3 de agosto de 2010

A ALQUIMIA DE JOHN DEE


John Dee - (1527 - 1608), foi um matemático, astrônomo, astrólogo, geógrafo e conselheiro particular da rainha Elizabeth I. Devotou também grande parte de sua vida à alquimia, adivinhação, e à filosofia hermética.

Um inventário das posses de Dee mostra que ele foi um estudante de todas as artes e ciências. Ele tinha as obras completas de Platão e Aristóteles, bem como uma grande coleção de escritos Estóicos, Epicuristas, neo-Platônicos e Renascentistas. Estavam também representados os antigos poetas e dramaturgos, assim como os últimos trabalhos de matemática, engenharia e tecnologia.

Ele coletou um vasto número de manuscritos sobre filosofia e ciência medievais e todo o material que pôde encontrar sobre magia e pensamento Hermético. Embora ele considerasse os teólogos Protestantes dogmáticos e auto-justificadores, ele coletou as obras de Lutero junto com as de Calvinistas e as incluiu entre Agostinho, Lactâncio, Boécio, Ramón Lull, Nicolau de Cusa e Erasmo. Ele possuía manuscritos hebreus sobre a Kabbalah e uma cópia do Corão.

Acreditava que a matemática (que considerava misticamente) era central ao progresso da aprendizagem humana. A centralidade da matemática na visão de Dee tornava-o mais moderno do que Francis Bacon, embora alguns estudiosos acreditem que a matemática foi propositadamente ignorada por Bacon por causa da atmosfera anti-ocultista do reino de James I. No entanto deve-se entender que a compreensão de Dee do papel da matemática é radicalmente diferente de nossa visão contemporânea.

Em 1558 Dee imprimiu o Propaedeumata Aphoristica (Uma Introdução Aforística) e a dedicou a Mercator, com o motto: Qui non intelliget, aut taceat aut discat (Que quem não entende ou se cale ou aprenda).

Convencido de que o cosmos é tanto construído como entendido de acordo com o número, Dee combinou a melhor matemática de sua era com uma revisão crítica da astrologia, em uma tentativa de apresentar a ciência dual da astronomia-astrologia sobre uma nova base. Sugerindo uma conexão íntima entre a ótica (propagação, magnificação e reflexão da luz) e a harmônica (a ciência Pitagórica da proporção), Dee argumentou que influências astrológicas poderiam ser usadas pelo sábio de modo terapêutico.

Embora os planetas irradiassem incessante influência sobre a Terra, o poder e a natureza destas influências dependiam das relações mutáveis entre os planetas e do meio em que caem seus raios. De um ponto de vista prático, isso significava para Dee que o conhecimento preciso das propriedades ocultas das substâncias, das conjunções celestes e do uso de espelhos parabólicos para focalizar e concentrar os raios permitiria aos magos alterar estados físicos e psíquicos nos seres humanos, afetando assim os movimentos da Natureza.

De um ponto de vista teórico, Dee reconhecia que o tamanho, movimento e distância dos planetas eram relevantes para seus efeitos em qualquer tempo dado. Ele mostrou que ao todo são possíveis 25 mil conjunções diferentes, e uma vez que este enorme número impedia uma investigação empírica sobre qualquer possível resultado, ele apontou para um entendimento Pitagórico da geometria e da aritmética como uma chave para a resolução de todas as combinações.

Para Dee, a "astrologia vulgar" era tão moralmente aviltante como falsa. A astrologia é um aspecto da matemática, ela mesma um ramo da filosofia, que é a arte de viver corretamente. Uma vez que o sol é tanto a fonte física de luz e vida como um símbolo da Deidade manifesta, enquanto a Terra era o foco das influências celestes, a teoria heliocêntrica de Copérnico tem grande valor metafísico e o ponto de vista geocêntrico de Ptolomeu é astrologicamente útil. Dee não via conflito entre estas concepções, pois elas se dirigem para fins distintos, e as descobertas de uma poderiam ser aplicadas no aperfeiçoamento da outra.

Dee estudou com muito cuidado a tradução dos Elementos de Euclides feita por Sir Henry Billingsly, corrigindo passagens difíceis e acrescentando anotações e diversas provas novas.

Para a edição de 1570 ele compôs um Prefácio Matemático, que de uma vez declarava sua visão da matemática como uma ciência filosófica, seu motivo para publicar matéria erudita no vernáculo (em vez do latim usual) e suas originais premissas a respeito das ciências matemáticas. A Deidade manifesta e mantém o mundo através do número.

"A numeração, então, para Ele era a criação de tudo. E sua contínua numeração de todas as coisas é a sua conservação na existência... A constante lei dos números... está enraizada nas coisas naturais e sobrenaturais, e está prescrita para todas as criaturas, sendo guardada inviolavelmente".

Para Dee a matemática se divide em aritmética, que trata dos números e suas propriedades, e geometria, a ciência das magnitudes. O termo "geometria", contudo, tem uma excessiva conotação terrestre, e Dee sugeriu em troca "megetologia".


"... não se arrastando no chão e arregalando os olhos com varas, réguas ou linhas, mas elevando o coração acima dos céus por linhas invisíveis e raios imortais, encontrando reflexos da luz incompreensível, e produzindo assim alegria e perfeição inenarráveis".

A matemática é a chave para abrir os mistérios dos três mundos - terrestre, astral e celeste - e a base para a astronomia e a astrologia, para a antropografia (a análise matemática do homem) e estática (a análise do movimento e da inércia), bem como para todas as ciências teóricas, experimentais e aplicadas. A matemática fornece as correlações de todas as forças e formas no homem e na Natureza.

"Podemos nos aproximar do interior, da profundeza e da visão de todas as distintas virtudes, naturezas, propriedades e Formas das criaturas. E também ir mais longe, subir, escalar, ascender e atingir (com as asas da especulação) em espírito, para contemplar o Espelho da Criação, a Forma das Formas, o Número Exemplar de todas as coisas numeráveis, tanto visíveis como invisíveis, mortais e imortais, corpóreas e espirituais".

A Heptarchia Mystica é Magia Planetária independente e moderadamente complexa, similar em estilo porém não em conteúdo a vários Grimorios Solomonicos da época. Os documentos de sua apresentação podem ser encontrados em Misteriorum Libri Quinti de Dee.

Através da matemática Dee esperava prover uma base para unificar todas as ciências em um corpo unificado e coerente de conhecimento, que incluiria a ética, a psicologia e a ciência da espiritualidade. Para Dee a matemática não era simplesmente uma matéria a ser dominada, mas antes um modo de vida a ser consumado na ofuscante luz da Deidade.

Dee pensava que a ciência e a matemática eram dignas de estudo por causa de seu valor intrínseco e prático, mas ele consagrou sua vida a elas porque estava convencido de que um verdadeiro entendimento delas forneceria os subsídios para uma religião global de amor e tolerância, os correlatos sociais do aprendizado e do silêncio. Embora não visse esta sua visão realizada, sua vida é um testemunho de seu poder e a validação de seu potencial.

John Dee: MONAS HIEROGLYPHICA - tenta simbolizar a homogeneidade do Universo e do Criador. O cosmos é representado pelo "Ovo da Águia", que não é exatamente circular quando considerado de um ponto de vista heliocêntrico. Dentro dele se encontram as grandes forças duais representadas pelo sol e pela lua, a primeira sendo criativa e iluminadora, e a segunda material e reflexiva.

Elas se conjugam porque o poder solar não pode criar sem um substrato, e o veículo lunar não pode ser produtivo sem o alimento do sol. Assim, as hierarquias solar e lunar são mutuamente interdependentes, embora o sol seja invariavelmente a força causativa e superior.

O ponto no centro do sol é o ponto de onde derivam todas as linhas e círculos (uma vez que uma linha não pode ser escrita sem pontos), e, portanto é a semente do hieróglifo desdobrado. Esta é a primeira e mais elevada manifestação da atividade divina, e por isso é o Um.

A cruz representa o ternário criativo como duas linhas e sua intersecção. Também representa o quaternário material através de quatro linhas se irradiando de um centro comum e produzindo quatro ângulos retos, que representam os quatro elementos, as quatro direções e os quatro reinos visíveis da Natureza (mineral, vegetal, animal e humano).

Os dois semicírculos abaixo da cruz constituem o signo zodiacal de Áries, o signo do fogo inicial e o começo de tudo que é terrestre. Tomados juntos, estes símbolos fornecem uma imagem da estrutura dinâmica da Natureza nas escalas cósmica e humana, e um meio para a autotransformação que conduz à verdadeira magia, que é a posse da sabedoria como uma arte e uma ciência.

Traçando linhas de conexão e círculos de formas diferentes, a pessoa pode localizar os símbolos dos sete planetas sagrados (Lua, Vênus, Mercúrio, Sol, Marte, Júpiter e Saturno) e com isso a força sétupla da Natureza invisível. Usando estas chaves a pessoa tem como base para meditação os princípios necessários para a transmutação alquímica de sua própria natureza reduzindo-a a matéria-prima ou fluido no ovo, e modelando-o em formas novas.

"Sei perfeitamente bem que tem havido certos homens que, através da arte dos escaravelhos, dissolveram o ovo da águia e sua casca com pura albumina e com isso fizeram uma mistura de tudo... Com isso quero dizer que se completou a grande metamorfose do ovo... Quem se dedica sinceramente a estes mistérios verá com clareza que nada pode existir sem a virtude de nossa Mônada hieroglífica."

De Haptarchia Mystica que, em síntese, é um sistema de ocultismo prático, escrito em colaboração com Edward Kelly. Esse sistema mágico, chamado de "enoquiano", passou a fazer parte, em tempos relativamente recentes, dos ensinamentos de algumas escolas mágicas - por exemplo, a Golden Dawn.

Os documentos de sua apresentação podem ser encontrados no Misteriorum Libri Quinti de Dee.

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