigas mastabas (tumbas egípcias) e as mais antigas pirâmides (muito anteriores às de Gizé). A mais venerável é a pirâmide de gradas do rei Djéser (3a dinastia) chamada pirâmide de Sacara.

Pois bem, Sacara em egípcio significa: A pedra, o cometa, o planeta Vênus. Quanta coincidência!
Que relação haveria, pois, entre Vênus, a pedra, a água, a chuva, o Peru, o Próximo Oriente, Egito e, como veremos, com o menir e o betilo?

Se tomamos por referência as tradições, Deus, Adão, os anjos, os arcanjos e Lúcifer habitavam, juntos, o céu e no mesmo lugar.

Se sabe que Lúcifer, expulso da morada de Deus, procedia de Vênus. Dele se deve deduzir que Deus e os arcanjos não habitavam um céu simbólico, abstrato, senão um planeta especialmente designado.

Leva a crer que a tradição judaico-cristã, a maçônica e as mitologias clássicas estão fundadas sobre um imenso erro que torna incompreensível o passado dos homens e das civilizações. É exatamente o que cremos!

Para abrir as portas do saber utilizamos chaves das quais uma, a primeira, nos chega diretamente de Vênus, não do planeta que se coze a fogo lento a 500ºC entre Mercúrio e a Terra, mas Vênus-cometa que, antes de se converter em planeta estabilizado no sistema solar, errava flamígero nas nuvens, em forma de cornos de touro, com larga cauda incandescente que inflamava as selvas tropicais e suscitava terríveis maremotos.

Com essa chave, igualmente muito estimada por Emmanuel Velikovsky, encontramos explicação lógica, razoável, ao mistério das pedras negras ou verdes, dos deuses que as habitavam e do segredo dos construtores antigos.

(Robert Charroux - Continua)








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